quarta-feira, 18 de maio de 2005

E ESTA ... UM DELES ERA CANDIDATO PELO CÍRCULO DE PORTALEGRE


Rui Pimentel/Visão

- Preciso de abater 2.000 sobreiros...
- Já falaste com o teu banco?
- Não, falei com o teu...


in:
http://filhosdaponte.blogspot.com

Nas instalações da Escom
Minuta do despacho de Guedes, Telmo e Neves
apreendida em empresa do BES




Uma minuta do despacho dos ex-ministros Nobre Guedes, Telmo Correia e Nobre Guedes que caucionou o abate de sobreiros para o empreendimento turístico do Grupo Espírito Santo, em Benavente, foi apreendida nas instalações da Escom, durante a busca ali realizada no âmbito das investigações do caso Portucale.

O processo administrativo arquivado no Ministério do Ambiente com os documentos relativos àquele despacho foi também anteontem requisitado pelo Ministério Público, para o juntar ao inquérito.

O confisco da minuta fez adensar as suspeitas de que a decisão dos três ex-ministros do Governo PSD- CDS/PP terá sido negociada fora do Ministério do Ambiente, alegadamente pelo empresário Abel Pinheiro, também responsável pelas finanças do Partido Popular durante a liderança de Paulo Portas.

Pinheiro, recorde-se, foi o único arguido do inquérito a ser detido na acção desencadeada no início da semana passada pelo Departamento Central de Investigação e de Acção Penal, com a colaboração da Direcção Central de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira da Polícia Judiciária. A operação envolveu buscas aos escritórios de Nobre Guedes, Abel Pinheiro e de três empresas do Grupo BES, cujos administradores (Luís Horta e Costa, Carlos Calvário e José Manuel Santos) foram constituídos arguidos, por indícios de tráfico de influências. As diligências envolveram também a apreensão de documentação bancária.

A minuta do despacho interministerial apreendida nas instalações da Escom é mais uma prova documental para os investigadores que, desde Dezembro e com maior intensidade a partir da sua publicação no Diário da República, em 8 de Março passado, tentam averiguar a amplitude das relações entre empresas do grupo Espírito Santo e membros do Governo liderado por Pedro Santana Lopes. E esse deverá ser um aspecto a esclarecer pelo magistrado titular dos autos, o procurador da República Rosário Teixeira, quando decidir interrogar os quatro arguidos que ainda não foram chamados a prestar declarações: o ex-ministro Luís Nobre Guedes, Luís Horta e Costa, Carlos Calvário e José Manuel Santos. Rosário Teixeira deverá ainda definir o estatuto processual dos ex-ministros Telmo Correia e Costa Neves.

O despacho que deu luz verde aos abate dos sobreiros na herdade da Vargem Fresca poderá ser origem de um outro crime, o de falsificação, uma vez que tem a data de 16 de Fevreiro, mas foi assinado após as eleições que ditaram a maioria absoluta do PS, segundo revelou o semanário Expresso. Os três ex-ministros classificaram o empreendimento turístico da Portucale em Benavente, que é cem por cento privado, como tendo "imprescindível utilidade pública". E só esta declaração caucionaria o abate dos sobreiros para deixar livre o espaço para o projecto imobiliário previsto para a herdade. Assim como a azinheira, esta espécie de árvore está protegida por uma legislação que apenas autoriza cortes rasos de montado em casos de projectos de imprescindível utilidade pública - como auto-estradas, barragens ou hospitais - ou em empreendimentos agrícolas de relevante interesse para a economia nacional.

Com a "luz verde" de Nobre Guedes, Telmo Correia e Costa Neves, cerca de 900 sobreiros foram deitados abaixo na herdade da Vargem Fresca, onde a Portucale já tem campos de golfe e pretende avançar com a parte urbana do empreendimento turístico. As árvores derrubadas foram as necessárias para a construção das infra-estruras.

O corte foi suspenso por uma providência cautelar interposta pela associação ambientalista Quercus e por ordem, também, do actual ministro da Agricultura, Jaime Silva. O Governo de José Sócrates acabou por revogar o próprio despacho que declarava a utilidade pública da Portucale.


Público

1 Comments:

At 18 de maio de 2005 às 16:44, Anonymous Anónimo said...

Questionado sobre a importância do aparecimento deste tipo de documentos no processo, o advogado António Marinho Pinto considera que este pode ser um indício muito grave.

«Quer dizer que o acto normativo praticado por aqueles três membros do Governo não foi um acto livre, foi um acto elaborado, feito com negociações prévias com os interessados. Isto poderá envolver outro tipo de crime», como o de corrupção, se se vier a demonstrar que houve vantagem patrimonial para os envolvidos.
Para António Marinho Pinto, as hipóteses deste caso configurar outros crimes são elevadas. O advogado explica que, em termos jurídicos, o tráfico de influências não se aplica aos influenciados que, eventualmente, poderão ser responsabilizados por outros crimes.

 

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