quarta-feira, 15 de novembro de 2006

JOSÉ SÓCRATES

E ele vê-se. Imperador


É irrelevante Sócrates ser de esquerda ou de direita. É o que é – e, uns dias melhor, outros pior, tem caminho para percorrer. Por força de uma maioria absoluta, mas sobretudo pela maioria silenciosa que vai consolidando.

As últimas adesões – Alegre resistiu mas fugiu ao voto – provam a solidez do projecto. Todos perceberam, uns mais cedo do que outros, que nunca como agora existiram tão boas condições para um autoritário exercer o poder.
As instituições estão cooperantes, o povo resignado.
O resto está no código genético de uma associação com fins partidários: se não podes vencê-lo, junta-te a ele.
A história repete-se no desprezo absoluto por gente temerosa e veneradora, justificado na maciez da crítica.
Quer isto dizer que Sócrates está a fazer tudo bem?
Não forçosamente.

E tudo mal?
Também não.
Está mesmo a pôr a sua assumida ferocidade ao serviço de um país que só lá vai assim, à força. E poderia ser de outra forma?
Claro que podia e, provavelmente, com melhores resultados.
Se Sócrates fosse, de facto, corajoso e dissesse toda a verdade.
Mas isso implicaria o uso, sem rodeios ou meias palavras, da palavra proibida: despedimentos. Sócrates vai suavizando o problema, usando o léxico da modernidade – entre a qualificação e a mobilidade.
É neste balancear que sustenta o enigma: umas vezes à esquerda, outras à direita. Alimentado por quem, sábio, lhe oferece a comparação.

E Sócrates vê-se. Imperador.
R.V.


2 Comments:

At 15 de novembro de 2006 às 16:33, Anonymous Anónimo said...

Falando em Imperadores:

O meu retrato político de Santana Lopes:

Sou dos que não tem boa ideia política de Santana Lopes, ainda que durante uns tempos alimentasse alguma fé nele.
Quem não tem sonhos na adolescência!?
Enfim, coisas de miúdo..
Depois habituei-me a ver Santana Lopes como aquele que vai para os Congressos do PSD para os incendiar, para mostrar aos outros o dom da sua oratória, para ter tempo de antena nos media, em muitos casos de forma trapalhona e mui pouco rigorosa.
A maturidade, as leituras e alguma experiência de vida revelaram-em toda a personalidade política de SL e, confesso, é alguém que não valoriza a democracia nem a vida pública portuguesas.
Explicarei porquê nos seguintes pontos, sendo que nenhum decorre da minha imaginação, todos remetem para os factos e para situações de todos conhecidas:

1. Em 1986/87 era suposto o senhor dar uma disciplina de Direito Comunitário numa Universidade privada alí para as bandas da Junqueira.
Foi, na qualidade de docente, à 1ª aula de apresentação de Direito Comunitário - mas depois nunca mais lá "pôs os pés", nem sequer avisou que não o iria fazer junto dos alunos que lhe pagavam para dizer umas tretas do manual do Mota Campos (que até era fácil de decorar pela eficiente arrumação e sistemática). Logo aí, diante dos alunos universitários, deixou uma má impressão - que depois se voltou a repetir e a avolumar pela vida pública.
Ficando sempre a impressão que o homem só queria estar onde tivesse palco que lhe permitisse subir as escadas da notoriedade, do status que a todo o custo pretendia obter.

2. Tirando esta nota - que testemunhei pessoalmente - juntamente com mais cerca de 40 colegas - entendo que a razão e a justiça política que lhe assistem são as armas do paranóico político, já que a sua razão e a sua justiça revelam não estar talhados nem para dirigir um Estado de Direito onde a razão se discute e a justiça está nos códigos.
É visível que a verdade de Santana Lopes, a "sua verdade", tem sempre de sair vencedora e a sua justiça tem de se fazer a todo o custo, nem que aguarde anos e anos para ser executada.
Nesse entretanto, o homem vai treinando ao espelho com tenacidade. A apresentação deste livro, que não vislumbro qualquer interesse em ser lido, é disso uma gritante prova.

3. Depois uma razão de essência: Santana recebe o poder de forma abrupta e altamente impreparado. Belém foi conivente nessa jogada, depois arrependeu-se e demitiu-o com a ajuda da banca e do empresariado nacional que Sampaio auscultou durante 3X15 dias num penoso exercício do poder - quando, no fundo, a decisão já estava tomada. Mas sampaio quis assim: manter o simulacro de democracia.
Mas SL não tem nem nunca teve perfil para a governação, muito menos para PM e a forma não-democrática como o processo seguiu poderia catalogar Portugal num país com métodos políticos próprios da África Negra. Pelo meio há a Figueira da Foz, as aparições televisivas naqueles concursos grotescos, a vida de jet-Oito, as inimizades com Cavaco, o culto doentio a Francisco Sá Carneiro - fazendo-se até filmar e fotografar diante da sua campa - num exercício imagético verdadeiramente lamentável e mais um sem número de coisas que nem valerá a pena enumerar - de tão pobres que são.

4. Agora surge o livro: um documento autojustificativo onde procura ajustar contas três homens:
Cavaco, Sampaio e Marcelo.
São estas as suas sombras, estes os seus fantasmas.
Cavaco promoveu-o na década de 80; Sampaio nunca o devia ter empossado, errou e depois demitiu-o;
Marcelo é o seu inimigo intelectual fidagal, embora por ele também nutra um ódio político porque SL acabou por conseguir aquilo que Marcelo nunca conseguiu:
ser edil de Lisboa,
ser PM
fazer uma coligação com o cds de Paulo Portas.
Aqui estamos perante inimizades que vão mais fundo e têm até outras origens e motivações pessoais que ora pouco importam.

Em todo o caso, pergunto-me: que justificação cívica, intelectual, política, moral ou qualquer outra nos poderá dar SL - quando ele próprio foi a 1ª e a última pessoa que não estava nem preparada nem à altura da governação de Portugal?

Ele confundiu as coisas: governar um país não é bem a mesma coisa do que arrastar a sua oratória num congresso partidário;
nem, tão pouco, gerir uma autarquia ou driblar alguns argumentos num programa foleiro de tv.

Todos estes factos e registos - e basta que SL reveja algumas das suas figuras no Poder (desde logo, a sua triste tomada de posse na Ajuda...) somam constrangimentos comuns que limitaram e inibiram a sua própria legitimidade pessoal e política.
Ele não tinha nenhuma:
não se submetera a eleições;
nem tinha preparação tecnico-política para liderar o país.

Neste sentido, este livro só aparece porque há uma editora sua amiga que se predispõe a editá-lo: Zita Seabra. A velha comunista ora no PSD.
Depois porque SL é senhor duma personalidade rugosa e obstinada e detesta estar esquecido na opinião pública nacional, daí esta nova tentativa de reconstruir os passos perdidos em toda uma caminhada que, na realidade, nunca chegou a ser percorrida.
Melhor fora que SL jamais aceitasse as atribuições de Barroso e aproveitasse esse tempo para se cultivar e qualificar.
Optou pelo poder - saíu queimado.

Creio, por último, que este livro só o vai "queimar" ainda mais e por uma razão simples: só somos fonte de autoridade por via do conhecimento, do dinheiro ou da força.
SL não revela possuir sinais de nenhuma daquelas três valências.
O que me leva a concluir pelo seguinte: à sua embriaguês de ex-PM segue-se agora a embriaguês do esquecimento. E perante isto o que faz SL?
Edita um livro através da sua amiga Zita Seabra - pensando, assim, que volta a ser o centro de tudo, a referência de qualquer coisa, o alimento para um ego colectivo. Porém, assim não é.
Momentos há em que temos mesmo de nos votar ao nosso esquecimento, ao nosso solipsismo e esquecer as nossas exaltações que justificam, de per se, uma cura longa que SL ainda não teve a coragem de reconhecer (nem de fazer).

Se quiser saber o que vale hoje em termos sociológicos ele que se pergunte quantos pontos comuns existem entre ele e os portugueses???
Ou seja, como verão os portugueses, se é que se preocupam com isso, a relação de SL com o poder e o país...
A resposta para mim é óbvia, ainda que para o visado ele se veja como o homem mais lindo do mundo e aquele que mais valor e contributos deu à pátria.
Mas isto são os tais vícios da embriaguez do poder que, no seu caso, parece que não o abandonaram fora dele...

Estou convencido que isto acontece porque estamos diante duma personalidade política borderline, histriónica e obsessiva - características também comuns à da sua editora.
Relacionando-se com as reacções e as vivências recentes da política como ocasiões de prazer e de poder, no fundo, como vivências apetitivas que não mais querem esquecer.
Contudo, subsiste um problema: o conflito com a sua consciência, onde impera uma noção de dever - também ela desnorteada senão mesmo hipertrofiada - lutando intensamente contra todas as hipóteses de recuperarem os tais prazeres do poder que em tempos provaram. Viver privado disso hoje é, para alguns, uma experiência traumatizante...

Dada a interpretação - apresente-se a versão do autor do livro.

Percepções e Realidade’.
Assim se intitula o livro apresentado por Pedro Santana Lopes, onde relata a sua versão da queda do Governo que liderou.
O ex-primeiro--ministro acusa “conjugação de interesses”, aponta Cavaco Silva como um dos protagonistas, e traça duras críticas a Jorge Sampaio.
A poucos dias de fazer dois anos da queda do Governo que liderou, Pedro Santana Lopes lançou o livro que conta a sua versão dos factos: ‘Percepções e Realidade’.
Sem rodeios, o ex-primeiro-ministro atribui a sua demissão a uma “conjugação de interesses de diferentes origens partidárias”, que marcou os oito meses da sua governação e da qual Cavaco Silva também foi protagonista.
Conspiração?

Não.
“O que se passou foi o funcionamento do sistema político, não foi nenhuma conspiração absurda. Houve uma convergência objectiva de interesses que se me opuseram e que se juntaram para politicamente derrubarem a mim e ao meu Governo”, acusou Santana Lopes, na apresentação do seu livro, agendada de surpresa, e que contou apenas com a presença dos jornalistas e da responsável da editora, a social-democrata Zita Seabra.

“Alguns daqueles que contestaram as minhas posições foram eleitos para altos cargos”, rematou.Questionado sobre se se estava a referir ao actual Presidente da República, Santana Lopes hesitou em responder, mas lá deixou escapar: “O professor Cavaco Silva, por acção ou por silêncio, foi um importante protagonista neste período.” Uma tese que fundamenta no seu livro com 423 páginas.

Para Santana Lopes, a demissão do Governo aconteceria mesmo que “não fosse ele o primeiro-ministro”. E apesar de assegurar que o seu livro não se trata de um “ajuste de contas”, o ex-primeiro-ministro não poupou críticas ao anterior Chefe de Estado. “Prestou um péssimo serviço ao País com a decisão que tomou, mas continuo a ter por ele [Jorge Sampaio] a mesma consideração pessoal. O ex-Presidente da República, que decidiu a 30 de Novembro de 2004 dissolver a Assembleia da República, é assim alvo de duras críticas no livro, que segundo Santana Lopes “vai trazer polémica”.

Mas se não é para fazer um “ajuste de contas”, para quê o livro?
“Neste ano e meio, dois anos, ouvi sobre mim quase todos os adjectivos desagradáveis que constam no dicionário [...] acho que é altura de dizer com serenidade: Basta!”, explicou.

O interesse em torno do seu livro, mesmo antes de ser publicado, é para Santana Lopes revelador de que o seu processo de demissão “não foi transparente, foi obscuro”.
“Porquê tantos comentários sobre um livro que ainda não saiu?”, questionou. E garantiu: “Pode haver um desmentido, mas não o receio.” Uma resposta ao livro que o ex-assessor de Jorge Sampaio, João Gabriel, está a escrever sobre os mesmos acontecimento. E neste caso, aproveitou para lançar mais uma farpa ao ex-Presidente da República: “Eu não falo por interposta pessoa. Não pedi a ninguém para escrever por mim. Eu assumo aquilo que escrevi.”Para José Sócrates também ficou um recado: “Ouvi o que o primeiro-ministro disse no Orçamento do Estado e entendi não lhe responder ainda. Mas os resultados de 2004 foram os melhores de sempre.”Com este livro, Santana Lopes considera que ficou encerrado um capítulo da sua vida e quanto ao futuro, para já não quer falar. “Estou longe da vida política, não esperava sair assim, mas não prescindirei de intervir politicamente onde acho necessário”, disse.
Quinta-feira, depois do ‘Telejornal’, Santana dará uma entrevista a Judite de Sousa na RTP. À mesma hora da já agendada primeira entrevista de Cavaco Silva enquanto Presidente da República a Maria João Avillez, na SIC.

CITAÇÕESPÁG. 415- “Para além das intervenções coincidentes entre Sampaio e Cavaco Silva, também o Caso Marcelo viria a ser bem aproveitado. Coloco ao leitor a seguinte questão: sabendo o que foi a evolução da vida política portuguesa, nomeadamente as ambições que Cavaco Silva concretizou, sabendo que ambos entendiam que era difícil um deles ser eleito Presidente, estando a maioria PPD-PSD/CDS-PP no poder, como deverá ser analisado tudo o que aconteceu com o caso Marcelo/TVI?”PÁG. 414- “Houve uma evolução ao longo dos quatro meses, com uma aceleração a partir de Outubro.

Não se trata de uma conspiração. Nada disso. Mas sim de uma convergência de interesses. Há coincidências. (...)

(...) ”PÁG. 417 - “Não interessava a vários que eu me mantivesse no Governo o tempo suficiente para impor reformas em curso e para me confirmar politicamente como primeiro-ministro reelegível.”

PÁG. 417 - “A partir do momento em que há certeza do novo líder do PS – com um resultado forte em Congresso e com a possibilidade de ir buscar votos moderados ao centro – as coisas aceleraram. [...] A partir daí tudo se precipita. (...)

(...) ”PÁG. 404- “O Presidente da República reconhecia que era desagradável a situação gerada com a demissão de Henrique Chaves [...]

(...) “Jorge Sampaio contribuiu para abrir esta crise política [ao receber Marcelo Rebelo de Sousa antes do primeiro-ministro] sabendo das dificuldades com que o Governo tinha entrado.

OS TRÊS PRINCIPAIS VISADOS ANÍBAL CAVACO SILVA "A manchete do ‘Expresso’ reporta ao artigo de Aníbal Cavaco Silva sobre a Lei de Gresham [...] segundo a qual a má moeda tende a expulsar a boa moeda, Cavaco diz que isto está a passar-se na vida política portuguesa, com a substituição dos políticos competentes por incompetentes.

E avança que é tempo de pôr fim a esta situação..."JORGE SAMPAIO "A atitude de Jorge Sampaio será devidamente apreciada pela História. Quando um Chefe de Estado faz o discurso de dissolução justificando-a com episódios... Que episódio?
Ao tomar uma atitude drástica, o Presidente da República deve apresentar uma causa de maior gravidade – e isso nunca conseguiu fazer.

"MARCELO REBELLO DE SOUSA"Em minha opinião, a causa desenha-se numa profunda aversão ao facto de eu ter alcançado tudo o que Marcelo não ganhara, ou perdera, em derrotas políticas sucessivas: a presidência da Câmara Municipal de Lisboa; a liderança do PPD-PSD; a coligação com o CDS-PP de Paulo Portas; a chefia do Governo..." (...)

 
At 15 de novembro de 2006 às 17:30, Anonymous Anónimo said...

O estado disto só se resolve com uns tiros nos cornos desta cambada toda.

 

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