domingo, 20 de março de 2005

ATÉ O JORGE SAMPAIO, VIU O "ESTADO A QUE ISTO CHEGOU"...

TRÊS DIAS A CHAMAR
A ATENÇÃO PARA
O ABANDONO
DO ALENTEJO




O Presidente da República começou por falar da seca, em Ponte de Sôr. Em Nisa,criticou a ausência de prevenção aos fogos e a regionalização, no Crato, abordou a terceira idade

O alto, o centro e sul alentejanos revelam problemas estruturais idênticos e idênticas potencialidades. Foi basicamente esta a mensagem que Jorge Sampaio procurou transmitir aos alentejanos do norte, chamando a atenção para o peso que uma só região pode representar se forem superados os laivos bairristas que têm marcado a constituição da descentralização administrativa, proposta pelo governo de Durão Barroso.
Avisado para o mais grave problema que aflige o sul do país, Sampaio logo no primeiro dia da presidência aberta a três concelhos do distrito de Portalegre, falou, em Ponte de Sôr, das consequências da seca. Poderia tê-lo feito nos mesmos termos em Mértola, Mourão ou qualquer outro concelho do litoral alentejano. O drama que desta vez afecta todo o país, reveste-se de particular gravidade na região sul.
Mas também teve tempo de realçar a importância de instalar em Ponte de Sôr uma empresa aeronáutica onde se constróem aviões ligeiros e ultra-ligeiros com dois e quatro lugares. Foi o entusiasmo de um português, João Folgado, que, em 1999, conseguiu atrair o interesse da Dyn Aero empresa aeronáutica francesa.
Hoje, uma mão de obra oriunda do mundo rural, habituada às práticas agrícolas, especializou-se no manuseio dos tecidos em fibra de carbono, nas madeiras, colas e resina sintéticas para moldar, é o termo exacto, sofisticados aparelhos que não ultrapassam os 250 quilos de peso e que podem atingir velocidades de 340 quilómetros/hora, transportando 240 quilos de carga útil. O segredo maior está na abertura do município de Ponte de Sôr e na existência de uma mão de obra " muito aplicada e criteriosa" reconhecem os responsáveis franceses.
Mas a par deste exemplo empresarial, baseado nas novas tecnologias, evidenciam-se, no lado oposto, os dolorosos custos da interioridade, as assimetrias que desertificam os campos dos jovens e deixam os mais velhos ao abandono.
Este tema foi uma constante nas mensagens do Presidente da República sempre que ele se deslocou a qualquer concelho do Alentejo, ao longo de quase uma década. Um território composto por 47 municípios, mas que têm metade dos habitantes da cidade de Lisboa.
Foi este paradoxo demográfico que fez com que hoje vivam tantos alentejanos na sua região de origem, com os vivem e trabalham na área metropolitana de Lisboa e Setúbal, que o Presidente chamou vezes sem conta a atenção, apelando aos ficaram nas planícies do sul ou no norte alentejano, para que juntassem as suas vozes, numa só. Mas o desencontro prossegue, à volta das divisões que a descentralização administrativa veio dar corpo, enquanto a regionalização não vier marcar o tempo de um outro debate, num território que está a demonstrar não ter condições estruturais para suportar uma rápida inovação no sector agrícola. A não ser que a tecnologia e os financiamentos sejam espanhóis, holandeses ou belgas.
Em Nisa, Sampaio, lembrou o terrível incêndio do último verão que deixou os ricos montados carbonizados. Maria Gabriela Menino, presidente da Câmara, lembrando que no seu concelho, apesar do desastre ainda " há qualidade de vida". Este argumento não impediu que Sampaio de se insurgir contra o abandono da floresta e falta de prevenção para acautelar pesadelos idênticos. Os pessoas ouvem com atenção e em silêncio. O orador comove-se: " Sinto-me feliz porque julgo que perceberam que não se pode desmorecer". Mas não se pode pensar que gente idosa possa ter forças para retomar a esperança.
O Presidente ainda deu o exemplo, plantando árvores em Nisa no Dia Mundial da Floresta. As crianças gostaram, o povo aplaudio o gesto do mais alto magistrado da nação, que ficou vermelho e de garganta seca devido ao calor que se fez sentir na passada sexta feira.
Em Alter do Chão onde visitou a realização maior do concelho, a sua coudelaria, recebeu o compromisso, vindo do norte, de que ali seria instalada uma fábrica de cortiça. Sinais de esperança, embora ténues.
Foi o momento do Presidente da República lembrar o papel das autarquias "como o grande actor do desenvolvimento regional e local" que chegou primeiro que a descentralização administrativa ou a regionalização.
No último dia, Sampaio, deslocou-se à vila do Crato, onde o aguardavam para um mega almoço, cerca de 800 idosos. Numa tenda montada para o efeito o Presidente dedicou este dia à política social, para lembrar que "ainda existem pessoas sem qualquer rendimento" e que continuam a faltar equipamentos sociais, lares, centros de dia e apoio domiciliário, sobretudo para os chamados grandes dependentes que considerou "um problema social gravíssimo".
Pesem embora as carências enormes que continuam a subsistir na assistência social a idosos, Sampaio, incentivou os presentes, no almoço de confraternização do Dia do Idoso, no Crato, para a prática de "um envelhecimento activo", que possa ser dedicado à família, ao trabalho voluntário ou ao mais diverso tipo de ocupações salutares. " O importante é que a pessoa idosa não se deixe morrer por dentro", concluiu Sampaio, na sua derradeira mensagem, após ter visitado o último concelho que lhe faltava em todo o Alentejo, um percurso que demorou quase uma década a concretizar.

Carlos Dias

1 Comments:

At 21 de março de 2005 às 10:35, Anonymous Anónimo said...

Afinal de contas o "Alentejo" e Ponte de Sor em concreto, não vai bem, muito falta ainda fazer.
Há muito "fogo de vista" e poucas medidas estruturantes para mudar o ciclo de desenvolvimento e de qualidade de vida dos habitantes do concelho de Ponte de Sor e dos restantes concelhos visitados.
Até o Sr. Presidente notou.

 

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