OPINIÃO
O MANIFESTO MISTERIOSO
O manifesto de Cavaco não se percebe bem. E não se percebe bem porque pode ser tudo e, com a mesma facilidade, pode, evidentemente, não ser nada.
Às vezes, por exemplo, parece uma redacção. As minhas ambições para Portugal, de Ronaldo Silva, 18 anos, Alcântara, Lisboa:
Eu gosto muito de Portugal.
O meu pai diz que Portugal é um país da merda.
Eu gosto muito de Portugal.
Eu gostava muito que os ladrões dos políticos não roubassem.
Eu gostava muito que o meu pai fosse rico e a minha tia Sandra arranjasse emprego e eu ir ao Brasil.
Eu gostava muito de não faltar à escola e ter boas notas e depois ganhar muito dinheiro para ir ao Brasil.
Eu gosto muito de Portugal.
O meu pai diz que está lixado.
Eu gostava que não houvesse pobrezinhos.
Eu gosto muito de Portugal.
Se não for uma redacção, o manifesto talvez seja um Dicionário de Lugares-Comuns para Candidatos com Ambições para Portugal, da editora Sampaio e Companhia (sede em Belém).
Se não for uma redacção, o manifesto talvez seja um Dicionário de Lugares-Comuns para Candidatos com Ambições para Portugal, da editora Sampaio e Companhia (sede em Belém).
Há grande escolha: credibilizar o Estado; seriedade, honestidade e transparência da vida política; pleno exercício dos direitos, liberdades e garantias; participação cívica; consolidação orçamental para reforço da competitividade e do desenvolvimento; qualificação dos recursos humanos; sociedade mais justa e solidária; sistema de segurança social financeiramente sustentável; aposta forte na qualidade do ensino superior; tradicional repúdio pelo racismo e xenofobia, etc., etc., etc...
O dicionário fornece a qualquer ambicioso para Portugal 20 mil entradas, garantindo que não significam absolutamente nada e servem para qualquer ocasião.
O dicionário inclui ainda um pequeno suplemento de adjectivos de comprovado êxito - como exigente, competente, eficiente, rigoroso, livre, responsável, plural, prioritário e por aí fora - para polvilhar apropriadamente a prosa. E, finalmente, expressões de uma rara elevação teórica e literária como "a vizinha Espanha", "neste início do século XXI" e "não me pouparei a esforços".
Não sendo nem uma redacção, nem um dicionário, o manifesto só pode ser uma asneira. Passa por um programa de governo, promete a Lua, acicata a esperança de um milagre para o dia em que o dr. Cavaco subir gloriosamente aos céus. No fundo, agrava o pior problema do presuntivo Presidente Cavaco: a desilusão e a fúria do país quando constatar que ele não mudou, nem consegue mudar, coisa nenhuma. Tretas de agora, penas de amanhã. O manifesto é um mistério
Vasco Pulido Valente
Não sendo nem uma redacção, nem um dicionário, o manifesto só pode ser uma asneira. Passa por um programa de governo, promete a Lua, acicata a esperança de um milagre para o dia em que o dr. Cavaco subir gloriosamente aos céus. No fundo, agrava o pior problema do presuntivo Presidente Cavaco: a desilusão e a fúria do país quando constatar que ele não mudou, nem consegue mudar, coisa nenhuma. Tretas de agora, penas de amanhã. O manifesto é um mistério
Vasco Pulido Valente
9 Comments:
Parece que para C. Silva e para M. Soares o maior problema do País também é o déficit e não, neste mesmo ponto, a fuga aos impostos.
Também concordo que a actividade política é das mais nobres, mas,se não for para resolver os problemas e melhorar a vida, tanto a nível concelhio como nacional, de pouco vale. Quem não se recorda dos tiques autoritários de Cavaco? Ora, a liberdade é um bem precioso. E, nem ele, nem nós nem Soares mudamos...
Não é nada justo, nem corajoso nem inteligente que se combata o déficit à custa da classe média e agora já até de pequenos reformados. Mas,se bem que Soares seja mais "liberal", nem ele nem Cavaco são contra isto. Se calhar Deus quer é que vá votar J. de Sousa. E, o que precisamos é de um novo D. João IV, que era rico mas pôs a fortuna ao serviço da independência e do bem estar de Portugal!
E ESTA?
«Pensões Mário Soares uma, Cavaco Silva três
Em termos de pensões, bem se pode dizer que Cavaco Silva bate Mário Soares por três a um, de acordo com os dados fornecidos pelas duas candidaturas presidenciais. A polémica já estalou, em torno da pensão que Cavaco Silva recebe do erário público por ter sido durante dez anos primeiro-ministro (entre 1985 e 1995). Soares trouxe o caso à baila, não para criticar o facto de Cavaco auferir a pensão, mas antes para desmontar o argumento do próprio Cavaco, que diz não pertencer à classe política.
O Estatuto Remuneratório dos Titulares de Cargos Políticos foi alterado recentemente (e, por exemplo, o regime para os autarcas continua a gerar polémica) na Assembleia da República. E, em nome do fim das 'regalias injustificadas', decidiu-se acabar, entre outras regalias, com as pensões vitalícias que eram atribuídas aos ex-primeiros-ministros - a pensão apenas se mantém para os ex-presidentes da República.
Mas a lei não é retroactiva e ambos os candidatos podem continuar livremente a receber as suas pensões.
Segundo dados fornecidos pela candidatura de Mário Soares, este abdicou de uma das pensões, por ter sido advogado, limitando-se a receber aquela a que tem direito por ter sido chefe de Estado. E que corresponde a 80 por cento do vencimento do Presidente da República (ou seja, a cerca de 5600 euros).
Quanto a Cavaco Silva, e segundo o que já foi noticiado, recebe três pensões, num total de 9356 euros mensais. Uma por ter sido funcionário do Banco de Portugal, uma outra paga através da Caixa Geral de Aposentações por ter sido professor catedrático de Economia na Universidade Nova de Lisboa. E uma terceira, ainda, pelo facto de ter chefiado o Governo durante uma década. Esta subvenção, segundo Cavaco, é no valor de 2876 euros líquidos por mês.
M.S.»
Há grandes tachos?
É por estas e por outras que Cavaco não é problema/solução. Como o não é Belmiro, o Soares dos negócios.
Afonso
A ARCA DE NOÉ
O país precisa de ser salvo, é necessário escolher os melhores entre os espécimes representativos, a arca tem que representar a nação, tem que ser capaz navegar com rapidez e precisão. E para uma arca de tão grande calado temos um timoneiro, o homem do leme, Cavaco Silva.
É uma arca nacional onde o timoneiro teve tanto cuidado a recolher espécimes de tantas variedades que até recolheu bicharada que todos julgávamos extinta, até lá está o PRD de Eanes mais o seu pequeno zoo privativo. Há espécies da direita, da esquerda e do centro, os da extrema-direita vão no porão, para que não emporcalhem o convéns, e os das extrema esquerda, a crer nas sondagens, só embarcarão quando a arca contornar o cabo das Tormentas.
Há os cavaquistas de sempre, discretos PSDs e CDSs, soaristas arrependidos, militares de Abril e de todos os outros meses, eanistas, santanistas, barrosistas, há de tudo um pouco, escolhidos com o devido cuidado, com o cartão das vacinas em dia e com autorização para embarcar.
E o manifesto da carga está a condizer com a mesma, a embarcação promete navegar para trás e para a frente, para a direita e para a esquerda, fazer o quatro e voltar ao centro.
É a arca de Noé transformada em arca nacional, com o homem do leme no seu comando, com o grumete Loureiro a seu lado, e mais a Dona Maria na gávea mais alta, em busca das terras da Europa rica, de onde em tempos veio o cacau tão ciosamente transformado em alcatrão, Mercedes e depósitos em off-shores.
Retóricas
Já se percebeu que os argumentos do passado para legitimar uma candidatura presidencial funcionam contra quem insiste em invocá-los. É sobretudo isso que ameaça comprometer irremediavelmente a passagem de Mário Soares à segunda volta, no caso de Cavaco não ganhar logo à primeira. E que o sujeita, mas também ao PS, à humilhação de ficar atrás de Manuel Alegre.
Se nunca foram evidentes as razões que levaram Soares a recandidatar- -se à presidência, tentando um remake anacrónico da sua passagem por Belém, o equívoco tornou-se agora indisfarçável. Entre o desejo secreto de Soares, os cálculos tortuosos do PS, as ilusões alimentadas pela orfandade da velha corte soarista e dos conversos provenientes da candidatura de Zenha e do eanismo, criou-se uma rede de cumplicidades sem outro cimento que o da nostalgia de um tempo irrepetível. Um tempo fora do tempo e onde, forçosamente, a nostalgia já não é o que era.
Da nostalgia antifascista resta hoje um cerimonial kitsch em que a legitimidade presidencial continua a ser encarada como um monopólio exclusivo da esquerda. Desse ponto de vista, só a esquerda asseguraria a normalidade democrática e a estabilidade das instituições, património ameaçado pela eleição de um Presidente de direita ou sem galardões lustrosos de antifascismo. Ora, o esgotamento desta retórica passadista não só favorece o campo que se propõe combater como lhe concede o privilégio de não correr quaisquer riscos na batalha. Daí, também, o unanimismo indigesto que rodeia a candidatura de Cavaco (e que roça por vezes a indecência), dispensando-o de ousadias que soem de forma menos maviosa aos ouvidos dos que o escutam em êxtase. E quando o director de um jornal de referência, onde seria suposto vigorar ainda algum espírito crítico e de imparcialidade editorial, saúda o "Cavaco Vintage 2005", é de temer o efeito da embriaguez.
Vicente Jorge Silva
D.N.
parabéns amigo da ponte, por nos permitires refrescar a memória...
Querem branquear Cavaco, o moralista do sistema que mais se tem aproveitado dele...sem se expôr e manipulando a opinião pública.
Um ponto prévio: nestas eleições não pode estar em causa a substituição do regime parlamentar pelo sistema presidencial. Escreveu-se isso mesmo aqui em Julho, dizendo, ainda assim, que era mais provável Soares não resistir à pulsão da dissolução num Governo de Marques Mendes do que Cavaco repetir o disparate de Sampaio num Governo de José Sócrates.
Isto dito, é fundamental lembrar que estas eleições são importantes: e são-no na medida em que é decisivo que os candidatos coloquem na agenda temas verdadeiramente relevantes. Quais? Aqueles que só um presidente pode dinamizar. Em vez de banalidades sobre o Estado social e a necessidade de mais educação, o próximo Presidente da República deveria ser o homem das conversas desagradáveis.
E era bom que um dos candidatos assumisse esse papel. No limite, poderia mesmo tentar ilustrar como seria uma semana de trabalho depois de ocupar o Palácio de Belém.
Aos domingos, lembraria ao país que, sem quebra de mais direitos adquiridos, não sairá da crise.
Na segunda, daria um ano ao procurador geral da República (isto depois de uma longa conversa com o ministro da Justiça) para reformar o sistema judicial – e diria logo ali que as corporações estavam proibidas de sair à rua.
Na terça, sublinharia as virtudes do modelo social europeu, e, em nome da sua preservação, apresentaria um Grupo de Trabalho que, num ano, entregaria um modelo de reforma do Estado Providência nacional – incluindo nele primeiro-ministro e ministro da Segurança Social.
Na quarta, apareceria com um grupo de constitucionalistas (ao lado do primeiro-ministro, claro) que iria dar início à reforma da Constituição da República Portuguesa, de forma a flexibilizar o seu articulado e, sobretudo, a suavizar os seus excessos ideológicos.
Na quinta, juntamente com o ministro da Economia e dos Negócios Estrangeiros, divulgaria o seu plano de viagens, cada uma delas feita de acordo com as necessidades de crescimento económico do país.
Na sexta, de sorriso na cara, falaria na necessidade de fechar hospitais e escolas, explicando como isso tornaria melhor a vida de todos no médio prazo. Finalmente, no sábado, poderia até dar-se ao luxo de descansar. Nenhum português sério deveria temer um Presidente assim. Se o fizer, não está a recear o excesso de poder, está a dizer não a um Presidente que presida.
Portugal poderá tornar-se um país diferente depois das próximas presidenciais?
Ou continuará a ser um destino turístico de acolhimento de todos os desalentos?
Muitos dilemas se colocam ao país neste momento e quase todos eles são o eco de gritos de renovação que nunca foram cumpridos.
País de descobridores, Portugal nunca descobriu um destino consensual para si.
Sempre saltou como os cangurus, de megalomania em delírio existencial.
O seu tecido educacional, cultural, político ou social nunca se consolidaram.
A generalidade das suas melhores elites foram afastadas.
As outras fecharam-se na sua concha de poder de clube privado. Continuamos amarrados à Europa e reféns de uma incapacidade total de, em vez de criarmos mais elefantes brancos, percebermos o que pode ser a alavanca da nação. Que queremos produzir em que sejamos tão bons ou melhores do que os outros?
Que queremos reformar no labirinto de benefícios sem fim de certas corporações?
Que país, no fundo, queremos construir?
As presidenciais podem ajudar a semear essas questões.
Mas, depois, é preciso que, como é típico em Portugal, ninguém se esqueça de colher as melhores respostas que nascerão durante estes mese
Quem não conhece o Vasco Pulido Valente que leve a sério as suas palavras azedas (alguém já o viu ser simpático para alguém?).
É um velhote rezingão.
Um zangado com a vida que o atraiçoou.
Foi abandonado pela Maria Filomena Mónica e mais não sei quantas mulheres.
Tem andado doente com uma patologia crónica incurável, julgo.
Foi deputado, ainda que pouco tempo, nos governos do Prof Cavaco Silva, mas lava as mãos da responsabilidade que teve.
Enfim, quem não o conhece que o leve a sério.
É patético.
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