domingo, 22 de abril de 2007

O MI(NI)STÉRIO DAS ORELHAS DE BURRO II

Quando se fala do «milagre finlandês», é importante perceber que o milagre só aconteceu porque os finlandeses conseguiram encontrar o registo certo para o seu sistema de ensino, tendo em conta o meio social, político e cultural em que estão inseridos. Ou seja, sendo o povo finlandês tão diferente do português, em praticamente todos os aspectos (culturais, sociais, temperamentais, ambientais, etc.), só mesmo por milagre o seu sistema de ensino daria frutos em Portugal.

Aliás, a principal causa do descalabro do nosso sistema de ensino reside precisamente no facto de os nossos governantes viverem completamente embevecidos com as experiências educativas levadas a cabo nos outros países, o que os tem tornado absolutamente cegos para a realidade portuguesa que são incapazes de compreender, analisar e avaliar.


Analisemos, então, a realidade portuguesa do ensino público.

Há 30 anos, para além de o acesso ao ensino secundário ser extremamente selectivo, um aluno de Letras do Ensino Complementar tinha apenas 19 horas lectivas semanais. Nestes últimos 30 anos, passámos de um ensino selectivo para a sua massificação e passámos de um horário de 19 horas lectivas semanais para horários de 40 horas lectivas. Esta mudança radical não foi, no entanto, acompanhada por uma mudança de comportamento e de atitudes por parte dos intervenientes no processo educativo, designadamente pais e professores.

Ora, horários de 19 horas lectivas semanais pressupõem uma grande intensidade de trabalho, com muitos trabalhos de casa, muitas leituras obrigatórias e muito estudo. Por sua vez, horários de 40 horas lectivas semanais pressupõem necessariamente que todo o trabalho se esgote dentro da sala de aula.

Defender horários de 40 horas de aulas semanais e querer, ao mesmo tempo, que os alunos continuem a fazer trabalhos de casa e a ler muito como antigamente é criar um sistema perverso onde os alunos mais desfavorecidos economicamente não têm a mínima hipótese de competir, uma vez que não se lhes dá tempo para poderem alcançar, por si, aquilo que os outros só conseguem à custa dos pais ou dos explicadores.

Além disso, o politicamente correcto de hoje funda-se em dogmas que nos impedem de resolver as questões atacando o cerne dos problemas. Enquanto não aceitarmos que as pessoas têm, naturalmente, capacidades diferentes e que o sistema de ensino deve servir, precisamente, para potenciar as capacidades de cada um e não para as igualizar, nunca sairemos do beco onde nos enfiámos.

Misturar na mesma turma alunos com capacidades e objectivos muito diferentes é prejudicar todos eles e não beneficiar ninguém. Por um lado, os melhores sentem-se completamente desmotivados, o que prejudica a prazo as suas capacidades, impedindo-as de se desenvolverem. Por outro, os que têm mais dificuldades acabam também por se desmotivar porque nem mesmo assim conseguem acompanhar o ritmo dos demais.

Ora, para que alguém aprenda e evolua é necessário que a aprendizagem esteja adequada ao seu nível, ou seja, aos seus conhecimentos, às suas capacidades e às suas competências. Para uma pessoa melhorar o salto em altura, nem se pode pôr a fasquia tão baixa, ao ponto de não exigir qualquer esforço para a ultrapassar, nem tão alta, ao ponto de se ter a certeza, antes do salto, que é impossível consegui-lo.

Este impasse só será ultrapassado com a criação das turmas de nível onde, necessariamente, todos os alunos estão em pé de igualdade, o que gera, só por si, uma concorrência saudável e permite ao professor encontrar as estratégias adequadas. Só que fazer isso implicaria pôr em causa um dos dogmas fundamentais do actual sistema de ensino. E com os dogmas não se brinca. O Galileu que o diga.


REXISTIR

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1 Comments:

At 22 de abril de 2007 às 23:59, Anonymous Anónimo said...

Ainda em relação à Finlândia

Caros Concidadãos Pontessorenses:

Sabem que quando da excursão realizada pela Câmara Municipal de Ponte de Sôr à Finlândia sob o patrocínio do sector de educação do município de Ponte de Sôr, houve convites feitos pelo senhor Dr. Taveira Pinto para a viagem a professores do concelho que fizeram parte da comitiva e que no regresso tiveram de pagar as viagens porque o vigarista do senhor Dr. Taveira Pinto, deu o dito por não dito.

 

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