quinta-feira, 28 de março de 2013

ANDA UM GAJO A PAGAR A TAXA PARA ISTO?



 
Durante os últimos dias acendeu-se uma discussão que motivou petições, abaixo assinados, horas de justificações e contra justificações na comunicação social, nas redes sociais e em todos os lados onde se juntavam duas pessoas.

Tudo a propósito da contratação de um antigo secretário-geral de um dos partidos que costumam governar o país, para fazer comentário político na estação pública de televisão.

Não consegui perceber o porquê desta azáfama em torno desta contratação que não representa nenhuma novidade no panorama da comunicação no nosso país.

Basta olhar o espaço de comentário das televisões, generalistas ou vocacionadas para a área noticiosa, para se perceber que a principal (diria quase exclusiva) fonte de recrutamento para desempenhar a tarefa de comentar a actualidade política encontra-se em dirigentes ou ex-dirigentes dos dois partidos que, com bengala ou sem bengala, têm desgovernado o país nas últimas décadas.

O comentário político, forma cada vez menos subtil de nos porem todos a pensar pelas mesmas cabeças, é uma coutada exclusiva do PS e do PSD quer através dos seus barões, quer através de alguns serventuários com o rótulo de independência, desmascarada logo à segunda ou terceira frase atirada para o ar.

Por isso me espantou que em relação ao inominável se lançassem petições contra e a favor da sua presença na televisão pública, quando o que deveríamos peticionar era a abertura ao espaço de comentário político de gente de todas as tendências, em particular aquelas que têm representação parlamentar.

É claro que este espanto é relativo porque tenho consciência que o papel desempenhado pelos diversos profissionais do comentário foi de tal forma eficaz que a maioria já acha que ouvindo o Professor Marcelo e sua partner está a ter acesso a opinião independente e isenta, ou que ouvindo Marques Mendes e Augusto Santos Silva está realizado o saudável princípio do contraditório.

Esta discussão em torno do nome de um comentador é tão nova e interessante como a discussão sobre de quem foi a responsabilidade política pelo caminho que nos trouxe até ao empobrecimento e a desesperança.

Basta rever a história recente com atenção, para percebermos que a origem é exactamente a mesma onde as estações de televisão vão buscar os comentadores políticos que nos tentam formatar o pensamento.

É por estas razões que não assino petições contra a presença deste ou daquele na televisão, mas assinaria de bom grado uma petição que exigisse igual tratamento a todas as fontes de opinião política, fugindo a esta coisa cinzenta de ouvirmos as mesmas coisas saídas de bocas diferentes como se a mudança de rosto significasse diferença de pensamento.

Não faria sentido assinar uma petição contra a presença do inominável e não ter a mesma atitude para com Santana Lopes, por exemplo.

Eu quero lá saber quem diz. Interessa-me é o que diz. E quanto a isso, no espaço televisivo, dizem todos o mesmo, matizando com cor mais alaranjada ou rosada as palavras que lhes saem da boca.

Agora algo mais sério. 
Que tal uma petição que exija duas coisas simples? 
Que o governo se demita e que o António José pare de escrever cartas à troika onde jura fidelidade eterna ao memorando onde eles, fazendo-se de desentendidos, se entenderam, para nossa desgraça colectiva.

Eduardo

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8 Comments:

At 30 de março de 2013 às 12:39, Anonymous Anónimo said...

Um diagnóstico clínico de um filósofo
MANUEL MARIA CARRILHO in DN:

O contrato com Sócrates para ser comentador semanal no canal público de televisão teve de partir, ou de passar, por Relvas. Isso é óbvio. E só a imagem do que terá sido essa negociação a dois dá uma ideia arrepiante, mas bem clara, do estado de degradação extrema a que chegou o regime.
É uma contratação que infelizmente não surpreende porque, na verdade, José Sócrates e Miguel Relvas são políticos siameses. Se olharmos bem para o perfil e para o percurso de um e de outro, a conclusão impõe-se como evidente. E muitas coisas estranhas se tornam, de repente, claras e compreensíveis.

A história da licenciatura de Relvas foi o primeiro sinal de uma semelhança que se revela bem mais funda: o mesmo fascínio pelo mundo dos negócios, o mesmo desprezo pela cultura e pelo mérito, o mesmo tipo de relação com a comunicação social, o mesmo apego sem princípios ao poder e, acima de tudo, a mesma lata, uma gigantesca lata! Só falta mesmo ver também Sócrates a trautear a "Grândola, Vila Morena", mas por este andar lá chegaremos...

O contrato com a RTP vem, de resto, acentuar mais uma convergência entre Sócrates e Relvas, e num ponto político extremamente sensível, que é o da conceção de serviço público de televisão. Porque, com este contrato, Sócrates aparece a cobrir inteiramente a devastação feita por Relvas no sector, e a bloquear tudo o que o PS pretenda dizer ou propor sobre o assunto. E quem cauciona o que Relvas fez aqui, cauciona tudo.

O que Sócrates deve fazer é assumir as suas responsabilidades na crise, e pedir desculpa aos portugueses - e para isso basta uma entrevista pontual, sóbria, esclarecedora e responsável. É isso que os Portugueses merecem, é disso que a nossa democracia precisa, e é a isso que o Partido Socialista tem direito. Ficar a pastar nos comentários, pelo contrário, é puro circo político, e do pior: é usar o horário nobre do serviço público de televisão para jogadas de baixa política e de pura revanche política pessoal.

Como já há tempos afirmei, Sócrates e Relvas são sem dúvida os dois políticos que mais contribuíram para a crise moral, e de confiança, que o País atravessa. Uma crise que veio agudizar todas as suspeitas com que os cidadãos olham para as suas elites dirigentes e para o continuado fracasso da sua ação.

São casos que a radical mediatização dos nossos dias facilita. Nomeadamente, porque ela abriu as portas à irrupção de um novo tipo de político, que trocou o retrato de cidadão esforçado, reservado e responsável de outros tempos, por um perfil em que o traço dominante é, simplesmente, o da lata.

E essa lata, é o quê? É sobretudo a expressão de uma afirmação pessoal sem limites de qualquer ordem, que tudo arrasa no seu caminho, num júbilo mais ou menos histérico que dispensa qualificações ou convicções que não sejam de ordem psicológica ou comunicacional. Daí, naturalmente, a excitação voluntarista e a encenação estridente que sempre a acompanham.

A lata não é certamente um exclusivo dos políticos, mas tem neles um terreno de exceção. Ela aparece hoje como um traço específico do que alguns autores têm diagnosticado como a "nova economia psíquica" do nosso tempo. É isso que leva muita gente a ver neles verdadeiros mutantes, e a lamentar nostalgicamente que, na política, tenham desaparecido os verdadeiros líderes...

 
At 30 de março de 2013 às 12:39, Anonymous Anónimo said...

...
Mas seja ou não de mutantes que se trata, é preciso reconhecer que os "políticos de lata" estão em sintonia com muitas transformações do mundo contemporâneo, e que é por isso que eles suscitam inegáveis apoios e vivas controvérsias. Figuras maiores, bem ilustrativas deste fenómeno, são Sílvio Berlusconi ou Nicolas Sarkozy.

São sempre criaturas mitómanas, destituídas de superego e, portanto, de sentido de culpa ou de responsabilidade. Revelam uma contumaz incapacidade de lidar com a frustração, que é, como Freud bem ensinou, onde começam todas as patologias verdadeiramente graves.

Com eles, tudo se dissolve num narcisismo amoral, quase delinquente, que vive entre a alucinação de todos os possíveis e a rejeição de quaisquer limites. Eles estão pois muito em linha com o paradigma do ilimitado que tem anestesiado e minado o mundo nas últimas décadas.

A lata tornou-se, deste modo, num traço político muito frequente, que anima os mais variados, e lamentáveis, tipos de voluntarismo. Não admira pois que os políticos de lata se singularizem, não pela sua dedicação a causas ou a convicções, mas pelos intermináveis casos em que se envolvem e são envolvidos.

É também por isso que eles têm sempre que tentar voltar - foi assim com Berlusconi, é o que se tem visto com Sarkozy, chegou a vez de José Sócrates. Não resistem... e todos encenam, para disfarçar a sua doentia obsessão com o poder, umas travessias do deserto mais ou menos culturais... Berlusconi com a música, Sarkozy com a literatura e o teatro, Sócrates com a filosofia.

Mas o seu compulsivo "comeback" acaba sempre por se impor, porque ele é o tributo que eles têm que pagar à sua tão vazia como ilimitada mitomania. Com consequências, atenção, que já conduziram várias sociedades e diversos países às piores tragédias. Esperemos que não seja esse, desta vez, o caso - mas o aviso aqui fica!...

 
At 1 de abril de 2013 às 19:10, Anonymous Anónimo said...

construção, tijolo por tijolo, da doutrina política possível do séc. XXI.

Melhores dias virão...

 
At 2 de abril de 2013 às 01:24, Anonymous Anónimo said...

um anjo caído na realidade (e que por só procurar o seu amor, pelos deuses forçado a cair na "avidez antiga") comunica-vos que:

Chegará a Hora em que seremos governados pela Sabedoria - e não por qualquer individuo em particular, muito menos por partidos, que causam horror a qualquer individuo de bem;

Aos que tomam o poder aconselho a procurar a justiça, não a "obra";

Aos professores, ensinai as crianças não a mexer no rato, mas no fogo, que, como todos sabemos, simboliza o conhecimento, que só se deixa manusear por quem procura a paz e o amor (não o poder, as honras, as riquezas)

Para mim peço humildade e dignidade, exemplo e não palavras.

Deixo-vos com este meu amigo:

Arte Com ou Sem NacionalidadeO que se deve entender por arte portuguesa? Concorda com este termo? Há arte verdadeiramente portuguesa?
— Por arte portuguesa deve entender-se uma arte de Portugal que nada tenha de português, por nem sequer imitar o estrangeiro. Ser português no sentido decente da palavra, é ser europeu sem a má-criação de nacionalidade. Arte portuguesa será aquela em que a Europa — entendendo por Europa principalmente a Grécia antiga e o universo inteiro — se mire e se reconheça sem se lembrar do espelho. Só duas nações — a Grécia passada e Portugal futuro — receberam dos deuses a concessão de serem não só elas mas também todas as outras. Chamo a sua atenção para o facto, mais importante que geográfico, de que Lisboa e Atenas estão quase na mesma latitude.

Fernando Pessoa, in 'Portugal entre Passado e Futuro'

 
At 4 de abril de 2013 às 16:41, Anonymous Anónimo said...

É tudo a sacar, graças a deus, aos trolhas que somos nós.

 
At 4 de abril de 2013 às 17:00, Anonymous Anónimo said...

O Miguel Relvas vai estudar!

 
At 4 de abril de 2013 às 20:24, Anonymous ANARCA said...

José Sócrates não é engenheiro!
Miguel Relvas não é doutor!
Um é socialista!
Outro é social democrata!
Ambos são vigaristas!
A merda é toda a mesma, só mudam as moscas!

 
At 9 de abril de 2013 às 12:08, Anonymous Anónimo said...

"A queda de Sócrates deu origem a uma pequena corte de viúvos e viúvas que passaram estes anos a tentar manter a memória do morto e a vingar-se de todas as maneiras dos seus assassinos. Agora estão muito contentes porque a RTP lhes deu uma mesa de pé de galo para falar com o morto e vice-versa. Esquecem-se que, em períodos como os que vivemos, até os mortos andam.

A queda previsível de Passos Coelho e a queda já efectiva de Relvas está a gerar o mesmo efeito: a criação de uma corte de viúvos e viúvas que também se preparam para carpir a "oportunidade perdida" de "mudar Portugal" e preparar a vendetta. Como os seus antecessores na viuvez, os blogues, o Twitter e as redes sociais são o seu terreno de eleição.

Ambos ajudaram a estragar Portugal até aos limites da ruína em que vivemos. Ambos pensam muito bem de si e acham que o povo não os merece. O nojo com que hoje olham para Portugal e os portugueses, uma ralé desqualificada cheia de vícios preguiçosos e de "direitos", é o seu melhor retrato. "Não nos merecem" é a inscrição que usam no seu brasão de lata."

José Pacheco Pereira

 

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