segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

MÁFIA


Mudam-se os tempos...


Volta e meia a agenda comunicacional do jet-(in)formativo manda cá para fora umas notícias que os juízes também reconhecem.
Os visados são, naturalmente, alguns políticos de palmo e meio que se portam mal com o fisco, com a plebe, enriquecem fácil e rapidamente, intrigam no partido, frustram as expectativas de alguns poderosos ou, simplesmente, marginalizam os restantes invejosos que, dentro do mesmo partido, vigiam e querem trucidar os que já lá estão, e só aguardam uma oportunidade para os liquidar, mesmo que para isso tenham de recorrer ao boato, à denúncia, à chantagem ou até à ameaça, uma vez que a extorsão agora caiu em desuso...


•Por isso a política-partidária sempre me meteu nojo em Portugal, e, agora, mais do que nunca, tais são os cromos sabujos que preenchem os lugares de direcção e de responsabilidade nessas esferas.
Na prática, são os mais incompetentes que sobem, pois são os únicos que têm paciência para esperar anos a fio, e os únicos que também se submeteram às múltiplas humilhações que o contexto exige.
Começa-se nas associações de estudantes, segue-se para as jotas - e aí os burros perpetuam-se, e levam 7, 8 anos para concluir uma miserável licenciatura.
Depois o destino e o cunhismo instituído encarrega-se sabiamente de os remeter para o Parlamento nacional ou para a Europa, ou ainda para alguma assessoria nalgum gabinete autárquico, regional ou ministrial...
Cavaco, conhecendo toda essa lenga-lenga põe à margem toda essa tropa-fandanga que ele conhece à distância, e se aproxima dele como os parasitas das lombadas dos Búfalos no Parque Nacional da Gorongosa, para esmifrar o sangue aos quadrúpedes que pastam mansamente, antes que os leões voltem a atacar e façam outra carcaça, depois plantada na paisagem..


•Mas o ângulo que aqui avalio é, agora, outro: pois enquanto que em Portugal os crimes de colarinho branco, praticados à sombra de poderes e de funções políticas, parlamentares ou outras no domínio público - são, primeiro, ventilados na imprensa e depois (para dar hipótese ao arguido em estruturar a defesa ou até zarpar do país, se for o caso..), pouco tempo depois, esquecidas pela opinião pública; ora, na América do séc. XX a coisa seguia outro trajecto nos caminhos da máfia.

•Recordo que Al Capone, - o homem que se gabou de ser o manda-chuva da polícia, dos caminhos-de-ferro e das escolas de condução que então despontavam na República-Imperial (um título que o general Lourenço dos Santos roubou a Raymond Aron) - se confrontava com os agentes governamentais que o queriam prender por fuga ao fisco e outros crimes fiscais menores...
Sucede, porém, que a preocupação de Capone não foi com o Estado norte-americano nem com os seus agentes que o queriam prender, mas sim com três colaboradores que ele considerou serem desleais à "família" - e que poderiam conduzir ao seu derrube.


•Foi então que Capone teve a gentileza de convidar esses três colaboradores para sua casa. Pois a tradição siciliana exigia sempre hospitalidade antes da execução. E Capone ofereceu um belo jantar a esses três cavalheiros, que acharam a refeição soberba.
Logo depois, esses três colaboradores foram espancados, e mais tarde o médico legista relatou que esses corpos tinham contusões por todo o corpo, não havendo uma única parte do corpo que não tivesse um osso partido.
Tudo isto, claro, antes de serem abatidos com um tiro na nuca.

•Estes eram os métodos que Capone utilizava para com os "seus rapazes", quando entendia que eles eram desleais à causa.
Hoje, interrogo-me cheio de medo, encostando a um canto do meu quarto e com os joelhos a tremer e a roer as unhas, se estes métodos um dia singram cá - entre a nossa alta magistratura - que, de um momento para outro, e para se vingar das desconsiderações sucessivas a que o poder político a votou desde o 25 de Abril, - numa espécie de pulso forte dos juízes, reconstroem, no terreno, aqueles métodos sicilianos...
Que passariam a aplicar aquelas leis mafiosas a fim de fazer vingar a justiça.


Quantos autarcas, deputados, ministros, ex-ministros, directores-gerais, empresários e conexos teriam de emigrar.
Quantos????

•Por isso quando vejo os jornais anunciar que o político A ou o político B estão a contas com a justiça, acusados de crimes fiscais, acusados de baixa, média ou alta corrupção (activa ou passiva) - dou uma gargalhada e recordo Nicolau Maquiavel. Sempre ele a espreitar a roda do tempo.
Pois é ele que nos diz a verdade, e esta remete-nos para o seguinte:

Para um homem que, em todos os aspectos, queira desempenhar profissão de bondade, estará condenado à ruína entre tantos que são maus. Assim sendo, um príncipe que queira manter-se terá de aprender a não ser sempre bom, mas a usar a bondade conforme a necessidade


Pedro Manuel