quarta-feira, 30 de novembro de 2005

OPINIÃO

A mentira como instituição

Um dos meus correspondentes pergunta-me:
«Sabe que muitos professores universitários, do ramo tecnológico, aconselham os alunos a pirar-se e a procurar a vida no estrangeiro?»
Sei. E acrescento: amigos meus instigam os filhos a fazer o mesmo. E julgo saber que actuais e antigos governantes praticam, com os seus, o mesmo verbo.
Um dos meus correspondentes pergunta-me: «Sabe que muitos professores universitários, do ramo tecnológico, aconselham os alunos a pirar-se e a procurar a vida no estrangeiro?»
Sei. E acrescento: amigos meus instigam os filhos a fazer o mesmo. E julgo saber que actuais e antigos governantes praticam, com os seus, o mesmo verbo.

Significam estas decisões que Portugal não tem futuro, sublinhando a decisão de Guterres quando, espavorido, fugiu, por «ingovernabilidade do País»?
Nada disso.
Portugal ainda não teve dirigentes à altura da sua grandeza.
A lista de jovens que, lá fora, realizam os sonhos, aqui tornados impossíveis, é enorme. Porém, não tão grande como o rol dos que ficam, e, no silêncio e no zelo, com talento, vocação e orgulho, constroem o argumento contrário.

A rotatividade no poder, entre o PSD e o PS, autorizou a amálgama de vícios, corrupções, mediocridade e nepotismo que originou a atmosfera palustre na qual a pátria está mergulhada. E desenvolveu-nos a consciência da nossa fragilidade histórica.

É do domínio público o facto de Sócrates governar «à direita»;
Como é notória a circunstância de Cavaco ser o maior responsável pelo descalabro a que chegámos. [A entrevista de Miguel Cadilhe à revista "Visão" é esclarecedora].

Que fazer?
A maioria das dúvidas que merece a atenção de quem realmente se preocupa, e não sai daqui, encontra a exacta equivalência contrária na teia reticular de interesses que em si mesmos se justificam para garantir a sobrevivência.
A melancólica peregrinação a lugares partilhados pelos dois partidos «de poder» chega a ser afrontosa.


Esta apatia conduz-nos, inexoravelmente, para a construção de um busto a colocar na vala comum onde vai jazer a democracia. Nada se discute de fundamental para o nosso destino imediato.
A Ota e o TGV são remendos de um tecido mal amanhado.
O desvio dos «campos de atenção» foi inaugurado por Maquiavel e aplicado – vejam bem! – por Bertoldt Brecht nas práticas teatrais.
As coisas da política tornam-se livremente acessíveis às hipóteses de teatro.

A indiferença converteu-se numa sistemática desatenção, e na mais perversa balbúrdia.
Não é apenas Sócrates que não cumpre o prometido.
Antes dele, os outros (todos, sem excepção) faltaram à palavra.
O descrédito na política e o desprezo pelos políticos são impulsos de autodefesa. Mentem-nos e prosseguem, impunes, uma «carreira» que não deixa nunca de ser afortunada.

Sócrates, com as veias a saltar do pescoço, animou o nosso desespero quando assegurou a criação de cento e cinquenta mil empregos.
Ele sabia que o compromisso não seria observado.
Não omitiu: mentiu. O resultado é pungente: cerca de meio milhão no desemprego, fuga de técnicos qualificados, sessenta mil licenciados sem ter no que fazer, miséria, desorientação – e, de novo, suicídios.
Foi indiferente à nossa sensibilidade, cavou ainda mais fundo o buraco que separa governantes de governados. Inda por cima, demonstra uma arrogância displicente, cada vez mais acentuada.

Cavaco Silva vem agora pretender-se inocente perante factos estridentes.
Nas escassas entrevistas que deu, emerge como criatura ausente das gravíssimas responsabilidades que tem.
Convém não esquecer de que ele criou uma abstracção de democracia.
A década «cavaquista», ao contrário do que afirmam os seus afónicos tenores, foi lamentável: ele «eucaliptou» todos os sinais de vida em redor. Agora, ao acentuar o «apoliticismo», prognostica o esvaziamento de uma prática que já foi valorativa.
O homem não só detesta o debate, a discordância, como teme quem o contradiga. Dir-se-á: é um estilo.
Direi: uma máscara ocultadora de entranhadas debilidades.

Que pode fazer por Portugal?
Tal qual os outros candidatos: nada.
Não é por decreto, persuasão, compulsão ou «sugestões» aos governos que as coisas são alteradas ou modificadas. Somos nós que temos de realizar o necessário.
Entretanto, os jovens quadros são incitados a trabalhar e a viver no estrangeiro.
Os mais velhos desesperam, por impossibilidade de dar uma virada de 180 graus na sua existência.
Como disse Herculano: «Isto dá vontade de morrer!»


Baptista Bastos

2 Comments:

At 30 de novembro de 2005 às 17:48, Anonymous Anónimo said...

Aqui ao lado em Espanha arranca hoje a TDT, televisão digital terrestre. Portugal é apenas o país da Europa onde o processo está mais atrasado. Já nem falo das múltiplas perplexidades que o processo cá já causou como as daquele concurso (depois sem consequências...) ganho por um tal Pereira Coutinho... Falar do choque tecnológico não custa.

 
At 30 de novembro de 2005 às 17:49, Anonymous Anónimo said...

Espanha: televisão digital terrestre chega a 80 por cento

Arranca um serviço que os responsáveis técnicos garantem permitir mais interactividade, mais opções de canais e melhor qualidade de imagem e de som


Cerca de 80 por cento da população espanhola terá acesso a partir de hoje à televisão digital terrestre (TDT), assinalando o principio do fim da rede analógica, que acabará em 2010.

Mediante a compra de um descodificador e de modificações na antena existente, num custo que ronda os 100 euros, quem optar pela TDT terá acesso a 18 canais, que incluem as emissões dos canais generalistas e a canais temáticos.

Na prática, é o arranque de um serviço que os responsáveis técnicos garantem permitir mais interactividade, mais opções de canais e melhor qualidade de imagem e de som.

A nova tecnologia difunde os sinais de televisão usando a mesma rede de repetidores e antenas, mas enviando a informação de forma digital, ou seja nos tradicionais uns e zeros da linguagem dos computadores.

Isso optimiza o espaço radioeléctrico de transmissão, permitindo mais canais e melhor qualidade.

No caso de Espanha, a TDT permitirá aos telespectadores optar, quando virem filmes ou séries estrangeiras, escolher entre a versão original com legendas ou a versão dobrada.

As emissões de hoje arrancam com os canais da televisão generalista já disponíveis em analógico, a TVE, a Tele 5, a Antena 3 e a recém criada "cuatro", além da VEO e da Net TVm, que oferecem canais económicos, música, séries e outra programação.

O próximo passo será em 2006, com o nascimento de mais um canal generalista, o sexto, devendo o número de canais temáticos e serviços na TDT continuar a crescer.

Responsáveis do sector garantem que a televisão continua a viver um momento de forte expansão, com um volume publicitário significativo impulsionado pelo forte crescimento económico do país.

In: Portugal Diário

 

Enviar um comentário

<< Home