terça-feira, 12 de julho de 2005

TOSTÕES E MILHÕES



Podia ser sobre os 1500 milhões do doutor Pinho. E sobre a esquizofrenia oficial: em Maio, o Governo fica em choque com o «relatório Constâncio»; em Junho, aumenta impostos e extingue regalias na função pública; em Julho, anuncia milhões, milhões e milhões. Um autêntico absurdo, como se subitamente o problema do nosso país fosse excesso de dinheiro.
O tema dava para ocupar hoje este espaço.


Não é coisa pouca. Esta mensagem, subliminar, perversa, perigosa, que a incontinência de planos e programas está a passar. O Estado assume a responsabilidade. É a nossa tradição: essa entidade abstracta é sempre o primeiro e último responsável pelo insucesso. Por isso nunca ninguém responde por nada.

Também podia ser uma antevisão do grande acontecimento do dia: o doutor Constâncio vai ao Parlamento entregar o Relatório Anual do Banco de Portugal e divulgar as novas previsões para a economia portuguesa.

E especular sobre a degradação das expectativas. Recordar que muitos países europeus já fizeram fortes revisões em baixa: a Holanda, de mais de 1% para 0,4%; a Itália, agora com taxa zero de crescimento.

Um texto fácil de construir: o INE já confirmou a estagnação da nossa economia no primeiro trimestre; depois veio o aumento de impostos, com efeitos restritivos em todo o segundo semestre; mais a escalada imparável do petróleo; a inércia dos principais destinos das nossas exportações. Enfim, era possível admitir que a actual estimativa de 0,8%, hoje, vai passar de frustrante a optimista.

Mas o tema deste editorial não é o PIIP de Sócrates, não é o Plano de Pinho, não é o PIB de Constâncio. É a inusitada «guerra» entre o Grupo Espírito Santo e o jornal «Expresso».

É um assunto de tostões. Porém, mais difícil de «pegar» do que as contas de milhões que ministros e banqueiros centrais estão a divulgar.

Embora a «guerra» seja alheia ao Jornal de Negócios – e, presumo, ao nosso accionista Cofina – a «guerra» entre um dos maiores grupos de «media» e um dos maiores investidores em publicidade bate, inevitavelmente, à nossa porta. E é sempre difícil ser juiz em causas próximas.

O tema é delicado por ser absolutamente invulgar. É a primeira vez que um grupo económico denuncia ser vítima de chantagem de um jornal.

O contrário é recorrente: o corte de publicidade para «castigar» notícias desagradáveis. O BES acusa o «Expresso» de construir notícias desagradáveis como retaliação às opções publicitárias.

O assunto impressiona também pelas empresas e personagens que envolve. Não estamos a falar de arrivistas. Nem o BES é um grupo qualquer, nem o «Expresso» um jornal que apareceu ontem. Além de uma longa amizade unir os drs. Pinto Balsemão e Ricardo Salgado.

Mas o assunto é incontornável. Toca numa das matérias mais decisivas na democracia. A discussão não tem base objectiva: os anúncios do BES existem. Balsemão pode achar é que são poucos. Os leitores não têm nada com isso. Mas, finalmente, alguém assume uma relação proibida. O verniz estalou e, nesta história, não podem haver dois inocentes.

Sérgio Figueiredo

1 Comments:

At 12 de julho de 2005 às 15:29, Anonymous Anónimo said...

COMO SE GASTA "TOSTÕES E MILHÕES"

Sintra (262.934) tem mais eleitores do que toda a Madeira, mais cerca de quarenta mil, e é gerido por uma câmara municipal e vinte e uma juntas de freguesia; a Madeira que graças ao Atlântico foi considerada uma Região autónoma conta com onze câmaras municipais, quarenta e oito juntas de freguesia mais um governo regional e um Ministro da República. Em Sintra não existe um metro de auto-estrada e para se deslocarem à capital usam a famosa IC19; em contrapartida, quem quiser ir do Funchal à Ribeira Brava, concelho com 11.953 eleitores usa uma auto-estrada construída em túneis e pontes sem ter que pagar um tostão.

Amarante conta com 48.966 eleitores e conta com quarenta juntas de freguesias, enquanto Sintra tem, como atrás se referiu, vinte e uma; há quem ande a pensar em reduzir as juntas de freguesia nas grandes cidades, mas vão-se manter juntas de freguesia onde é quase mais lógico escolher o presidente por rotação, como nos condomínios, do que por eleições

 

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