terça-feira, 5 de julho de 2005

VAMOS TODOS PARTICIPAR...

Amanhã há dinheiro

E não é pouco. Vinte e cinco mil milhões de euros para gastar em quatro anos é como um jackpot acumulado de várias meses do estado-milhões. É quase tanto como todo o investimento português de um ano ou quase tanto como a soma das receitas de todos os impostos directos e indirectos de 2004. É muito dinheiro que Sócrates vai distribuir.

Amanhã, o primeiro-ministro deverá detalhar, quanto baste, o programa de investimentos até 2009. Fá-lo-á na véspera da votação do Orçamento Rectificativo, garantindo assim que a comunicação social estará mais virada para a distribuição do dinheiro, do que para as dificuldades do Banco de Portugal e das Finanças em acertar nas contas de subtrair. Ou para o facto de o Rectificativo não cobrir suficientemente as contas da Saúde. Ou para as inexplicações sobre a forma de obter receitas extraordinárias com privatizações.

É certo que José Sócrates vai apenas utilizar oito mil milhões do OE e afectar mais uns tantos milhões dos fundos europeus. O resto, pelo menos metade da fatia, dependerá do investimento privado. É lógico que assim seja. Porque onde há fundos europeus tem de haver, por norma, investimento público e investimento privado.

E entretanto, como este Governo rectificou os saldos do OE mas não lhe alterou compromissos, a parte curiosa do espectáculo de milhões que Sócrates vai dar é que estará a anunciar investimentos decididos, digamos assim, por Santana Lopes.

E, por seu lado, Manuel Pinho preparou um pacote de investimentos infra-estruturais que, não se limitando a reembrulhar as decisões de Álvaro Barreto, também não se poderá descolar totalmente delas e dos compromissos contratuais entretanto estabelecidos.

Apesar disto, novidades bastantes deverão sobrar do anúncio e é sobre elas que grandes empresas e autarquias anseiam ouvir. Porque, em função das verbas, também se perceberá o nível de prioridade que terão projectos como o aeroporto e o comboio de alta-velocidade. Ou o tipo de abordagem concreta que se aplicará à banda-larga.

Não se julgue, no entanto, que José Sócrates irá accionar a alavanca multiplicadora keynesiana que levará a economia a sorridentes crescimentos e à criação de emprego. Embora seja mais do que previsível que o primeiro-ministro ainda venha a dizer que o investimento do Estado não fica esgotado, prometendo, assim, outro impulso de investimento lá mais para a frente.

Este é o folclore que faz parte da política e a que nenhum primeiro-ministro de bom-senso tem condições de fugir.


A parte importante trabalha-se depressa e sem dar muito nas vistas. Exemplo disso é a Lei da Água que entrou para discussão no parlamento há quinze dias e deverá ficar concluída ainda este mês. Note-se que é uma legislação urgente e bem construída que estabelece objectivos e princípios e esclarece finalmente a separação entre as funções do Estado e o papel dos privados.

Inclusivamente, contribui para o ordenamento territorial ao definir cinco regiões administrativas da água coincidentes com as CCDR. Embora acomode mal as relações das CCDR com a água, não resolva a duplicidade de tutelas ou a gestão dos portos. Ou que persista em fixar valores para as coimas em vez de fixar índices.

Mais importante, e o que esta velocidade parlamentar faz adivinhar, é que tudo estará preparado para abrir o capital da Águas de Portugal, e porque não da EPAL e outras 66 participadas, a tempo de tapar um dos buracos do OE Rectificativo.

Euduardo Moura

8 Comments:

At 5 de julho de 2005 às 10:18, Anonymous Anónimo said...

'Show' de investimentos com carácter de urgência
Sócrates preparou pela noite dentro apresentação dos projectos no CCB


Em S. Bento, passava ontem da hora de jantar e ainda não estavam completamente definidos os termos da apresentação que José Sócrates irá fazer, hoje no CCB, com direito a transmissão televisiva em directo às 11h00, do programa de investimentos de 25 mil milhões de euros em infra-estruturas com que pretende passar uma mensagem de esperança aos portugueses. O primeiro-ministro continuava reunido a acertar pormenores e a decidir o que é que está apto para ser anunciado.

Até quinta-feira, dia em que o Conselho de Ministros apreciou pela primeira vez as linhas gerais do plano proposto pelo ministro da Economia, Manuel Pinho, era suposto que o anúncio público só se faria depois dos contactos com os grupos empresariais que acompanharão os investimentos estarem mais adiantados. Porém, tudo se acelerou, tendo o primeiro-ministro considerado fundamental pôr rapidamente um ponto final no "ciclo do défice", mesmo antes de aprovar o orçamento rectificativo amanhã, quando na Assembleia da República voltar a defender os sacrifícios a impor aos cidadãos e aos agentes económicos, o Governo já estará a cavalgar outro discurso, baseado na injecção de capital para os próximos quatro anos que hoje anunciará.

Com a pressa de apresentar rapidamente o programa, nem todas as áreas conseguiram o mesmo nível de compromisso entre as empresas interessadas nos investimentos e a disponibilidade do Governo para suportar a sua parte. O DN apurou que o Turismo é das áreas onde as coisas estão mais avançadas, com muitas candidaturas privadas já preparadas e os promotores apenas à espera de uma oportunidade para avançar. Também ao nível das energias haverá uma grande facilidade em concretizar rapidamente o anúncio, hoje, de novos 150 parques eólicos há candidaturas já entregues e o Ministério da Economia abrirá um novo concurso até ao final do mês (ver página 26).

"Na maior parte dos projectos serão dados aos empresários um calendário dos próximos passos e uma programação dos investimentos", adiantou um membro do Executivo. "A mensagem será um convite à iniciativa privada 'Confiem, porque o Governo está a fazer os possíveis para que a retoma chegue rapidamente'. É um programa "keynesiano", mas suportado nos privados".

Em cada ministério com projectos neste programa - onde as Obras Públicas e a Economia assumem particular relevância - haverá equipas específicas para lançar e acompanhar cada um deles. No caso das grandes obras, e mau-grado já existirem alguns estudos feitos para o TGV e para a Ota, o Ministério de Mário Lino não está a ainda em condição de avançar prazos ou métodos para o lançamento dos concursos. Todas essas informações - saber se na Ota a construção será, ou não, posta a concurso com a concessão - ficará para uma etapa posterior. Tal como, por exemplo, revelar se o TGV implicará uma nova ponte em Lisboa.

Dado que estes processos serão conduzidos por entidades públicas considerou-se menos prioritário o envolvimento, já nesta fase, de investidores privados. Mas, como o que não falta são consórcios interessados em construir o TGV e em gerir aeroportos internacionais, o Governo confia que os concursos não ficarão vazios.

Luís Miguel Viana

 
At 5 de julho de 2005 às 10:20, Anonymous Anónimo said...

A mercearia lusitana

O ridículo já não mata neste sítio cada vez mais mal frequentado. O ridículo começa a fazer parte do quotidiano deste cantinho europeu em pleno século XXI. Se o ridículo matasse, como acontece em muitos sítios civilizados, a classe política portuguesa já tinha sofrido uma razia incalculável. Como não mata, o País faz figura de moderno, tem uma moeda europeia, até usa a Internet, o telemóvel, carros de alta gama e todos os sinais exteriores de progresso e desenvolvimento, mas tem uma classe dirigente indigente, terceiro-mundista e, claro, muito ridícula.

Veja-se o que se passa com as contas públicas desta mercearia pouco recomendável. A moda começou com Durão Barroso e foi seguida por Sócrates. Com a mão no coração e a boca cheia de verdade e transparência, ambos pediram a Constâncio, a sumidade nacional em números e afins,o valor real do défice do Estado. O homem, sempre prestável, aceitou a missão com alto sentido de patriotismo. Em 2002 deu cobertura à tanga de Barroso e ao aumento de impostos, com Bruxelas a pregar umas palmadas aos meninos aldrabões e muito mal- -comportados. Em 2005 foi o cabeça-de-cartaz do espectáculo montado por Sócrates para aumentar os impostos e preparar os funcionários públicos para a perda de privilégios inaceitáveis, com ou sem défice nas contas do Estado.

A chamada comissão Constâncio, um órgão que deverá ser consagrado com a máxima urgência na arqueológica Constituição portuguesa, apresentou números aterradores, explicou-os em pormenor aos perplexos cidadãos - pelo caminho esqueceu-se convenientemente das contas das autarquias e das regiões autónomas em ano de eleições locais - e deu a deixa ao actor Sócrates para, sozinho, representar mais um acto desta peça pífia em que se transformou a vida política em Portugal. E tanto trabalho, tanto teatro, para quase nada. As contas de Constâncio, como as de Bagão em 2004 e de Campos e Cunha no Orçamento Rectificativo de agora, estavam erradas. No meio desta história ridícula, o sítio, já embalado com as férias, fortemente inclinado para a esquerda, com uma comunicação social de tons rosa e vermelho, sem o vigor dos tempos do combate à coligação PSD/PP, e um Presidente claramente fora do prazo de validade, vai a Espanha fazer compras e organiza-se para mais umas fugazinhas ao maldito fisco.

É triste a vida neste sítio. Muito triste mesmo. A esquerda é o que é. Não muda. Está no século passado, é salazarenta, agarra-se ao Estado como um náufrago desesperado. A direita,essa, não está no PSD e no CDS. Anda por aí. À deriva. Talvez se encontre, finalmente, nas noites do Nicola. Liberal e moderna

António Ribeiro Ferreira

 
At 5 de julho de 2005 às 10:28, Anonymous Anónimo said...

As rosas e os barões alaranjados
Que da ocidental praia lusitana
Por truques nunca antes experimentados
Vão roubando Portugal à fartazana
Em contos do vigário especializados
Mais do que permite a ideia humana
E entre gente crédula edificaram
Mentiras que a tantos enganaram

E também as memórias gloriosas
De Abril se foram esfumando
Por entre habilidades viciosas
Os mais nobres valores foram devastando
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei rosa/laranja libertando
Desmascarando espalharei por toda a parte
Se a tanto me ajudar engenho e arte

Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das victórias pela estranja
Que eu canto a pouca sorte do lusitano
Quando em sorte lhe saiu rosa/laranja
Cesse tudo o que a Mussa antígua canta
Que outra história mais alto se alevanta

 
At 5 de julho de 2005 às 10:30, Anonymous Anónimo said...

E vós tias betinhas, pois criado
Tendes em Sócrates ou Santana amante ardente
E se em versos do Zé Cabra celebrados
Se vão estes alternando alegremente
Dai-lhes agora um tom alto e sublimado
Um estilo grandíloquo e corrente
Saído das vossas fuças betumadas como se diz
Que fazem inveja às tias de Paris

Dai-lhe uma fúria grande e sonorosa
E não de agreste avena ou de trombone
Mas de tuba canora e belicosa
Assim bem ao geitinho das Bobone
Prestai igual canto aos feitos da pandilha
Gente deles, a quem o capital tanto ajuda
Que se espalhe e se cante sempre mais
Na linha de Algés até Cascais.

 
At 5 de julho de 2005 às 10:39, Anonymous Anónimo said...

Este novo Camões está cheio de razão.

 
At 5 de julho de 2005 às 10:47, Anonymous Anónimo said...

Adiados


O TGV e as obras do novo aeroporto da OTA não vão arrancar nos próximos 4 anos

Afinal o que era prioritário vai ser adiado para a próxima legislatura. As obras do novo aeroporto da OTA e o TGV não vão arrancar nos próximos quatro anos.

A notícia é avançada pelo jornal Público. De acordo com o diário, o adiamento vai ser anunciado hoje na apresentação do programa de investimentos. Para já, estão previstos mais estudos, projectos de engenharia e expropriações. O programa de investimentos tem destinados apenas mil e quinhentos milhões de euros para o TGV e 650 milhões de euros para o aeroporto da OTA.

ONTEM ERA VERDADE, HOJE JÁ NÃO É, O "EMBUSTE" DO GOVERNO DO PARTIDO SOCIALISTA...

 
At 5 de julho de 2005 às 12:39, Anonymous Anónimo said...

O PAÍS ERRADO Primeiro foi o ministério das Finanças que errou o orçamento. Depois, soube-se que, antes deste erro, já o Banco de Portugal tinha errado o défice. Agora foi o ministério da Justiça - e essa entidade misteriosa que é o INE - que transmitiram dados errados sobre a Justiça a Bruxelas. O senhor "entidade reguladora da saúde" - outro mistério -, apaparicado pelo Presidente da República e pelos governos, percebeu que estava no "lado errado", ou mesmo em lado nenhum, e demitiu-se. O senhor presidente do Governo Regional da Madeira acha "errada" a presença de "indianos" e "chineses" na sua coutada praticamente privada no meio do Atlântico. Esta pequena e grotesca tragicomédia elucida-nos um pouco mais sobre o país em que temos a infelicidade de viver. Um país errado, irremediavelmente errado.

 
At 5 de julho de 2005 às 14:08, Anonymous Anónimo said...

Estava eu à espera de um milagroso choque tecnológico graças ao pacote de pilhas Duracell (pague dez e leve uma dúzia mais uma lanterna que lhe será muito útil se alguma cegonha decidir dar uma bicada no outro fio) comprado graças à aposta financeira feita por Sócrates neste sector quando sou surpreendido por um verdadeiro choque de cimento armado.

Andava eu a teorizar sobre o keynesianismo tentando aplicá-lo aos tempos e problemas de hoje, e quando comecei a compreender que o famoso efeito multiplicador já não faz sentido numa lógica de multiplicação de investimento, mas sim de tecnologia e de conhecimento, fui surpreendido pela queda abrupta de enormes pacotes de cimento armado, fui interrompido na minha meditação pela cerimónia em que Sócrates lançou os primeiros pacotes do seu grande projecto para Portugal, o “choque do cimento armado”: a combinação de muito cimento com um governo armado em rico

 

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