HAJA ESPERANÇA, FORÇA E FUTURO
Les portugais sont toujours gaies.
Não se sabe onde os franceses do começo do século XX foram buscar esta fórmula, tão ridícula quanto idiota.
Somos tristes, macambúzios e cabisbaixos.
Salazar, ele mesmo, escreveu outra frase absurda, pretendidamente definidora das nossas características.
Somos um País de costumes brandes e de hábitos morigerados.
Sempre embiquei com a expressão, sobretudo com a última palavra. Pegamos toiros à unha, matamos por um fio de água, esquartejamos a mulher adúltera, somos rudes, por vezes bravos, por vezes fanfarrões.
Outro mito que se nos pegou foi o de sermos calões, madraços.
Bom.
Na Europa trabalhamos mais horas do que outro, ganhamos metade do que os outros ganham e expomos uma submissão, a que os patrões chamam humildade, nascida das necessidades que nos impõem e das grilhetas que nos aguardam.
Convém, pois, que não despertem as nossas fúrias, nem acicatem as nossas cóleras.
Vem o FMI e preparam-nos para sacrifícios inconcebíveis.
A indiferença parece generalizada.
Mas o programa ainda não foi aplicado.
Sócrates, com aquele ar entre o beatífico e o convincente, proclama que "é um bom programa; Passos Coelho, elegante de gesto de preclaro de voz, está de acordo, e até escreveu umas cartas à troika, para que a troika melhor conhecesse as nossas dificuldades e deficiências.
Portas, peito escancarado, colarinho aberto à modernidade, não diz que sim nem que não, antes pelo contrário.
Jerónimo e Louçã nem sequer fazem rasuras: breves, ásperos e decisivos, avisam-nos de que o documento do FMI & quejandos é uma boa merda.
Ninguém sabe onde isto vai parar.
Porém, a linguagem dos políticos azeda-se.
Até o dr. Catroga, avozinho sorridente, propõe a um grupo de jovens que castiguem com o tribunal, quiçá com a masmorra, o pobre do Sócrates que anda em bolandas. Não contente, o famoso economista, sublinha o que outros têm dito:Sócrates é um mentiroso compulsivo.
Preopinantes sem eira de ideias nem beira de credibilidade estão embaraçados com as sondagens. Nem eles nem ninguém as percebe.
O PS de Sócrates bate-se, ponto a ponto, vírgula a vírgula, com Passos Coelho, ainda há três semanas no alto das preferências dos votantes.
A lista de pessoas desprovidas de razão, de entendimento e de compreensão da História e dos seus fenómenos, que assola as televisões, as rádios e os jornais chega a ser inquietante.
Dizem todos o mesmo; quero dizer: não dizem nada que espevite o nosso raciocínio.
Aliás, nem se percebe como esta gente zonza debita prosa na comunicação social.
Quem os elege?
As direcções?
Mas as direcções são, elas também, tão frouxas, tão arrogantes e tão vazias de conhecimento.
O riso e o sarcasmo, que zurziam nos costumes, passaram a ser galhofa, tirocínio de uns meninos falsamente enfadados e tenazmente tolos.
Em algumas rádios descobriram estes génios de pacotilha, assim como em algumas televisões.
Riem-se muito e não hesitam em enxovalhar pessoas de bem, cujo único pecado é esse, rigorosamente, serem pessoas de bem.
A acalmia que se verifica na sociedade portuguesa não passa de isso mesmo. Carlos Ferrão, grande jornalista republicano, estudioso com minúcia das questões de política internacional, que foi largamente elogiado por Walter Lippmann, na época o maior colunista norte-americano - Carlos Ferrão costumava dizer: Não acordem o povo. O povo foi adormecido pelos poderosos, e o seu despertar será estrondoso.
Atenham-se à frase e temam.
Há sinais e advertências de que não se pode fazer de nós aquilo que outros quiserem seja feito.
Ainda não há muito, trezentas mil pessoas, chamadas pelo apelo de meia dúzia de jovens da geração à rasca, encheram a avenida principal de Lisboa. Em boa razão, nenhum partido de Esquerda pôde reclamar-se da iniciativa. Ela foi espontânea, nascida da indignação e do sufoco.
Claro que o medo inunda-nos.
O medo de perder o emprego, o medo de termos de voltar a emigrar, o medo do presente e do futuro.
O medo social, o pior de todos os medos.
Há dias, um apaniguado do PSD, dizia que este partido mete medo, mais medo do que outros.
A afirmação pretendia explicar e justificar a quebra de intenções de voto naquele partido.
Talvez assim seja.
A verdade é que as constantes declarações de Pedro Passos Coelho passam pela ingenuidade mais inócua e pela ameaça mais monstruosa.
Ele pode dizer o contrário, mas o exposto leva-nos a considerar que não só deseja dar cabo da Constituição como de amolgar o Serviço Nacional de Saúde, a escola pública, a Segurança Social.
Não é só a Esquerda que o afirma e condena: são amplos sectores das faixas mais moderadas e conservadoras da sociedade portuguesa que não escondem o mal-estar.
Ninguém, de recta intenção, adivinha no que isto vai dar.
A solução será aquela que propõem o patronato e os banqueiros?
- uma coligação entre PS, PSD e CDS? Não creio que esta seja a solução.
Mas também ignoro qual será.
De qualquer das formas, meu Dilecto, haja esperança, força e futuro.
B.B.
Não se sabe onde os franceses do começo do século XX foram buscar esta fórmula, tão ridícula quanto idiota.
Somos tristes, macambúzios e cabisbaixos.
Salazar, ele mesmo, escreveu outra frase absurda, pretendidamente definidora das nossas características.
Somos um País de costumes brandes e de hábitos morigerados.
Sempre embiquei com a expressão, sobretudo com a última palavra. Pegamos toiros à unha, matamos por um fio de água, esquartejamos a mulher adúltera, somos rudes, por vezes bravos, por vezes fanfarrões.
Outro mito que se nos pegou foi o de sermos calões, madraços.
Bom.
Na Europa trabalhamos mais horas do que outro, ganhamos metade do que os outros ganham e expomos uma submissão, a que os patrões chamam humildade, nascida das necessidades que nos impõem e das grilhetas que nos aguardam.
Convém, pois, que não despertem as nossas fúrias, nem acicatem as nossas cóleras.
Vem o FMI e preparam-nos para sacrifícios inconcebíveis.
A indiferença parece generalizada.
Mas o programa ainda não foi aplicado.
Sócrates, com aquele ar entre o beatífico e o convincente, proclama que "é um bom programa; Passos Coelho, elegante de gesto de preclaro de voz, está de acordo, e até escreveu umas cartas à troika, para que a troika melhor conhecesse as nossas dificuldades e deficiências.
Portas, peito escancarado, colarinho aberto à modernidade, não diz que sim nem que não, antes pelo contrário.
Jerónimo e Louçã nem sequer fazem rasuras: breves, ásperos e decisivos, avisam-nos de que o documento do FMI & quejandos é uma boa merda.
Ninguém sabe onde isto vai parar.
Porém, a linguagem dos políticos azeda-se.
Até o dr. Catroga, avozinho sorridente, propõe a um grupo de jovens que castiguem com o tribunal, quiçá com a masmorra, o pobre do Sócrates que anda em bolandas. Não contente, o famoso economista, sublinha o que outros têm dito:Sócrates é um mentiroso compulsivo.
Preopinantes sem eira de ideias nem beira de credibilidade estão embaraçados com as sondagens. Nem eles nem ninguém as percebe.
O PS de Sócrates bate-se, ponto a ponto, vírgula a vírgula, com Passos Coelho, ainda há três semanas no alto das preferências dos votantes.
A lista de pessoas desprovidas de razão, de entendimento e de compreensão da História e dos seus fenómenos, que assola as televisões, as rádios e os jornais chega a ser inquietante.
Dizem todos o mesmo; quero dizer: não dizem nada que espevite o nosso raciocínio.
Aliás, nem se percebe como esta gente zonza debita prosa na comunicação social.
Quem os elege?
As direcções?
Mas as direcções são, elas também, tão frouxas, tão arrogantes e tão vazias de conhecimento.
O riso e o sarcasmo, que zurziam nos costumes, passaram a ser galhofa, tirocínio de uns meninos falsamente enfadados e tenazmente tolos.
Em algumas rádios descobriram estes génios de pacotilha, assim como em algumas televisões.
Riem-se muito e não hesitam em enxovalhar pessoas de bem, cujo único pecado é esse, rigorosamente, serem pessoas de bem.
A acalmia que se verifica na sociedade portuguesa não passa de isso mesmo. Carlos Ferrão, grande jornalista republicano, estudioso com minúcia das questões de política internacional, que foi largamente elogiado por Walter Lippmann, na época o maior colunista norte-americano - Carlos Ferrão costumava dizer: Não acordem o povo. O povo foi adormecido pelos poderosos, e o seu despertar será estrondoso.
Atenham-se à frase e temam.
Há sinais e advertências de que não se pode fazer de nós aquilo que outros quiserem seja feito.
Ainda não há muito, trezentas mil pessoas, chamadas pelo apelo de meia dúzia de jovens da geração à rasca, encheram a avenida principal de Lisboa. Em boa razão, nenhum partido de Esquerda pôde reclamar-se da iniciativa. Ela foi espontânea, nascida da indignação e do sufoco.
Claro que o medo inunda-nos.
O medo de perder o emprego, o medo de termos de voltar a emigrar, o medo do presente e do futuro.
O medo social, o pior de todos os medos.
Há dias, um apaniguado do PSD, dizia que este partido mete medo, mais medo do que outros.
A afirmação pretendia explicar e justificar a quebra de intenções de voto naquele partido.
Talvez assim seja.
A verdade é que as constantes declarações de Pedro Passos Coelho passam pela ingenuidade mais inócua e pela ameaça mais monstruosa.
Ele pode dizer o contrário, mas o exposto leva-nos a considerar que não só deseja dar cabo da Constituição como de amolgar o Serviço Nacional de Saúde, a escola pública, a Segurança Social.
Não é só a Esquerda que o afirma e condena: são amplos sectores das faixas mais moderadas e conservadoras da sociedade portuguesa que não escondem o mal-estar.
Ninguém, de recta intenção, adivinha no que isto vai dar.
A solução será aquela que propõem o patronato e os banqueiros?
- uma coligação entre PS, PSD e CDS? Não creio que esta seja a solução.
Mas também ignoro qual será.
De qualquer das formas, meu Dilecto, haja esperança, força e futuro.
B.B.
Etiquetas: Portugal 2011
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