quinta-feira, 14 de julho de 2005

VAMOS TODOS PARTICIPAR...



Um negócio de burros

Deixemo-nos de preconceitos. Se a regra de ouro do sucesso comercial é apostar no que já vende mais, Portugal devia apostar na asneira. Não há lei alguma que impeça lucros com a burrice e neste domínio o nosso país tem muitas vantagens.
Para quê sofrer a tentar fazer coisas inteligentes, se é muito mais inteligente ser burro?

Em números redondos, vejamos as coisas como elas são e não como gostaríamos que fossem. Das 117 mil crianças que deviam ter frequentado o 9º ano neste ano lectivo, apenas 95 mil o fizeram.

Para os que chegaram ao 9ºano, o Estado investiu qualquer coisa como 30 mil euros (6 mil contos) por cada um ao longo de nove anos. Destes 95 mil inscritos iniciais, 10 mil não tiveram aproveitamento para ir a exame. Dos 85 mil que foram realizar a prova de Matemática, 60 mil chumbaram.

Ou seja, a Fábrica Portugal SA precisou de gastar 3 mil milhões de euros para fabricar 25 mil alunos com nota positiva a Matemática e, neste processo, desperdiçou matéria-prima que dava para fabricar pelo menos mais 90 mil.

Se em Portugal a burrice fosse legitimada, estaríamos diante de um caso de sucesso. Os nossos governantes poderiam dizer que tinham conseguido formar 90 mil burros e que, doravante, fariam todos os possíveis para reduzir o número de aprovados.

Mas como faz parte deste país não assumir as evidências, os nossos governantes preferem continuar a dizer que a Fábrica Portugal SA não teve assim tantos produtos rejeitados. Para isso corrigem os maus resultados dos exames através de uma segunda fórmula de controlo de qualidade, menos exigente, e transformam 25 mil aprovados em 63 mil aprovados. Maravilha. Afinal o sistema só desperdiçou 54 mil crianças.

E depois ainda, como pelos lados do Ministério da Educação também não se sabe aritmética, escrevem-se comunicados assim: «Os resultados finais dos exames nacionais do 9º ano de escolaridade, que se realizaram este ano lectivo nas disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática, registaram, de uma forma geral, taxas de aprovação em consonância com as classificações de frequência.» Como se 79% de aprovados na frequência escolar de Matemática fosse consonante com 29% de aprovados no exame.


Eduardo Moura