sexta-feira, 3 de junho de 2005

A "EUROPA" CONTRA O MUNDO

A França votou "não". A Holanda votou "não". A Alemanha votaria "não", se o referendo não fosse constitucionalmente proibido (por causa do exemplo de Hitler). E agora a Inglaterra nem sequer precisa de votar, para não se meter mais na rede de Bruxelas. A primeira razão, de resto geralmente admitida, é simples.
O Tratado de Roma previa a livre circulação de mercadorias, serviços, capital e pessoas. Nunca, desde o princípio, circularam pessoas. Pior: nunca puderam circular e continuam a não poder.
Não há uma "cidadania europeia": e, como prova o horroroso mito do "canalizador polaco" (não por acaso francês), o "alargamento" acabou para sempre com qualquer veleidade de que viesse a haver.
A "Europa" não passa de uma "construção" utópica", inventada à revelia do eleitorado, por uma burocracia perversa e uma "classe política" irresponsável. Era de esperar que, se as coisas dessem para o torto, se começasse a desfazer.

Ora as coisas deram, de facto, para o torto. Os tempos mudaram e a "Europa" não mudou com eles. Nem tenciona mudar. Logo a seguir à derrota, um Chirac, penitente e contrito, não hesitou em proclamar a superioridade do "modelo social" da França (e da "velha" UE) sobre o funesto "liberalismo" do inimigo anglo-saxão. Como ele bem sabe, a evidência de que esse "modelo" paralisa a economia e gera desemprego não impressiona ninguém. Em França, em Itália, na Alemanha e até um pouco em Inglaterra (apesar da sra. Thatcher), o marxismo (ou, se preferirem, um certo "socialismo"), embora sob uma forma larvar, domina ainda a visão comum da sociedade e do Estado. Bruxelas parecia promover e defender essa visão. Hoje, principalmente por causa do "alargamento", não parece. E cada país prefere tratar da sua própria protecção contra os males que o ameaçam de fora: o "capitalismo", a "globalização", "a "deslocalização", a imigração. Numa palavra, o resto do mundo. Tal qual como o outro "paraíso na terra", a URSS.

Cá fora, infelizmente, o mundo não pára. O Leste da Europa (sem aspas), reduzido à miséria, quer viver. A China e a Índia ocupam um lugar cada vez maior e mais central. E sobre a América bastam dois números: a) todo o orçamento do ensino superior em Inglaterra, incluindo o politécnico, não chega a um terço do orçamento da Universidade de Harvard; e b) 51 por cento das patentes registadas por ano são americanas. Contra isto, a França, a Holanda e a "velha Europa" têm o seu "modelo social". Até não terem nada.

Vasco Pulido Valente