quinta-feira, 11 de maio de 2006

UMA PERGUNTA A TODOS NÓS...

As câmaras municipais

podem ser eficientes?






Quando pensa num qualquer município, no seu por exemplo, que imagem retém? Estrutura eficiente, competitiva, que assenta a sua actividade em finanças sólidas, empregados com bom nível de formação e que prestam um serviço de excelência?

1. Elefantes bancos ou estruturas fundamentais?

Quando pensa num qualquer município, no seu por exemplo, que imagem retém? Estrutura eficiente, competitiva, que assenta a sua actividade em finanças sólidas, empregados com bom nível de formação e que prestam um serviço de excelência? Ou por seu lado imagina uma má utilização dos dinheiros públicos, estradas em mau estado e notícias que apontam para favorecimento de interesses ligados ao imobiliário?

Independentemente do balanço que cada um de nós faça da actuação das câmaras municipais, a verdade é que hoje os municípios portugueses, são um elemento necessário e fundamental de desenvolvimento.
Com problemas.
Muitos e enormes problemas.

Actualmente, existem, em Portugal, 308 municípios, dos quais 278 no continente e 30 nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. O País tem ainda 4.259 freguesias, das quais, 4.050 no território continental e 209 nos territórios insulares. São, no seu conjunto, um dos maiores empregadores do país. E, isoladamente, sempre um dos mais importantes a nível local.
Para se ter uma ideia da folha de pagamentos das várias câmaras, considere-se por exemplo o caso do maior município do país: Lisboa.
Todos os meses processa mais de 12.000 salários correspondentes a tantos empregados.

Não são necessários muitos dados para provar que as câmaras são uma realidade importante.
Basta olharmos para a Lei para verificarmos as muitas (quase sem fim) atribuições e competências: desenvolvimento socio-económico, ordenamento do território, abastecimento público, saneamento básico, saúde, educação, cultura, ambiente e desporto. Ou seja, na prática, não há limites.
São importantes, não há dúvida.
Mas serão bem geridas?
Será que utilizam da melhor forma os imensos volumes de dinheiro que recebem?

2. Financiamento e descentralização

Quando falamos de municípios é fundamental falar de financiamento.
De receitas. Fundos que entram de um lado, para fazer face às despesas que não param de chegar do outro. E curiosamente das 308 câmaras municipais existentes no País, apenas 23 têm receitas próprios superiores à transferência do Fundo de Equilíbrio Financeiro. Ou dito de outro modo, todos os municípios estão fortemente dependentes do poder Central. E numa altura em que as despesas sobem sem parar, umas vezes por questões eleitorais e muitas por melhoria do serviço prestado aos munícipes, a alternativa passa pelo financiamento, pela contratação de empréstimos. Em suma, aumento do endividamento.

Dados recentes revelam que quase um quinto dos municípios portugueses tinha esgotado a sua capacidade de endividamento. E pior.
Em nove câmaras municipais, o endividamento era já superior a 100%.
Qualquer família portuguesa média, fica bem melhor no retrato do endividamento do que a maior parte das câmaras.

No final de Janeiro de 2006, eram 57 os municípios que tinham excedido a sua capacidade de contracção de dívida, número que em Junho de 2005 se cifrava nos 46 municípios. De salientar ainda que no segundo semestre do ano passado, a fasquia do endividamento negativo foi ultrapassada por outras 16 autarquias que agravaram a situação financeira, enquanto só cinco municípios recuperaram para um saldo de endividamento positivo, devido à liquidação ou amortização de empréstimos bancários.
A conclusão é simples: o actual enquadramento financeiro não tem sustentação. E um destes dias, a casa vem abaixo.

Ora esta falta de acerto entre receitas e despesas tem, como diria La Palisse, duas origens: as despesas e as receitas.
Vamos às primeiras.
É verdade que os encargos não têm parado de crescer por um lado porque são crescentes como já se viu, as competências das autarquias. Aliás a tendência actual vai exactamente no sentido de as aumentar ainda mais.
O poder Central quer (e bem) transferir, descentralizar, passar para as câmaras parte das suas atribuições. Mas também são crescentes por má gestão.
A corrupção certamente existirá, como existe em todas as entidades ou profissões. Mas também a pouca eficiência de algumas decisões. E claro temos de considerar a questão eleitoral, que acaba por ser em alguns casos um elemento com alguma ponderação na altura de alocar os fundos.

Do lado das receitas também existem alterações urgentes a fazer.
Desde logo não faz sentido que as autarquias assumam responsabilidades sem que tenham verdadeira e total autonomia financeira.
Responsabilidade implica independência, capacidade de gerar receitas.

O Governo percebeu a complexidade do problema e o Secretário de Estado Adjunto e da Administração Local, Eduardo Cabrita, está a liderar uma pequena revolução na forma de pensar o financiamento das autarquias.
É uma parte do problema.
Mas é uma fatia importante.

Confirme ontem foi noticiado , o endividamento líquido de cada câmara vai ficar dependente dos fundos municipais, dos impostos municipais e das participações no IRS.
De facto a capacidade de endividamento deixar de respeitar uma regra cega, e assume-se uma regra inteligente: a capacidade de endividamento passa a estar dependente da capacidade de gerar receitas.

Restam agora as outras fatias.
Fundamentais e a ter em conta: total transparência das contas das autarquias e dos actos de gestão.
Mais: controlar bem à posteriori do que impedir através de complexos burocráticos a tomada de decisões.
Estimular positivamente, nomeadamente através do reforço das dotações, as melhores práticas e a concorrência entre municípios.

Rui P. Batista

4 Comments:

At 12 de maio de 2006 às 07:49, Anonymous Anónimo said...

As Câmaras nunca podem ser eficientes, sendo geridas por politicos, pois estes t~em é de agradar aos eleitores e não fazer gestão eficiente do dinheiro que dispôem.

Além disso metade dos Concelhos devia acabar. Vejam só a quantidade de ordenados chorudos (e reformas) que acabavam. Vejam os Concelhos de Avis, Alter e Sousel, se se juntassem todos num só, eram 2 ordenados de Presidente e uns 10 de Vereadores, para não falar noutros que podiam acabar.

 
At 12 de maio de 2006 às 07:53, Anonymous Anónimo said...

Agora vejam a gestão da CM PSor. Fizeram o Estádio e a a CM pratocina por completo o Eléctrico que subiu à 2ª divisão. Ou seja, o Pinto já justificou o estádio municipal. Esta época vai acabar com os subsidios ao EFC e o clube vem parar aos Distritais, mas a pele do Pinto está salva.

Esta história já aconteceu com as Picinas, em que ele já começou a despedir os professores e há-de repetir-se com o Basket.
È a governação eficiente das Câmaras Municipais

 
At 12 de maio de 2006 às 09:42, Anonymous Anónimo said...

A reforma do municipalismo talvez seja a reforma impossível, basta recordar as discussões geradas pela criação das regiões para imaginarmos as centenas de dramas locais que resultaria do ajustamento do mapa dos concelhos ou das juntas de freguesias.

Como explicar, por exemplo, que um concelho como o de Barcelos tenha 89 freguesias, algumas das quais pouco davam para desenhar um campo de futebol e arranjar jogadores para duas equipas? Imaginem o que seria eliminar uma daquelas freguesias, em resultado da definição de parâmetros geográficos, populacionais ou históricos.

Muitos dos nossos concelhos e freguesias resultam de realidades históricas que há muito deixaram de existir, a sua existência não faz sentido na configuração actual. Como também não faz sentido um modelo de desconcentração da administração pública centrada no municipalismo, onde em cada concelho tem que haver, por exemplo, um serviço de finanças, uma conservatória do registo civil, etc. E a desculpa das distâncias nem faz sentido pois em muitas regiões há freguesias que estão mais próximas do concelho vizinho do que sucede com a sua sede de concelho.

Dou o exemplo de Barcelos – o maior concelho do país como o designa o site [Link] da sua câmara municipal - mas poderiam ser dados muitos outros. Mas Barcelos é neste momento o concelho da moda graças a uma manifestação organizada pela câmara municipal que para o efeito alugou 107 autocarros.

A pergunta que fica é se o governo vai acumular uma regionalização com um modelo municipalista anacrónico.

 
At 13 de maio de 2006 às 12:07, Anonymous Anónimo said...

As Câmaras municipais actualmente com o poder que adquiriram no pós 25 de Abril e na entrada do país na comunidade europeia em 1986, deveriam assumir um papel mais idóneo e com maior autenticidade, pois só assim os munícipes e a comunidade local ganhariam. Infelizmente, o que realmente se verifica é que os presidentes de Câmara com o poder que detêm, acabam por promover a corrupção, o compadrio, e assim o dinheiro dos nossos impostos anda a ser muito mal aplicado. Enquanto uns vivem no fausto, nos copos e nas viagens, outros têm que contar os cêntimos para irem sobrevivendo.Assim não! Eu penso que nem todas as pessoas deveriam ser presidentes de Câmara; deveriam ter habilitações para tal, deveria haver cursos especializados, assim evitar-se-ia muitas aberrações em vários níveis. O que acontece muitas vezes, é que funcionários das autarquias habilitados para determinada área( nomeadamente engenheiros, arquitectos, etc)que sabem do que estão a fazer,pois para isso estudaram; muitas vezes, só porque o presidente embirra ou porque não é do partido, o que deveria ser uma atitude pensada e reflectida pelos profissionais, acaba por ser obra dos incompetentes dos presidentes que dirigem as Câmaras e que pura e simplesmente não percebem nada do assunto nem do que estão a despachar ou a deliberar. Não basta estar escondido por trás dum partido, para se ser Presidente de Câmara, deveria haver especializações para estes. Só assim teríamos presidentes mais interventivos, conscientes e cientes do seu trabalho, não apenas presidentes para ganharem um belo tacho e terem muito poder!

 

Enviar um comentário

<< Home