Bem-vindos às comemorações. Nada melhor para começar do que um despedimento colectivo feito à la empresa têxtil, escondido, rápido, imoral. Sinceramente fiquei admirado como no dia seguinte ainda os deixaram entrar na Fundação.
Não admito a inevitabilidade da urgência. É pura má gestão. A administração da Fundação pede aos empregados empenho e esforço, mas oferece em troca decisões em cima do joelho sem nenhuma consideração por eles.
Não existem desculpas. A temporada estava preparada. Os ensaios a decorrer. Os bilhetes estavam vendidos!! Havia ainda uma reestruturação em curso. Aplicações informáticas de milhares de euros foram compradas para auxiliar a sua gestão. Novas formas de trabalho foram elaboradas. As instalações foram remodeladas há poucas semanas.
No ano em que o próprio Ballet faz 40 anos! Grande prenda de aniversário.
Decisões destas são esperadas (infelizmente) noutras entidades. Na Fundação, incompreensíveis. A Fundação tem recursos para evitar estas situações.
Não discuto o fim do Ballet. Eu pessoalmente não concordo mas compreendo como uma nova orientação de gestão. Custava muito ter avisado os funcionários? Custa muito dizer aos funcionários o que se pretende fazer? Eu pergunto mas sei a resposta. Custa muito, sim. Especialmente porque eles próprios não o sabem.
Eu acreditei nesta Gestão e nas mudanças que pretendia fazer. Concordo com o renovar das pessoas e ideias. Não me revejo na Administração antiga, nem sou saudosista. Mas olhando em retrospectiva para os actos desta nova Administração vejo vícios e contradições iguais ao antigamente. Alguns exemplos: Nestes últimos anos os orçamentos dos departamentos da Fundação foram encurtados. Esperava-se um período de poupança e de contenção. Pelo contrário, a Administração resolveu gastar o dinheiro no novo jardim; nas novas instalações pagas a preços exorbitantes. Alguém viu melhorias? As alcatifas estão mais claras é certo e as lâmpadas mais brilhantes e os poucos senhores administradores têm agora metade do último piso só para eles. E o jardim, sim senhor, eis um belo legado de mato bravo.
E claro, a célebre feira das vaidades. Dizer que se trabalha na Fundação, dizer que damos dinheiro para a investigação da malária, que equipámos a unidade de Cardiologia do Hospital X, trazer o Sr. Ministro à exposição de arte moderna, fazer uma conferência internacional para poder estar perto das celebridades, etc.,etc., faz bem ao ego.
Derrubado pela minha ingenuidade apercebo-me que, em termos de capacidade próprias, a distância que separa o mais elementar dos funcionários e a Administração é muito ténue. Não há mestres, não há ensinamentos. Privilegia-se o superficial. É somente alguém que por um acaso qualquer, está a mandar.
E o que dizer dos directores do Serviço de Música. Tanta comoção, tanto nó na garganta mas depois tudo continua como dantes. A única atitude a tomar era terem apresentado a demissão. Mas não, compactuaram com esta desfaçatez.
Dia 20 não se esqueçam de acompanhar o ar solene na homenagem ao Fundador. No dia seguinte talvez venha a notícia que mais outros funcionários tenham que auxiliar o avanço da Fundação, se é que me estão a compreender.
Eu adoro a Fundação. Acho que tem um papel único na sociedade portuguesa. Mas neste momento estou muito desiludido. Isto não se faz. É malvadez.
No dia da notícia gostava de me ter despedido.
PS: Sou um funcionário da Fundação, mas esta mensagem é anónima e cobarde. Afinal, sempre há alguns ensinamentos.
Os grandes vultos de Azeredo e Madalena Perdigão foram os motores de uma instituição com um prestígio e dignidade notáveis. O amor pelas pessoas e pela cultura de Azeredo Perdigão obrigava a preços muito económicos nos concertos, Perdigão se visse pessoas à porta do grande auditório sem bilhete, muitas vezes jovens sem dinheiro, dizia aos porteiros: “deixem entrar toda a gente, não fica ninguém à porta na Fundação Gulbenkian”. Longe estão os dias de Azeredo Perdigão, longe está a elegância e a qualidade do homem que fez da instituição o verdadeiro ministério da cultura de Portugal. Hoje em dia a administração da Gulbenkian decide acabar com um património, que já não é pertença de uma instituição mas universal, de um dia para o outro, sem reflexão pública, de forma autoritária e como se tratasse de uma empresa que se quer deslocalizar. O respeito pelo público e pelos artistas foi o primeiro património a desaparecer o que se seguirá?
4 Comments:
Bem-vindos aos 50 anos da Fundação Gulbenkian
Bem-vindos às comemorações.
Nada melhor para começar do que um despedimento colectivo feito à la empresa têxtil, escondido, rápido, imoral. Sinceramente fiquei admirado como no dia seguinte ainda os deixaram entrar na Fundação.
Não admito a inevitabilidade da urgência. É pura má gestão. A administração da Fundação pede aos empregados empenho e esforço, mas oferece em troca decisões em cima do joelho sem nenhuma consideração por eles.
Não existem desculpas. A temporada estava preparada. Os ensaios a decorrer.
Os bilhetes estavam vendidos!!
Havia ainda uma reestruturação em curso. Aplicações informáticas de milhares de euros foram compradas para auxiliar a sua gestão. Novas formas de trabalho foram elaboradas.
As instalações foram remodeladas há poucas semanas.
No ano em que o próprio Ballet faz 40 anos! Grande prenda de aniversário.
Decisões destas são esperadas (infelizmente) noutras entidades. Na Fundação, incompreensíveis. A Fundação tem recursos para evitar estas situações.
Não discuto o fim do Ballet. Eu pessoalmente não concordo mas compreendo como uma nova orientação de gestão.
Custava muito ter avisado os funcionários? Custa muito dizer aos funcionários o que se pretende fazer? Eu pergunto mas sei a resposta. Custa muito, sim. Especialmente porque eles próprios não o sabem.
Eu acreditei nesta Gestão e nas mudanças que pretendia fazer. Concordo com o renovar das pessoas e ideias. Não me revejo na Administração antiga, nem sou saudosista.
Mas olhando em retrospectiva para os actos desta nova Administração vejo vícios e contradições iguais ao antigamente. Alguns exemplos: Nestes últimos anos os orçamentos dos departamentos da Fundação foram encurtados. Esperava-se um período de poupança e de contenção. Pelo contrário, a Administração resolveu gastar o dinheiro no novo jardim; nas novas instalações pagas a preços exorbitantes. Alguém viu melhorias? As alcatifas estão mais claras é certo e as lâmpadas mais brilhantes e os poucos senhores administradores têm agora metade do último piso só para eles. E o jardim, sim senhor, eis um belo legado de mato bravo.
E claro, a célebre feira das vaidades. Dizer que se trabalha na Fundação, dizer que damos dinheiro para a investigação da malária, que equipámos a unidade de Cardiologia do Hospital X, trazer o Sr. Ministro à exposição de arte moderna, fazer uma conferência internacional para poder estar perto das celebridades, etc.,etc., faz bem ao ego.
Derrubado pela minha ingenuidade apercebo-me que, em termos de capacidade próprias, a distância que separa o mais elementar dos funcionários e a Administração é muito ténue. Não há mestres, não há ensinamentos.
Privilegia-se o superficial. É somente alguém que por um acaso qualquer, está a mandar.
E o que dizer dos directores do Serviço de Música. Tanta comoção, tanto nó na garganta mas depois tudo continua como dantes. A única atitude a tomar era terem apresentado a demissão. Mas não, compactuaram com esta desfaçatez.
Dia 20 não se esqueçam de acompanhar o ar solene na homenagem ao Fundador. No dia seguinte talvez venha a notícia que mais outros funcionários tenham que auxiliar o avanço da Fundação, se é que me estão a compreender.
Eu adoro a Fundação. Acho que tem um papel único na sociedade portuguesa. Mas neste momento estou muito desiludido. Isto não se faz. É malvadez.
No dia da notícia gostava de me ter despedido.
PS: Sou um funcionário da Fundação, mas esta mensagem é anónima e cobarde. Afinal, sempre há alguns ensinamentos.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
a sua ignorância é sintomática da mentalidade tacanha do nosso país.
Os grandes vultos de Azeredo e Madalena Perdigão foram os motores de uma instituição com um prestígio e dignidade notáveis. O amor pelas pessoas e pela cultura de Azeredo Perdigão obrigava a preços muito económicos nos concertos, Perdigão se visse pessoas à porta do grande auditório sem bilhete, muitas vezes jovens sem dinheiro, dizia aos porteiros: “deixem entrar toda a gente, não fica ninguém à porta na Fundação Gulbenkian”. Longe estão os dias de Azeredo Perdigão, longe está a elegância e a qualidade do homem que fez da instituição o verdadeiro ministério da cultura de Portugal. Hoje em dia a administração da Gulbenkian decide acabar com um património, que já não é pertença de uma instituição mas universal, de um dia para o outro, sem reflexão pública, de forma autoritária e como se tratasse de uma empresa que se quer deslocalizar. O respeito pelo público e pelos artistas foi o primeiro património a desaparecer o que se seguirá?
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