sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

FALTA:

UM RUMO

Ontem o Governo, socialista, anunciou mais uma onda de privatizações, da REN à TAP, com a expectativa de obter encaixes bastante razoáveis.
Ao mesmo tempo, anunciou a intenção de manter a golden share na PT, algo que parece não incomodar o übber capitalista Belmiro.
Àparte a esquerda ideológica ninguém se mostrou particularmente incomodado.
Pois bem, a mim que não sou de esquerda, muito menos socialista, isto tudo incomoda-me, e desde há muito.
Incomoda-me, porque nunca houve em Portugal uma política consistente de privatizações.
Nunca.
Basicamente, e porque, em abstracto, é mau o Estado intervir directamente na economia, privatiza-se casuísticamente, ao sabor dos ventos e marés, e em função das necessidades financeiras do momento.
Um erro.
Eu também quero um Estado leve, ágil e com o mínimo de intervenção directa na economia, mas gostava que houvesse um consenso alargado sobre qual o verdadeiro papel do Estado na economia, e de que forma.
Que houvesse uma visão sobre o que é estratégico e o que não é, sobre o que é core-business e sobre o que é secundário, sobre o que tem a ver com a soberania e o que não tem.
Infelizmente parece que por cá o kilo continua igual ao litro.
Tolerar habilidades financeiras só porque se reconhece a necessidade de liquidez, por um lado, e por outro porque se é um liberal é de uma irresponsabilidade grosseira.
Porque tem que haver um rumo, e não há.
Ah, e quando é que se fala das "águas de portugal" ?

MANUEL

2 Comments:

At 17 de fevereiro de 2006 às 14:50, Anonymous Anónimo said...

A economia portuguesa faz-me lembrar a pobreza de algumas localidades do país, casos típicos como Rabo de Peixe nos Açores ou Câmara de Lobos na Madeira, a pobreza reproduz-se devido a factores culturais e sociológicos, tornando-se num circulo vicioso. Altos índices de desemprego e alcoolismo levam à baixa qualificação profissional, ao insucesso escolar e a baixos níveis culturais, assegurando que geração após geração a miséria se vá entranhando.

A nossa economia vive de baixos salários, o grande problema dos nossos economistas quando enfrenta situações de crise é saber como conseguirão fazer baixar o rendimento dos mais pobres e dos menos ricos sem que eles se apercebam.
Nunca ouvi um ministro da Economia estabelecer como objectivo o enriquecimento dos portugueses, o aumento do rendimento real dos mais pobres, a não ser num prazo longínquo, muito para além do ciclo eleitoral.
Pelo contrário, estes são os dois grandes papões do aumento da competitvidade.

E baixos salários significam fracos níveis de escolaridade e de cultura, e baixa qualificação profissional, que por sua vez significa baixa qualidade dos produtos, níveis inferiores de produtividade.
Baixos salários significam igualmente indústrias que podem dispensar investimentos de capital-intensivo.

A economia portuguesa vive um circulo vicioso de miséria, é uma economia de Rabo de Peixe, ou, se preferirmos, de pescadinha de rabo na boca.
Quando cresce os ricos ficam ainda mais ricos, e quando estagna os pobres ficam mais pobres, para que os ricos possam voltar a ficar mais ricos, condição para que possam empregar alguns dos pobres que ficaram desempregados.
Desde sempre que um dos grandes problemas da economia portuguesa é a assimetria na distribuição dos rendimentos e esta tem vindo a agravar-se, o que leva a que os resultados do progresso económico tenha sido, em grande parte, absorvido por alguns estratos sociais.

Os nossos políticos não entendem que uma economia de pobre nunca será uma economia rica.

PS: Concordo com as privatizações, não tenho ilusões quanto aos supostos benefícios sociais das empresas públicas, e até aceito que as empresas poderão ser melhor geridas na posse de privados, o grande princípio a que te obedecido o processo das privatizações.
Mas se é este o princípio seria bom porque razão o governo privatiza as empresas mais rentáveis, enquanto fica na posse das que dão prejuízo.
Não seria lógico que fosse estas a serem privatizadas para beneficiarem da supostas virtudes da gestão privada?

 
At 17 de fevereiro de 2006 às 14:52, Anonymous Anónimo said...

São as ironias da história que tenha cabido aos governos socialistas a acção mais determinada na redução do peso do Estado na economia. Se é por fé nas virtudes do mercado ou na qualidade de agente relutante, tanto faz.
São as ironias da história que tenha cabido aos governos socialistas a acção mais determinada na redução do peso do Estado na economia. Se é por fé nas virtudes do mercado ou na qualidade de agente relutante, tanto faz.

Fernando Teixeira dos Santos, que como secretário de Estado de Sousa Franco foi o homem que mais receitas de privatização encaixou, está de volta aos grandes números e propõe-se quebrar o prolongado jejum que se viveu durante os governos do PSD.

Foi Cavaco Silva, com Miguel Cadilhe nas Finanças, que iniciou o processo, em 1989, ainda limitado à manutenção da maioria do capital das empresas privatizadas na posse do Estado. Coube à cervejeira Unicer a honra de inaugurar o ciclo das privatizações. Os governos de Cavaco Silva concluíram basicamente a privatização do sector financeiro, com recurso ao modelo da OPV, nos primeiros ensaios de fazer de cada português um pequeno accionista.

Mas o verdadeiro capitalismo popular estava para chegar e foi concretizado no tempo de António Guterres, com as duas maiores empresas portuguesas, a Portugal Telecom e a EDP. Depois de 2001 seguiu-se o deserto. Manuela Ferreira Leite não desdenharia algumas receitas de privatizações para reduzir a dívida pública, mas a apatia da bolsa e o arrastar de alguns processos no Ministério da Economia sob a batuta de Carlos Tavares, como a Gescartão e a Portucel, não ajudaram.

Cabe portanto a Teixeira dos Santos voltar a pôr o comboio em andamento. O plano de privatizações para 2006/2007 ontem divulgado corresponde, no essencial, ao que se previa em função do Orçamento de Estado, quer no montante de receitas previstas quer no calendário das empresas a privatizar, como a alienação de 20% da Galp e o abandono definitivo do sector da pasta e do papel, com as últimas fases da Portucel e da Portucel Tejo ainda este ano.

A surpresa acaba por ser a inclusão da TAP nas operações previstas para 2007, a única incursão no universo dos transportes tutelado por Mário Lino.

Se este novo fôlego se concretizar, confirmar-se-á mais uma vez que os socialistas continuam à frente na redução do peso do Estado em Portugal.

O que também é preciso é que as acções sejam consequentes ou, ao jeito popular, que diga a cara com a careta. É por isso paradoxal que o Governo que se propõe aumentar o ritmo das privatizações seja o mesmo que se propõe reforçar a função do accionista Estado nas empresas participadas. Uma coisa é garantir que a gestão é transparente - algo que em muitos casos está bem longe da realidade - ou a definição de objectivos claros para os gestores, outra bem diferente o reforço da intervenção directa do Estado nas empresas que controla. Ficou a dúvida depois de ouvir anteontem o secretário de Estado do Tesouro e das Finanças, Carlos Pina.

Também não diz a cara com a careta quando o Governo anuncia que se prepara para defender em Bruxelas a manutenção da «golden share» na PT, com o argumento de que não se alteraram as condições que justificaram a sua criação, no já longínquo ano de 1995. Alteraram-se e não foi pouco. O Estado deixou de ter a maioria do capital e os seus poderes especiais ficaram concentrados em apenas 500 acções. Mesmo que seja só para ganhar tempo, não é argumento que dignifique porque não pode ser levado a sério.

 

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