segunda-feira, 22 de maio de 2006

NÃO É UM MODELO SAUDÁVEL

Crescimento pouco saudável

O Banco de Portugal diz que o indicador coincidente, uma espécie de fotografia instantânea do comportamento da economia, subiu em Abril (a 5º subida consecutiva). Este facto está a ser usado pelo Governo para reforçar a propaganda de que a economia está no bom caminho.
O problema é que não está.
A subida de Abril, tal como a de meses anteriores, muito se deveu ao consumo privado e menos às vendas ao exterior e ao investimento (que deviam ser os motores da economia portuguesa). No investimento, por exemplo, as coisas não estiveram bem em Abril, tal como não tinham estado em todo o primeiro trimestre. E mesmo a propalada subida das vendas para fora da União Europeia (anormalmente elevadas) carece de análise.

É difícil perceber como uma economia com desemprego elevado e investimento estagnado (na Indústria Transformadora e nos Serviços houve também pequenas quebras) pode suportar subidas contínuas do consumo.
A não ser por recurso ao endividamento.
Mas quanto a isso, até a minha mãe, que nada percebe de economia, sabe que não é um modelo saudável.

C.L.

1 Comments:

At 22 de maio de 2006 às 17:21, Anonymous Anónimo said...

Os violinos de ingres

Recebi uma carta assinada por três ministros (a sra. Ministra da Cultura, a sra. Ministra da Educação e o sr. ministro Santos Silva), que me convidava para ser membro de uma Comissão de Honra do Plano Nacional de Leitura. Com a carta vinha uma síntese do dito Plano. O papel da Comissão de Honra seria dar o seu "prestígio e aconselhamento à execução do Plano". Por outras palavras, fazer alguma propaganda à coisa, como de resto o dr. Graça Moura, "muito penhorado", já começou a fazer. Propaganda por propaganda, resolvi responder em público que não aceito. Por várias razões. Em primeiro lugar, porque a carta e a "síntese do Plano" estão escritas num português macarrónico e analfabeto (frases sem sentido, erros de sintaxe, impropriedades, redundâncias, por aí fora). Quem escreve assim precisa de ler, e de ler muito, antes de meter o bedelho no que o próximo lê ou não lê.
Em segundo lugar, não aceito por causa do próprio Plano. O fim "essencial" do Plano é "mobilizar toda a sociedade portuguesa para a importância da leitura" (a propósito: como se "mobiliza" alguém "para a importância"?). Parece que as criancinhas do básico e do secundário não lêem, apesar do dinheiro já despem diçado no ensino e em bibliotecas. Claro que se o Estado proibisse a televisão e o uso do computador (do "Messenger") e do telemóvel, as criancinhas leriam ou pelo menos, leriam mais. Na impossibilidade de tomar uma medida tão drástica, o Estado pretende "criar um ambiente social favorável à leitura", com uma espécie de missionação especializada. A extraordinária estupidez diste não merece comentário.
Em terceiro lugar, não aceito por que o Plano é inútil. Nunca se leu tanto em Portugal. Dan Brown, por exemplo, vendeu 470 000 exemplares, Miguel Sousa Tavares, 240 000, Margarida Rebelo Pinto vende entre 100 e 150 000 e Saramago, mesmo hoje, lá se consegue aguentar. O Estado não gosta da escolha? Uma pena, mas não cabe ao Estado orientar o gosto do bom povo. No interior, não há livrarias? Verdade. Só que a escola e a biblioteca, ainda por cima “orientadas”, não substituem a livraria. E um hiper-mercado, se me permitem a blasfémia, promove a leitura mais do que qualquer imaginável intervenção do Estado.
O Plano Nacional da Leitura não passa de uma fantasia para uns tantos funcionários justificarem a sua injustificável existência e espatifarem milhões, que o Estado extraiu esforçadamente ao contribuinte. Quem não percebe como o país chegou ao que chegou, não precisa de ir mais longe: foi com um número infinito de “causas nobres” como esta.
“Causas nobres” , na opinião dos srs ministros, convém acrescentar.

Vasco Pulido Valente, no Público de ontem

Como de costume, Vasco Pulido Valente parte a loiça das redomas ministeriais e escaqueira estilos de pomposidade culturística.
Aqui há uns anos, em meados da década de oitenta, VPV elaborou uma espécie de plano pessoal de leitura, numa coluna intitulada Os livros da minha vida, numa revista semanal que se chamava Grande Reportagem, diriga por José Manuel Barata-Feyo e que mantinha em colunas regulares, Filomena Mónica, António Pedro Vasconcelos e António Barreto, além do próprio VPV.
Um luxo.

Aquele António Pedro-Vasconcelos escrevia, no número 7 de 18 a 24 de Janeiro de 1985:

“O mundo, eu sei, não está propenso a grandes esperanças, quanto mais a nobres atitudes. Mas partilho com alguma gente o sentimento incómodo de ver proliferar uma nova raça de seres, de sexo e idade indefinida, mas de grande vocação reprodutora: não parece terem sido alguma vez adolescentes nem são hoje maduros, não se revoltam nem são cépticos: são criaturas sem paixão nem seriedade, na política e nas artes, na profissão e no convívio; capazes de mentir ou de trair para conservar o lugar ou manter o poder de compra. São mais dignos de piedade que desprezo: estão dispostos a envelhecer de qualquer modo para garantir um pequeno privilégio ou uma modesta influência. O grave é que o poder os favorece, precisa deles: funcionários zelosos, empregados servis, gente sem alma e sem carácter. Profissionais da sobrevivência no jogo dos favores, são eles hoje a nova raça, boçal e corrupta, contagiante, capaz de tudo e candidata a lugares proeminentes.
Com eles a paz está garantida, mas por desalento; a democracia está viva, mas por indiferença; o Estado manda, mas por apatia. Não estamos num país de leste, garantem-nos, nem Portugal será a América Latina. E curto. Se é que uma verdade tão consoladora, não pode tornar-se, a breve prazo, uma vantagem sem proveito e uma vaidade de pouca serventia. “

Entre os livros da vida de VPV, elencados na revista, nessa altura, estavam títulos como “Céu Aberto” de Virgínia de Castro e Almeida; Campanha Alegre de Eça de Queiroz; A Morgadinha dos Canaviais e Os fidalgos da Casa Mourisca, de Júlio Dinis( a crítica a estas duas obras merecia um postal por inteiro); A Encruzilhadas de Deus, de José Régio; Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes; S. João subiu ao Trono, de Carlos Amaro; Soluções Positivas de Política Portuguesa, de Teófilo Braga; Calendário Privado, de Fernanda Botelho e , claro, Portugal Contemporâneo, de Oliveira Martins.
Seria interessante, perguntar especificamente aos promotores do Plano Nacional de Leitura, quais são os livros das vidas deles. Só para sabermos- e a sério, claro. E esperar que não venham respostas do género das que um determinado indivíduo, culturalmente evoluído a ponto de pontificar na respectiva secretaria de Estado, deu, quando há uns anos lhe perguntaram algo a propósito das suas preferências musicais.
Falou então, desenvoltamente, nos célebres concertos para violino de…Chopin! Podia ser pior: se tivesse acrescentado o nº kershel, por exemplo.

 

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