quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

EIS UMA HISTÓRIA DE PASMAR... [parte IV]


Era uma vez uma ponte que dava o nome à cidade e ao concelho.
Em nome do progresso da "treta", autoriza-se a destruição da ponte...
O resto é uma "história de pasmar":



Lá vem a Nau Catrineta
Que tem muito que contar
São Carita à Proa
Bugalheira a comandar

D. Nuno conta o pilim
D. Jordão trata das velas
D. Adelaide limpa com VIM
tachos pratos e panelas
D. Zé-Zé na enfermaria
conta pensos e emplastros
E o D. Margalho
põe vaselina nos mastros
Ouvi agora senhores
uma história de pasmar

Eis que a nossa Nau entrava
no pontão sul do Sor
a viagem terminava
ordem directa de El-Rei

D.Povo ordenava
ao pessoal do estaleiro
que a Catrineta encostava
p'ra obras para sempre

Chancelou o documento
com o sinete real
e a partir daquele momento
no meio do maralhal

disse p'ró estafeta-mor
"levai-o a D. Bugalheira"
que o leia, por favor
e que faça marcha atrás

Finalmente era ordenado
sem piedade nem dó
o fim deste triste fado
o fim do forrobodó

D. Bugalheira furioso
ao ler o tal "papelinho"
vociferou em tom raivoso:
"chamai-me já D. Carita"

"Que foi, Senhor Capitão,
porque estais tão furibundo?
vem aí algum tufão
ou a Nau bateu no fundo?"...

"Deixai-vos de armar aos cucos
e dessas bocas foleiras
travai os gestos malucos
veja lá se tem maneiras!

Estamos todos depedidos
Bugalheiras, Capitães...
fomos todos despedidos
por ordem expressa de El-Rei

E ordena sem mais demora
que a Nau seja encostada
no real estaleiro,AGORA!
p'ra que seja reparada

Como vêdes D. Carita
aventura terminada!
contra isto, meu santinho
não podemos fazer nada!

Ó que pobre sorte a minha
porque larguei eu Medicina?
os dentes, as amigas e a família...
a vidinha era tão boa..."

"Calma, calma Capitão
que algo se há-de arranjar
a arte da confusão
sou eu mestre a preparar..."

"Mas não há nada a fazer,
chegou ao fim o caminho..."
"Isso é o que vamos ver...
..onde é que está o livrinho?..."

"O livrinho?! Qual livrinho?!...
que estais vós a magicar?
O Código…?! D. Carita?
que ides vós arranjar?!"

"Um, dois, três...vamos a isto!
Vejamos onde calhou
Àh! calhou na tributação
quando o galaró cantou!

Eu não disse, Capitão,
que este truque nunca falha?
encontrei a solução
toca a'frontar a canalha!"...

"Macacos me mordam todo
se vos entendo na hora..."
Meu Capitão, é o engodo
que vamos lançar agora!..."

"Engodo?! Mas qual engodo
que vamos lançar agora?!
estais é maluco de todo
vou deitar-vos borda-fora!"

"CALMA AÍ, D. Bugalheira
começemos o ensaio
veremos do que é capaz
para afrontar D.Povo..."

"Afrontar? Isso é que eu queria!
e derrubar, afinal!
quem sabe, pudesse um dia
ser o Rei de Portugal...

Foi por crer que isso era um meio
que aceitei comandar
esta Nau que agora odeio,
para lá poder chegar..."

"Está a ver, Capitãozinho?
tende fé e confiai
aqui no amigo Carita
que um amigo nunca trai

Sereis rei, queiram ou não
os reviralhos da treta
e eu vosso Capitão
da bela Nau Carineta

Mas voltando à vaca fria:
como o livro indica
logo ao despontar do dia
direis de El-Rei com genica:

Ele é um grande aldrabilhas
e um hereje, que eu bem sei
porque apontou p'ra Vale de Açor
jurando pela Nª. Sra. dos Prazeres

Três vezes ousou gritar
fosse qual fosse a razão
nunca me iria tirar
o posto de Capitão

Ora de um Rei aldrabão
que podeis vós esperar?
não quero ser Capitão
nem esta Nau comandar

Prefiro ser desterrado
para os confins do universo
que aturar este chalado
deste Rei mau e perverso

Vereis como o povo "papa"
este tipo de lamentos
vós saireis à sucapa
esperando novos ventos

E quando a hora soar
digo-vos eu, que bem sei
alguém vos virá buscar
para serdes o novo Rei

Maria da Fonte da Vila
PS: Qualquer semelhança com a realidade é pura imaginação do leitor

Etiquetas: