quarta-feira, 17 de novembro de 2004

POESIA...

Eu pego na minha viola
E canto assim
Esta vida
A correr

Eu sei que é pouco
e não consola
Nem cozido à portuguesa
há sequer

Quem canta sempre se levanta
Calados é que podemos cair
Com o vinho molha-se a garganta
Se a lua nova está para subir

Que atrás dos tempos vêm tempos
E outros tempos hão-de vir

Eu sei de histórias verdadeiras
Umas belas
Outras tristes de assombrar

Do marinheiro morto em terra
Em luta por melhor vida no mar

Da velha criada despedida
Que enlouqueceu e se pôs a cantar

E do trapeiro da avenida
Mal dormido se pôs a ouvir

Que atrás dos tempos vêm tempos
E outros tempos hão-de vir

Sei de vitórias e derrotas
Nesta luta que se há-de vencer

Se quem trabalha não esgosta
No seu salário sempre a descer

Olha a polícia
Olha o talher
Olha o preço da vida a subir

Mas quem mal faz
Por mal espere
Se o tirano fez a festa
P'ra fugir

Que atrás dos tempos vêm tempos
E outros tempos hão-de vir

Mas esse tempo que há-de vir
Não se espera como a noite
Espera o dia

Nasce da força que transpira
De braços e pernas em harmonia
Já basta tanta desgraça
Que a gente tem no peito
A cair

Não é do povo
Nem da raça
Mas do modo como vês o porvir

Que atrás dos tempos vêm tempos
E outros tempos hão-de vir



Fausto Bordalo Dias