quinta-feira, 17 de março de 2005

ONDE É QUE NÓS JÁ VIMOS IGUAL? [ parte II ]

O pássaro domesticado vivia na gaiola e, o pássaro livre, na floresta. Mas o destino deles era se encontrarem, e a hora finalmente havia chegado.

"O pássaro livre cantou:

- Meu amor voemos para o bosque.

O pássaro preso sussurrou:

- Vem cá, e vivamos juntos nesta gaiola.

O pássaro livre respondeu:

- Entre as grades não há espaço para abrir as asas.

- Ah, lamentou o pássaro engaiolado - no céu não saberia onde pousar.

O pássaro livre cantou:

- Amor querido, canta as canções do campo.

O pássaro preso respondeu:

- Fica junto comigo, e eu te ensinarei as palavras dos sábios.

O pássaro da floresta retrucou:

- Não, não! As canções não podem ser ensinadas!

E o pássaro engaiolado gemeu:

- Ai de mim! Eu não conheço as canções do campo.

Entre eles o amor era sem limites, mas eles não podiam voar asa com asa. Olhavam-se através das grades da gaiola, mas em vão desejavam se conhecer. Batiam as asas ansiosamente, e cantavam:

- Chega mais perto, meu amor!

Mas o pássaro livre dizia:

- Não posso! Tenho medo de tua gaiola com portas fechadas.

E o pássaro engaiolado sussurrava:

- Ai de mim! As minhas asas ficaram fracas e morreram."

[1861-1941]
Rabindranath Tagore