quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

APRENDENDO, PARA UM PAÍS EM ESTADO DE NECESSIDADE, AS BOAS MANEIRAS COM O SR. JOÃO FELIX (VIA RAMALHO ORTIGÃO) - 1

A arte de regular as maneiras por meio de uma combinação feita entre a nossa organização e a nossa vontade é uma das mais importantes coisas que se devem conhecer. Há homens que, sem plausivelmente sabermos porquê, alcançam tudo quanto querem nas pretensões do Estado, nas transacções comerciais, nas atenções das salas. Emerson, o célebre escritor americano, observando que os indivíduos que mais frequentemente obtêm esses triunfos não são os mais inteligentes, nem os mais belos, nem os mais honrados, averigua com muita lógica que o sucesso das nossas aspirações na sociedade depende principalmente do nosso porte. Por tal razão, Emerson define as maneiras - talento de dominar.

No modo como nós nos vestimos, como falamos, como olhamos, como nos movemos, há efectivamente uma espécie de indefinido magnetismo a cuja influência não pode furtar-se quem se lhe sujeita.

Napoleão I aprendia em lições particulares com Talma o melhor modo de traçar o manto e de se sentar no trono.

Madame de Girardin, escrevendo na Presse as cartas do Vicomte de Launay, deu aos seus compatriotas as mais delicadas regras do maintien. Balzac deixou entre os seus trabalhos inéditos um importantíssimo capítulo intitulado A teoria do modo de andar.

Carlos Dickens, por ocasião de uma viagem aos Estados Unidos, achou útil explicar aos Americanos, entre outros preceitos de civilidade, que não era de bom gosto, quando se estão vendo estátuas, bater nos mármores com as bengalas.

Em Portugal todas essas coisas se aprendem nas escolas de instrução primária, e da disciplina formada do conjunto desses preceitos são os alunos devidamente examinados nos liceus nacionais.

O mestre das maneiras portuguesas não é Talma, nem Madame de Girardin, nem Balzac, nem Emerson, nem Carlos Dickens. É simplesmente o Sr. João Félix Pereira, médico, engenheiro civil e agrónomo.


J.P.P.
(continua)