Ponte de Sor - Suspensão de contratos na SuberCentro
Diogo Júlio, coordenador da União de Sindicatos do Norte Alentejano, adiantou à comunicação social que "a administração da empresa informou que não iria pagar este mês de Dezembro, porque não havia dinheiro, mas disponibilizou-se a passar um documento de forma a que os trabalhadores possam suspender o contrato de trabalho e requerer o subsídio de desemprego".
A empresa tem a sua base principal em produtos a partir da cortiça em prancha destinada à indústria transformadora, nomeadamente a confecção de rolhas, a maioria de vendas.
Esta unidade fabril, com cerca de 200 trabalhadores é considerada uma das mais modernas do mundo por estar completamente automatizada.
In: JORNAL FONTE NOVA Edição nº 1613 - Terça-feira, 23 de Dezembro de 2008
Tinha 120 anos e 33 metros de altura. Vivia num bosque remoto da montanha no município de Gutenstein, no vale de Piesting ( na Áustria), e nada sabia das nossas guerras, obsessões e vícios. Andava apenas preocupado em aguentar o peso da neve que periodicamente se depositava nos seus múltiplos ramos.
Até que num dia destes chegou um engenheiro florestal, parou, observou-o e disse-lhe, com voz de especialista:
- És o maior exemplar e o mais bonito de todos desta zona.
Ao ouvi-lo, algumas folhas dos ramos mais baixos coraram de vergonha, enquanto toda a árvore se pavoneou de vaidade, aproveitando um intervalo da ventania que ali soprava forte, sabendo bem que as árvores suas vizinhas, ao ouvirem aquilo, ficariam roídas de inveja.
Alguns dias mais tarde, o engenheiro voltou, mas desta vez com dezenas de operários e um grande camião com uma grua de todo o tamanho. Quando ouviu o som nauseabundo das moto-serras, o velho e garboso abeto percebeu logo que tinha chegado a sua hora.
Ainda tentou reclamar:
- Afinal, não me tinham dito que era o mais belo, alto e proporcionado abeto deste bosque? Então porque é que me matam?
Ouviu então uma resposta que arrepiava, e que tinha tanto de loucura como de cinismo:
- Meu caro, tens muita sorte, é o que te digo! Na verdade, o teu cadáver irá ser a prenda do nosso grande país, a Áustria, ao país mais pequeno do mundo, o Vaticano. Iremos instalar-te no centro de uma conhecidíssima praça, a praça de São Marcos, no Vaticano, para que todos admirem o teu cadáver. Enfeitaremos o teu corpo com milhares de bolas e enfeites, luzes e luzinhas a apagar e a acender, antes de, no topo, depositarmos uma estrela polar. Um coro de crianças dar-te-ão as boas vindas, e cantarão bonitas canções. Infelizmente já não as poderás ouvir, porque já estarás morto. O teu cadáver ficará assim exposto por alguns dias, até ao dia 2 de Fevereiro para a glória da Áustria e do Vaticano. Serás assim o símbolo do nascimento de Cristo e da vida eterna, prazer que, no en tanto, já não vais gozar porque assim decidiu o engenheiro florestal que te encontrou. Milhares pessoas, que te irão visitar, hão-de tirar fotografias do teu cadáver para mais tarde te recordar.
Espantado e incrédulo, a árvore gigante ainda perguntou:
- E depois?
- Bem, depois…, depois de 2 de Fevereiro vão-te lançar à lixeira, ou mandar-te para alguma incineradora nos arredores de Roma…. !!!
Desgraçadamente este não é um conto de fadas. É sim a triste realidade dos dias de hoje, no Estado eclesial do Vaticano, de acordo com um costume idiota, iniciado…. com o Papa João Paulo II !!!
Será que é tão difícil para a Igreja e a Cúria Vaticana salvar a vida destas árvores de enorme porte e que são um hino à mãe-natureza? Será que às suas consciências não pesará o pecado ecológico de serem cúmplices e autores morais dos assassinatos destas portentosas árvores, já para não falar do desperdício de energia que o seu transporte e a alimentação das luzes vai representar?
Que as imagens da chegada do cadáver de mais uma vítima inocente sirva de reflexão a todos nós sobre a frieza, a insensibilidade e a falta de respeito do Vaticano para a mãe-natureza, em particular para estas bonitas e majestosas árvores que são os enormes abetos das montanhas alpinas.
Neste Natal os meus agradecimentos vão para Sócrates Fiquei hoje a saber, ao ouvir a sua mensagem televisiva, que a ele devemos a descida das taxas de juro dos empréstimos à habitação. É bom ter como primeiro-ministro alguém que consegue mexer os cordelinhos certos no Banco Central Europeu.
Você, caro leitor, caro eleitor, caro devedor, é muito importante para o País, que não o trata como um mero algarismo: trata-o como nove algarismos. A resposta é o seu número de contribuinte. Você, caro pagador de impostos, é a personalidade do ano 2008.
Você é a personalidade do ano 2008. Sim, você. Porquê? Eis um momento David Copperfield: a resposta está dentro da sua carteira. A sério, procure bem, está escrita num rectângulo verde de oito centímetros e meio de largura, arrumado perto do cartão de crédito e junto da carta de condução. Tem um chip e no topo diz “Direcção Geral dos Impostos”.
Você, caro leitor, caro eleitor, caro devedor, é muito importante para o País, que não o trata como um mero algarismo: trata-o como nove algarismos. A resposta é o seu número de contribuinte. Você, caro pagador de impostos, é a personalidade do ano 2008.
Ninguém lhe perguntou nada, mas você deu tudo. Você está a salvar a economia, os bancos, as empresas, grandes, pequenas, micros e médias, tradicionais, multinacionais, electrónica, minas, automóvel. O que lhe dizem aqueles que lhe governam o dinheiro é que você se está a salvar a si mesmo. Não pode haver melhores intenções.
Você, caro contribuinte, comprou um banco falido, o Banco Português de Negócios. Você, caro contribuinte, salvou da bancarrota o Banco Privado Português. Você disse a todos os bancos privados que, se também precisarem, comprará partes do seu capital, participando nas injecções de dinheiro de que necessitem para vencer a crise financeira. Mas você fez ainda mais pelo sistema financeiro: mesmo depois de temer pelo dinheiro que tinha depositado, você disse que está disponível para servir de fiador, dando garantias para que os bancos se possam endividar, todos os bancos, incluindo o seu, a Caixa Geral de Depósitos, que aliás já utilizou a garantia: se o seu banco não conseguir pagar a dívida de 1,2 mil milhões contraída, paga-a você.
Mas você é generoso: nos últimos doze meses já aumentou o capital do seu banco por três vezes. E nem lhe disseram para o que era nem você achou estranho colocar mais dinheiro num banco que, apesar disso, vai baixar lucros e reduzir dividendos, devolvendo-lhe, portanto, menos do seu investimento. Aliás, você, diligente, já nem olha para o dinheiro que injecta no seu banco como um investimento, mas como filantropia: está a acudir a aflitos. Através do seu banco, você já emprestou dinheiro a multinacionais que estão perto da insolvência, já assinou contratos de financiamento para que construtoras possam asfaltar as estradas de que o País necessita para estancar a recessão e o desemprego.
Mas você, caro contribuinte, não se fica pela banca. Você já disse que as empresas industriais podem contar consigo em fusões e aquisições, pois está disponível para entrar no capital de empresas que se fundam. Você vai pagar parte dos juros de linhas de financiamento a PME, para que elas tenham crédito bonificado para, pura e simplesmente, pagarem contas e solverem a tesouraria. Você já prometeu pagar o que deve às empresas que lhe forneceram bens e serviços, embora não faça ainda ideia de como vai arranjar o dinheiro para pagar o calote.
Você vai ainda emprestar dinheiro aos funcionários públicos, sem lhes perguntar porquê ou para quê. E vai aumentar-lhes os salários bem acima da inflação. E tudo isto mesmo sabendo que todo o dinheiro que ganhou de 1 de Janeiro a 19 de Maio deste ano foi exclusivamente para pagar impostos. Mais: você é tão prestimoso que já está a empenhar os impostos dos seus próprios filhos, que terão de pagar no futuro o aumento do défice orçamental. E fá-lo sem sombra de rancor, depois de o Fisco ter ilegalmente congelado a sua conta bancária ou penhorado o seu imóvel, ter retido indevidamente reembolsos ou benefícios fiscais, tê-lo pressionado a pagar dívidas que estavam garantidas ou coagido a denunciar fornecedores.
Mas você não está sozinho, você é um cidadão europeu, onde centenas de milhões de contribuintes espanhóis, franceses, ingleses, alemães estão a fazer exactamente o mesmo. Sim, a Europa existe, ei-la unida através dos seus contribuintes, vítimas de uma crise que não é sua, mas que lhes permitiu recriar, mas não criar, um estilo de vida endividado e insustentável.
Você é a personalidade do ano porque o Estado em 2008 entrou pela economia adentro para a salvar. O Estado somos nós, eu e você, a sua mãe, o seu filho. Todos estamos a pagar para ver mas nem por isso estamos tranquilos.
Toda a opinião publicada prevê para 2009 uma degradação económica sem precedentes na vida dos portugueses. Nesse ponto, coincide a gente sensata que ainda sobra e os lunáticos de serviço. De facto, a avaliar pelo que se passa nos países ricos, por que carga de água Portugal, pequeno e pobre, resistiria?
Sucede que, para 2009, se prevê a mais baixa taxa de inflação desde 1973. Especialistas falam em 1%. Mesmo que seja o dobro, ajuda. Não obstante, em 2009, ou seja, daqui a dez dias, os funcionários públicos vão ter um aumento de 2,9% — o maior dos últimos dez anos. Em Portugal, como toda a gente sabe, funcionários públicos significa professores, médicos, enfermeiros, polícias, militares, magistrados, diplomatas, investigadores, engenheiros de estradas e pontes, técnicos aduaneiros, controladores aéreos, educadores de infância, espiões, etc., além, naturalmente, do meio milhão do regime geral. Por junto, cerca de 800 mil portugueses, isto é, 18% da população activa.
Como sempre acontece, as empresas públicas (universo que inclui, entre outras, a TAP, a REFER e a RTP) vão adoptar como seu o valor do aumento da Função Pública. E as grandes empresas privadas, como bancos, seguradoras, EDP, Portugal Telecom, Galp, etc., tendem a arredondar por excesso esse número. Para ajudar a festa, os transportes públicos, pela primeira vez desde 1974, congelaram o tarifário. Depois dos inopinados aumentos do Verão, os combustíveis estão agora a preços da Primavera de 2006. E as taxas do crédito à habitação regressaram ao patamar do Outono de 2006. Tudo almofadas suficientes para facilitar a vida de grande parte da população.
É isto um mar de rosas? Não é. O desemprego vai continuar a aumentar, sobretudo a Norte. Fábricas vão continuar a fechar no Vale do Ave. Mas alguma vez a opinião pública se comoveu com o desemprego desses milhares de trabalhadores à mercê dos empresários do lock-out que deviam (muitos deles) estar na cadeia em vez de ao volante do Ferrari? Fornadas de licenciados, dois terços dos quais analfabetos funcionais, vão continuar a engrossar as listas dos centros de emprego ou, em alternativa, a sujeitar-se a trabalho (aulas nocturnas, por exemplo) pago a 5 euros por hora — repito: cinco euros por hora —, sabendo que as mulheres-a-dias cobram 12. E se o preço dos trapos e das viagens tende a estabilizar, ou mesmo a diminuir com as “promoções” que este ano anteciparam o Natal, o mesmo não acontece com a alimentação, nem com as propinas do ensino privado, nem com a saúde privada, etc.
Por outro lado, o facto de o governo ter “segurado” dois bancos privados, nacionalizando um (o BPN) e forçando a concorrência a aguentar outro (o BPP), tendo sido uma decisão que, em termos de propaganda, dá pano para várias mangas, bem vistas as coisas, minimiza o desastre anunciado. Num caso como noutro, a falência tout court provocaria um efeito de arrastamento de consequências imprevisíveis. O BPN era um banco de vigaristas, mas tinha clientes iguais aos dos outros bancos. E o BPP, ao contrário da lenda, não era só o banco dos milionários e das castas dirigentes que se reuniram anteontem em assembleia-geral para decidir quem fica com o bebé nas mãos.
Sem a intervenção do Estado, uma fatia (pequena que seja) da classe média estaria agora na miséria. Portanto, ou muito me engano, ou 2009 vai ser igual a 2008 para a larga maioria da população. Nem melhor nem pior. O que significa a apagada e vil tristeza do costume. Porém longe do desastre anunciado. Pode até acontecer que a crise permita rectificar algum desvario. Se o preço das casas cair 40% — faz algum sentido que um T3 de 90 metros quadrados, no 3.º andar de um prédio sem elevador, construído em Lisboa há perto de 60 anos, seja vendido a 360 mil euros? —, Qual é o problema? Os estridentes detractores do governo não andam sempre com a economia real e a livre iniciativa na boca? Talvez seja chegada a altura de cairmos todos na real.
7 Comments:
Na consigu perceberi se a Junta do Maneli de Vali de Junco esta Falida?
Ponte de Sor - Suspensão de contratos na SuberCentro
Diogo Júlio, coordenador da União de Sindicatos do Norte Alentejano, adiantou à comunicação social que "a administração da empresa informou que não iria pagar este mês de Dezembro, porque não havia dinheiro, mas disponibilizou-se a passar um documento de forma a que os trabalhadores possam suspender o contrato de trabalho e requerer o subsídio de desemprego".
A empresa tem a sua base principal em produtos a partir da cortiça em prancha destinada à indústria transformadora, nomeadamente a confecção de rolhas, a maioria de vendas.
Esta unidade fabril, com cerca de 200 trabalhadores é considerada uma das mais modernas do mundo por estar completamente automatizada.
In: JORNAL FONTE NOVA
Edição nº 1613 - Terça-feira, 23 de Dezembro de 2008
Tinha 120 anos e 33 metros de altura. Vivia num bosque remoto da montanha no município de Gutenstein, no vale de Piesting ( na Áustria), e nada sabia das nossas guerras, obsessões e vícios. Andava apenas preocupado em aguentar o peso da neve que periodicamente se depositava nos seus múltiplos ramos.
Até que num dia destes chegou um engenheiro florestal, parou, observou-o e disse-lhe, com voz de especialista:
- És o maior exemplar e o mais bonito de todos desta zona.
Ao ouvi-lo, algumas folhas dos ramos mais baixos coraram de vergonha, enquanto toda a árvore se pavoneou de vaidade, aproveitando um intervalo da ventania que ali soprava forte, sabendo bem que as árvores suas vizinhas, ao ouvirem aquilo, ficariam roídas de inveja.
Alguns dias mais tarde, o engenheiro voltou, mas desta vez com dezenas de operários e um grande camião com uma grua de todo o tamanho. Quando ouviu o som nauseabundo das moto-serras, o velho e garboso abeto percebeu logo que tinha chegado a sua hora.
Ainda tentou reclamar:
- Afinal, não me tinham dito que era o mais belo, alto e proporcionado abeto deste bosque? Então porque é que me matam?
Ouviu então uma resposta que arrepiava, e que tinha tanto de loucura como de cinismo:
- Meu caro, tens muita sorte, é o que te digo! Na verdade, o teu cadáver irá ser a prenda do nosso grande país, a Áustria, ao país mais pequeno do mundo, o Vaticano. Iremos instalar-te no centro de uma conhecidíssima praça, a praça de São Marcos, no Vaticano, para que todos admirem o teu cadáver. Enfeitaremos o teu corpo com milhares de bolas e enfeites, luzes e luzinhas a apagar e a acender, antes de, no topo, depositarmos uma estrela polar. Um coro de crianças dar-te-ão as boas vindas, e cantarão bonitas canções. Infelizmente já não as poderás ouvir, porque já estarás morto. O teu cadáver ficará assim exposto por alguns dias, até ao dia 2 de Fevereiro para a glória da Áustria e do Vaticano. Serás assim o símbolo do nascimento de Cristo e da vida eterna, prazer que, no en tanto, já não vais gozar porque assim decidiu o engenheiro florestal que te encontrou. Milhares pessoas, que te irão visitar, hão-de tirar fotografias do teu cadáver para mais tarde te recordar.
Espantado e incrédulo, a árvore gigante ainda perguntou:
- E depois?
- Bem, depois…, depois de 2 de Fevereiro vão-te lançar à lixeira, ou mandar-te para alguma incineradora nos arredores de Roma…. !!!
Desgraçadamente este não é um conto de fadas. É sim a triste realidade dos dias de hoje, no Estado eclesial do Vaticano, de acordo com um costume idiota, iniciado…. com o Papa João Paulo II !!!
Será que é tão difícil para a Igreja e a Cúria Vaticana salvar a vida destas árvores de enorme porte e que são um hino à mãe-natureza? Será que às suas consciências não pesará o pecado ecológico de serem cúmplices e autores morais dos assassinatos destas portentosas árvores, já para não falar do desperdício de energia que o seu transporte e a alimentação das luzes vai representar?
Que as imagens da chegada do cadáver de mais uma vítima inocente sirva de reflexão a todos nós sobre a frieza, a insensibilidade e a falta de respeito do Vaticano para a mãe-natureza, em particular para estas bonitas e majestosas árvores que são os enormes abetos das montanhas alpinas.
Neste Natal os meus agradecimentos vão para Sócrates
Fiquei hoje a saber, ao ouvir a sua mensagem televisiva, que a ele devemos a descida das taxas de juro dos empréstimos à habitação. É bom ter como primeiro-ministro alguém que consegue mexer os cordelinhos certos no Banco Central Europeu.
Quem é o Diogo Júlio?
Você, caro leitor, caro eleitor, caro devedor, é muito importante para o País, que não o trata como um mero algarismo: trata-o como nove algarismos. A resposta é o seu número de contribuinte. Você, caro pagador de impostos, é a personalidade do ano 2008.
Você é a personalidade do ano 2008. Sim, você. Porquê? Eis um momento David Copperfield: a resposta está dentro da sua carteira. A sério, procure bem, está escrita num rectângulo verde de oito centímetros e meio de largura, arrumado perto do cartão de crédito e junto da carta de condução. Tem um chip e no topo diz “Direcção Geral dos Impostos”.
Você, caro leitor, caro eleitor, caro devedor, é muito importante para o País, que não o trata como um mero algarismo: trata-o como nove algarismos. A resposta é o seu número de contribuinte. Você, caro pagador de impostos, é a personalidade do ano 2008.
Ninguém lhe perguntou nada, mas você deu tudo. Você está a salvar a economia, os bancos, as empresas, grandes, pequenas, micros e médias, tradicionais, multinacionais, electrónica, minas, automóvel. O que lhe dizem aqueles que lhe governam o dinheiro é que você se está a salvar a si mesmo. Não pode haver melhores intenções.
Você, caro contribuinte, comprou um banco falido, o Banco Português de Negócios. Você, caro contribuinte, salvou da bancarrota o Banco Privado Português. Você disse a todos os bancos privados que, se também precisarem, comprará partes do seu capital, participando nas injecções de dinheiro de que necessitem para vencer a crise financeira. Mas você fez ainda mais pelo sistema financeiro: mesmo depois de temer pelo dinheiro que tinha depositado, você disse que está disponível para servir de fiador, dando garantias para que os bancos se possam endividar, todos os bancos, incluindo o seu, a Caixa Geral de Depósitos, que aliás já utilizou a garantia: se o seu banco não conseguir pagar a dívida de 1,2 mil milhões contraída, paga-a você.
Mas você é generoso: nos últimos doze meses já aumentou o capital do seu banco por três vezes. E nem lhe disseram para o que era nem você achou estranho colocar mais dinheiro num banco que, apesar disso, vai baixar lucros e reduzir dividendos, devolvendo-lhe, portanto, menos do seu investimento. Aliás, você, diligente, já nem olha para o dinheiro que injecta no seu banco como um investimento, mas como filantropia: está a acudir a aflitos. Através do seu banco, você já emprestou dinheiro a multinacionais que estão perto da insolvência, já assinou contratos de financiamento para que construtoras possam asfaltar as estradas de que o País necessita para estancar a recessão e o desemprego.
Mas você, caro contribuinte, não se fica pela banca. Você já disse que as empresas industriais podem contar consigo em fusões e aquisições, pois está disponível para entrar no capital de empresas que se fundam. Você vai pagar parte dos juros de linhas de financiamento a PME, para que elas tenham crédito bonificado para, pura e simplesmente, pagarem contas e solverem a tesouraria. Você já prometeu pagar o que deve às empresas que lhe forneceram bens e serviços, embora não faça ainda ideia de como vai arranjar o dinheiro para pagar o calote.
Você vai ainda emprestar dinheiro aos funcionários públicos, sem lhes perguntar porquê ou para quê. E vai aumentar-lhes os salários bem acima da inflação. E tudo isto mesmo sabendo que todo o dinheiro que ganhou de 1 de Janeiro a 19 de Maio deste ano foi exclusivamente para pagar impostos. Mais: você é tão prestimoso que já está a empenhar os impostos dos seus próprios filhos, que terão de pagar no futuro o aumento do défice orçamental. E fá-lo sem sombra de rancor, depois de o Fisco ter ilegalmente congelado a sua conta bancária ou penhorado o seu imóvel, ter retido indevidamente reembolsos ou benefícios fiscais, tê-lo pressionado a pagar dívidas que estavam garantidas ou coagido a denunciar fornecedores.
Mas você não está sozinho, você é um cidadão europeu, onde centenas de milhões de contribuintes espanhóis, franceses, ingleses, alemães estão a fazer exactamente o mesmo. Sim, a Europa existe, ei-la unida através dos seus contribuintes, vítimas de uma crise que não é sua, mas que lhes permitiu recriar, mas não criar, um estilo de vida endividado e insustentável.
Você é a personalidade do ano porque o Estado em 2008 entrou pela economia adentro para a salvar. O Estado somos nós, eu e você, a sua mãe, o seu filho. Todos estamos a pagar para ver mas nem por isso estamos tranquilos.
Definitivamente, o dinheiro não traz felicidade.
Toda a opinião publicada prevê para 2009 uma degradação económica sem precedentes na vida dos portugueses. Nesse ponto, coincide a gente sensata que ainda sobra e os lunáticos de serviço. De facto, a avaliar pelo que se passa nos países ricos, por que carga de água Portugal, pequeno e pobre, resistiria?
Sucede que, para 2009, se prevê a mais baixa taxa de inflação desde 1973. Especialistas falam em 1%. Mesmo que seja o dobro, ajuda. Não obstante, em 2009, ou seja, daqui a dez dias, os funcionários públicos vão ter um aumento de 2,9% — o maior dos últimos dez anos. Em Portugal, como toda a gente sabe, funcionários públicos significa professores, médicos, enfermeiros, polícias, militares, magistrados, diplomatas, investigadores, engenheiros de estradas e pontes, técnicos aduaneiros, controladores aéreos, educadores de infância, espiões, etc., além, naturalmente, do meio milhão do regime geral. Por junto, cerca de 800 mil portugueses, isto é, 18% da população activa.
Como sempre acontece, as empresas públicas (universo que inclui, entre outras, a TAP, a REFER e a RTP) vão adoptar como seu o valor do aumento da Função Pública. E as grandes empresas privadas, como bancos, seguradoras, EDP, Portugal Telecom, Galp, etc., tendem a arredondar por excesso esse número. Para ajudar a festa, os transportes públicos, pela primeira vez desde 1974, congelaram o tarifário. Depois dos inopinados aumentos do Verão, os combustíveis estão agora a preços da Primavera de 2006. E as taxas do crédito à habitação regressaram ao patamar do Outono de 2006. Tudo almofadas suficientes para facilitar a vida de grande parte da população.
É isto um mar de rosas? Não é. O desemprego vai continuar a aumentar, sobretudo a Norte. Fábricas vão continuar a fechar no Vale do Ave. Mas alguma vez a opinião pública se comoveu com o desemprego desses milhares de trabalhadores à mercê dos empresários do lock-out que deviam (muitos deles) estar na cadeia em vez de ao volante do Ferrari? Fornadas de licenciados, dois terços dos quais analfabetos funcionais, vão continuar a engrossar as listas dos centros de emprego ou, em alternativa, a sujeitar-se a trabalho (aulas nocturnas, por exemplo) pago a 5 euros por hora — repito: cinco euros por hora —, sabendo que as mulheres-a-dias cobram 12. E se o preço dos trapos e das viagens tende a estabilizar, ou mesmo a diminuir com as “promoções” que este ano anteciparam o Natal, o mesmo não acontece com a alimentação, nem com as propinas do ensino privado, nem com a saúde privada, etc.
Por outro lado, o facto de o governo ter “segurado” dois bancos privados, nacionalizando um (o BPN) e forçando a concorrência a aguentar outro (o BPP), tendo sido uma decisão que, em termos de propaganda, dá pano para várias mangas, bem vistas as coisas, minimiza o desastre anunciado. Num caso como noutro, a falência tout court provocaria um efeito de arrastamento de consequências imprevisíveis. O BPN era um banco de vigaristas, mas tinha clientes iguais aos dos outros bancos. E o BPP, ao contrário da lenda, não era só o banco dos milionários e das castas dirigentes que se reuniram anteontem em assembleia-geral para decidir quem fica com o bebé nas mãos.
Sem a intervenção do Estado, uma fatia (pequena que seja) da classe média estaria agora na miséria. Portanto, ou muito me engano, ou 2009 vai ser igual a 2008 para a larga maioria da população. Nem melhor nem pior. O que significa a apagada e vil tristeza do costume. Porém longe do desastre anunciado. Pode até acontecer que a crise permita rectificar algum desvario. Se o preço das casas cair 40% — faz algum sentido que um T3 de 90 metros quadrados, no 3.º andar de um prédio sem elevador, construído em Lisboa há perto de 60 anos, seja vendido a 360 mil euros? —, Qual é o problema? Os estridentes detractores do governo não andam sempre com a economia real e a livre iniciativa na boca? Talvez seja chegada a altura de cairmos todos na real.
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