terça-feira, 2 de agosto de 2005

AS LÂMPADAS FUNDIDAS...

Cidadãos desesperados

Os indicadores estão aí, não enganam ninguém.
A maioria dos portugueses está convencida de que a economia deste sítio muito mal frequentado vai piorar e que a sua vidinha não encontra qualquer luz ao fundo de um túnel cheio de dívidas e de incertezas.
A tal confiança que o PS prometia na campanha eleitoral de Fevereiro, contra a tanga de Barroso e as trapalhadas de Lopes, esgotou-se rapidamente em novas trapalhadas, aumentos de impostos, demissões e projectos megalómanos.
Os pobres cidadãos, que passaram estes anos todos a votar, alternadamente, no PSD e no PS à espera de um salvador da Pátria e dos seus depauperados bolsos, estão verdadeiramente desesperados com este sítio, com os seus dirigentes, com a sua economia e com a sua vidinha. Mas, verdade seja dita, têm o que merecem.

Agora, com o PS a mostrar o que sempre foi, o PSD igual a si próprio, o CDS equidistante dos dois e a esquerda troglodita no seu melhor, os cidadãos andam contentíssimos com a novela das presidenciais, uma artimanha lançada pelo aflito Sócrates para recuperar o fôlego e poder ir de férias para bem longe do cantinho. Como o primeiro-ministro e secretário-geral do PS só está bem nos bastidores e é o maior quando está calado, o palco foi deixado livre ao putativo candidato presidencial Mário Soares para entreter o povo até às autárquicas. E os cidadãos, no meio das filas para as praias, os parques de campismo apinhados, as sardinhas assadas e os passeios nos centros comerciais com ar condicionado, discutem animadamente o combate escaldante, terrífico, histórico e memorável, anunciado por comentadores, apoiantes de serviço e propagandistas da banha da cobra, entre o animal político e o criador do monstro cavaquista.

Discute-se a idade dos candidatos, a sua vocação para números, se devem ou não perceber de economia, os seus amores e desamores por Sócrates. E como o sítio anda entretido e divertido com o assunto, vale a pena dizer que Mário Soares poderá ser o candidato contra a globalização, o mercado e a concorrência. Mário Soares poderá ser o candidato contra os EUA, a Europa liberal e atlântica e a guerra ao terror. Soares poderá ser o candidato que defende o diálogo com os terroristas e justifica os massacres de Nova Iorque, Madrid, Telavive, Jerusalém e Londres. Mas Soares, acima de tudo, poderá ser o candidato que afaste de vez Cavaco Silva da corrida a Belém. Os desesperados cidadãos deste sítio, embora culpados do estado a que isto chegou, não merecem ter como presidente o pai do monstro que os consome. Um homem sem cultura, sem estatuto, sem dimensão. E com muito medo da democracia.


António R. Ferreira

1 Comments:

At 2 de agosto de 2005 às 15:12, Anonymous Anónimo said...

Uma candidatura presidencial de Mário Soares? "Seria uma loucura (...) uma coisa sem sentido. Nem numa situação-limite (...). A vida política tem de se renovar e não pode estar sempre ligada às mesmas pessoas." Estas não são palavras de um cavaquista encolerizado com o pré-anúncio de candidatura do ex-presidente da República, mas sim frases do próprio Mário Soares, em entrevista dada à RTP há apenas... dois meses !

Dir-se-á que o status de "Pai da III República", o interesse dos media por um "duelo de gigantes" e o valor irrisório que a seriedade tem hoje em Portugal absolvem Soares das incoerências que o fazem desdizer hoje o que dissera apenas ontem. Mas, mesmo que as contradições de Soares sejam vistas com indulgência, atenta a sua idade e estatuto, já não será possível exigir que os eleitores renunciem ao confronto das justificações apresentadas para a sua pré-candidatura com as ideias de fundo que o mesmo tem defendido nos últimos anos.

De acordo com o próprio Soares e a sua gente, a candidatura justificar-se--ia na base de quatro razões, as quais consistiriam na necessidade de colmatar um vazio de candidatos à esquerda; de encabeçar um projecto que una os portugueses; de encontrar alguém com prestígio que represente o País; e de dar às instituições estabilidade e segurança em tempo de crise.

A razão da lacuna de candidaturas à esquerda não convence. Enquanto Alegre hesitou candidatar-se, Soares deu-se ao luxo de o apoiar explicitamente. Todavia, mal pressentiu que o mesmo iria avançar, Soares antecipou-se e assumiu-se como pré-candidato. Se o ex-presidente faz isto a quem qualifica de "amigo fraterno nas boas e más horas", o que não fará aos seus adversários...!

Quanto à segunda razão, não se vê como alguém que ainda há cerca de meio ano teceu um panegírico ao programa do Bloco e defendeu um entendimento do PS, PCP e bloquistas para as legislativas e presidenciais, pode ter a pretensão de "unir os portugueses". Muito pelo contrário, se Soares avançar contra Cavaco, fá-lo-á surfando uma "frente popular" jurássica e radicalizada à esquerda, potenciando a maior divisão de sempre entre o eleitorado, a qual deixará sequelas que lembrarão as do PREC.

Quanto ao argumento do candidato prestigiado para representar o País no exterior, ele parte da falsa premissa de que a conjuntura internacional do século XXI é a mesma do final do XX. É que o mundo que antes admirava Soares deixou de existir. Muitos dos contemporâneos da Internacional Socialista estão mortos (caso de Mitterrand, Palme, Brandt ou Kreisky) ou reformados (como Schmidt e González).

Como poderá Mário Soares, no tempo presente, galvanizar a lusofonia quando é detestado em Angola? Como poderá seduzir a presidência inglesa da União Europeia, após as suas espantosas declarações sobre os atentados de Londres e em face da afirmação de que a "terceira via" está num "armazém de velharias"? E como poderá defender os interesses nacionais junto dos EUA depois das suas propostas de negociação com a Al-Qaeda? Ao invés de constituir uma solução, Soares seria, no plano internacional, um problema, com reflexos críticos na atracção de investimento do mundo anglo-americano. Resta o argumento da estabilidade institucional. Já num escrito de 1997 publicado em obra jurídica italiana, mencionámos que a tentação do reforço da componente presidencial do semipresidencialismo português apenas ocorreria num cenário caracterizado por "um Governo, uma maioria e um Presidente", no qual o chefe do Estado fosse o "líder histórico" ou "natural" da maioria no poder, tendo citado o exemplo de Soares.

Ora, o segundo mandato de Soares revelou que este, mais do que um Estadista, se perfila como um formidável e compulsivo desestabilizador. Depois de há menos de um ano ter classificado, injustamente, o actual primeiro- -ministro como um "neo-revisionista", uma "figura menor" e o que haveria de "menos feliz na herança guterrista", será pouco crível que uma inversão de discurso convença que mudou de opinião. Soares presidente seria, assim, o mais temível adversário do Governo e não sossegaria enquanto não erodisse a "terceira via", substituindo-a pela velha esquerda do círculo de confiança.

Da crónica de Carlos Blanco de Morais, no Diário de Notícias de hoje).

Eu não consigo deixar de lembrar que um jornalista apanhou 14 meses de prisão efectiva por ter aparecido no seu jornal a afirmação, óbvia e consensual, que "Soares é um mentiroso relapso e contumaz" (num comentário a propósito do anúncio de um aumento do preço dos combustíveis feito pelo próprio no dia seguinte àquele em que tinha garantido solenemente que não iria haver subida do preço dos combustíveis).
Foram essas as palavras, o grande e horrível crime. Parece tão incrível que ninguém acredita; mas foi assim, rigorosamente assim.
Um mentiroso relapso e contumaz! Mas é preciso demonstração?

Manuel Azinhal

 

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