quarta-feira, 23 de março de 2005

O PORTUGUÊS É UMA LINGUA TRAIÇOEIRA



A Polícia Judiciária e a Polícia de Segurança Pública garantem que não existe qualquer espécie de «intimidação» em relação aos bairros problemáticos dos arredores de Lisboa. A operação desta manhã, no bairro Cova da Moura, é a prova disso mesmo. Os directores nacionais das duas polícias, PJ e PSP, apareceram juntos, esta terça-feira, para apresentar a operação conjunta que resultou na detenção do principal suspeito da morte do agente Irineu Diniz, no passado dia 17 de Fevereiro na Cova da Moura. Santos Cabral, director nacional da PJ, garante que «há ainda algo a esclarecer», já que o crime terá sido cometido em co-autoria. A operação desta manhã contou com a participação de cerca de 180 efectivos da PSP e da PJ, incluindo duas forças do Corpo de Intervenção e do Grupo de Operações Especiais (GOE) da PSP. Magina da Silva, comandante do GOE explica que uma parte da operação, que decorreu no Cacém, «foi apenas mais uma igual a muitas outras. Procedemos à abertura da porta do apartamento, onde estavam três suspeitos, dois adultos e um adolescente, que não ofereceram resistência». No bairro da Cova da Moura, 18 buscas domiciliárias levaram à detenção de seis pessoas e à apreensão de uma caçadeira de canos cerrados, uma pistola de guerra e três armas de calibre 6.35.

Portugal Diário



O português é uma lingua traiçoeira. Mau seria se 180 agentes, em simultâneo, armados até aos dentes, se sentissem intimidados ao entrar num qualquer bairro português. Nem no Iraque. O problema não é nem nunca foi esse. O problema é que estas medidas pontuais tomadas fora de horas - porquê só agora ? - não resolvem coisíssima nenhuma. Porque o comum dos mortais continuará intimidado ao circular na área, porque é uma medida conjuntura, e sem nada de perene. Que medidas reais, concretas, vão ser tomadas para repor a normalidade ? Aumentar o policiamento ? patrulhas regulares ? fiscalização efectiva ? É isso que interessa, só isso, e não demonstrações mais ou menos balofas de poder de fogo para impressionar a comunicação social. Por outro lado não deixa de ser pitoresco o destaque dado à posse de armas proíbidas, das quais só falta mesmo dizer o número de série. Para além de a sua publicitação, e tão detalhada, urbi et orbi ser provavelmente um crime platónico de violação de segredo de justiça, parece-me a mim que o enfoque excessivo dado à presença das mesmas é de todo contraproducente. Porque coloca as forças de segurança no papel paradoxal de estarem a fazerem publicidade, gratuíta, irresponsável e infantil, aos circuitos clandestinos de tráfico de armas. Até ao fim de semana provavelmente muito membro de gangs da Amadora e arredores conheceria as GLock só dos filmes... hoje sabe que os colegas as obtiveram, e não vão descansar enquanto não obtiverem também a sua...



Manuel