sábado, 21 de abril de 2007

UMA QUESTÃO DE DIGNIDADE


O programa Novas Oportunidades que o governo está a levar a cabo é uma iniciativa positiva. A preocupação com a qualificação dos portugueses é legítima e as medidas para a elevar são bem-vindas. O que não se compreende é a estratégia de comunicação adoptada para defender o programa. Apresentar um conjunto de figuras conhecidas no papel de perdedores porque não acabaram os estudos é um insulto a todos aqueles que, pelas mais diversas razões, não possuem outras habilitações que não sejam a sua competência e o seu desempenho profissional.
Portugal continua a ter índices de insucesso e abandono escolar muito elevados. As qualificações médias dos portugueses continuam a ser bastante inferiores às dos restantes países europeus. Não é apenas a competitividade da nossa economia que está em causa, é o direito constitucional à educação e à cultura, condição da igualdade de oportunidades, da superação das desigualdades, do desenvolvimento da personalidade e do progresso social, que não está a ser garantido. Por isso tenho defendido a ideia de uma segunda oportunidade em educação como um novo direito social.
Mas uma coisa é defender uma segunda oportunidade em educação, outra é denegrir profissões apresentadas nesta campanha como desqualificantes. É uma questão de dignidade. Trinta e três anos depois do 25 de Abril, o culto do sucesso pelo sucesso não pode levar ao insulto a todos aqueles que realizam com brio e dedicação o seu trabalho, seja qual for a profissão que exerçam.


Manuel Alegre

Etiquetas:

3 Comments:

At 21 de abril de 2007 às 14:58, Anonymous Anónimo said...

Vai por aí mais um burburinho luso por causa da campanha publicitária do programa “Novas Oportunidades’, o Manuel Alegre saiu do hibernação para falar em defesa da dignidade das profissões menos remuneradas, o Daniel Oliveira usa a sua coluna do Expresso para elogiar a falta de escolaridade dando exemplos de sucesso de personalidades que abandonaram os estudos, o Bloco de Esquerda aproveitou a oportunidade para se colar aos cartazes governamentais e fazer mais uma campanha nas suas “fábricas” preferidas, os bares das universidades.

Esgotados os erros administrativos do currículo de Sócrates e sem paciência para discutir mais a Opa, agora que o envolvimento de alguns grandes interesses na tentativa de trazer o aeroporto para próximo de alguns investimentos imobiliários, a nossa elite da opinião vira-se para os cartazes das “Novas oportunidades”.

Os mesmos que não se cansam de terem pena dos coitadinhos dos trabalhadores portugueses que ganham mal, não têm habilitações literárias, etc., etc., ficam muito incomodados porque o Governo usou essa realidade de forma nua e crua na sua campanha.
Fazem-no em representação de profissionais a quem ninguém perguntou se queriam ser representados por tão ilustres personalidades ou se sentiam assim tão orgulhosos por ganharem o ordenado mínimo e não poderem almoçar nos restaurantes do Manuel Alegre, ir ao ginásio do Francisco Louçã e ganharem menos num mês de trabalho do que o Daniel de Amaral com um artigo para que semanalmente o Expreeso possa assegurar a pluralidade política.

O meu pai era motorista marítimo, sempre teve orgulho pela sua competência mas tinha muito mis orgulho por ter um filho engenheiro maquinista naval.
A minha mãe teve o orgulho de com a sua quarta classe ter conseguido fazer com que três dos seus quatro filhos tivessem cursos superiores, exactamente para que tivessem as possibilidades que ela não teve de usar os seus recursos intelectuais. O facto de se ter orgulho e se ser competente numa profissão mal remunerada não implica que se fique ofendido porque uma campanha lhe recorda que se tivesse outras habilitações se poderia ter ido mais longe na realização profissional.

Estamos perante uma posição que combina três vícios de alguns dos nossos políticos.
Pena pelos pobrezinhos, uso e abuso da sua representação e paternalismo.
Esquece que ao contrário deles, que escolheram o que quiseram ser, ninguém é taxista ou ardina por vocação, mas sim por sobrevivência.

A campanha pode ser questionável como muitas campanhas publicitárias que ninguém questiona, mas uma coisa é certa, rompe com a tradição das campanhas idiotas feita pelo Estado, como a campanha das facturas é um bom exemplo.
Oxalá que sejam muitos os que devido a esta campanha regressem aos estudos, é algo que quase diariamente faço usando precisamente a estratégia da campanha, perguntando aos meus amigos se não gostariam de ter uma profissão diferente daquela que têm.

 
At 21 de abril de 2007 às 22:59, Blogger Pedro Manuel said...

Os homens manhosos e o poder local de Ponte de Sôr

Os homens têm sido mais infelizes pela sua ignorância do que pelo abuso da força, têm sofrido mais com os manhosos do que com os conquistadores e têm mais a temer dos preconceitos e do charlatanismo que das acções da tirania.

Nota reflexiva:

É com este breve pensamento de Condorcet (séc. XVIII) que me interrogo se em Portugal os chamados portugueses de proximidade, i.é, os governados pelos poder local (os municípes) têm mais a temer desses tais homens manhosos que ascendem aos píncaros dos cargos públicos ou se devem mais recear os preconceitos do charlatanismo.
Já que de virtudes conhecemos escassos exemplos em Portugal.

 
At 22 de abril de 2007 às 19:19, Anonymous Anónimo said...

Em democracia governa quem ganha as eleições, ganha as eleições quem tem votos e são os cidadãos que votam, portanto os governos representam os eleitores. Deveria ser assim mas não é verdade, os eleitores, mesmo os mais esclarecidos são influenciáveis, a generalidade dos opinion maker estão à venda pelo melhor preço, os jornais estão engajados politicamente, o poder económico financia os partidos que melhor os serve.

Se uma parte dos eleitores não são sensíveis a campanhas publicitárias (como a que Durão Barroso lançou antes das eleições que venceu e num momento em que se sabia que o PSD não tinha um tostão nos cofres) ou às inflexões do opinion makers a verdade é que estes estão longe de representar uma fracção do eleitorado suficiente para decidirem as eleições, o eleitorado fiel dos partidos não é suficiente para as decidir. É o eleitorado sensível à comunicação social que faz a diferença, decidindo quem governa.

A não ser em circunstâncias especiais como as que levaram Sócrates ao poder, quando as asneiras de Santana Lopes foram suficientes para anular os efeitos do processo Casa Pia e para inibir o poder económico de apostar nele, os bastidores do poder são decisivos para as escolhas de uma boa parte do eleitorado.

Porque motivo em Portugal há um eleitorado maioritariamente à esquerda e ao centro e a regra é ser a direita a governar, tendo o Partido Socialista chegado ao poder em situações de cansaço ou de incompetência da direita ou mesmo para tomar as medidas necessárias para salvar a economia, para depois a direita colher os frutos?

Em primeiro lugar, porque uma parte da esquerda ainda sonha com a versão leninista do Céu cristão tendo maior ódio por governos (traidores) do PS do que por governos de direita. Mas não são os eleitores destes partidos que decidem as eleições, são os eleitores que votam ao centro, são estes que decidem e são estes os mais sensíveis à opinião alheia. Se em Portugal os eleitores são maioritariamente à esquerda o poder económico e os jornais são um exclusivo da direita. Se fossem os jornais ou os empresários a votar nem valeria a pena a esquerda concorrer às eleições e o facto é que, em regra, há uma grande correlação entre as simpatias da comunicação social e os vencedores das eleições.

Neste capítulo algo parece estar a mudar, o que justifica o nervosismo de Marques Mendes que, adivinhando o que ia suceder na Media Capital, correu a propor a privatização da RTP, uma forma de assegurar que a perda da TVI seria compensada restabelecendo parcialmente a "normalidade". Lutas como as que se travaram na PT ou a que se está a travar no BPI não são indiferentes à gestão do poder, os homens fortes do BCP nada têm que ver os da La Caixa da Catalunha, a Opa do BCP ao BPI parece a reedição de uma batalha entre franquistas e anti-frnquistas muito anos depois de o caudilho ter morrido. Não é por acaso que Santo Silva, o homem do BPI, tenha assegurado que "no passarán".

E como se isto não bastasse o PSD pode ver secarem as suas fontes tradicionais de financiamento tradicionais, para além das fracturas resultantes de processos como a Opa de Belmiro sobre a PT, as guerras em torno da Ota, o lançamento de grandes obras públicas, ao mesmo tempo que s grandes autarquias que gere estão quase falidas, levam a que os grandes empreiteiros deixem de precisar da ajuda dos barões do PSD, os homem do Apito de Betão.

Algo está a mudar nos bastidores do poder, resta saber se estamos perante uma consequência ou se Sócrates está a revelar-se melhor do que a encomenda, revelando-se menos ingénuo do que os seus antecessores no PS que um a um foram caindo, Constâncio graças a uma manchete de O Jornal ou Ferro Rodrigues engolido pela conspiração da Casa Pia.

 

Enviar um comentário

<< Home