PONTE DO SOR, UM ESPAÇO DE LIBERDADE BANHADO PELO RIO SOR
quinta-feira, 1 de setembro de 2005
PRESIDÊNCIAIS
"Eles [Mário Soares e Cavaco Silva] apenas representam, cada um à sua medida, dois mundos que já não vivem em Portugal, mas que são a única coisa disponível para vender em cartazes eleitorais"
Francisco José Viegas, "Jornal de Notícias", 1-09-2005
Primeiros 10 minutos a justificar que não é velho, 10 minutos seguintes a autoelogiar-se e a apresentar curriculo e a lembrar de novo que é um homem novo, leia-se da (extrema) esquerda. Pelo meio boutades sobre o défice, resultado (!) da crise internacional, para terminar com banalidade, atrás de banalidade, sobre a presente conjuntura. Falou de jovens mas só se veêm velhas guardas, o aparelho do PS em peso, até Carrilho, o frei Milícias, Carlos Monjardino, Dias da Cunha, Rui Moreira, Ilidio Pinho... Sem citar Cavaco, mas a pensar nele, dissertou ambiguamente sobre economia e finanças relativizando o saneamento das finanças públicas e assim secando qualquer réstia reformista que pudesse restar a Sócrates. Pouco, muito pouco.
Se descontarmos a parte em que Soares delicadamente lembrou a Sócrates que, em matéria de consolidação orçamental e financeira, o melhor mesmo é ele estar quietinho, a "declaração solene" da recandidatura não passou de um enorme bocejo. Soares percorreu todas as trivialidades e lugares-comuns que qualquer pessoa de boa-fé subscreve quando pensa na parte "ornamental" do PR. Falou do que "aprendeu" nestes últimos dez anos, cortejou os "jovens" e auto-elogiou-se em matéria de idade. A sua "ideia de e para Portugal", como ele gosta de sublinhar, não aquece nem arrefece ninguém. Soares exibiu-se para um país que vive manifestamente uma realidade bem diferente da tranquilidade colorida exibida pelo candidato. Ou então - o que é mais sério para ele - Soares recusa-se a deixar que a realidade entre na sua simpática e divertida cabeça. Em suma, esta entronização doméstica não passou do tal "ponto de chegada" a que aludi ontem. De qualquer forma, e uma vez mais, bem-vindo, Dr. Soares!
Se as próximas presidenciais se resumirem a um duelo, combate 'esquerda'/'direita' então Soares, e a esquerda, tem boas hipóteses de ganhar, até porque, apesar de Cavaco ser o candidato, as direitas andam a precisar de uma 'lição definitiva' usando as palavras do Francisco José Viegas. Já, se Cavaco colocar a eleição presidencial como um confronto entre duas formas de fazer política, entre o passado e o futuro, a realidade (porventura dura) e a ficção (delicodoce) entre a defesa de reformas e a recusa destas, Soares não terá qualquer hipótese. Goste-se ou não, há reformistas e inconformados à esquerda e à direita, há quem não se resigne em todos os quadrantes, e é a esses que Cavaco tem primordialmente de se dirigir. A candidatura não pode ser uma candidatura alienante em que há uma casta aristocrática de eleitos que periodicamente se dirige, com tédio e (in)contido desprezo, ao povo, como a de Soares, mas algo de inclusivo que faça ver às pessoas que o seu voto conta, e que sobretudo as faça voltar a acreditar na política.
Ao PS não basta um Presidente imparcial e constitucionalmente rigoroso. Necessita de um amigo em Belém.
A candidatura presidencial do dr. Soares explica-se com uma palavra: medo. Foi por medo que o PS optou pelo dr. Soares. O Governo do PS não está em condições de tolerar um Presidente da República de fora da família. Com o agravamento do IVA, traíu os seus eleitores; com o despedimento de Campos e Cunha, comprometeu-se aos olhos de quem gosta de ler as páginas de economia dos jornais; com a esfomeada invasão da CGD, renunciou a qualquer superioridade moral; e, finalmente, ao saltar para o abismo da Ota, revelou que já não tem mais ideias. Neste contexto, se o novo Presidente se lembrar de atropelar a maioria parlamentar, os líderes do PS sabem que, fora da administração da CGD, ninguém chorará por eles. Ao PS não basta um Presidente imparcial e constitucionalmente rigoroso. Necessita de um amigo, de um camarada em Belém. Por isso, não pôde arriscar-se a deixar correr um simples emblema do partido, fosse em versão lírica (Manuel Alegre), ou em versão burocrática (dr. Vitorino). Precisava de um candidato ganhador. Correu assim para o dr. Soares como quem se refugia num bunker.
A ideia do dr. Soares não é, ao contrário do que se tem dito, unir as esquerdas, mas explorar os medos da classe política. Mais do que o candidato da esquerda, o dr. Soares vai ser o candidato dos equilíbrios, cumplicidades e rotinas do regime. Sempre que alguém, durante a campanha, falar da conveniência de evitar rupturas e confrontos, estará a falar pelo dr. Soares, porque desde há muito tempo que ele representa a mais firme voz a favor de uma gestão consensualista da democracia. No dr. Soares, isso não é apenas uma teoria, mas uma prática pessoal. Alguém se surpreendeu quando, há uns meses, descobrimos que alguns dirigentes do PP se aconselhavam, nas suas manobras políticas, com o dr. Soares? São capazes de imaginar o prof. Cavaco a conspirar com o Bloco de Esquerda? É esse trunfo que o dr. Soares vai tentar jogar contra o prof. Cavaco. O dr. Soares já avisou que não quer uma batalha ideológica. Prefere uma simples comparação de personalidades. Confia que a sua descontração, previsibilidade e disposição para falar com toda a gente prevaleçam sobre a crispação, os “tabús” e a reserva do seu adversário. O prof. Cavaco governou este país durante dez anos, mas nunca se inscreveu no grémio dos políticos. Quis estar sozinho, sustentado apenas pela competência, moralismo e “popularidade”. Por isso mesmo, uma sua Presidência não incomodará apenas o PS, mas toda a classe política – incluíndo os líderes das direitas, que nenhuma garantia têm de que o prof. Cavaco será o “seu” Presidente. Um Presidente Cavaco será impossível de controlar. O dr. Soares espera que o medo dessa Presidência imprevisível o venha a beneficiar.
As razões pelas quais o prof. Cavaco pode perder são as mesmas pelas quais pode ganhar. Se o prof. Cavaco, com receio de ofender, deixar a eleição presidencial transformar-se num insípido concurso para o lugar de gestor dos consensos do regime, o “fixe” dr. Soares terá vantagem. Pelo contrário, caso o prof. Cavaco ouse assumir frontalmente a crença num reformismo democrático, em choque com o imobilismo do dr. Soares, poderá entusiasmar o eleitorado traído pelo PS e desiludido pela incapacidade dos actuais líderes políticos. A sua imagem de “outsider” prejudicá-lo-á no primeiro caso, mas jogará a seu favor no segundo. Se quiser ganhar contra o candidato do medo, o prof. Cavaco precisa de mostrar que não tem medo
Sua Majestade está de regresso e hoje permite-se receber a sua corte no Paço. Depois, no domingo, o duque de Castelo Branco e monteiro-mor do Reino, D. José Sócrates, juntará os seus vassalos para jurar fidelidade a D. Mário Soares.
Perante a corte, segundo informações antecipadas pelo ouvidor-mor Marcelo Rebelo de Sousa, e passados 10 anos de afastamento do cargo, Sua Majestade anunciará formalmente ao Povo a sua disposição para regressar ao poder tendo em vista as múltiplas manifestações de júbilo que lhe foram chegando.
Porém, segundo sopra pelos claustros do palácio, o regresso de D. Mário Soares visa impedir que a sucessão dinástica do Reino seja transferida para o poderoso duque de Boliqueime, senhor de Viseu e de vastos domínios, e até agora o preferido pelas cortes.
Neste sentido, depois de auscultar os principais feudatários, Sua Majestade terá reflectido que a manutenção do seu exílio político seria um acto prejudicial à nação e que o conde de Coimbra, D. Manuel Alegre, não tinha condições para conservar a coroa nas mãos da actual Casa-real.
Porém, o Triunfo de D. Mário Soares não está ainda garantido. A unidade das forças do duque de Castelo-Branco está pendente da resolução da humilhação do conde D. Alegre, da imprevisibilidade da atitude do bispo de Lisboa, D. Francisco Louçã, e do duque de Beja, D. Jerónimo de Sousa. Até à reunião das cortes, em Janeiro de 2006, as poderosas malhas palacianas trabalharão para acalmar as intrigas familiares.
Se poucas coisas parecem perturbar o Triunfo de D. Mário Soares, ao contrário, junto da corte de D. Cavaco Silva nota-se uma crescente ansiedade face ao mutismo do seu senhor. A notícia do regresso de Sua Majestade perturbou os planos da Casa de Viseu e desde então o duque mergulhou num estado de reflexão e de adiamento de todas as decisões, emprestando um ambiente de derrota antecipada às suas hostes.
Quem sabe porém se o sufrágio de Outubro nas dioceses não inverterá a situação.
Disse, dias atrás, o ex-ministro cavaquista Silva Peneda que as eleições presidenciais vão ser decididas «muito mais em função do passado dos candidatos do que em relação às promessas». Outras razões não houvesse, e bastaria a afirmação para ajuizar da justeza da decisão do PCP em avançar com candidato próprio. Cingíssemo-nos apenas ao passado, olhando para os candidatos ou quase candidatos que se vão perfilando, e não veríamos garantidas, aí, a presença e afirmação dos valores de esquerda e da exigência de um rumo diferente para a vida política do país. É esse papel insubstituível que só quem, como o PCP, desde sempre esteve com as principais conquistas de Abril e com a luta de resistência contra os que há mais de 28 anos as têm tentado destruir, está em condições de assumir. Não se vê aliás, conhecido o negro passado de Cavaco Silva, tanta razão de optimismo e confiança depositada nessa faceta da criatura. Descontadas os mais mediatizados momentos associados à gestão do tabu presidenciável de 1986 ou à deserção do governo e do PSD protagonizada por Cavaco Silva, o que a história passada dele guarda, é o seu papel no aprofundamento da ofensiva contra direitos e conquistas sociais — iniciada com os governos do PS, alguns dos quais presididos por Mário Soares, — e uma imagem de alguém autoritário e intolerante que os acontecimentos repressivos da ponte 25 de Abril impressivamente assinalam. Pelo que o seu passado, por mais branqueado que alguns se esforcem por apresentar, não augura coisa boa no futuro. A estratégia que Cavaco Silva terá em construção, desvendada por um matutino, no sentido de um mandato presidencial marcado por «uma atitude de vigilância constante da governação» resumível à ideia de «um homem ao leme, apesar do sistema não ser presidencialista» não deixa de ser inquietante: primeiro, por já ter sido bastante a tormenta para o país e para os portugueses resultante de uma longa e penosa década com Cavaco Silva ao «leme» dos destinos nacionais; depois, porque mais do que «vigilância sobre a governação» o que seria desejável era ver assegurado na Presidência da Republica alguém que respeite e faça cumprir (incluindo aos governos) a Constituição, em particular as principais conquistas e direitos que ainda consagra. Condição que manifestamente não preenche; e por último, mas não menos importante, porque a ideia de um certo messianismo e homem providencial que lhe vem sendo associada comporta inquietantes elementos quanto ao próprio regime democrático e ao rumo da vida política nacional.
A declaração de candidatura de Mário Soares é uma peça política excelente: mostra como se pode falar tanto, de tantas coisas importantes, sem dizer rigorosamente nada de importante sobre eles.
Após o lançamento da candidatura de Mário Soares, problemas de som à parte, uma certa elite, normalmente remunerada a peso de ouro, à custa do Orçamento, pois claro, tem repetido até à exaustão que Mário Soares é o candidato certo para acabar com a onda de pessimismo. Triste ilusão! Para acabar com a onda depressiva que existe em Portugal não basta um líder providencial. O que é necessário é falar verdade, acabar com o nepotismo, limitar os circuitos de corrupção e os grandes negócios do estado, que continuam à margem do escrutínio de tudo e de todos
Ponto da situação: Manuel Alegre recua; Mário Soares vai avançar; Jerónimo Sousa já avançou; Cavaco Silva continua a tentar passar despercebido;Louçã divulga hoje; Manuel João Vieira continua a ser o meu favorito.
«Que eu tivesse dado por isso, apenas José Sócrates, os caciques das federações socialistas e alguns cortesãos nostálgicos dos dez anos de presidência de Mário Soares se mostraram entusiasmados com tão absurdo come back. Os restantes, incluindo muitos e muitos que estiveram com ele no passado, ficaram-se, siderados por aquilo que Manuel Alegre insinuou ser apenas um capricho monárquico.»
«Anteontem, no Altis, Soares justificou a sua candidatura com a ausência de qualquer outra candidatura (da esquerda, presumo), "capaz de suscitar e mobilizar o entusiasmo dos portugueses". Alegre não concorda, mas Soares tem uma certa razão. Havia, de facto, um vazio e naturalmente ele ocupou esse vazio. O que Soares não disse, e ninguém pensou, é que ele próprio criou esse vazio. Foi fundador do PS, secretário-geral, primeiro-ministro, Presidente da República e, principalmente, durante 37 anos, foi a influência dominante na esquerda e, em larga medida, no país. No fim, não deixou nada. Com uma extraordinária persistência, conseguiu cercar e afastar toda a gente que no partido lhe parecia diminuir o seu poder. À sua volta só ficaram "lealistas" (desculpem o anglicismo) e, para Soares, "lealdade" significa uma completa abdicação pessoal a favor dele e do seu destino.»
Mário Soares em Outubro de 1980, fez birra pela candidatura de Eanes, em 1984 traíu Salgado Zenha o amigo de longa data em 2005 traiu Manuel Alegre, outro amigo, no fundo este para atingir os fins este troca tintas é capaz de tudo. Por isto e por muito mais este senhor nunca terá o meu voto. Abaixo os velhos do restelo.
"SERVIÇO PÚBLICO" Se dúvidas existissem sobre o carácter "oficioso" da recandidatura presidencial do dr. M. Soares, o programa Prós & Contras da RTP - conhecida por "serviço público de televisão" -, encarregou-se de as desfazer. O tom jubilatório e reverencial com que foi abordado esse episódio eleitoral, diz bem da natureza da coisa. Imagino, no entanto, que M. Soares não aprecie ser tratado como uma subespécie democrática do remoto e "venerando" Almirante Américo Thomaz, mesmo pelos mais insuspeitos dos seus devotos. Por outro lado, os "convidados" deram, de uma maneira geral, uma fraca imagem do que são as "elites" de opinião no nosso país. Nem sequer faltou um "delegado" dos ministros Pinho e Lino que acredita piamente no Pai Natal. E nas "autarquias", meu Deus, nas "autarquias". Em suma, o "regime" revê-se nesta sua televisão e a sua televisão revê-se no "regime". Estão muito bem uns para os outros.
Na passada semana, e pondo fim a uma dúvida que o não chegou a ser, Mário Soares anunciou formalmente a sua (re)candidatura a presidente da República.
Pessoalmente, não me surpreendeu nem essa decisão nem todo o processo que lhe esteve subjacente. Há muito que me convencera que Mário Soares seria o candidato do PS, apesar de essa minha opinião - e perdoar-me-ão os leitores a nota pessoal - ser sistematicamente recebida com condescendência, quando não mesmo com ironia, quer no meu círculo de amizades quer entre os meus colegas do mundo da política. Não creio, porém, que exista qualquer mérito especial da minha parte. É que me parece óbvio que esta candidatura é a que melhor serve, em simultâneo, os desígnios do próprio candidato e os interesses do eng. José Sócrates.
De facto, para Mário Soares a (re)candidatura representa a possibilidade do regresso àquilo que mais o motiva a posse de influência real e o exercício, em concreto, do poder. Por seu lado, José Sócrates crê assim solucionada a questão central das eleições presidenciais. Na verdade, e sabendo que muito dificilmente escapará a um significativo desaire autárquico, o secretário-geral do PS concluiu que ficaria colocado numa posição politicamente muito fragilizada caso fosse responsabilizado por uma derrota nas presidenciais. Assim, a disponibilidade de Mário Soares é, no plano táctico, a resposta para o seu problema. É que, caso Soares ganhasse, Sócrates reclamaria para si e para o PS uma parte substancial do mérito pela vitória. Já se Soares perder, o culpado será sempre ele próprio, não podendo Sócrates ser apontado por se ter limitado a apoiar o candidato natural da área socialista.
Como é óbvio, Mário Soares não contará com o meu apoio, pelo simples facto de considerar que uma sua eventual eleição seria altamente prejudicial para o nosso país. Não me revejo, porém, nas críticas mais comuns que têm sido feitas, relacionadas com a sua avançada idade ou com a sua falta de conhecimentos na área da economia e das finanças. Com efeito, entendo que tais factos, ainda que não irrelevantes, estão longe de ser determinantes.
Há, contudo, três aspectos a que atribuo especial importância.
O primeiro tem que ver com as questões suscitadas por Manuel Alegre num discurso que, no plano analítico, considero notável se o País atravessa uma crise grave, quer no domínio político, quer no plano cívico, quer no campo dos valores - uma crise que a acção do actual Governo tem agravado significativamente -, uma eventual eleição de Soares significaria, não um passo no sentido correcto mas, antes, um contributo para o agravar desse estado de coisas.
O segundo decorre da intervenção do próprio Mário Soares no acto de apresentação. Para ser simpático, só posso dizer que, das referências biográficas às argumentações justificativas, passando pela total ausência de ideias e propostas e pela repetição de lugares-comuns, se tratou de uma intervenção de uma confrangedora pobreza, comprovativo claro de que Soares nada tem hoje a acrescentar à função presidencial.
O terceiro prende-se com as declarações feitas, logo em seguida, por José Sócrates, para quem Mário Soares seria o melhor presidente da República, por se tratar de alguém que une em vez de dividir e porque, por já ter desempenhado esse cargo, dá aos Portugueses garantias sobre aquele que poderá ser o seu desempenho.
Ora, quanto à capacidade para unir, fala por si o facto de nem sequer a esquerda estar convencida, como bem o demonstra o surgimento, nesse espaço, de dois candidatos que fazem aliás questão de sublinhar que não são meras "lebres" - para recorrer à terminologia do atletismo - e que irão até ao fim da corrida.
E, quanto ao seu passado como presidente, não foi feliz o eng. Sócrates em recordá-lo, pois isso, em vez de constituir um trunfo, funciona antes como elemento dissuasor. É que os Portugueses não esquecem o que Mário Soares fez no decurso do seu segundo mandato. O modo como dificultou a acção do Governo legítimo. A forma como colocou o Palácio de Belém ao serviço de interesses sectoriais. A maneira como quis promover a mudança política, favorecendo a força partidária a que pertencia.
Porque não esquecem isso, os Portugueses, estou certo, não lhe vão dar a hipótese de tudo repetir de novo.
Às "pinguinhas", a terceira candidatura de M. Soares vai revelando "apoios". E, em cada "apoio" divulgado, pressente-se a natureza "oficiosa" da dita. Como último avatar do "regime" - no sentido de o "deixar estar como está", evitando quaisquer rupturas saudáveis para o "desinfantilizar" e "desenvolver" - a "terceira via" soarista conta naturalmente com os seus mais lídimos representantes. Não podiam, por isso, faltar à chamada o arquitecto Siza Vieira e o Nobel Saramago. Vieira, cujas qualidades profissionais não vêm ao caso, é uma espécie de Duarte Pacheco do "regime" e a maior "vaca sagrada" da arquitectura "institucional" portuguesa. A estética "oficial" dos últimos anos, "transpira" Siza por todos os poros e o "lobby" Siza manda muito no círculo de pequenas vaidades e invejas que constitui o panorama geral da arquitectura lusíada . Ou seja, Sisa é muito mais "político" do que arquitecto, ou melhor, usa, com inteligência e manha, a arquitectura como elemento "político". Seria sempre de "presença obrigatória". Com Saramago não vale a pena perder muito tempo. Apesar do execrável feitio e da insuportável soberba, o país, em 1998, comoveu-se intensamente com a frivolidade do Prémio Nobel. E o homem convenceu-se, para a eternidade, que contava. Bajulá-lo, tornou-se numa parolice trivial e ele deixar-se bajular, numa agradável massagem ao ego. Nenhuma destas duas luminárias "institucionais" acrescentam nada ao que já se conhece da aventura de M. Soares. São, como o próprio M. Soares, apenas previsíveis. Ficam eventualmente bem sentados ao pé do "boneco articulado" do "regime", o andrógino José Castelo Branco. Nada de novo, portanto.
25 Comments:
Primeiros 10 minutos a justificar que não é velho, 10 minutos seguintes a autoelogiar-se e a apresentar curriculo e a lembrar de novo que é um homem novo, leia-se da (extrema) esquerda. Pelo meio boutades sobre o défice, resultado (!) da crise internacional, para terminar com banalidade, atrás de banalidade, sobre a presente conjuntura. Falou de jovens mas só se veêm velhas guardas, o aparelho do PS em peso, até Carrilho, o frei Milícias, Carlos Monjardino, Dias da Cunha, Rui Moreira, Ilidio Pinho... Sem citar Cavaco, mas a pensar nele, dissertou ambiguamente sobre economia e finanças relativizando o saneamento das finanças públicas e assim secando qualquer réstia reformista que pudesse restar a Sócrates. Pouco, muito pouco.
Se descontarmos a parte em que Soares delicadamente lembrou a Sócrates que, em matéria de consolidação orçamental e financeira, o melhor mesmo é ele estar quietinho, a "declaração solene" da recandidatura não passou de um enorme bocejo. Soares percorreu todas as trivialidades e lugares-comuns que qualquer pessoa de boa-fé subscreve quando pensa na parte "ornamental" do PR. Falou do que "aprendeu" nestes últimos dez anos, cortejou os "jovens" e auto-elogiou-se em matéria de idade. A sua "ideia de e para Portugal", como ele gosta de sublinhar, não aquece nem arrefece ninguém. Soares exibiu-se para um país que vive manifestamente uma realidade bem diferente da tranquilidade colorida exibida pelo candidato. Ou então - o que é mais sério para ele - Soares recusa-se a deixar que a realidade entre na sua simpática e divertida cabeça. Em suma, esta entronização doméstica não passou do tal "ponto de chegada" a que aludi ontem. De qualquer forma, e uma vez mais, bem-vindo, Dr. Soares!
Soares não é fixe; Soares é FÓSSIL!! Cavaco volta, estás perdoado...
Se as próximas presidenciais se resumirem a um duelo, combate 'esquerda'/'direita' então Soares, e a esquerda, tem boas hipóteses de ganhar, até porque, apesar de Cavaco ser o candidato, as direitas andam a precisar de uma 'lição definitiva' usando as palavras do Francisco José Viegas. Já, se Cavaco colocar a eleição presidencial como um confronto entre duas formas de fazer política, entre o passado e o futuro, a realidade (porventura dura) e a ficção (delicodoce) entre a defesa de reformas e a recusa destas, Soares não terá qualquer hipótese. Goste-se ou não, há reformistas e inconformados à esquerda e à direita, há quem não se resigne em todos os quadrantes, e é a esses que Cavaco tem primordialmente de se dirigir. A candidatura não pode ser uma candidatura alienante em que há uma casta aristocrática de eleitos que periodicamente se dirige, com tédio e (in)contido desprezo, ao povo, como a de Soares, mas algo de inclusivo que faça ver às pessoas que o seu voto conta, e que sobretudo as faça voltar a acreditar na política.
Ao PS não basta um Presidente imparcial e constitucionalmente rigoroso. Necessita de um amigo em Belém.
A candidatura presidencial do dr. Soares explica-se com uma palavra: medo. Foi por medo que o PS optou pelo dr. Soares. O Governo do PS não está em condições de tolerar um Presidente da República de fora da família. Com o agravamento do IVA, traíu os seus eleitores; com o despedimento de Campos e Cunha, comprometeu-se aos olhos de quem gosta de ler as páginas de economia dos jornais; com a esfomeada invasão da CGD, renunciou a qualquer superioridade moral; e, finalmente, ao saltar para o abismo da Ota, revelou que já não tem mais ideias. Neste contexto, se o novo Presidente se lembrar de atropelar a maioria parlamentar, os líderes do PS sabem que, fora da administração da CGD, ninguém chorará por eles. Ao PS não basta um Presidente imparcial e constitucionalmente rigoroso. Necessita de um amigo, de um camarada em Belém. Por isso, não pôde arriscar-se a deixar correr um simples emblema do partido, fosse em versão lírica (Manuel Alegre), ou em versão burocrática (dr. Vitorino). Precisava de um candidato ganhador. Correu assim para o dr. Soares como quem se refugia num bunker.
A ideia do dr. Soares não é, ao contrário do que se tem dito, unir as esquerdas, mas explorar os medos da classe política. Mais do que o candidato da esquerda, o dr. Soares vai ser o candidato dos equilíbrios, cumplicidades e rotinas do regime. Sempre que alguém, durante a campanha, falar da conveniência de evitar rupturas e confrontos, estará a falar pelo dr. Soares, porque desde há muito tempo que ele representa a mais firme voz a favor de uma gestão consensualista da democracia. No dr. Soares, isso não é apenas uma teoria, mas uma prática pessoal. Alguém se surpreendeu quando, há uns meses, descobrimos que alguns dirigentes do PP se aconselhavam, nas suas manobras políticas, com o dr. Soares? São capazes de imaginar o prof. Cavaco a conspirar com o Bloco de Esquerda?
É esse trunfo que o dr. Soares vai tentar jogar contra o prof. Cavaco. O dr. Soares já avisou que não quer uma batalha ideológica. Prefere uma simples comparação de personalidades. Confia que a sua descontração, previsibilidade e disposição para falar com toda a gente prevaleçam sobre a crispação, os “tabús” e a reserva do seu adversário. O prof. Cavaco governou este país durante dez anos, mas nunca se inscreveu no grémio dos políticos. Quis estar sozinho, sustentado apenas pela competência, moralismo e “popularidade”. Por isso mesmo, uma sua Presidência não incomodará apenas o PS, mas toda a classe política – incluíndo os líderes das direitas, que nenhuma garantia têm de que o prof. Cavaco será o “seu” Presidente. Um Presidente Cavaco será impossível de controlar. O dr. Soares espera que o medo dessa Presidência imprevisível o venha a beneficiar.
As razões pelas quais o prof. Cavaco pode perder são as mesmas pelas quais pode ganhar. Se o prof. Cavaco, com receio de ofender, deixar a eleição presidencial transformar-se num insípido concurso para o lugar de gestor dos consensos do regime, o “fixe” dr. Soares terá vantagem. Pelo contrário, caso o prof. Cavaco ouse assumir frontalmente a crença num reformismo democrático, em choque com o imobilismo do dr. Soares, poderá entusiasmar o eleitorado traído pelo PS e desiludido pela incapacidade dos actuais líderes políticos. A sua imagem de “outsider” prejudicá-lo-á no primeiro caso, mas jogará a seu favor no segundo. Se quiser ganhar contra o candidato do medo, o prof. Cavaco precisa de mostrar que não tem medo
El-rei D. Mário Soares
Sua Majestade está de regresso e hoje permite-se receber a sua corte no Paço. Depois, no domingo, o duque de Castelo Branco e monteiro-mor do Reino, D. José Sócrates, juntará os seus vassalos para jurar fidelidade a D. Mário Soares.
Perante a corte, segundo informações antecipadas pelo ouvidor-mor Marcelo Rebelo de Sousa, e passados 10 anos de afastamento do cargo, Sua Majestade anunciará formalmente ao Povo a sua disposição para regressar ao poder tendo em vista as múltiplas manifestações de júbilo que lhe foram chegando.
Porém, segundo sopra pelos claustros do palácio, o regresso de D. Mário Soares visa impedir que a sucessão dinástica do Reino seja transferida para o poderoso duque de Boliqueime, senhor de Viseu e de vastos domínios, e até agora o preferido pelas cortes.
Neste sentido, depois de auscultar os principais feudatários, Sua Majestade terá reflectido que a manutenção do seu exílio político seria um acto prejudicial à nação e que o conde de Coimbra, D. Manuel Alegre, não tinha condições para conservar a coroa nas mãos da actual Casa-real.
Porém, o Triunfo de D. Mário Soares não está ainda garantido. A unidade das forças do duque de Castelo-Branco está pendente da resolução da humilhação do conde D. Alegre, da imprevisibilidade da atitude do bispo de Lisboa, D. Francisco Louçã, e do duque de Beja, D. Jerónimo de Sousa. Até à reunião das cortes, em Janeiro de 2006, as poderosas malhas palacianas trabalharão para acalmar as intrigas familiares.
Se poucas coisas parecem perturbar o Triunfo de D. Mário Soares, ao contrário, junto da corte de D. Cavaco Silva nota-se uma crescente ansiedade face ao mutismo do seu senhor. A notícia do regresso de Sua Majestade perturbou os planos da Casa de Viseu e desde então o duque mergulhou num estado de reflexão e de adiamento de todas as decisões, emprestando um ambiente de derrota antecipada às suas hostes.
Quem sabe porém se o sufrágio de Outubro nas dioceses não inverterá a situação.
VIVA «EL-REI»!
MAIS UMA VEZ CÁ ESTOU PARA O DEFENDER E VOTAR NELE!
A República foi instaurada para acabar com a triste monarquia.
ABAIXO O REI!!!
VIVA A REPÚBLICA!!!
hÁ QUEM SÓ VEJA O QUE QUER!
AMIGO VIU AS ASPAS?
ESTAMOS DE ACORDO!
O regresso do «homem do leme»
Disse, dias atrás, o ex-ministro cavaquista Silva Peneda que as eleições presidenciais vão ser decididas «muito mais em função do passado dos candidatos do que em relação às promessas». Outras razões não houvesse, e bastaria a afirmação para ajuizar da justeza da decisão do PCP em avançar com candidato próprio. Cingíssemo-nos apenas ao passado, olhando para os candidatos ou quase candidatos que se vão perfilando, e não veríamos garantidas, aí, a presença e afirmação dos valores de esquerda e da exigência de um rumo diferente para a vida política do país. É esse papel insubstituível que só quem, como o PCP, desde sempre esteve com as principais conquistas de Abril e com a luta de resistência contra os que há mais de 28 anos as têm tentado destruir, está em condições de assumir. Não se vê aliás, conhecido o negro passado de Cavaco Silva, tanta razão de optimismo e confiança depositada nessa faceta da criatura. Descontadas os mais mediatizados momentos associados à gestão do tabu presidenciável de 1986 ou à deserção do governo e do PSD protagonizada por Cavaco Silva, o que a história passada dele guarda, é o seu papel no aprofundamento da ofensiva contra direitos e conquistas sociais — iniciada com os governos do PS, alguns dos quais presididos por Mário Soares, — e uma imagem de alguém autoritário e intolerante que os acontecimentos repressivos da ponte 25 de Abril impressivamente assinalam.
Pelo que o seu passado, por mais branqueado que alguns se esforcem por apresentar, não augura coisa boa no futuro. A estratégia que Cavaco Silva terá em construção, desvendada por um matutino, no sentido de um mandato presidencial marcado por «uma atitude de vigilância constante da governação» resumível à ideia de «um homem ao leme, apesar do sistema não ser presidencialista» não deixa de ser inquietante: primeiro, por já ter sido bastante a tormenta para o país e para os portugueses resultante de uma longa e penosa década com Cavaco Silva ao «leme» dos destinos nacionais; depois, porque mais do que «vigilância sobre a governação» o que seria desejável era ver assegurado na Presidência da Republica alguém que respeite e faça cumprir (incluindo aos governos) a Constituição, em particular as principais conquistas e direitos que ainda consagra. Condição que manifestamente não preenche; e por último, mas não menos importante, porque a ideia de um certo messianismo e homem providencial que lhe vem sendo associada comporta inquietantes elementos quanto ao próprio regime democrático e ao rumo da vida política nacional.
A declaração de candidatura de Mário Soares é uma peça política excelente: mostra como se pode falar tanto, de tantas coisas importantes, sem dizer rigorosamente nada de importante sobre eles.
Inês Serra Lopes
Após o lançamento da candidatura de Mário Soares, problemas de som à parte, uma certa elite, normalmente remunerada a peso de ouro, à custa do Orçamento, pois claro, tem repetido até à exaustão que Mário Soares é o candidato certo para acabar com a onda de pessimismo.
Triste ilusão! Para acabar com a onda depressiva que existe em Portugal não basta um líder providencial. O que é necessário é falar verdade, acabar com o nepotismo, limitar os circuitos de corrupção e os grandes negócios do estado, que continuam à margem do escrutínio de tudo e de todos
Líder providencial foi o que chamaram a Salazar em 1928...
Ponto da situação: Manuel Alegre recua; Mário Soares vai avançar; Jerónimo Sousa já avançou; Cavaco Silva continua a tentar passar despercebido;Louçã divulga hoje; Manuel João Vieira continua a ser o meu favorito.
«Que eu tivesse dado por isso, apenas José Sócrates, os caciques das federações socialistas e alguns cortesãos nostálgicos dos dez anos de presidência de Mário Soares se mostraram entusiasmados com tão absurdo come back. Os restantes, incluindo muitos e muitos que estiveram com ele no passado, ficaram-se, siderados por aquilo que Manuel Alegre insinuou ser apenas um capricho monárquico.»
Miguel Sousa Tavares
Público de ontem
«Anteontem, no Altis, Soares justificou a sua candidatura com a ausência de qualquer outra candidatura (da esquerda, presumo), "capaz de suscitar e mobilizar o entusiasmo dos portugueses". Alegre não concorda, mas Soares tem uma certa razão. Havia, de facto, um vazio e naturalmente ele ocupou esse vazio. O que Soares não disse, e ninguém pensou, é que ele próprio criou esse vazio. Foi fundador do PS, secretário-geral, primeiro-ministro, Presidente da República e, principalmente, durante 37 anos, foi a influência dominante na esquerda e, em larga medida, no país. No fim, não deixou nada. Com uma extraordinária persistência, conseguiu cercar e afastar toda a gente que no partido lhe parecia diminuir o seu poder. À sua volta só ficaram "lealistas" (desculpem o anglicismo) e, para Soares, "lealdade" significa uma completa abdicação pessoal a favor dele e do seu destino.»
Vasco Pulido Valente
PÚBLICO de Ontem
O que o VPV, não disse:
Do lado de Mário Soares só estão os YES MAN DO PS.
Foram eles todos que estiveram no Altis a bater palmas ao "Rei"
vai por aqui um DESESPERO!
SÃO OPINIÕES DE PESSOAS ISOLADAS NAS SUAS TORRES DE MARFIM.
Nunca votei Soares, nunca vou votar.
Mário Soares em Outubro de 1980, fez birra pela candidatura de Eanes, em 1984 traíu Salgado Zenha o amigo de longa data em 2005 traiu Manuel Alegre, outro amigo, no fundo este para atingir os fins este troca tintas é capaz de tudo.
Por isto e por muito mais este senhor nunca terá o meu voto.
Abaixo os velhos do restelo.
vai aqui um desespero!
Não foi este Soares que é o responsável pela exemplar descolonização?
Não foi este Mário Soares que colocou o Socialismo na gaveta?
Não foi este Soares que fez birra com Ramalho Eanes?
Não foi este Mário Soares que fez birra com Cavaco Silva?
Não foi este Soares que afirmou em relação a Cavaco ..." se a campanha tivesse mais uma semana o Professor Cavaco ganhava a eleições..."?
"SERVIÇO PÚBLICO"
Se dúvidas existissem sobre o carácter "oficioso" da recandidatura presidencial do dr. M. Soares, o programa Prós & Contras da RTP - conhecida por "serviço público de televisão" -, encarregou-se de as desfazer. O tom jubilatório e reverencial com que foi abordado esse episódio eleitoral, diz bem da natureza da coisa. Imagino, no entanto, que M. Soares não aprecie ser tratado como uma subespécie democrática do remoto e "venerando" Almirante Américo Thomaz, mesmo pelos mais insuspeitos dos seus devotos. Por outro lado, os "convidados" deram, de uma maneira geral, uma fraca imagem do que são as "elites" de opinião no nosso país. Nem sequer faltou um "delegado" dos ministros Pinho e Lino que acredita piamente no Pai Natal. E nas "autarquias", meu Deus, nas "autarquias". Em suma, o "regime" revê-se nesta sua televisão e a sua televisão revê-se no "regime". Estão muito bem uns para os outros.
SOARES? NÃO, OBRIGADO!
Na passada semana, e pondo fim a uma dúvida que o não chegou a ser, Mário Soares anunciou formalmente a sua (re)candidatura a presidente da República.
Pessoalmente, não me surpreendeu nem essa decisão nem todo o processo que lhe esteve subjacente. Há muito que me convencera que Mário Soares seria o candidato do PS, apesar de essa minha opinião - e perdoar-me-ão os leitores a nota pessoal - ser sistematicamente recebida com condescendência, quando não mesmo com ironia, quer no meu círculo de amizades quer entre os meus colegas do mundo da política. Não creio, porém, que exista qualquer mérito especial da minha parte. É que me parece óbvio que esta candidatura é a que melhor serve, em simultâneo, os desígnios do próprio candidato e os interesses do eng. José Sócrates.
De facto, para Mário Soares a (re)candidatura representa a possibilidade do regresso àquilo que mais o motiva a posse de influência real e o exercício, em concreto, do poder. Por seu lado, José Sócrates crê assim solucionada a questão central das eleições presidenciais. Na verdade, e sabendo que muito dificilmente escapará a um significativo desaire autárquico, o secretário-geral do PS concluiu que ficaria colocado numa posição politicamente muito fragilizada caso fosse responsabilizado por uma derrota nas presidenciais. Assim, a disponibilidade de Mário Soares é, no plano táctico, a resposta para o seu problema. É que, caso Soares ganhasse, Sócrates reclamaria para si e para o PS uma parte substancial do mérito pela vitória. Já se Soares perder, o culpado será sempre ele próprio, não podendo Sócrates ser apontado por se ter limitado a apoiar o candidato natural da área socialista.
Como é óbvio, Mário Soares não contará com o meu apoio, pelo simples facto de considerar que uma sua eventual eleição seria altamente prejudicial para o nosso país. Não me revejo, porém, nas críticas mais comuns que têm sido feitas, relacionadas com a sua avançada idade ou com a sua falta de conhecimentos na área da economia e das finanças. Com efeito, entendo que tais factos, ainda que não irrelevantes, estão longe de ser determinantes.
Há, contudo, três aspectos a que atribuo especial importância.
O primeiro tem que ver com as questões suscitadas por Manuel Alegre num discurso que, no plano analítico, considero notável se o País atravessa uma crise grave, quer no domínio político, quer no plano cívico, quer no campo dos valores - uma crise que a acção do actual Governo tem agravado significativamente -, uma eventual eleição de Soares significaria, não um passo no sentido correcto mas, antes, um contributo para o agravar desse estado de coisas.
O segundo decorre da intervenção do próprio Mário Soares no acto de apresentação. Para ser simpático, só posso dizer que, das referências biográficas às argumentações justificativas, passando pela total ausência de ideias e propostas e pela repetição de lugares-comuns, se tratou de uma intervenção de uma confrangedora pobreza, comprovativo claro de que Soares nada tem hoje a acrescentar à função presidencial.
O terceiro prende-se com as declarações feitas, logo em seguida, por José Sócrates, para quem Mário Soares seria o melhor presidente da República, por se tratar de alguém que une em vez de dividir e porque, por já ter desempenhado esse cargo, dá aos Portugueses garantias sobre aquele que poderá ser o seu desempenho.
Ora, quanto à capacidade para unir, fala por si o facto de nem sequer a esquerda estar convencida, como bem o demonstra o surgimento, nesse espaço, de dois candidatos que fazem aliás questão de sublinhar que não são meras "lebres" - para recorrer à terminologia do atletismo - e que irão até ao fim da corrida.
E, quanto ao seu passado como presidente, não foi feliz o eng. Sócrates em recordá-lo, pois isso, em vez de constituir um trunfo, funciona antes como elemento dissuasor. É que os Portugueses não esquecem o que Mário Soares fez no decurso do seu segundo mandato. O modo como dificultou a acção do Governo legítimo. A forma como colocou o Palácio de Belém ao serviço de interesses sectoriais. A maneira como quis promover a mudança política, favorecendo a força partidária a que pertencia.
Porque não esquecem isso, os Portugueses, estou certo, não lhe vão dar a hipótese de tudo repetir de novo.
Nada de novo
Às "pinguinhas", a terceira candidatura de M. Soares vai revelando "apoios". E, em cada "apoio" divulgado, pressente-se a natureza "oficiosa" da dita. Como último avatar do "regime" - no sentido de o "deixar estar como está", evitando quaisquer rupturas saudáveis para o "desinfantilizar" e "desenvolver" - a "terceira via" soarista conta naturalmente com os seus mais lídimos representantes. Não podiam, por isso, faltar à chamada o arquitecto Siza Vieira e o Nobel Saramago. Vieira, cujas qualidades profissionais não vêm ao caso, é uma espécie de Duarte Pacheco do "regime" e a maior "vaca sagrada" da arquitectura "institucional" portuguesa. A estética "oficial" dos últimos anos, "transpira" Siza por todos os poros e o "lobby" Siza manda muito no círculo de pequenas vaidades e invejas que constitui o panorama geral da arquitectura lusíada . Ou seja, Sisa é muito mais "político" do que arquitecto, ou melhor, usa, com inteligência e manha, a arquitectura como elemento "político". Seria sempre de "presença obrigatória". Com Saramago não vale a pena perder muito tempo. Apesar do execrável feitio e da insuportável soberba, o país, em 1998, comoveu-se intensamente com a frivolidade do Prémio Nobel. E o homem convenceu-se, para a eternidade, que contava. Bajulá-lo, tornou-se numa parolice trivial e ele deixar-se bajular, numa agradável massagem ao ego. Nenhuma destas duas luminárias "institucionais" acrescentam nada ao que já se conhece da aventura de M. Soares. São, como o próprio M. Soares, apenas previsíveis. Ficam eventualmente bem sentados ao pé do "boneco articulado" do "regime", o andrógino José Castelo Branco. Nada de novo, portanto.
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