OPINIÃO
A mentira como instituição
Um dos meus correspondentes pergunta-me:
«Sabe que muitos professores universitários, do ramo tecnológico, aconselham os alunos a pirar-se e a procurar a vida no estrangeiro?»
Sei. E acrescento: amigos meus instigam os filhos a fazer o mesmo. E julgo saber que actuais e antigos governantes praticam, com os seus, o mesmo verbo.
Um dos meus correspondentes pergunta-me: «Sabe que muitos professores universitários, do ramo tecnológico, aconselham os alunos a pirar-se e a procurar a vida no estrangeiro?»
Sei. E acrescento: amigos meus instigam os filhos a fazer o mesmo. E julgo saber que actuais e antigos governantes praticam, com os seus, o mesmo verbo.
Significam estas decisões que Portugal não tem futuro, sublinhando a decisão de Guterres quando, espavorido, fugiu, por «ingovernabilidade do País»?
«Sabe que muitos professores universitários, do ramo tecnológico, aconselham os alunos a pirar-se e a procurar a vida no estrangeiro?»
Sei. E acrescento: amigos meus instigam os filhos a fazer o mesmo. E julgo saber que actuais e antigos governantes praticam, com os seus, o mesmo verbo.
Um dos meus correspondentes pergunta-me: «Sabe que muitos professores universitários, do ramo tecnológico, aconselham os alunos a pirar-se e a procurar a vida no estrangeiro?»
Sei. E acrescento: amigos meus instigam os filhos a fazer o mesmo. E julgo saber que actuais e antigos governantes praticam, com os seus, o mesmo verbo.
Significam estas decisões que Portugal não tem futuro, sublinhando a decisão de Guterres quando, espavorido, fugiu, por «ingovernabilidade do País»?
Nada disso.
Portugal ainda não teve dirigentes à altura da sua grandeza.
A lista de jovens que, lá fora, realizam os sonhos, aqui tornados impossíveis, é enorme. Porém, não tão grande como o rol dos que ficam, e, no silêncio e no zelo, com talento, vocação e orgulho, constroem o argumento contrário.
A rotatividade no poder, entre o PSD e o PS, autorizou a amálgama de vícios, corrupções, mediocridade e nepotismo que originou a atmosfera palustre na qual a pátria está mergulhada. E desenvolveu-nos a consciência da nossa fragilidade histórica.
É do domínio público o facto de Sócrates governar «à direita»;
A rotatividade no poder, entre o PSD e o PS, autorizou a amálgama de vícios, corrupções, mediocridade e nepotismo que originou a atmosfera palustre na qual a pátria está mergulhada. E desenvolveu-nos a consciência da nossa fragilidade histórica.
É do domínio público o facto de Sócrates governar «à direita»;
Como é notória a circunstância de Cavaco ser o maior responsável pelo descalabro a que chegámos. [A entrevista de Miguel Cadilhe à revista "Visão" é esclarecedora].
Que fazer?
Que fazer?
A maioria das dúvidas que merece a atenção de quem realmente se preocupa, e não sai daqui, encontra a exacta equivalência contrária na teia reticular de interesses que em si mesmos se justificam para garantir a sobrevivência.
A melancólica peregrinação a lugares partilhados pelos dois partidos «de poder» chega a ser afrontosa.
Esta apatia conduz-nos, inexoravelmente, para a construção de um busto a colocar na vala comum onde vai jazer a democracia. Nada se discute de fundamental para o nosso destino imediato.
Esta apatia conduz-nos, inexoravelmente, para a construção de um busto a colocar na vala comum onde vai jazer a democracia. Nada se discute de fundamental para o nosso destino imediato.
A Ota e o TGV são remendos de um tecido mal amanhado.
O desvio dos «campos de atenção» foi inaugurado por Maquiavel e aplicado – vejam bem! – por Bertoldt Brecht nas práticas teatrais.
As coisas da política tornam-se livremente acessíveis às hipóteses de teatro.
A indiferença converteu-se numa sistemática desatenção, e na mais perversa balbúrdia.
A indiferença converteu-se numa sistemática desatenção, e na mais perversa balbúrdia.
Não é apenas Sócrates que não cumpre o prometido.
Antes dele, os outros (todos, sem excepção) faltaram à palavra.
O descrédito na política e o desprezo pelos políticos são impulsos de autodefesa. Mentem-nos e prosseguem, impunes, uma «carreira» que não deixa nunca de ser afortunada.
Sócrates, com as veias a saltar do pescoço, animou o nosso desespero quando assegurou a criação de cento e cinquenta mil empregos.
Sócrates, com as veias a saltar do pescoço, animou o nosso desespero quando assegurou a criação de cento e cinquenta mil empregos.
Ele sabia que o compromisso não seria observado.
Não omitiu: mentiu. O resultado é pungente: cerca de meio milhão no desemprego, fuga de técnicos qualificados, sessenta mil licenciados sem ter no que fazer, miséria, desorientação – e, de novo, suicídios.
Foi indiferente à nossa sensibilidade, cavou ainda mais fundo o buraco que separa governantes de governados. Inda por cima, demonstra uma arrogância displicente, cada vez mais acentuada.
Cavaco Silva vem agora pretender-se inocente perante factos estridentes.
Cavaco Silva vem agora pretender-se inocente perante factos estridentes.
Nas escassas entrevistas que deu, emerge como criatura ausente das gravíssimas responsabilidades que tem.
Convém não esquecer de que ele criou uma abstracção de democracia.
A década «cavaquista», ao contrário do que afirmam os seus afónicos tenores, foi lamentável: ele «eucaliptou» todos os sinais de vida em redor. Agora, ao acentuar o «apoliticismo», prognostica o esvaziamento de uma prática que já foi valorativa.
O homem não só detesta o debate, a discordância, como teme quem o contradiga. Dir-se-á: é um estilo.
Direi: uma máscara ocultadora de entranhadas debilidades.
Que pode fazer por Portugal?
Que pode fazer por Portugal?
Tal qual os outros candidatos: nada.
Não é por decreto, persuasão, compulsão ou «sugestões» aos governos que as coisas são alteradas ou modificadas. Somos nós que temos de realizar o necessário.
Entretanto, os jovens quadros são incitados a trabalhar e a viver no estrangeiro.
Os mais velhos desesperam, por impossibilidade de dar uma virada de 180 graus na sua existência.
Como disse Herculano: «Isto dá vontade de morrer!»
Baptista Bastos
2 Comments:
Aqui ao lado em Espanha arranca hoje a TDT, televisão digital terrestre. Portugal é apenas o país da Europa onde o processo está mais atrasado. Já nem falo das múltiplas perplexidades que o processo cá já causou como as daquele concurso (depois sem consequências...) ganho por um tal Pereira Coutinho... Falar do choque tecnológico não custa.
Espanha: televisão digital terrestre chega a 80 por cento
Arranca um serviço que os responsáveis técnicos garantem permitir mais interactividade, mais opções de canais e melhor qualidade de imagem e de som
Cerca de 80 por cento da população espanhola terá acesso a partir de hoje à televisão digital terrestre (TDT), assinalando o principio do fim da rede analógica, que acabará em 2010.
Mediante a compra de um descodificador e de modificações na antena existente, num custo que ronda os 100 euros, quem optar pela TDT terá acesso a 18 canais, que incluem as emissões dos canais generalistas e a canais temáticos.
Na prática, é o arranque de um serviço que os responsáveis técnicos garantem permitir mais interactividade, mais opções de canais e melhor qualidade de imagem e de som.
A nova tecnologia difunde os sinais de televisão usando a mesma rede de repetidores e antenas, mas enviando a informação de forma digital, ou seja nos tradicionais uns e zeros da linguagem dos computadores.
Isso optimiza o espaço radioeléctrico de transmissão, permitindo mais canais e melhor qualidade.
No caso de Espanha, a TDT permitirá aos telespectadores optar, quando virem filmes ou séries estrangeiras, escolher entre a versão original com legendas ou a versão dobrada.
As emissões de hoje arrancam com os canais da televisão generalista já disponíveis em analógico, a TVE, a Tele 5, a Antena 3 e a recém criada "cuatro", além da VEO e da Net TVm, que oferecem canais económicos, música, séries e outra programação.
O próximo passo será em 2006, com o nascimento de mais um canal generalista, o sexto, devendo o número de canais temáticos e serviços na TDT continuar a crescer.
Responsáveis do sector garantem que a televisão continua a viver um momento de forte expansão, com um volume publicitário significativo impulsionado pelo forte crescimento económico do país.
In: Portugal Diário
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