quinta-feira, 18 de agosto de 2005

DO CORREIO...


Uma questão de estilo

As coisas são o que são, berra-se, e torna-se a berrar, bem, sobre o distanciamento entre eleitores e eleitos (a classe política), exige-se accountability e transparência, sempre, e no decorrer dos últimos anos ganharam cada vez mais protagonismo e visibilidade os jornalistas - proclamados guardiões da Verdade.
Seriam eles, os jornalistas, que fariam a ponte, entre uns e outros, seriam eles que derrubariam os muros, mas nem sempre vai sendo assim. Alguns veem-se, como (os) políticos, como uma casta à parte, etérea, inimputável e impassível de responsabilização.
Não há interactividade, eles é que sabem, eles é que definem, o que é Verdade e o que não, os factos, um pequeno detalhe. Muito mau para a classe, e pior ainda para a democracia.

Atente-se num caso.
Um jornal, de referência, que publica, na passada sexta-feira, uma manchete, "ligeiramente", desligada do texto, e que imputava (mal) a determinada entidade, fundamental num estado de direito, responsabilidades num alegado atraso (de 16 anos) em determinada tomada de posição. O caso é denunciado, é debatido, na blogosfera, e rapidamente se chega a um consenso, inclusive com quem assinava a prosa, de que a manchete é infeliz e enganadora.
Faz amanhã uma semana, saiu a tal manchete original. Hoje foi publicado, naturalmente sem o destaque original, o desmentido da "vítima"... a Procuradoria Geral da República. Era escusado, teria bastado, a tempo e horas, um pouco de humildade e um esclarecimento clarificador de quem... errou.

Nada substituirá a imprensa. Será sempre preciso uma informação mediada, que não imediata e a quente, e ponderada, mas quando se olha para o descrédito de que goza a classe política, e os jornalistas já são vistos muitas vezes como polícos ou quase, quando já nada vale pelo seu valor facial, quando se desconfia da veracidade de tudo, ou quase, temos que concluir que algo vai mal. E vai mal porque as pessoas, e as sociedades, tem o direito a ser bem informadas, de saber os factos todos, e não apenas alguns (quando não truncados).
É pedir assim tanto ?
Ou a Verdade é apenas e só uma questão de estilo ?


Manuel