terça-feira, 16 de novembro de 2004

AGONIA DA INFORMAÇÃO

A Informação televisiva encontra-se hoje cada vez mais polvilhada da notícia local, por vezes folclórica.
Não há praticamente Telejornal que não apresente o seu caso do dia, seja o do médico que aliciou sexualmente um dos seus pacientes, um urso que apareceu já não recordo em que lugar público – “Saiba como daqui a pouco”, ou uma formula no género - seja ainda uma tromba de água que se abateu sobre uma aldeia do Norte de Portugal, ou então aquela à laia de adivinha: estrela ou animal?
Descubra a seguir ao intervalo!
Ficamos mais tarde a saber que o enigmático fenómeno era afinal um limão com uma forma um tanto esquisita.
Esta promiscuidade no seio da Informação, esta fragmentação está, por definição, marcada pela intransitabilidade, dada a sua configuração em arquipélago.
Trânsito interrompido, perda de contexto, a impedir a circulação noticiosa. E assim perde a Informação o seu peso específico e autonomia, à mistura com entretenimento ou animação, com recurso ao chamativo ou ao anedótico.
Esta perda de autonomia interna vai no sentido consumista do mercado e dos interesses empresariais aos quais se verga, acorrenta e se submete a Programação informativa.
Já lá vai o tempo em que os media eram contra poder.
Este estado de coisas obedece a uma estratégia e a uma Ideologia.
A censura é hoje insidiosa.
Ela actua sobretudo de dentro para fora.
Dantes amputava-se visivelmente a informação, eliminava-se a fatia de texto ou de discurso inconveniente.
Hoje há outras formas de amputar e esconder, nomeadamente mostrando em excesso, de modo desordenado e diluente, uma outra forma de esvaziar a substância da Informação.
Mina-se o fruto por dentro embora a virulência tenha sido comandada do exterior. Dai a sua aparente invisibilidade.
A censura tradicional é uma intervenção cirúrgica que dá nas vistas em termos de liberdade de expressão. Em contrapartida, o envenenamento, a agressão viral ou a promoção da cangerigenação dos tecidos é um ataque “en douce”, “divertido” até, e tem ainda a vantagem de dificultar a identificação do agressor.
Oculta-se desnaturando, de modo perverso e virulento, mas mostrando sempre.
Assim se esconde mais e melhor.
A.B.