A MELHOR REVISTA DE PORTUGAL
UMA ALDEIA PERIFÉRICA. UMA REGIÃO PERIFÉRICA. UM PAÍS PERIFÉRICO. UMA REVISTA POUCO PREOCUPADA COM ISSO
o projecto
Periférica
Texto de apresentação do n.º 1 (Pedras Salgadas, 19/04/2002)
1. A Periférica tem a sua origem numa aldeia periférica de uma região periférica de um país periférico — mas está pouco preocupada com isso.
De facto, ainda que o nome da revista também parta da constatação da perifericidade que a rodeia, o que nos interessa enquanto redactores da coisa são apenas as vantagens que existem na circunstância de se estar, aparentemente, à margem.
Neste mundo globalizado, onde é largamente democrático e fácil o acesso à informação e ao conhecimento, não faz sentido falar em exclusão no que à cultura diz respeito. Por isso, as periferias que a revista Periférica procura e onde se move nada têm a ver com a geografia ou com estratificações sociais. Importa-nos pouco a ladainha do «enterior desquecido e ostracizado».
A circunstância de Vilarelho ser em Trás-os-Montes pouco ou nada influencia as linhas com que a revista se cose. Pelo menos não da maneira como tradicionalmente tal condição o faz. Os transmontanos que nos perdoem se a Periférica não tem as intenções salvíficas comuns na imprensa regional. Na verdade, não temos especial ambição de falar de Trás-os-Montes.
2. Partimos da aventura de quatro anos que foi o Eito Fora. O Eito pretendia mostrar um Trás-os-Montes diferente do habitual. Para isso, ora procurava abordar temas regionais pouco costumeiros e entrevistar transmontanos que fizessem coisas diferentes (residentes ou da diáspora), ora voltava aos lugares-comuns da região, revelando-os na sua mesquinhez e patetice.
A Periférica, para além de reforçar (e muito) a componente literária, vai deixar de olhar para o umbigo da região. Não mostrará um Trás-os-Montes diferente — será, simplesmente, transmontana e diferente. Ser transmontana não é uma honra nem uma fatalidade castradora — é simplesmente um facto, pelo qual não é preciso agradecer aos céus nem bradar à sorte madrasta. Se a Periférica mostrar coisas diferentes que ocorram em Trás-os-Montes, será por serem diferentes, não por ocorrerem em Trás-os-Montes. A perifericidade geográfica não tem direitos especiais na revista. Preferimos a perifericidade temática, de postura.
A revista deseja descobrir a perifericidade onde quer que ela exista: queremos encontrar pessoas e entidades que se movam nas margens da maioria, ainda que geograficamente se situem nas proximidades ou no mesmíssimo centro. Que pode ser Lisboa ou Nova Iorque. Isso dependerá, apenas, do nosso orçamento.
3. A Periférica seria uma revista cultural, se a palavra não andasse tão mal usada. O seu tema, se tiver que existir algum, é a aldeia global. E Vilarelho, que tem em si a circunstância de existir na Serra da Padrela, é, ao mesmo tempo, a metáfora e a confirmação da aldeia global.
Antes de nos acharem pretensiosos por escolhermos tema tão lato, deixem-nos avisar que o mundo não cabe todo na Periférica. Principalmente porque de tudo o que há no mundo as coisas que nos interessam estão em minoria.
A Periférica é — pois claro! — uma revista de minorias. Mas não somos nós que a queremos assim. O grosso da população é que tem o hábito de se auto-excluir das coisas de que nós gostamos. (Problema dele!)
4. A Periférica não tem a mania das grandezas e por isso pode dar-se ao luxo de ser o espelho daqueles que a fazem. Faremos a revista como se fosse para nós.
Nada há nisto de masturbatório. Se quisermos dramatizar, a Periférica é a nossa arca de Noé. Antes que o dilúvio pimba tudo alague, iremos recolhendo na revista meia dúzia das coisas a que damos importância.
E desabafaremos, claro. Melhor: espingardearemos! Lá porque o maralhal pimba nunca nos lerá, não quer dizer que não o possamos invectivar! Haverá melhor exercício para a alma do que tratar pelos nomes a boiada boçal que por aí pulula?!
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home