segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

EIS UMA HISTÓRIA DE PASMAR... [parte VIII]


Era uma vez uma ponte que dava o nome à cidade e ao concelho.
Em nome do progresso da "treta", autoriza-se a destruição da ponte...
O resto é uma "história de pasmar":

Lá vem a Nau Catrineta
que tem muito que contar...
conta os dias a aumpulheta
para que possa zarpar
Dizem que em fins de Outubro
se fará de novo ao mar

Ouvi agora senhores
uma história de pasmar...
Primeiro foi D. Bugalheira
depois foi D. Carita
a este par lastimoso
se deve o estado em que estás
Já mandaram vir ferreiros
calafates e pintores
entalhadores, tanoeiros
e outros reparadores

E também chegados são
mestres de obra com cartel
que afirmam com convicção
e sapiência a granel
Pôr-te de novo no mar
sem sinal de quebradura
prontinha a recomeçar
a tua nova aventura

Já toda a gente aclama
o capitão que será
D. José, assim se chama
o que te comandará
Que promete dia a dia
a quem o quiser escutar
sem medo nem cobardia
outro Bojador dobrar

E outras Índias descobrir
de pimentas e canelas
de novos rumos abrir
com a cruz de Cristo nas velas
Se for Capitão-Real
porá fim às tuas mágoas
qual nau de Gama ou Cabral
hás-de voar sobre as águas

Alegra-te ó Catrineta
Ó nau de El-Rei D. Povo
que hás-de ficar repleta
de oiro, barca de um raio
Só de pedras preciosas
encherás o teu porão
e a perfume de cravos
cheirarás até mais não

E virá o Cardeal
com ladaínha e incensos
e as damas de Portugal
a acenar com seus lenços
Pois nem El-Rei faltará
ao glorioso zarpar
e a lágrima lá estará
marota pronta a saltar

Olha os velhos do Restelo
que ousam interrogar
cobardes, há que dizê-lo
não são dignos de embarcar
Na demanda gloriosa
que não tarda a começar
a da irmandade do cravo
com D. José a mandar

Ficarão sós a olhar
a ver a barca partir
com os marujos a cantar
e a plebe a aplaudir
exorcisando o agoiro
contra ventos e marés
para que a prata e o oiro
caiam do céu a seus pés

Já poetas se adiantam
a escrever novas glórias
com aqueles versos que cantam
as indómitas vitórias
nas demandas da mourama
nos mares do Adamastor
que nos trouxeram a fama
de ser povo sem temor

Mas ó poetas, cautela
terá sempre o mesmo fim
p'ra não perder a chancela
só pode acabar assim:
"...Lá vem a Nau Catrineta
que tem muito que contar
ouvi agora senhores
uma história de pasmar..."

Maria da Fonte da Vila

PS: Qualquer semelhança com a realidade é pura imaginação do leitor

Etiquetas: