A RACIONALIDADE ECONÓMICA É UMA TRETA!
Natal e racionalidade
Em Portugal, há mais de dois milhões de pessoas a viver abaixo do limiar de pobreza
A racionalidade económica é uma treta!
Uma cortina de fumo, que o capitalismo agita para nos impor a sua visão do mundo, como se fosse a única possível.
Faz de conta que somos todos iguais.
Faz de conta que temos todos as mesmas oportunidades.
Faz de conta que a sociedade é justa.
Faz, ainda, de conta que os ricos são escolhidos de Deus e os pobres, infelizes mentecaptos. Gente que não quer trabalhar, que se mete nos copos, que se entrega às drogas e depois sofre as consequências. Bastava quererem, esforçarem-se e era vê-los felizes e contentes.
A racionalidade dominante é ideológica, mas faz de conta que não. Finge ser verdade que só é pobre quem não presta, como deixa implícito que a meritocracia é o outro nome da democracia. Daí que represente a exclusão social como uma fatalidade, inultrapassável e natural à personalidade e à falta de qualidade dos excluídos. E muitos parecem acreditar.
Vem tudo isto a propósito da presença de cerca de dois mil sem abrigo na cantina da Cidade Universitária, em Lisboa, para uma ceia de Natal, oferecida pela Comunidade Vida e Paz. Longe de mim pôr em causa a actividade da instituição, que, há 15 anos, faz o que pode para minorar as carências dos excluídos. É uma acção meritória e bem intencionada. Portanto, louvável. Mas não resolve o problema. Apenas satisfaz momentaneamente a fome de comida e de calor humano, sentidas pelos sem-abrigo.
Pobres a sério
Mais interessante pode ser o projecto de «reabilitação, reinserção e dignificação humana», que a Vida e Paz também mantém, com uma duração de 13 meses. Mas como não o conheço em pormenor, não me pronuncio. De qualquer forma, por melhor que seja, será sempre insuficiente.
Em Portugal há mais de dois milhões de pessoas a viver abaixo do limiar de pobreza. Um documento apresentado no Congresso Português de Demografia, mostrava que, pelo menos, dois em cada dez portugueses «viviam», há quatro anos, com menos de 60% do rendimento médio da população, ou seja, com um orçamento inferior a 283 euros por mês.
Os indicadores disponíveis não fazem pensar que o panorama tenha melhorado. Portanto, alguma coisa está mal, muito mal, e não pode ser resolvida com o recurso à caridade, venha ela de onde vier. Nem com iniciativas solitárias de inserção, por mais estimáveis que sejam.
Trata-se de um grave e verdadeiro problema social, socialmente produzido. E que, em muitos casos, estará na origem de outros, como o alcoolismo ou a toxicodependência. Trata-se de patologias que não podem ser fulanizadas, senão por quem tem alguma coisa a ganhar com o equívoco.
Não há ricos e pobres por decisão divina. A exclusão não é uma coisa natural. Nada disso vem na matriz genética, seja de quem for. Não é verdade que sejamos todos iguais perante as oportunidades, que a sociedade oferece aos seus constituintes. A sociedade não é justa. O direito do mais forte, não é um direito. É uma dominação. Um abuso. Está na altura de emendarmos a mão.
Faz, ainda, de conta que os ricos são escolhidos de Deus e os pobres, infelizes mentecaptos. Gente que não quer trabalhar, que se mete nos copos, que se entrega às drogas e depois sofre as consequências. Bastava quererem, esforçarem-se e era vê-los felizes e contentes.
A racionalidade dominante é ideológica, mas faz de conta que não. Finge ser verdade que só é pobre quem não presta, como deixa implícito que a meritocracia é o outro nome da democracia. Daí que represente a exclusão social como uma fatalidade, inultrapassável e natural à personalidade e à falta de qualidade dos excluídos. E muitos parecem acreditar.
Vem tudo isto a propósito da presença de cerca de dois mil sem abrigo na cantina da Cidade Universitária, em Lisboa, para uma ceia de Natal, oferecida pela Comunidade Vida e Paz. Longe de mim pôr em causa a actividade da instituição, que, há 15 anos, faz o que pode para minorar as carências dos excluídos. É uma acção meritória e bem intencionada. Portanto, louvável. Mas não resolve o problema. Apenas satisfaz momentaneamente a fome de comida e de calor humano, sentidas pelos sem-abrigo.
Pobres a sério
Mais interessante pode ser o projecto de «reabilitação, reinserção e dignificação humana», que a Vida e Paz também mantém, com uma duração de 13 meses. Mas como não o conheço em pormenor, não me pronuncio. De qualquer forma, por melhor que seja, será sempre insuficiente.
Em Portugal há mais de dois milhões de pessoas a viver abaixo do limiar de pobreza. Um documento apresentado no Congresso Português de Demografia, mostrava que, pelo menos, dois em cada dez portugueses «viviam», há quatro anos, com menos de 60% do rendimento médio da população, ou seja, com um orçamento inferior a 283 euros por mês.
Os indicadores disponíveis não fazem pensar que o panorama tenha melhorado. Portanto, alguma coisa está mal, muito mal, e não pode ser resolvida com o recurso à caridade, venha ela de onde vier. Nem com iniciativas solitárias de inserção, por mais estimáveis que sejam.
Trata-se de um grave e verdadeiro problema social, socialmente produzido. E que, em muitos casos, estará na origem de outros, como o alcoolismo ou a toxicodependência. Trata-se de patologias que não podem ser fulanizadas, senão por quem tem alguma coisa a ganhar com o equívoco.
Não há ricos e pobres por decisão divina. A exclusão não é uma coisa natural. Nada disso vem na matriz genética, seja de quem for. Não é verdade que sejamos todos iguais perante as oportunidades, que a sociedade oferece aos seus constituintes. A sociedade não é justa. O direito do mais forte, não é um direito. É uma dominação. Um abuso. Está na altura de emendarmos a mão.
Mário C.
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