sexta-feira, 1 de julho de 2005

VAMOS TODOS PARTICIPAR... [ II ]


ESTÁ AÍ ALGUÉM ?

Sejamos francos. Portugal está metido numa das suas maiores batalhas políticas dos últimos 10 anos. Por mais que os objectivos do Governo sejam indispensáveis e inclusivamente justos, o facto é que não lhe basta decretar as medidas de combate ao défice para dar a volta à situação. A sua maioria absoluta só lhe serve para o parlamento.

A sua maioria absoluta não é um adquirido burocrático que lhe permita governar exclusivamente por decreto.

O Governo deve compreender que recebeu dos eleitores confiança e esperança e não uma procuração sem limite para tratar do expediente. Todos os dias o Governo deve fazer pedagogia junto dos grupos sociais atingidos. Por cada greve de polícias, por cada greve dos professores, por cada greve de enfermeiros, o Governo deve sair à rua e voltar a explicar as razões da política, pedir e agradecer o esforço de todos os grupos sociais atingidos, explicar até à exaustão, com rigor e sem demagogia, os seus argumentos e estar disponível para provocar ajustamentos e atender aos mais desfavorecidos. O Governo deve envolver e conquistar os portugueses para a sua estratégia como se em campanha eleitoral estivesse. Porque fácil é conquistar o poder e difícil é merecer conservá-lo.

Porém, o Governo tem um extraordinário jeito para considerar que a política se resume a esquemas de gabinete e corredores e que tudo o resto, desde a imprensa às manifestações, já não é país mas ruído de fundo. O Governo reage com desdém aos protestos daqueles que, com muita ou pouca razão, irão pagar de facto a factura da crise das finanças públicas e da desaceleração económica.

Porque verdadeiramente há um avolumar de vozes angustiadas que cresce e todos os dias ganha adeptos. As manifestações e greves a que temos assistido não são passeatas pela Avenida da Liberdade em comemoração do 25 de Abril onde se trocam cumprimentos e sorrisos. Repare-se como hoje o discurso da Oposição já é ouvido quando em Abril ninguém se interessava por ele. Repare-se que até a Conferência Episcopal Portuguesa junta a sua voz ao coro de alertas e decidiu emitir uma nota pastoral «económica» propondo «Um olhar de responsabilidade e de esperança sobre a crise financeira do país».

Se não fosse esta mentalidade de gabinete e corredor, tendo pela frente a batalha decisiva das finanças públicas, das eleições autárquicas, das eleições presidenciais, da crise europeia e a sua desistência de referendar o Tratado constitucional, da urgência de lutar pelo seu plano tecnológico, pelo crescimento económico e pela criação de empregos, porque reavançaria agora o Governo para novo referendo sobre o aborto? Apenas um mês depois de Jorge Sampaio o ter considerado inoportuno?

Referendo que todos percebemos que, independentemente da opinião de cada um, servirá para crispar ainda mais a sociedade portuguesa, para a dividir em vez de a unir.

Proposta de lei de referendo que altera datas legais de forma a ajeitar a situação para o Go verno. Proposta de referendo que mais parece uma fuga para a frente de quem não tem resposta para as exigências do dia a dia.

Eduardo Moura

1 Comments:

At 1 de julho de 2005 às 14:21, Anonymous Anónimo said...

O calendário do PS


Não consigo perceber por que calendário se rege o PS. Mas deve ser pelo chinês, pelo Juliano ou pelo da Revolução Francesa. Não é seguramente pelo nosso, aquele que mostra que em Outubro há eleições autárquicas e em Janeiro eleições presidenciais, o que torna risível qualquer intenção de se fazer um referendo sobre o aborto no meio das duas eleições.

Já o disse e escrevi mas aproveito para repetir: o PS está a fazer tudo para que nunca mais se faça o referendo. Desde que ganhou as eleições, que este foi o maior erro (ou erros para ser mais correcto) de José Sócrates. Sem saber o que quer, sem saber como o fazer, o referendo sobre o aborto tem sido arma de arremesso de toda e qualquer jogada política. Todos os partidos são igualmente culpados, embora por motivos diversos e por objectivos que raramente coincidem.

Quem matou este referendo foi o PS quando o quis fazer antes do Verão e forçar o da Europa em simultâneo com as autárquicas. Permitiu ao PSD um perigoso braço-de-ferro que teve que ser arbitrado por Jorge Sampaio com os resultados que se conhecem.

Se o PS tivesse pedido que os dois referendos se realizassem no mesmo dia e em simultâneo com as autárquicas tudo teria sido diferente. Mas o medo de confundir resultados e de influenciar o voto do PS em localidades de costumes mais conservadores deitaram tudo a perder. E quem joga com grande calculismo nestas matérias, normalmente perde.

O que é triste é que este tema é um dos mais importantes do país, que já só pode ser discutido em referendo e que nunca mais se resolve, seja para um lado seja para o outro. Eu defendo o sim mas penso que os apoiantes do não podem estar descansados. Com o PS a actuar assim, o referendo ainda se vai discutir em 2007.

Ricardo Costa
Director-Adjunto de Informação da SIC

 

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