quarta-feira, 25 de abril de 2007

AS PROMESSAS DE ABRIL

«Democracia, sim!

Liberdade, ainda não!»



Ao contrário do que muita gente pensa, Democracia e Liberdade não só não são sinónimos como nem sempre vivem de mãos dadas. A Venezuela e a Rússia, por exemplo, são democracias, uma vez que os governos são eleitos através de sufrágio universal. No entanto, no que toca ao respeito das mais elementares liberdades individuais, deixam muito a desejar. Para já não falar em África, onde há muitos governos que são eleitos através de sufrágio universal, ou seja, democraticamente, mas onde as liberdades individuais não são minimamente respeitadas.

Em Portugal, a situação, sendo substancialmente diferente dos casos apontados, não é, no entanto, totalmente diferente. Com efeito, se é verdade que Portugal é hoje uma verdadeira democracia, ainda não é, no entanto, uma verdadeira democracia liberal.Basta ver o que se passa na maioria das nossas autarquias. Não há dúvida de que os presidentes da Câmara e da Junta de Freguesia são eleitos democraticamente. De quatro em quatro anos, os eleitores são chamados a votar para escolher os seus representantes. Mas se isso é suficiente para definir o nosso sistema político como democrático, não é, no entanto, bastante para se poder dizer que vivemos em liberdade.

Francisco Teixeira da Mota contou no Público, aqui há quinze dias, um caso que ilustra bem o que acabo de dizer. Um cidadão de Arouca escreveu no jornal local uma carta aberta ao presidente da Câmara, a propósito de uma estrada, onde depois de lhe ter chamado «mentiroso» umas vinte vezes, utiliza estas expressões: «Depois de tanta mentira e acrobacia mental», «arrasta neste chorrilho de mentiras pessoas e instituições que devia respeitar», «manipulando e mentindo com um despudor inqualificável», «o seu comportamento intolerante e persecutório», «Mentiroso comprovado e assumido», etc.

O presidente da Câmara de Arouca, sentindo-se ofendido, apresentou queixa contra o munícipe por difamação, tendo o mesmo sido condenado no tribunal de 1ª instância, sentença que foi, posteriormente, confirmada pelo Tribunal da Relação.


Acontece que o munícipe não se ficou e recorreu ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. E no passado dia 23 de Janeiro, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem condenou Portugal, por ter violado a liberdade de expressão do munícipe, a pagar a este a indemnização que teve de pagar ao presidente da Câmara acrescido da multa.


Segundo o Tribunal Europeu, embora a linguagem utilizada tivesse sido pouco elegante para com um adversário político, «a mesma tinha de se considerar admissível num sociedade democrática», tendo em conta que «os limites da crítica admissível são mais amplos em relação a um homem político do que em relação a um simples particular».


Em Portugal, ainda vivemos imbuídos do espírito salazarista de subserviência absoluta aos ditadorzinhos em que se transformam quase todos os presidentes da Câmara depois de serem eleitos.
E estes ditadorzinhos são muito sensíveis… A mais leve crítica é quase sempre sentida como uma ofensa de lesa-majestade. E, sem qualquer respeito pelas liberdades fundamentais dos cidadãos, designadamente o direito à liberdade de expressão, recorrem sistematicamente aos tribunais para perseguir e assustar todos aqueles que lhe ousam fazer frente ou criticar as suas decisões. E como para chatear um cidadão, pelo crime de difamação ou injúria, basta pagar a um advogado para deduzir acusação particular contra o desgraçado, o certo é que este, mesmo que venha a ser absolvido, sempre tem de gastar dinheiro com um defensor, de perder uma série de dias em diligências e de sujeitar-se à humilhação de ter de se sentar no banco dos réus. E isto quando não lhe podem fazer a folha de outra maneira. Ai do desgraçado se tem uma obra dependente da aprovação da Câmara ou se trabalha directa ou indirectamente para a autarquia.

Resumindo: com o 25 de Abril veio a Democracia, mas, como se vê, ainda não chegou a Liberdade.


REXISTIR

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8 Comments:

At 25 de abril de 2007 às 15:15, Anonymous Anónimo said...

Isto é prática comum dos caciques dos presidentes das câmaras municipais em Portugal, mas o "tiro vai-lhe saindo pela culatra".
Cá na terra, em Ponte de Sôr o sr. dr. taveira pinto também tem esta mania, mas os processos tem sido todos perdidos, no fundo, os munícipes é que perdem, pois o município gasta largos milhares de euros em processos com advogados da cor, pagos ao preço da platina, pagos por todos nós cidadãos do concelho da Ponte de Sôr.

 
At 25 de abril de 2007 às 15:48, Anonymous Anónimo said...

os textos do santana maia parecem textos dos putos da secundária...é raro ver se uma ideia que se aproveite

 
At 25 de abril de 2007 às 16:15, Anonymous Anónimo said...

o melhor a fazer é cagar no taveira pinto e companhia porque um dia já ninguém se lembra dele. isto de ser presidente de camara era bom para gajos como ele, mas a mama esta a acabar

 
At 25 de abril de 2007 às 16:49, Anonymous Anónimo said...

Olhando para este país, o que se visiona não é democracia, mas sim opressão. É triste verificar que o 25 de Abril que tanta esperança nos trouxe, após 33 anos parece que tudo está a voltar ao fascismo e à Ditadura. Até os próprios concursos da tv o confirmam. Mudam-se os tempos, mas não se mudam as mentalidades. Portugal precisa de mudança! Mas não mudança para pior, porque infelizmente neste país quando se muda alguma coisa é para pior! Mas eu tenho esperança ( pouca, mas ainda tenho), que um dia isto mude para melhor. E se queremos mudança, temos que começar por cada um de nós, porque o país que temos, é o que nós fazemos por ele. Eu cá por mim não vou baixar os braços, e não tenho medo de Ditadores! Eu digo não aos Ditadores, mesmo o de Ponte de Sor, o Ditador Pornográfico! Viva a Democracia! Viva o 25 de Abril! Viva Portugal!

 
At 25 de abril de 2007 às 19:45, Anonymous Anónimo said...

Parabéns ao autor do artigo.

A.Soares

 
At 25 de abril de 2007 às 22:05, Anonymous Anónimo said...

O texto do "Tonho" põe o dedo na ferida:

«...Em Portugal, ainda vivemos imbuídos do espírito salazarista de subserviência absoluta aos ditadorzinhos em que se transformam quase todos os presidentes da Câmara depois de serem eleitos. E estes ditadorzinhos são muito sensíveis… A mais leve crítica é quase sempre sentida como uma ofensa de lesa-majestade. E, sem qualquer respeito pelas liberdades fundamentais dos cidadãos, designadamente o direito à liberdade de expressão, recorrem sistematicamente aos tribunais para perseguir e assustar todos aqueles que lhe ousam fazer frente ou criticar as suas decisões. E como para chatear um cidadão, pelo crime de difamação ou injúria, basta pagar a um advogado para deduzir acusação particular contra o desgraçado, o certo é que este, mesmo que venha a ser absolvido, sempre tem de gastar dinheiro com um defensor, de perder uma série de dias em diligências e de sujeitar-se à humilhação de ter de se sentar no banco dos réus. E isto quando não lhe podem fazer a folha de outra maneira. Ai do desgraçado se tem uma obra dependente da aprovação da Câmara ou se trabalha directa ou indirectamente para a autarquia.»

Por isso, vem logo um apaniguado do bugalheira armado em cão de fila.

A verdade incomoda-os muito.

Parabens "Tonho" pelo grande texto.

 
At 26 de abril de 2007 às 10:52, Anonymous Anónimo said...

Mais um exemplo para completar o do António:

O blog Do Portugal Profundo, cujo autor levantou a lebre que acossa o primeiro ministro de Portugal, aliás, por factos que apenas a ele são directamente imputáveis, queixou-se publicamente de suspeitas de vigilância electrónica.

Nem quero crer que haja no Portugal democrático dos dias que correm, alguém com responsabilidades oficiais que à margem da lei, se dedique a actividades de pesquisa online, para colocar offline quem desalinha de quem lhe paga o salário ou assegura a carreira.
Não quero crer porque a emenda , pior do que o soneto, significaria uma sinfonia desconcertante e de prisão à vista. Seguramente e num escândalo sem proporções. Além do mais, o diabo tapa com uma mão e destapa com as duas, como é sabido...
Não quero crer que haja, no Portugal democrático dos dias que correm, algum funcionário zeloso que no afã de agradar ao chefe que o promove, infrinja a legalidade mais estrita, vigiando quem lhe convém, em nome de quem manda e sem mandado de juiz. Passam hoje 33 anos, sobre a data em que isso teoricamente acabou.
Se isso, porém, acontecer e se vier a saber, vai ser o cabo dos trabalhos para justificar o injustificável. E a presunção de inocência, será um mito, para quem vier a saber.
A credibilidade das instituições de segurança, afere-se pelo respeito da legalidade e a dedicação à causa do Estado que não se confunde com o ministro x do governo y ou o directorzinho geral de valor z.
A vontade legítima do poder querer perceber quem está por detrás de imaginárias cabalas, já levou no passado, a casos lastimáveis de suspeitas de vigilância ilegal dos nossos serviços que se dedicam a garantir a estabilidade do Estado de Direito. Os serviços secretos civis ou militares, não servem para este tipo de vigilância, a não ser que sigam a opinião moralizadora de que isto que se passa é uma tentativa de golpe de estado através da imprensa...

Embora o ridículo, nos tempos que passam, não mate ninguém e pelo contrário, até engorde, espera-se ainda assim que sobreleve às tentanções, para bem de todos e principalmente deles mesmos, o bom senso que deriva da lei. Só isso, chega.

 
At 28 de abril de 2007 às 04:09, Anonymous Anónimo said...

Mas se o Pinto fosse o único... O problema é que o país está cheio de gente desta. Quanto piores são, mais o povo gosta. Por alguma razão Portugal viveu mais tempo em ditadura do que em democracia. O povo gosta é de levar porrada e de ser tratado abaixo de cão.

 

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