quarta-feira, 8 de junho de 2005

REFORMA?

QUAL REFORMA?


O país politicamente correcto parece rendido às medidas do Governo Sócrates para reduzir o défice.

Todo o regime se curva diante de uma aparente sageza e coragem das decisões anunciadas. E, perante a inevitabilidade de medidas difíceis, os portugueses parecem resignados.

Medidas difíceis para todos?
Obviamente que não.
As soluções apresentadas não passam de novas facilidades para o aparelho de Estado e representam redobrado esforço para o povo.

Perante um cenário de défice, não conjuntural ou pontual, mas estrutural e crónico, com as despesas públicas a ultrapassarem largamente a receita, que decidiu o nosso Governo?
Baixar a despesa, como lhe competia?
Poupar?
Claro que não.
Optou pelo caminho fácil do aumento da receita, à custa, mais uma vez, dos impostos que vai roubar aos já depauperados bolsos dos contribuintes.

Assim, iremos assistir a mais um anacrónico acréscimo da carga tributária, essa forma dissimulada de roubo, verdadeiro assalto à mão armada. Representante máximo dessa organização pouco séria que é o Estado português, ao ter de optar entre a poupança que se impunha ou o roubo que se propunha, o primeiro-ministro escolheu este último caminho.

José Sócrates promete reduzir o défice orçamental através de dois tipos de medidas:
- o aumento de receitas fiscais e a diminuição de despesa na administração pública. Do primeiro grupo de propostas, salienta-se a subida do IVA para 21%. Depois de ter crescido, temporariamente, para 19% – o que contribuiu, em minha opinião, para que os governos do PSD tenham tido também um carácter demasiadamente temporário – a taxa de IVA vê-se agora guindada a esse patamar supremo dos 21%.
Com este acréscimo de receita, cuja proveniência são os bolsos de todos os contribuintes, o Governo socialista garante assim a tranquilidade na governação, os meios financeiros necessários à distribuição de benesses, mantém o aparelho rosa sossegado. Descansem pois todos os adeptos da cunha e do compadrio, porque meios não vão faltar, a receita está garantida. Com um pouco de sorte, irão ainda poder inventar mais algumas obras faraónicas ou de regime.

O reverso da medalha é o empobrecimento dos portugueses.
Os já debilitados orçamentos familiares irão ficar completamente exauridos.
O elevado índice de desemprego, associado a reduzidíssimos rendimentos, trará consequências terríveis sob o ponto de vista social.
As empresas irão ver reduzidos os seus já fracos níveis de competitividade, muitas encerrarão, agravando a falta de emprego.
Neste novo quadro fiscal, promessas de novos investimentos são inverosímeis.

Quanto ao segundo tipo de medidas, de redução da despesa na administração, estamos conversados.
As soluções propostas para a função pública são de dois tipos.
As inexequíveis, já que retirariam regalias e direitos adquiridos ao grosso da máquina da administração pública; e obviamente seriam declaradas inconstitucionais, como Sócrates bem sabe.
São medidas aparentes, virtuais e apenas servem para alimentar um discurso demagógico. E as inócuas: algumas terão aplicação em tão poucos funcionários (os que vierem a integrar a função pública) que os seus efeitos ou consequências serão insignificantes.
A grande proposta, apresentada como a mais corajosa de todas, anunciada como a grande revolução, a alteração ao sistema de reformas dos funcionários públicos, é quase ofensiva, por tão inofensiva. “Até 2008 o impacto desta medida sobre o défice orçamental será relativamente pequeno”, como reconhece o próprio ministro das Finanças.

A montanha pariu um simples ratinho.
Entre soluções impossíveis e propostas irrelevantes se esgota a reforma da administração pública de Sócrates.

Se o objectivo do Governo é apresentar já no Orçamento de Estado de 2006 um valor de 4,8%, mas as anunciadas diminuições de despesa no aparelho de Estado “terão reduzido impacto até 2008”, parece pois evidente que a redução do défice será conseguida de forma simples: tão só e apenas aumentando a receita fiscal, à custa dos já magros rendimentos dos pobres dos portugueses.

Em suma, enquanto o acréscimo de tributação é real, a diminuição de despesa do Estado é apenas aparente.

Quem irá beneficiar destas medidas?
Naturalmente todos quantos vivem pendurados no aparelho de Estado, poderosos, corporações, enfim os de sempre.
Verão as suas receitas aumentadas, sem que ninguém na máquina, no aparelho, veja minimamente beliscados os seus interesses.

Ao contrário do Zé do Telhado, Sócrates tira aos pobres para dar aos ricos. Que estão cada vez mais ricos e poderosos, porque vivem pendurados num orçamento de Estado que não pára de crescer.

Paulo Morais


2 Comments:

At 8 de junho de 2005 às 14:47, Anonymous Anónimo said...

CARTA ABERTA A ALGUNS POLÍTICOS PORTUGUESES


Caros políticos,



Estou com um problema, acredito na democracia mas estou farto da maioria de vós, e como eu muitos portugueses consideram uma parte de vocês são incompetentes, corruptos e oportunistas, o que é injusto pois paga o justo pelo pecador.

Nasci na ditadura e com esta aprendi que a democracia é geradora de progresso e este é um dos poucos sonhos que me restam, depois do pesadelo em que os senhores têm transformado a vida política portuguesa. E como continuo a acrditar na democracia tenho que concluir que o mal é dos que vão para a política em busca de vida fácil e, portanto, em vez de pensar em acabar com a democracia, acho mais saudável livrar-me de alguns de vocês.

É que estou farto do défice, há mais de vinte anos que me tramam o nível de vida com um défice de que vocês foram os grandes beneficiários e únicos responsáveis, estou farto de ver o meu país condenado a ser o traseiro da Europa, estou farto de ver gerações de portugueses irem para escolas onde pouco se aprende, estou farto de vos ver enriquecer, estou farto de vos ver corromperem-se, estou farto de vos ver pôr os interesses pessoais acima dos do país ainda que se fizessem o inverso de pouco nos serviria.

Compreendo que abandonar a política não é fácil, muitos de vós foram para a política porque era aí o único domínio onde poderiam ter sucesso na vida, a inteligência não dava para mais; compreendo que se houvessem vagas para todos na administração da GALP todos acederiam à minha sugestão, mas paciência, não há.

Mas não têm razões para ficarem preocupados, já ganharam o suficiente, e mesmos os que não conseguiram um lugarzito de vogal no banco de um amigo sempre podem contar com a pensãozita que é algo que nós cidadãos comuns temos que aguardar que o caruncho nos corroa o corpo e a alma para termos direito, e no nosso caso é mesmo um direito.

Retirem-se e permitam que os vossos partidos se renovem, que uma nova geração de políticos ascenda aos lugares de direcção, escolhidos pelo mérito e não por uma teia de interesses obscuros, permitam que a democracia prove que é o único modelo político em que é aceitável viver. Tenham pelo menos um gesto nobre nas vossas tristes carreiras.

 
At 8 de junho de 2005 às 18:39, Anonymous Anónimo said...

Resposta ao comentário anterior: - O que é a democracia? Pouco me lembro do antigo regime mas este é apenas pura demagogia, de democracia apenas conheço os conceitos e definições estudadas mas que não conheço na prática... Engane-se quem pense que pode opinar seja o que quer que for sem sofrer represálias das chamadas hierarquias...

 

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