quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

A CONTRA CORRENTE



Um cidadão olha para o José Sócrates, sempre com aquele ar de menino de coro com prisão de ventre, articulando em falsete umas poucas frases de efeito aprendidas a custo nos ensaios, e não pode deixar de perguntar-se:
- É este o futuro Primeiro-Ministro de Portugal?!!!
Dizem que sim, as luminárias que todos os dias nos tiram das trevas, reluzindo nas televisões e nos jornais.
Ontem encontrei na rua um deputado, pessoa de sua natureza cordial e sorridente, que reagiu com impaciência às minhas dúvidas. A não haver insólita reviravolta isto são favas contadas, é maioria absoluta.
Ficou ainda mais estragado quando lhe perguntei quem era esse tal Sócrates, o que faz na vida, e o que é que já fez, do que é que vive...
Não por dificuldade em responder, evidentemente, mas por pressa que é assaz compreensível entre as pessoas importantes afastou-se com um encolher de ombros perante a minha manifesta irrecuperabilidade, e atirou-me de longe - "ora, é político, então o que havia de ser?"
Fiquei na mesma, que esclarecido já eu estava. Já sabia mesmo que o rapaz sem ser político não é mais nada.
Estou eu a querer dizer que tenho as minhas dúvidas quanto ao resultado final das disputas eleiçoeiras.
Eu bem sei que a gente quando depara com o Pedro ou o Paulo a fazer pose de estadista no televisor fica sempre com a sensação de que se não desligam de imediato as câmaras ainda os vemos desfazerem-se a rir para o assessor do lado e perguntarem ansiosos: - "estive bem, não estive?".
Parecem sempre actores da quinta das celebridades em interlúdio "sério". Nunca poderão transmitir a confiança que só um produto genuíno pode dar.
Mas menosprezar as suas capacidades nas corridas eleitorais parece-me que é ignorar voluntariamente a força da quinta das celebridades. Ou até que ponto o país não é já uma grande quinta das celebridades, identifica-se com ela, e com eles, aspira a ser assim e a viver assim, prefere o colorido festivo desse universo fingido às cores cruas da realidade.
Por outras palavras, qual é a verdade do "país real"? Em pouco mais de dois meses ficaremos a saber mais sobre isto. Julgo porém que bem podem sair as contas furadas aos que dão as favas por já contadas.
Manuel Azinhal

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