quarta-feira, 16 de março de 2005

ONDE É QUE NÓS JÁ VIMOS IGUAL?



Tudo começa quando um velho porco, o Velho Major, convoca os animais da quinta "Manor" para uma reunião na qual expõe o sonho que teve: os animais sempre viveram subjugados pelo homem, embora este tenha capacidades inferiores às de qualquer deles. O homem é a única criatura que consome sem produzir - diz ele. O [Velho Major] sonha com a revolução que libertará os animais deste jugo e comunica aos outros o seu sonho, numa canção chamada [Animais de Inglaterra], que expõe a sua filosofia, o [Animalismo]. Três dias depois, o Velho Major morre.

Mas os animais começaram a pensar nas suas vidas de outra forma, e organizam-se para preparar a revolução. Nesta altura começam a distinguir-se dois porcos - Napoleão e Bola de Neve. Eles começam a dar forma ao Animalismo e quando, alguns meses depois, o Sr Jones, o dono da quinta, que em tempos fora um bom agricultor e tratava bem os seus animais mas começou a beber e a maltratá-los, regressa a casa embriagado e se esquece de alimentar os animais, a rebelião estala. O Sr Jones ainda tenta reagir, mas é expulso pelos animais, que destroem os chicotes e outros símbolos das sua servidão e festejam a sua vitória comendo uma ração extra.

A quinta é rebaptizada com o nome de Animal Farm - A Quinta dos Animais - e os porcos, considerados os mais inteligentes entre os animais, redigem sete mandamentos que são escritos na porta do celeiro e que passarão a reger a vida da nova quinta. São eles os seguintes:

1º - Tudo o que tem duas pernas é inimigo.

2º - Tudo o que tem quatro pernas ou asas é amigo.

3º - Nenhum animal usará roupas.

4º - Nenhum animal dormirá numa cama.

5º - Nenhum animal beberá álcool.

6º - Nenhum animal matará outro animal.

7º - Todos os animais são iguais.


Também fica acordado que nenhum animal entrará na casa - transformada em museu - e que nenhum animal contactará com os humanos. Como os animais menos inteligentes têm alguma dificuldade em apreender os sete mandamentos, os porcos resumem-nos num slogan muito simples: Quatro pernas bom, duas pernas mau!, que é repetido incessantemente pelas ovelhas.

Algum tempo depois, o Sr Jones tenta recuperar a quinta mas é vencido. Bola de Neve tinha estudado as tácticas de guerra de César e organiza os animais que, sob a sua direcção, lutam corajosamente pela sua liberdade. Bola de Neve e o cavalo Boxer recebem medalhas pela sua bravura em combate e Napoleão também é condecorado, apesar de não ter lutado. Este será um motivo de frequentes divergências entre os dois porcos.

Bola de Neve concebe então os planos para a construção de um moinho de vento que produzirá energia para a quinta. Mas Napoleão não concorda com ele e, com a ajuda de seis cães que roubou à mãe em cachorros e criou secretamente, expulsa Bola de Neve da quinta e convence os animais de que este é um traidor, que esteve sempre do lado do Sr Jones e que nunca recebeu uma medalha.

Empreende-se, apesar de tudo, a construção do moinho de vento. As horas de trabalho são sucessivamente alargadas e as rações de comida cada vez mais curtas, embora os porcos continuem a engordar e a prosperar. Eles comem, por exemplo, todas as maçãs e todo o leite, com o argumento de que são alimentos necessários à saúde dos porcos e estes são indispensáveis ao bom andamento da revolução.

À medida que o tempo passa, os porcos empreendem negociações com agricultores da região - e garantem aos outros animais que nunca se tomou a resolução de não contactar os humanos, isso foi apenas uma invenção de [Bola de Neve], transformado no arqui-inimigo da revolução. Decidem depois passar a viver na casa e quando os animais vão reler os mandamentos na porta do celeiro, eles vão sendo modificados:

4º - Nenhum animal dormirá numa cama com lençóis.

ou

5º - Nenhum animal beberá alcoól em excesso.

ou ainda

6º - Nenhum animal matará outro animal sem motivo.


Ao fim de um ano de trabalho, quando o moinho está quase pronto, é destruído por uma tempestade. [Napoleão] acusa [Bola de Neve] da destruição do moinho e empreende-se imediatamente a sua reconstrução. O hino [Animais de Inglaterra] é banido uma vez que a sociedade ideal que ele descreve, diz [Napoleão], já foi atingida sob o seu comando. Mais horas de trabalho, menos comida e, ao fim de mais dois anos, o moinho está de novo em vias de conclusão. É então que o [Sr Jones] ataca a quinta. Os animais vencem, mas o moinho é de novo destruído. A reconstrução leva três anos. A comida é reduzida ao mínimo e, um dia o cavalo [Boxer] adoece. É levado por uma carroça e, embora [Napoleão] diga ao animais que ele foi para o hospital, o burro [Benjamim] lê a inscrição na carroça e vê que ele foi vendido a um fabricante de cola.

[Napoleão] e os outros porcos celebram, em conjunto com os agricultores da vizinhança, a eficiência da sua quinta, enquanto os animais trabalham duramente com parcas rações de comida. Ao olhar pela janela para dentro de casa, os animais apercebem-se de que não conseguem já distinguir os porcos dos homens. O slogan que as ovelhas repetem mudou ligeiramente Quatro pernas bom, duas pernas melhor! (1) O último mandamento, que era o mais importante, foi também alterado e feito único. Diz agora:

Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros.
(1) De facto, em inglês, a alteração, a nível fónico é muito ligeira: o primeiro slogan é Four legs good, two legs bad! e o segundo é Four legs good, two legs better!.

Eric Arthur Blair

4 Comments:

At 16 de março de 2005 às 14:10, Anonymous Anónimo said...

Zé da Ponte.
Gostei de ver publicado o que enviei.
Vou começar a enviar artigos sobre outros assuntos.
Um abraço a todos

O Pontessorense

 
At 16 de março de 2005 às 16:43, Anonymous Anónimo said...

Oh Zé da Ponte este texto não é do
George Orwell?

 
At 16 de março de 2005 às 16:47, Anonymous Anónimo said...

George Orwell, pseudónimo de Eric Arthur Blair, nascido em Bengala, na Índia Inglesa, em 25 de Junho de 1903, morreu em Londres, a 21 de Janeiro de 1950.
Poucas pessoas, mesmo entre as que lhe eram próximas, conheciam o seu verdadeiro nome, de tal forma o pseudónimo se tornou a sua segunda natureza.
A adopção deste "nom de plume" correspondeu a uma profunda alteração na vida e nos ideais do homem - de uma figura do sistema no Império Britânico, ele tornar-se-á num rebelde, constantemente crítico.
Morreu de tuberculose, na miséria.

 
At 16 de março de 2005 às 18:52, Anonymous Anónimo said...

"Eu mendigava de porta em porta, pelo caminho da aldeia, quando um carro de ouro surgiu à distância e parecia um sonho esplêndido. Perguntei a mim mesmo quem seria esse Rei de todos os reis. Minhas esperanças subiram ao céu. Eu pensava: terminaram os meus dias nefastos. E tive esperança de esmolas espontâneas e de riquezas soltas na areia. O carro parou onde eu estava. Ele me olhou e disse sorrindo. Eu senti que afinal chegara o dia da minha felicidade. E de repente estendeu-me a mão direita, perguntando: "Que tens para mim?" Ah, teu gesto real de estender a mão direita a um mendigo! Confuso, perplexo, meti a mão na sacola e, devagar, retirei um pequeno grão de trigo, que lhe ofereci. Mas, à tardinha, foi enorme a minha surpresa. Esvaziando a minha sacola, vi um grão de ouro entre os de trigo. Chorei lágrimas amargas e lamentando-me dizia: "Por que não lhe dei tudo?"

Rabindranath Tagore

 

Enviar um comentário

<< Home