segunda-feira, 29 de agosto de 2005

DO CORREIO... Do Correio... do correio... [ MUITO AZUL ]


O dilema do PS

A poucos meses das eleições autárquicas o PS já foi a uma loja dos 300 para se precaver da chuva. Resta saber se os guarda-chuvas adquiridos são suficientemente sólidos para garantirem que o Governo não apanha um resfriado após as presidenciais.
A poucos meses das eleições autárquicas o PS já foi a uma loja dos 300 para se precaver da chuva. Resta saber se os guarda-chuvas adquiridos são suficientemente sólidos para garantirem que o Governo não apanha um resfriado após as presidenciais.

O PS tecnocrático, que circula à volta de Sócrates, tem medo de ser humilhado. O PS do aparelho receia ter de continuar a celebrar uma união táctica em que ninguém acredita. A não ser por motivos de sobrevivência. Jorge Coelho e José Sócrates tornaram-se irmãos de sangue.

Mas, depois das autárquicas, alguém pode romper o pacto de fraternidade. Há questões que começam a ser incontornáveis: quando será a remodelação? Como poderá o PS tentar ganhar futuras eleições se continuar a insistir em reformas que assustam todos os que encontraram no Estado a sua bananeira?

O PS defronta-se, como tantos Governos antes, com o mais terrível dos dilemas: como é que se pode reformar o país sem choques térmicos que afastam a sua base de apoio? Isto é, a razão da sua existência. Os partidos são associações de interesses.

Hoje, como a ideologia foi substituída pela economia como guia político, o que importa não são os sonhos de futuro, mas o bem estar do presente.

Esse é o dilema. E é isso que vai marcar a agenda do PS.

Fernando Sobral

2 Comments:

At 29 de agosto de 2005 às 16:23, Anonymous Anónimo said...

Portugal conseguiu, durante toda a semana passada, abrir os telejornais das televisões, os noticiários das rádios e fazer manchetes na imprensa da Europa.

Não é comum e não foi apenas pela dimensão dos incêndios que, uma vez mais, devastaram o País. O ‘lead’ das notícias sobre Portugal em toda a Europa foi a manifesta incapacidade de um país se defender de uma tragédia que se repete todos os anos e cujos factores de risco são absolutamente previsíveis e muitos deles susceptíveis de prevenção. Um jornalista suíço espantou-se com a “normalidade perversa” de um país que fala da “época dos incêndios” com a naturalidade com que lá fora se fala da época dos saldos. Um alemão interrogou-se sobre a incapacidade de Portugal, “que consegue organizar grandes eventos”, para “travar a tragédia dos incêndios”.

Mas por cá a “normalidade” é mesmo “perversa” e o ministro de tudo e mais alguma coisa e também dos incêndios - tão absolutamente incapaz de organizar a defesa do País contra este flagelo como os seus antecessores, como se tem visto – o mais original que conseguiu dizer, na semana mais dramática da “época dos fogos”, foi propor a construção de um bombardeiro de água “pela Europa e para a Europa”. Ora ao Governo, que não avançou nesta matéria com nenhum dos palpites que sugeria quando era oposição, só lhe faltava lançar mais uma manobra dilatória, que abra uma discussão e vá adiando decisões. Medidas, só para o ano que vem, que é o que todos os governos têm dito enquanto o País arde.

E foi assim que este ministro tão poderoso – que manda no mapa das férias do primeiro-ministro e corrige em público declarações do Presidente da República – ocupou o seu tempo de antena num noticiário da Europe 1. Falando de negócios galácticos, em vez de assentar os pés nas cinzas do seu país, por cuja segurança é um dos responsáveis.

 
At 29 de agosto de 2005 às 16:24, Anonymous Anónimo said...

Na cultura laxista em que nos vamos deixando cultivar, é sempre mais fácil, paradoxalmente, apontar a dedo os “suspeitos do costume” do que aprofundar o exercício da responsabilidade.

Normalmente são esses que tem culpa de tudo, incluindo nessa portuguesíssima categoria geral e mais ou menos abstracta, todos os outros que possam excluir a culpa própria.

Há sempre, nesta tragédia dos incêndios, o demente lá da terra ora preso e logo solto por inimputável, ou o pirómano que pouco mais sofre dos juízes que um termo de identidade e residência, acabando, uns anos mais tarde, absolvido por falta de provas. Também há o madeireiro sem escrúpulos que compra por 10 o pinheiro ardido que lhe custaria 30,bem como o bombeiro pirómano que se fez com o inimigo, ou o vizinho de maus fígados que nunca esquece nada e até mesmo a mulher ou o marido toldados pelo ciúme dos amores e desamores lá do lugar. A imaginação é fértil em encontrar no quotidiano historias mais ou menos fantásticas que expliquem a desgraça.

Ninguém dirá que nesta culpa portuguesa, saída das entranhas do desespero popular, o “fogo posto” por mão em qualquer caso criminosa, não seja uma das causas da catástrofe a que os portugueses assistem ora plácida ora ansiosamente, enquanto não lhes toca a cada um. Mas a raiva que legitimamente os invade não tem, normalmente, nenhum resultado palpável.

A culpa genérica e abstracta que se casa com o fatalismo e com o martírio, oculta, como espessa nuvem de fumo, as irresponsabilidades colectivas, políticas ou civis que estão na génese do grande flagelo.

Assumamos de uma vez, todas as responsabilidades pelo que não foi feito ou foi mal feito, de há muitas décadas para cá.

Todos falharam, e é urgente assumir publicamente essa constatação. Presidentes, deputados ou governos de todas as épocas recentes, cores e matizes, bem como autarcas ou instituições que se ligam política e profissionalmente ao problema dos incêndios e que são supostos saberem defender o interesse publico, falharam nas previsões e prevenções, que deveriam garantir a concreta e eficaz protecção das matas e das pessoas.

Um terço de Portugal ardido nos últimos 25 anos (estamos já muito perto dos 30 mil quilómetros quadrados) assusta-nos e apavora-nos perante o futuro das novas gerações.

Não só pela área ardida que é enorme e põem em causa a nossa existência física como país mas porque todos suspeitamos que tudo vai continuar a arder.

Porque se apossou dos portugueses a inércia da fatalidade, não sendo credíveis as políticas, os discursos e as medidas que sucessivamente, em todo o arco-íris partidário se tomaram ou tomam, para nada…Porque tudo continuou inexoravelmente a arder.

Não é momento para louvaminhas aos abnegados esforços dos bombeiros que melhor seria estarem dotados do que lhes falta, para não serem somente pequenos heróis anónimos. Nem para aparições em prime time que só servem para fazer crescer o ‘share’ televisivo na inversa proporção da cotação dos políticos …Nem é altura de julgar o governo ou de saber se teve ou não tempo para tomar medidas. Todos esses discursos sensibilizantes, desculpabilizantes ou acusatórios estão gastos, na boca dos responsáveis de hoje como nos de ontem, de há 20 anos a esta parte.

Fala-nos o Presidente Sampaio em debates. Pergunta para que queremos a floresta! Ficamos atónitos, com a natureza da pergunta. É evidente, a começar por cima, o desnorte colectivo, filho directo do facilitismo, da demagogia e da incompetência com que nos habituamos a encontrar respostas para os disparates acumulados.

A eficácia, todos o sabemos, é uma questão de responsabilidade. É com ambas que se trava a luta pela modernidade, pela inovação e pelo progresso.

Os fogos de Agosto, mostraram ao mundo e à Europa um Portugal miserável, atrasado, terrifico e assustador que desfaz em segundos a imagem de um pais europeu que luta pela inovação e por um lugar ao sol que em Portugal mata.

O que apareceu nas televisões, nos jornais e nas revistas por essa Europa fora e que comoveu os nossos parceiros europeus foi descobrir que afinal há no canto ocidental da Europa um povo que luta para sobreviver ao fogo, com os braços, com os gritos e na aflição das preces. Onde cada um ainda trata de si mas ninguém trata de todos.

O que a Europa viu no Portugal de Agosto foi um Portugal medieval!

 

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