Manuel Alegre deixou ontem implícito que não será candidato às presidenciais para não dividir a esquerda nas eleições de Janeiro, apesar de considerar que a recandidatura de Mário Soares “não é saudável para a República”.
“Discordo da candidatura que vai ser apoiada pelo Partido Socialista, pelo processo e pela solução. O processo não foi claro, a solução, em meu entender, não está conforme aos critérios republicanos de renovação política”, declarou o deputado socialista, que falava num jantar de apoiantes em Viseu.
Manuel Alegre recordou que em Julho se disponibilizou para “enfrentar Cavaco Silva e evitar o vazio”, liderando uma candidatura de esquerda que acredita teria “condições políticas para obter um resultado surpreendente”. “A direcção do PS fez outra escolha, não fui eu que dividi”, sublinhou.
Apesar de em nenhum ponto do discurso afirmar taxativamente a renúncia à corrida eleitoral, Manuel Alegre lembra que, enquanto socialista, não pode ignorar o apoio dado pelo partido à candidatura de Mário Soares. “Não sou responsável pela decisão pré-anunciada pela direcção do PS. Não serei responsável pelos seus resultados, mas também não quero ser responsável pela divisão da esquerda”, declarou, admitindo que a sua candidatura poderia causar a “eventual fractura do Partido Socialista e a divisão do seu eleitorado”.
Num discurso muito crítico em relação à actual situação política nacional, Alegre afirmou que as próximas presidenciais deveriam “ser uma oportunidade para a renovação e revitalização da vida política” e não se limitarem a um “afrontamento de personalidades”.
“Temo que as candidaturas anunciadas dêem aos eleitores a sensação do já visto e a impressão de que tudo vai ficar na mesma”, lamentou Alegre, sustentando que “a vocação de Cavaco Silva será sempre a de governar” e Mário Soares representa “uma solução de tipo patriarcal”.
“Travei ao lado de Mário Soares batalhas que fazem parte da história da minha vida e da história da democracia. Não o esqueço, mas entendo que uma sua terceira candidatura não é saudável para a República”, declarou Alegre, amigo pessoal do antigo Presidente da República.
Apesar de fechar a porta a Belém, Manuel Alegre admite usar a base de apoio reunida nas últimas semanas para outros embates políticos. “Com a minha disponibilidade criou-se uma expectativa de alternativa e de esperança. É preciso projectá-la para outros combates. A vida não pára aqui, às vezes pode acontecer o inesperado”, declarou, já depois de afirmar que “os partidos não podem confiscar nem usurpar o espaço da cidadania”.
Menina e moça me levaram de casa de meu pai para longes terras; qual fosse então a causa daquela minha levada, era pequena, não na soube. Agora não lhe ponha outra, senão que já então parece havia de ser o que depois foi. Vivi ali tanto tempo quanto foi necessário para não poder viver em outra parte. Muito contente fui eu naquela terra; mas coitada de mim, que em breve espaço se mudou tudo aquilo que longo tempo buscou e para longo tempo buscava. Grande desaventura foi a que me fez ser triste, ou que pela ventura me fez ser leda. Mas depois que eu vi tantas cousas trocadas per outros e o prazer feito mágoa maior, a tanta paixão vim, que mais me pesava do bem que tive que do mal que tinha.
Escolhi para meu contentamento (se entre tristezas e saudades há algum) vir-me viver a esta monte, onde a lugar e míngua da conversação da gente fosse como para meu cuidado cumpria – porque grande erro fora depois de tantos nojos, quantos eu com estes meus olhos vi, venturar-me ainda esperarar do mundo o descanso, que ele nunca deu a ninguém – estando eu aqui só, tão longe de toda a outra gente, e de mim ainda mais longe, donde não vejo senão serras de um cabo, que se não mudam nunca, e de outro águas do mar, que nunca estão quedas, onde cuidava eu já que esquecia à desaventura, porque ela e depois eu, a todo poder que ambas pudemos, não leixamos em mim nada em que pudesse nova mágoa ter lugar.
*Antes havia muito tempo que é povoado de tristezas, e com razão. Mas parece que em desaventuras há mudanças para outras desaventuras, porque do bem não na havia para outra bem. E foi assim que, por caso estranho, fui levada em parte onde me foram ante os meus olhos apresentadas em cousas alheias todas mes angústias; e o meu sentido de ouvir não ficou sem sua parte de dor. Ali vi então na piedade que houve doutrem, tamanha a devera ter de mim, se não fora tão demasiadamente mais amiga de minha dor do que parece que foi de mim quem me é causa dela; mas tamanha é a razão porque sou triste, que nunca me veio mal nenhum, que eu não andasse em busca dele. Daqui me vem a mim a paracer que esta mudança, em que eu vi, já então começava a buscar, quando me este terra, onde me ela aconteceu, aprouve mais que outra nenhuma para vir aqui acabar os poucos dias de vida que eu cuidei me sobejavam,
Mas nisto, como em outras cousas muitos, me enganei eu. "
Manuel Alegre = muita parra e pouca uva. Se a cobardia matasse...! Não concorda com a candidatura do velho, avance! Com que então não existem homens providenciais, heim? Alegre demonstrou que, antes de ser cidadão, democrata e republicano é socialista. Mais um do aparelho, sem coragem para remar contra a maré. Cobarde.
O poeta foi prosaico. Esperava-se uma quixotada, saiu-nos uma sancho pançada. O poeta foi banal. Aguardava-se uma tragédia, saíu-nos uma comédia. O poeta foi vulgar . Queria ser príncipe e vai ser moço de estribo. O poeta trocou de ofício. Queriam-no de espada em riste, vimo-lo de chapéu na mão. O poeta mudou de género. Trocou o épico pelo encomiasmo. O poeta rendeu-se. Aguardava-se um frémito de licença poética; saiu-nos publicidade enganosa. O poeta está acabado. Apresentava-se como goliardo, acabou minestrel. Vai trabalhar nos jogos florais da retórica parlamentar.
Triste fim para um poeta, o de ser tomado por aquilo que, afinal, não era: POETA Conclusão: se não é poeta, evite tanger a lira para não perder as unhas. O poeta perdeu as unhas. Agora já não nem os dedos nem o estro que lhe valem...
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Manuel Alegre deixou ontem implícito que não será candidato às presidenciais para não dividir a esquerda nas eleições de Janeiro, apesar de considerar que a recandidatura de Mário Soares “não é saudável para a República”.
“Discordo da candidatura que vai ser apoiada pelo Partido Socialista, pelo processo e pela solução. O processo não foi claro, a solução, em meu entender, não está conforme aos critérios republicanos de renovação política”, declarou o deputado socialista, que falava num jantar de apoiantes em Viseu.
Manuel Alegre recordou que em Julho se disponibilizou para “enfrentar Cavaco Silva e evitar o vazio”, liderando uma candidatura de esquerda que acredita teria “condições políticas para obter um resultado surpreendente”. “A direcção do PS fez outra escolha, não fui eu que dividi”, sublinhou.
Apesar de em nenhum ponto do discurso afirmar taxativamente a renúncia à corrida eleitoral, Manuel Alegre lembra que, enquanto socialista, não pode ignorar o apoio dado pelo partido à candidatura de Mário Soares. “Não sou responsável pela decisão pré-anunciada pela direcção do PS. Não serei responsável pelos seus resultados, mas também não quero ser responsável pela divisão da esquerda”, declarou, admitindo que a sua candidatura poderia causar a “eventual fractura do Partido Socialista e a divisão do seu eleitorado”.
Num discurso muito crítico em relação à actual situação política nacional, Alegre afirmou que as próximas presidenciais deveriam “ser uma oportunidade para a renovação e revitalização da vida política” e não se limitarem a um “afrontamento de personalidades”.
“Temo que as candidaturas anunciadas dêem aos eleitores a sensação do já visto e a impressão de que tudo vai ficar na mesma”, lamentou Alegre, sustentando que “a vocação de Cavaco Silva será sempre a de governar” e Mário Soares representa “uma solução de tipo patriarcal”.
“Travei ao lado de Mário Soares batalhas que fazem parte da história da minha vida e da história da democracia. Não o esqueço, mas entendo que uma sua terceira candidatura não é saudável para a República”, declarou Alegre, amigo pessoal do antigo Presidente da República.
Apesar de fechar a porta a Belém, Manuel Alegre admite usar a base de apoio reunida nas últimas semanas para outros embates políticos. “Com a minha disponibilidade criou-se uma expectativa de alternativa e de esperança. É preciso projectá-la para outros combates. A vida não pára aqui, às vezes pode acontecer o inesperado”, declarou, já depois de afirmar que “os partidos não podem confiscar nem usurpar o espaço da cidadania”.
Menina e moça me levaram de casa de meu pai para longes terras; qual fosse então a causa daquela minha levada, era pequena, não na soube. Agora não lhe ponha outra, senão que já então parece havia de ser o que depois foi. Vivi ali tanto tempo quanto foi necessário para não poder viver em outra parte. Muito contente fui eu naquela terra; mas coitada de mim, que em breve espaço se mudou tudo aquilo que longo tempo buscou e para longo tempo buscava. Grande desaventura foi a que me fez ser triste, ou que pela ventura me fez ser leda. Mas depois que eu vi tantas cousas trocadas per outros e o prazer feito mágoa maior, a tanta paixão vim, que mais me pesava do bem que tive que do mal que tinha.
Escolhi para meu contentamento (se entre tristezas e saudades há algum) vir-me viver a esta monte, onde a lugar e míngua da conversação da gente fosse como para meu cuidado cumpria – porque grande erro fora depois de tantos nojos, quantos eu com estes meus olhos vi, venturar-me ainda esperarar do mundo o descanso, que ele nunca deu a ninguém – estando eu aqui só, tão longe de toda a outra gente, e de mim ainda mais longe, donde não vejo senão serras de um cabo, que se não mudam nunca, e de outro águas do mar, que nunca estão quedas, onde cuidava eu já que esquecia à desaventura, porque ela e depois eu, a todo poder que ambas pudemos, não leixamos em mim nada em que pudesse nova mágoa ter lugar.
*Antes havia muito tempo que é povoado de tristezas, e com razão. Mas parece que em desaventuras há mudanças para outras desaventuras, porque do bem não na havia para outra bem. E foi assim que, por caso estranho, fui levada em parte onde me foram ante os meus olhos apresentadas em cousas alheias todas mes angústias; e o meu sentido de ouvir não ficou sem sua parte de dor. Ali vi então na piedade que houve doutrem, tamanha a devera ter de mim, se não fora tão demasiadamente mais amiga de minha dor do que parece que foi de mim quem me é causa dela; mas tamanha é a razão porque sou triste, que nunca me veio mal nenhum, que eu não andasse em busca dele. Daqui me vem a mim a paracer que esta mudança, em que eu vi, já então começava a buscar, quando me este terra, onde me ela aconteceu, aprouve mais que outra nenhuma para vir aqui acabar os poucos dias de vida que eu cuidei me sobejavam,
Mas nisto, como em outras cousas muitos, me enganei eu. "
Bernardim Ribeiro
Manuel Alegre = muita parra e pouca uva. Se a cobardia matasse...! Não concorda com a candidatura do velho, avance! Com que então não existem homens providenciais, heim? Alegre demonstrou que, antes de ser cidadão, democrata e republicano é socialista. Mais um do aparelho, sem coragem para remar contra a maré. Cobarde.
Que pena, ó Alegre
O poeta foi prosaico. Esperava-se uma quixotada, saiu-nos uma sancho pançada.
O poeta foi banal. Aguardava-se uma tragédia, saíu-nos uma comédia.
O poeta foi vulgar . Queria ser príncipe e vai ser moço de estribo.
O poeta trocou de ofício. Queriam-no de espada em riste, vimo-lo de chapéu na mão.
O poeta mudou de género. Trocou o épico pelo encomiasmo.
O poeta rendeu-se. Aguardava-se um frémito de licença poética; saiu-nos publicidade enganosa.
O poeta está acabado. Apresentava-se como goliardo, acabou minestrel. Vai trabalhar nos jogos florais da retórica parlamentar.
Triste fim para um poeta, o de ser tomado por aquilo que, afinal, não era: POETA
Conclusão: se não é poeta, evite tanger a lira para não perder as unhas. O poeta perdeu as unhas.
Agora já não nem os dedos nem o estro que lhe valem...
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