sexta-feira, 7 de outubro de 2005

AUTÁRQUICAS 2005

Campanha covarde

Não aprendem. Uma campanha inteira, pré-campanha longuíssima, e os milhares de candidatos a presidentes de câmara e da junta, a vereadores, a deputados municipais, todos passaram ao lado da crise. É como se o poder local pairasse sobre a desgraça nacional. Da esquerda à direita, nada de desagradável para o eleitor foi sequer aflorado.

Nenhum dos temas difíceis, mas absolutamente incontornáveis nos próximos quatro anos, foi verdadeiramente debatido. Nada!

Não faltaram, essas nunca faltam, promessas populistas: do jardim por bairro ao taxi gratuito. Promessas e críticas. Sempre muitas. Nem é isto que revolta. Faz parte... O que a sociedade portuguesa não devia tolerar é esta fuga contínua aos problemas.

Estas campanhas covardes, onde a nossa política insiste em refugiar-se na mentira. Na táctica do encobrimento, como Marques Mendes não parou de denunciar.

É algo que acabámos de ver, escassos meses antes, nas últimas legislativas – e deu no que deu. A maratona de banalidades que encobriam as medidas inevitáveis. Depois o choque com a realidade, um Governo a dar o dito por não dito, cheio de vergonha, enfim, precocemente fragilizado.

Em tempos de crise, a mentira tem perna curta. E não aprendem que ela é contraproducente. Uma classe inteira cava a sua própria sepultura quando, repetidamente, a cada acto eleitoral, anuncia algo, sabendo que irá fazer o contrário.

O líder do PSD exigia, por isso, que Sócrates não escondesse o "pacotão" orçamental. O primeiro-ministro disse que Mendes estava enganado nas eleições. Eram locais. Correcto!

Estavam, portanto, em cumplicidade, ambos a esconder um outro "pacotão", o autárquico. Aquele que, depois destas eleições, irá novamente surpreender os eleitores com as "más novidades".

Durante toda esta semana, sem pretensiosismo, o Jornal de Negócios quis dar o seu contributo. Dezenas de trabalhos de campo, estudos e de relatórios foram relidos. Dezenas de especialistas foram ouvidos. Centenas de artigos foram recuperados.

Centrados nos grandes problemas das grandes cidades, os nossos jornalistas foram confrontados com diversas inevitabilidades.

A mobilidade. Mexe com os transportes e com o custo de acesso. A crise energética é sobretudo uma crise de combustíveis. Os transportes são a maior fonte de consumo de petróleo e uma das principais origens da nossa ineficiência energética. O transporte privado vai ser fiscalmente ainda mais penalizado. Quem falou nisso?

O financiamento e a fonte de recursos. Mexe com as finanças públicas. Mas também com o ordenamento do território. A construção e o turismo são a maior fonte de receitas próprias municipais. O que tem de acabar, sob pena de destruir o turismo e acabar com a economia do concelho. As taxas municipais vão, obviamente, aumentar. Alguém tocou no assunto? Nem no fim de freguesias, na fusão de concelhos, que são demasiados, alguns ridículos. A base da competitividade do país está na competitividade das cidades.

Os autarcas fingem que isso não depende deles. E os eleitores ainda não perceberam que o problema é nosso.


Sergio F.

2 Comments:

At 7 de outubro de 2005 às 13:28, Anonymous Anónimo said...

É suposto que os políticos digam que as coisas devem mudar. Mesmo que mudem para que tudo fique na mesma.

Eles têm de demonstrar que, com a sua acção (ou mesmo inacção) isso é possível. Faz também parte do jogo que os eleitores acreditem nisso. Mas, neste domingo, não se joga apenas o xadrez autárquico.

Mesmo maioritário o Governo sente que, especialmente nas grandes metrópoles, há quem não vote em quem conhece, mas sim para valorizar ou penalizar alguém. Em Portugal, muitas vezes, as autárquicas são um reflexo da política nacional.

Os resultados são o "boomerang" do que se fez, ou não, no Governo. As autárquicas vão ser o termómetro do país. Para ver se arrefeceu a fúria governativa do PS. Para mostrar se aqueceu a sonolenta e leal oposição.

Há, claro, algo de muito importante nas autárquicas: elas deveriam ser o elo mais forte entre eleitores e eleitos. Estão de tal maneira próximos que ela deveria ser a democracia na sua forma mais pura.

Mas, muitas vezes, as autarquias são o elo mais fraco da democracia indígena. São o quadro mais grotesco das comunidades que vão atrás da primeira fanfarra que passa à sua porta.

Entre o micro e o macro, as autárquicas são uma regra de três simples: mostram o estado da nossa democracia.

 
At 7 de outubro de 2005 às 13:29, Anonymous Anónimo said...

Antes da previsível vitória de Fátima Felgueiras estão seladas as pazes entre o PS e a sua ex-autarca modelo. O acto constitui um dos momentos de maior franqueza em toda a campanha autárquica.

Questionado sobre as razões porque Fátima Felgueiras não se candidatava pelo partido, Almeida Santos – para quem Fátima merece "presunção de inocência" – respondeu: "Porque ela não quis? ou porque o PS não quis".

Percebe-se agora que não foi só por falta de coragem que José Sócrates e Jorge Coelho fugiram do confronto. Fátima já mostrou que é imprevisível e o medo aconselhava a intervenção da eminência parda.

Só António Almeida Santos seria capaz de expressar a vénia a quem fugiu à justiça, a quem teve acesso antecipado a uma decisão judicial, a quem voltou ao país em condições de manifesta excepção.

O que aconteceu em Felgueiras no mesmo dia em que o Presidente da República pedia moralização para o exercício da vida pública, prova que há princípios por clarificar na família socialista.

Ou José Sócrates se demarca do ropapé de Almeida Santos a Fátima Felgueiras ou a honra e a vergonha caducaram definitivamente no PS

 

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