terça-feira, 16 de maio de 2006

HÁ UM TEMPO PARA TUDO

Ao PSD não basta esperar que volte a ser o tempo certo e que o poder lhe caia nas mãos. Mesmo que tal bastasse ao partido, não serviria o País.

1. A vaga de optimismo que parecia inundar o País com o anúncio do lançamento de novos projectos económicos transformou-se num mar de desalento. Portugal é assim, já devíamos saber. O típico padecente da doença bipolar: da euforia à depressão, numa angustiante montanha russa.

A novela é conhecida.
Há cinco meses atrás, o Governo de José Sócrates e o empresário Patrick Monteiro de Barros apresentaram o mega-projecto da refinaria de Sines como o investimento da década.
Numa conjuntura em que a economia cresce pouco mais que nada, o plano foi acolhido como a chuva em ano de seca.
Agora que a ruptura entre as duas partes é pública, trocam-se acusações, sacodem-se responsabilidades, uma costumeira e infeliz contemplação.

Não se pretende aqui encontrar culpados, nem tão pouco julgar os intervenientes. Analisemos o método.
Este, está à vista, falhou e, muito provavelmente, vai voltar a falhar.
Enquanto se continuarem a anunciar projectos providenciais como a tábua de salvação de Portugal, vamo-nos continuar a afundar em ilusões.
O investimento estrangeiro e os grandes empreendimentos são importantes para o país, mas o seu anúncio não pode ser visto como um passo de mágica capaz de inverter o preocupante quadro económico.
Mais.
Desfechos como o do projecto da refinaria de Sines podem ter um efeito ‘boomerang’: fazendo com que o feitiço se volte contra o feiticeiro e, mais grave, atingindo a já débil confiança na economia portuguesa.

2. No próximo fim-de-semana o PSD vai reunir, mais uma vez, em congresso.
Sem eleições à porta, com alterações estatutárias recém-realizadas e com líder já eleito para os próximos dois anos, seria bom que o maior partido da oposição tivesse a capacidade, e a lucidez, de falar para o País.
Se tal não acontecer, se tivermos uma reedição, embora em ‘écran’ gigante, do congresso do CDS/PP, com o partido a olhar para o umbigo e o País a não querer assistir às intrigas palacianas de quem não tem palácios, será mais um desperdício de tempo.

Onde se deve então focalizar o PSD?
Nas propostas alternativas de políticas públicas para Portugal.
Nas que tem e nas que deveria ter.
Já aqui escrevi, ao PSD não basta esperar que volte a ser o tempo certo e que o poder lhe caia nas mãos.
Mesmo que tal bastasse ao partido, não serviria o País.
Há que fazer o trabalho de casa e não ter medo de discutir, enquanto há tempo, o essencial. E o essencial começa e acaba nas funções do Estado.
Que Estado poderá garantir no século XXI que os mais pobres não são totalmente excluídos e que quem contribui com impostos e descontos para a segurança social não se sinta traído e progressivamente empobrecido por um Estado gordo e ineficiente?

Há um tempo para tudo, tempo para ser Governo e tempo para ser oposição.
Mas, ou o tempo de oposição é aproveitado para estudar, discutir e preparar um caminho alternativo, ou é um tempo perdido.


Nuno S.

3 Comments:

At 17 de maio de 2006 às 08:51, Anonymous Anónimo said...

O que se passa no PPD/PSD?

Num mesmo dia duas personalidades do PSD tiveram posições incómodas para Marques Mendes, Pacheco Pereira protestou contra o silêncio no caso do envelope n.º 9 e Manuela Ferreira Leite apoiou o encerramento as maternidades.

Depois da graxa que o PSD de Marques Mendes tem dado ao Procurador-geral, um sinal de gratidão por dois anos de governo sem oposição, a posição de Pacheco Pereira merece realce, até porque se fundamenta na defesa dos direitos constitucionais do cidadão, que têm sido tão maltratados.

Já a intervenção de Ferreira Leite foi ainda mais directa à postura política de Marques Mendes pois vai frontalmente contra a posição assumida pela liderança do PSD. Mas não se fica por aqui, acusa de demagogia algumas personalidades com peso na opinião pública, acusação que assenta perfeitamente em Marcelo Rebelo de Sousa que ainda no domingo teve uma das intervenções mais manhosas de todas as que fez no seu tempo de antena exclusivo e gentilmente financiado pelos impostos dos portugueses.

Por fim, importa referir que a posição assumida por Manuela Ferreira Leite peca por tardia, só foi assumida quando a generalidade dos especialistas vieram à praça para defender a decisão governamental, isto é, Manuela Ferreira Leite percebeu que a posição do PSD estava perdida.

 
At 17 de maio de 2006 às 08:53, Anonymous Anónimo said...

Marques Mendes desapareceu, deverá estar a preparar o congresso do próximo fim de semana, sendo muito provável que neste congresso seja agendado outro congresso e mais umas directas, para que o líder do PSD possa continuar a fazer aquilo para que nasceu, trabalhar nos bastidores do PSD. Entretanto, a oposição foi entregue às estruturas locais que se travestiram em associações de mães ara que a maternidade da esquina se mantenha em funcionamento.

Ribeiro e Castro deverá ter regressado para Estrasburgo para justificar o vencimento de deputado europeu, enquanto a oposição interna do CDS aguarda novas ordens de um Paulo Portas que deverá estar neste momento mais preocupado com a preparação do seu tempo de antena na SIC, gentilmente cedido pelo tio Pinto Balsemão.

Sócrates estará reunido com os seus assessores e ministros mais dinâmicos para estudar qual a próxima cerimónia pública, talvez mais uma refinaria em Sines, um aeroporto internacional em Beja, a assinatura de duas dúzias de protocolos com alguma personalidade internacional, ou mesmo a apresentação pública dos últimos investimentos privados que beneficiaram de ajudas governamentais.

Entretanto, Santana Lopes anda por aí enquanto o seu arqui-rival de Belém anda por aqui a tentar levantar o ânimo da Nação.

Parece que, finalmente, o país está a regressar à normalidade.

 
At 17 de maio de 2006 às 18:01, Anonymous Anónimo said...

O NACIONALISMO DO PPD/PSD E AS MATERNIDADES

Independentemente da posição que se possa ter sobre as questão das maternidades, é cada vez mais evidente que o PSD optou por conseguir alguns votos apoiando a manutenção das maternidades onde julga que a mobilização das populações é maior. E se para manter a maternidade de Barcelos o argumento é o do diálogo, na defesa da maternidade de Elvas o problema é o nacionalismo.

Para o PSD é melhor um nado-morto luso do que um português nascido em Badajoz, como se fosse um acto médico, neste caso um parto, a assegurar a pureza genética da Nação. Fernando Negrão e Marques Mendes (que não tem a coragem de dar a cara neste assunto, optando por mandar segundas figuras defender os seus argumentos) deveria percorrer a fronteira, desde Vila Real de Santo António a Caminha, e perguntar aos que aí vivem se preferem um parto num bom hospital espanhol ou sujeitar-se às condições de algumas das nossas maternidades.

Para o PSD pode-se ir para uma guerra porque o Aznar também foi ou investir no TGV assinando por baixo do projecto concebido pelo governo espanhol, mas ir parir ao outro lado da fronteira, mesmo que isso seja uma escolha da parturiente, isso é que não. É evidente que no PSD o nacionalismo em relação a Espanha só se manifesta quando não está no poder e em Espanha o governo não é do PP, como agora sucede.

Este é o mesmo PSD que quase fechou o ensino da medicina em Portugal com as consequências que hoje estão à vista, centenas de jovens vão estudar medicina nas universidades espanholas e são muitas unidades de saúde que tentam preencher os seus quadros contratando profissionais espanhóis. Mas aí o problema do nacionalismo não se coloca para o PSD, da mesma forma que não se colocou quando o 'Conde' ficou dono de um dos maiores bancos portugueses debaixo das suas barbas.

Como os idiotas a dominar a política portuguesa o problema não está em ir parir a Espanha, está na possibilidade de os que lá nascem em vez de começarem a berrar quando levam a palmada no rabo, desatarem logo a falar espanhol e a pedir à mãe que os registe em Badajoz.

 

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