O DILEMA PORTUGUÊS
Percorri parte do País queimado. É uma dor d’alma impor-se a ideia de que o sítio onde nascemos está votado ao abandono. É uma dor profissional ler, ver e ouvir as "reportagens" realizadas. Ponho à margem deste texto a legitimidade das férias de Sócrates. O problema é de ordem moral. A banalidade das palavras circunstanciais que proferiu, regressado do safari, chegou a ser chocante.
A Imprensa internacional causticou a inépcia e a incompetência de um Governo que perde, constantemente, fundos estruturais, e demonstra ser incapaz de, por exemplo, proceder ao reordenamento territorial do país. O problema do minifúndio é apresentado como obstáculo quase intransponível. Não é. Trata-se de legitimação política. Com maioria absoluta, Sócrates pouco ou nada tem feito. No caso dos fogos, Portugal voltará a arder. E as reformas necessárias à modernização do país e, até, à criação de uma nova mentalidade - foram postergadas.
O PS, por repugnante cobardia política, cumpre a irresistível vocação de aniquilar outra oportunidade histórica. Há, nesta inércia, uma tentação para a irresponsabilidade, que pode desembocar em tragédia. Relegando para o esquecimento o afrontamento urgente com os interesses instituídos, estes "socialistas" condenam-nos a um charco de mediocridade, e cumpliciam-se com o que de pior e de mais sórdido existe nas classes possidentes.
A "alternância" de poder tem servido clientelas ávidas. As grandes fortunas acumuladas em pouco tempo não são apenas metáforas, mas factos reais e constantes, raramente investigados e postos a claro.
Para esses sectores, a modernidade não é documento de identificação, sim um acidente desprovido de qualquer sentido. O símbolo da entrada em uma comunidade económica - o euro - tornou-se numa espécie de adopção mística, não num primeiro passo para uma real integração. Pagamos tudo muito mais caro do que em outros países, e ganhamos muitíssimo menos. A inevitável comparação com Espanha constitui quase uma afronta: as bichas de portugueses que vão fazer compras a lojas, supermercados, gasolineiras fronteiriços chegam a ser impressionantes. Os danos económicos causados ao País ainda não foram contabilizados. Sê-lo-ão alguma vez?
O prolongamento indefinido desta situação não assegura, aos portugueses, nada de bom. Mantemos as boas graças entre o PS e o PSD, essa falta de "alternativa", cuidadosamente defendida pelos próceres de ambos os partidos - e desprezamos qualquer outra possibilidade. Esta nossa apatia também deriva de um individualismo dissolvente que nos está na massa do sangue, e de uma inacção intelectual provocada por lavagens ao cérebro, activadas pela ausência de debates, pela univocidade das vozes de quase todos os "comentadores", e pela falta de qualidade analítica da nossa Imprensa.
A ambiguidade "ideológica" da sociedade portuguesa torna-se um quebra-cabeças para a ciência política, inabilitada para eliminar o que daí resulta: apolitismo, falta de civismo e de civilidade, indiferentismo social. Nestas circunstâncias, os "partidos de poder" (PSD e PS) dispõem de meios que lhes permitem, "democraticamente", excluir toda outra concorrência política, e conceber todos os compromissos estabelecidos com parte da sociedade, nunca com toda a sociedade.
O notório enfraquecimento das classes sociais, em Portugal, contribui, cada vez mais, para o surgimento de esquírolas de extrema-direita, cujo discurso envolve, por igual, diatribes contra o capitalismo e contra a democracia. O neoliberalismo que, na última década, tornou mais pobres os mais pobres e muitíssimo mais ricos os mais ricos, está, lentamente, a corroer a raiz das instituições democráticas, não só no domínio político, mas também no domínio industrial. E quando a extrema-direita critica a hipertrofia da economia nas sociedades modernas, a sua voz encontra eco nas faixas mais débeis e carecidas da população.
Portugal está numa situação dilemática. À crítica marxista junta-se a dos cristãos sociais, ambas preocupadas com o facto de esta permanente alternância sem alternativa condenar ao desaparecimento ou ao amolecimento interventivo organismos intermédios, capazes de enfrentar e de combater não só as obediências parlamentares como o poder omnipotente dos dois "partidos de poder".
Baptista Bastos
A Imprensa internacional causticou a inépcia e a incompetência de um Governo que perde, constantemente, fundos estruturais, e demonstra ser incapaz de, por exemplo, proceder ao reordenamento territorial do país. O problema do minifúndio é apresentado como obstáculo quase intransponível. Não é. Trata-se de legitimação política. Com maioria absoluta, Sócrates pouco ou nada tem feito. No caso dos fogos, Portugal voltará a arder. E as reformas necessárias à modernização do país e, até, à criação de uma nova mentalidade - foram postergadas.
O PS, por repugnante cobardia política, cumpre a irresistível vocação de aniquilar outra oportunidade histórica. Há, nesta inércia, uma tentação para a irresponsabilidade, que pode desembocar em tragédia. Relegando para o esquecimento o afrontamento urgente com os interesses instituídos, estes "socialistas" condenam-nos a um charco de mediocridade, e cumpliciam-se com o que de pior e de mais sórdido existe nas classes possidentes.
A "alternância" de poder tem servido clientelas ávidas. As grandes fortunas acumuladas em pouco tempo não são apenas metáforas, mas factos reais e constantes, raramente investigados e postos a claro.
Para esses sectores, a modernidade não é documento de identificação, sim um acidente desprovido de qualquer sentido. O símbolo da entrada em uma comunidade económica - o euro - tornou-se numa espécie de adopção mística, não num primeiro passo para uma real integração. Pagamos tudo muito mais caro do que em outros países, e ganhamos muitíssimo menos. A inevitável comparação com Espanha constitui quase uma afronta: as bichas de portugueses que vão fazer compras a lojas, supermercados, gasolineiras fronteiriços chegam a ser impressionantes. Os danos económicos causados ao País ainda não foram contabilizados. Sê-lo-ão alguma vez?
O prolongamento indefinido desta situação não assegura, aos portugueses, nada de bom. Mantemos as boas graças entre o PS e o PSD, essa falta de "alternativa", cuidadosamente defendida pelos próceres de ambos os partidos - e desprezamos qualquer outra possibilidade. Esta nossa apatia também deriva de um individualismo dissolvente que nos está na massa do sangue, e de uma inacção intelectual provocada por lavagens ao cérebro, activadas pela ausência de debates, pela univocidade das vozes de quase todos os "comentadores", e pela falta de qualidade analítica da nossa Imprensa.
A ambiguidade "ideológica" da sociedade portuguesa torna-se um quebra-cabeças para a ciência política, inabilitada para eliminar o que daí resulta: apolitismo, falta de civismo e de civilidade, indiferentismo social. Nestas circunstâncias, os "partidos de poder" (PSD e PS) dispõem de meios que lhes permitem, "democraticamente", excluir toda outra concorrência política, e conceber todos os compromissos estabelecidos com parte da sociedade, nunca com toda a sociedade.
O notório enfraquecimento das classes sociais, em Portugal, contribui, cada vez mais, para o surgimento de esquírolas de extrema-direita, cujo discurso envolve, por igual, diatribes contra o capitalismo e contra a democracia. O neoliberalismo que, na última década, tornou mais pobres os mais pobres e muitíssimo mais ricos os mais ricos, está, lentamente, a corroer a raiz das instituições democráticas, não só no domínio político, mas também no domínio industrial. E quando a extrema-direita critica a hipertrofia da economia nas sociedades modernas, a sua voz encontra eco nas faixas mais débeis e carecidas da população.
Portugal está numa situação dilemática. À crítica marxista junta-se a dos cristãos sociais, ambas preocupadas com o facto de esta permanente alternância sem alternativa condenar ao desaparecimento ou ao amolecimento interventivo organismos intermédios, capazes de enfrentar e de combater não só as obediências parlamentares como o poder omnipotente dos dois "partidos de poder".
Baptista Bastos
9 Comments:
Só vim aqui para dizer uma coisita
ou
Os nossos políticos são todos uns idênticos filhos da puta incompetentes
Era de esperar. Como aqui já foi dito, «as moscas mudaram mas a merda continuou a ser a mesma.»
É certo que este ano as condições de seca potenciavam a ocorrência de incêndios.
Não choveu praticamente desde Outubro e tudo está seco e à espera do fogo.
É certo que as pessoas negligenciam a limpeza das matas e mesmo da envolvente das suas habitações. E com isso deixam acumular material combustível que serve de rastilho fácil para os incêndios.
É certo que muitos fogos são de origem criminosa. Mas como não se mudam cabeças de um dia para o outro, devia apostar-se na prevenção.
Mas precisamente por tudo isto o governo devia ter trabalhado na prevenção e na preparação dos meios de combate logo que tomou posse.
Não foi assim…
Os senhores ministros, secretários de estado, sub-secretários de estado, sub-sub-secretários de estado e demais tachistas precisavam primeiro de sentar bem o rabo no couro das cadeiras e no veludo dos sofás e refazer a decoração dos gabinetes, escolher umas secretárias boas ou parentela para os lugares sobrantes e descansar da azáfama das nomeações.
Só foi em Fevereiro, eu sei.
Seis meses não é nada para realizar estas tarefas tão importantes, só depois se podiam abalançar a coisas mais comezinhas, como não deixar o país arder.
É assim tão difícil planear e prever?
Não temos técnicos competentes para o fazer?
Vão buscá-los então ao estrangeiro – se fazemos isso no futebol, porque não aqui?
Mas faça-se!
Planeie-se!
Adquira-se o que tem de ser adquirido e ponham-se os submarinos do Portas em banho-maria!
Construa-se uma guarda florestal que vigie e previna, e dotem-se os bombeiros do equipamento de que necessitam!
Não podemos é continuar a alicerçar o combate em voluntários, por muito boa vontade que tenham (e têm, ninguém tenha dúvidas!).
Não podemos é continuar a alicerçar o combate em meios aéreos alugados todos os anos, delapidando o dinheiro de todos nós em negociatas pouco claras.
Não podemos é continuar indiferentes à inacção e à incompetência!
Os políticos de um país deviam ser constituídos por elementos de diferentes elites que, por diversos méritos, constituíssem bons governantes, activos ou potenciais, que servissem o país e fossem recompensados justamente por isso.
Ao invés, não passam de uma escumalha onde poucos se destacam positivamente e a maior parte apenas quer encher os bolsos e beneficiar de mordomias escandalosas.
E o pior é que a classe empresarial, na sua maioria, afina pelo mesmo diapasão – ou seja, dificilmente será daí que virá a iniciativa e a competência.
Estou farto de incompetentes! Estou farto de filhos da puta!
Pronto, já disse
Até quando você vai levando porrada, porrada?
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai levando porrada, porrada?
Até quando vai ser saco de pancada?
Até quando você vai levando porrada, porrada?
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai levando porrada, porrada?
Até quando vai ser saco de pancada?
Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente
Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doeça sem cura
Na mudança de postura a gente fica mais seguro
Na mudança do presente a gente molda o futuro
Até quando você vai levando porrada?
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai ficar de saco de pancada?
Até quando você vai levando?
Gabriel, o Pensador
Qual foi o papel do PS na JFG? Nao foi um bom governo? apontem uma coisa que seja... ja o actual presidente da junta das Galveias toda a populaçao o conhece e esta rotulado como um vigarista.Alguem tem em mente o numero de herdades que o Sr. Antonio Augusto comprou desde que é presidente da Junta e meteu em nome dos pais e familiares?
Era bom que analisasem o patrimonio deste senhor e comparassem antes e depois de ser presidente. É notório....
A CDU nao passa de uma cambada de vigaristas que gostam de viver daquilo que nao é deles. Cambada de gente reles, pequeninos, e de gente má.
"Cambada de gente reles, pequeninos, e de gente má." Essa frase foi retirada do jornal que o Pinto distribuiu, com dinheiro dos contribuintes, por toda a ponte sor. Para além de socialista, se calhar é mesmo o autor da frase. Ou será que é o Pinto em pessoa que não resistiu a dar ares da sua graça neste blog??!!
Estes Xuxalistas de direita são mesmo BURROS:
Atão já se esqueceram o que fizeram quando foram poder?
Atão já se esqueceram o que faz o Pinto, o Carita, o Jordão, o Jerónimo, o Gomes, todos os dias?
Atão olhem que tem telhado de vidro em casa.
O Antonio Gomes que é da CDU é o Advogado da Junta de freguesia de Galveias e vereador da Camara Municipal de Ponte de Sor pelo PS.
O candidato do PS a galveias´era da CDU e agora concorre pelo PS.
O candidato do PS a Junta do vale de açor era da CDU.
Passa-se qualquer coisa.... parece haver um entendimento entre o PS e a CDU. Em suma o pessoal da CDU sao uns vendidos e uns troca tinta. Desde que estejam a mamar a conta do povo esta tudo bem independentemente da cor da camisola.
Portugal vive em jejum de renovação da classe política. Os líderes das últimas três décadas ou sucedem a si próprios ou então criam clones dos seus tiques. Não é só Mário Soares carregar às costas o pesado fardo de suceder sempre a si próprio. É uma questão de regime: ....
É uma questão de regime: os partidos políticos que se vão alternando como faróis do poder secam qualquer tipo de renovação que surja no horizonte. Os partidos políticos do bloco central português são os eucaliptos da nossa sociedade. A sua renovação consiste em enquadrar jovens nas suas «jotas», que depois transformam em deputados e, mais tarde, em quadros do Estado ou do sector público.
Os partidos políticos que dominam a vida política portuguesa tornaram-se fábricas que produzem dirigentes calibrados: todos aparentemente diferentes, todos rigorosamente iguais. O PS e o PSD congestionaram o Estado e a sociedade: alternam entre si o Governo e a Presidência da República.
Há quem chame a isso estabilidade. Há quem lhe possa chamar sonolência activa. É por isso que a sociedade portuguesa hibernou e tarda em despertar. Qualquer ruptura com os diferentes equilíbrios que sustentam este sistema é visto como uma ameaça e rapidamente afastada. Soares apenas simboliza uma classe política que está orgulhosamente só.
Está a chegar o dia e a hora em que se fará justiça ao CDS-PP!
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