quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O PODER DA MEMÓRIA

Os que esquecem o passado estão condenados a repeti-lo

George Santayana


A memória, a falta ou o excesso de memória, motivaram, no sábado, uma intervenção de Mário Bettencourt Resendes, no DN, e uma afirmação da historiadora Irene Flunser Pimentel, na revista Única, do Expresso. No dia seguinte, domingo, também no DN, Mário Soares, em entrevista a João Marcelino e José Fragoso, reverte, igualmente, para a memória histórica. De um modo ou de outro, qualquer deles alude ao silêncio que envolve muitos dos factos determinantes do nosso destino ou que marcaram datas da nossa época. E os três sugerem que essa ausência de memória acaba por ser factor de desumanização. O que Kierkegaard designou de o passado presente deixou de constituir a reserva ética da Imprensa. Na sociedade, o exercício de recordação passou a ser um incómodo, para não dizer uma maçada. Na política, o apagamento da memória associa-se à carência de moral e corresponde à estratégia do pragmatismo, eufemismo inesgotável das traições mais vis.

Irene Flunser Pimentel, autora de A História da PIDE, propõe uma tese, consignada nesta afirmação: Acho que durante algum tempo, em Portugal, até por razões de pacificação a seguir ao PREC, acabou por cair-se numa espécie de esquecimento, o que fez com que algumas pessoas tivessem excesso de memória por estarem sempre a viver no passado. Há quem saúda os erros com aplausos. Neste caso, creio que a pressa em pacificar o País originou amolgadelas na própria recepção do ideal democrático, afinal servido por gente que nada tinha a ver com os fundamentos desses ideais.

Em nome dos interesses e das necessidades do momento, o projecto político saído do 25 de Abril morreu 19 meses depois. Os episódios de reabilitação que se lhe seguiram comportam muito de abjecto. E não esqueço as responsabilidades incumbentes a jornalistas estipendiados.


Encontram-se todos muito bem na vida.Foi num governo do dr. Cavaco que a viúva de Salgueiro Maia viu recusada uma pensão.
O mesmo governo atribuiu-a a torcionários da PIDE, por distintos serviços prestados à pátria. George Steiner: O irreparável é a coisa dita.
Poderemos imaginar que a contradição mereça a absolvição?
Nem por um segundo.

A prática democrática não é, somente, a procura do justo equilíbrio entre as partes.
É, antes de tudo, uma questão ideológica.


Quando Mário Soares repete que tem vindo a dizer: Gostaria que o PS se voltasse um bocadinho para a Esquerda, ele sabe, muitíssimo bem, que a viragem é impossível com esta gente. Ela não se nutre na moral, despreza a ética, tripudia sobre a ideologia, está ferida de autoritarismo grosseiro. Sobretudo, não tem memória e combate quem a ilumina.


Ter memória e defender o seu património é extremamente perigoso.


B.B.

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1 Comments:

At 29 de novembro de 2007 às 16:54, Anonymous Anónimo said...

António Guterres é um dos políticos portugueses em que mais se bate, as televisões não perdem a oportunidade de colocar o vídeo da baralhação das contas, o PSD não perde a oportunidade de falar em pântano e abandono, até no PS não faltam os que fazem por se esquecer daquele que conseguiu a primeira maioria absoluta deste partido, quem não tem nada para fazer desanca em Guterres.

Até Soares usa Guterres para elogiar Sócrates, onde o ex-primeiro-ministro tinha defeitos Soares vê qualidades em Sócrates, chega mesmo a afirmar que "José Sócrates é mesmo o anti-Guterres é um homem de extrema determinação", recorrendo ao estereotipo de Guterres criado pela direita, a mesma que diz que Sócrates é autoritário. O próprio Sócrates aproveita a oportunidade para dizer que o seu governo foi o que mais se preocupou com as questões sociais desde há 30 anos, deitando para o lixo todo o património político do seu partido, incluindo o do próprio Mário Soares.

Perante os disparates de Soares ninguém saiu em defesa de Guterres, nem para dizer que se o antigo primeiro-ministro meteu o socialismo na gaveta, como afirmou Soares, o actual deve tê-lo guardado num armário da Torre do Tombo. O poder é de Sócrates, desde a directora da DREN até Soares, que parece ter ganho mais uma vida graças aos vapores do crude, todos estão empenhados em elevar Sócrates a qualquer custo.

Admiro Mário Soares pelo que fez e pelo que representa para a democracia portuguesa, até o considero suficientemente inteligente para conseguir promover Sócrates sem afundar Guterres. Tão inteligente e com tão grande experiência política que o gesto não pode ser considerado um descuido.

É bom recordar que foi com Guterres que Portugal reduziu o défice e a dívida pública a níveis que permitiram a Portugal entrar no Euro, é bom recordar que uma boa parte das obras públicas atribuídas ao Cavaquismo foram realizadas ou concluídas pelos governos de Guterres, é bom recordar que durante os governos de Guterres Portugal apresentou boas performances no plano dos indicadores sociais.

É bom lembrar o trabalho feito por um ministro das Finanças chamado Sousa Franco, de que o actual foi um ajudante, da mesma forma que o actual ministro do Trabalho foi ajudante de Ferro Rodrigues, o próprio Sócrates aprendeu a ser ministro com Guterres, o mesmo sucedendo ainda com Mariano Gago. E nem vale a pena dizer que do governo de Sócrates fazia parte António Vitorino, o político do PS que os portugueses desejaram para primeiro-ministro e que ao recusar candidatar-se abriu a porta do poder a Sócrates.

Surpreende o frenesim de Mário Soares e o seu empenho em apoiar tão activamente Sócrates, coincidência ou não parece ter sido o negócio do petróleo que reanimou Mário Soares. É evidente que a sua ajuda no negócio do petróleo foi desinteressada, como também é desinteressada a participação da sua Fundação no capital da Fomentiveste. Recorde-se que a Fomentiveste foi a testa de ferro numa tentativa de compra da Galp pela Carlyle com dinheiro barato da Caixa Geral de Depósitos, como então Louça denunciou no parlamento, deixando Durão Barroso a gaguejar num parlamento onde o PS manteve o silêncio. A Carlyle é uma empresa de gestão de fundos ligada aos amigos de Bush. A escolha de Fernando Gomes para a administração da Galp, com o pelouro da exploração, também terá sido outra coincidência.

Guterres pode ter cometido muitos erros enquanto primeiro-ministro mas merece mais consideração do que ser usado como bitola defeituosa para a avaliação e engrandecimento de Sócrates. Guterres enfrentou problemas nacionais e familiares que Sócrates não teve de enfrentar, teve uma oposição que Sócrates não tem. Hoje é fácil de bater em Guterres, os derrotados estão a vingar-se. Seria fácil a Soares elogiar Sócrates sem recorrer a terceiros, Cavaco tem sabido fazê-lo.

 

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