quinta-feira, 4 de novembro de 2004

POESIA...


Coro de escárnio e lamentação dos cornudos em volta de S.Pedro

Coplas dedicadas às fogosas e vampirescas mulheres da Beira, de quem já Abel Botelho
disse o que disse.

Monólogo do primeiro cornudo:

Acordei um triste dia

Com uns cornos bem bonitos

E perguntei à Maria

Porque me pôs os palitos

Jurou por alma da mãe

(Com mil tretas de mulher)

Que era mentira

Tambem,ainda me custava a crer

Fiquei de olho espevitado

Que calado é o melhor

E para não re-ser enganado

Redobrei gozos de amor

Tais canseiras dei ao físico

Tal ardor pus nos abraços

Que caí morto de tísico

Com o sexo em pedaços

Já esperava por isto a magana?

Já previra o que se deu?

Do Além via-a na cama

Com um tipo pior que eu

Vi-o dar ao rabo a valer

Fornicando a preceito

Sabia daquele mistério

Que puxa muito do peito

Foi a hora de me eu rir

Que a vingança tem seus quês

O mais certo é para aqui vir

Ainda antes que passe um mês

Arranjei um bom lugar

Na pensão de Mestre Pedro

Onde todos vão parar

Embora com muito medo

Não passava de uma semana

O meu dito estava escrito

Vítima daquela magana

Pobre tísico,tadito

Dueto dos dois cornudos:

Agora já somos dois

A espreitar de cá de cima

Calados como dois bois

Vendo o que passa na vida

Meteu na cama mais gente

Um, dois, três logo a seguir

Não há piça que a contente

É tudo o que tiver de vir

São Pedro, indignado, pragueja:

É demais,arre diabo-berra S.Pedro, sandeu

E mortos por dar ao rabo, lá vêm eles p'ró ceu...

Coro, pianíssimo, lirismo nas vozes:

Quem morre como um anjinho...

Quem morre por muito amar...

Coro, agora narrativo ou explicativo:

Já formamos um ranchinho, de cá de cima a espreitar

Aparte do autor das coplas:-coitadinhos

Passam meses, passa tempo e a bela não se consola

Já somos um regimento como esses que vão para a Angola

Fazemos apostas lindas sempre que vem cara nova

Cálculos,medidas infindas,como ela terá a cova!

Há quem diga que por si já não lhe tocou o fundo

Outros juram que era assim do tamanho deste mundo

Parecia uma piscina! -diz um do lado, espantado-

Nunca vi uma menina num estado tão desgraçado

(Aparte do autor,antigo militante das esquerdas baixas)

Num estado tão desgraçado, parece-me ouvir o povo

Chorando seu triste fado nas garras do Estado Novo

O ultimo que cegou cá morreu que nem um patego

Afogado e era mar nos abismos daquele pêgo

O coro dos cornudos acompanhado por S.Pedro em surdina, entoa a moralidade,

após ter limpado as últimas lagrimetas e suspirado como só os cornudos sabem:ahh!

Mulher não queiras sabida

Nem com vício desusado

Que podes perder a vida

Na estafa de dar ao rabo

Escolhe donzela discreta

Com os três no seu lugar

Examina-lhe bem a greta

Não te vá ela enganar

E depois de lhe veres o bicho

E as mamadeiras que tem

A funcionar a capricho

Já sabes se te convem

Mulher calma, é estima-la

Como a santa no altar

Cabra doida, é rifa-la

Que não venhas cá parar

Este conselho te dão

E não te levam dinheiro

Os cornudos que aqui estão

Com São Pedro hospitaleiro

Invejosos, quase todos

Dos cornos que o mundo guarda

Fazem mais um bocado de lamentação

(Nota do autor-quase, porque, entretanto alguns brincavam uns com os outros. Rabolices...

Mas se fornicas a rodos tua vida aqui não tarda

Recomeça a moralidade,estilo "estão verdes, não prestam"

Alguns bêbedos,cornudos despeitados ou amargurados, vozes pastosas

(deve ler-se vinho...velhinho)

Melhor que a mulher é o vinho

Que faz esquecer a mulher

Que faz do amor já velhinho

Ressurgir de novo o prazer

Finale muito católico

Assim termina o lamento

Pois recordar é sofrer

A mãe fode

É bom sustento

E por nós reza o pater

Luiz Pacheco, num dia em que se achou mais pachorrento

Enviado por: Mário Alberto Pacheco

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1 Comments:

At 4 de novembro de 2004 às 17:31, Anonymous Anónimo said...

Esta poesia é forte...
É mesmo à LUIZ PACHECO.
Um poeta "Marginal"
Mas como todos os poetas marginais é sublime.
Força amigos um abraço.
Carlos Alberto

 

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