sábado, 3 de junho de 2006

A ESCOLA E ...

O Monstro

Voltou a discussão sobre a violência na escola.
É assunto tão velho que já tresanda.
Mas neste país, que não aprende, e nunca aprendeu, é sempre preciso repetir o óbvio.
Vêm as desculpas do costume (o "meio social", a "família" e por aí fora). E os remédios do costume (a autoridade dos professores, a participação dos pais, como se eles se ralassem, ou do mirífico dinheiro da "iniciativa privada").
Infelizmente, nada disso leva a parte alguma.
Os "reformadores" têm de meter na cabeça uma verdade básica: na prática, o sistema de ensino não permite expulsar, repito, expulsar ninguém e assim, como se depreenderá, qualquer aluno tem a impunidade garantida.
Do ministro ao último professor, toda a gente acredita que expulsar um aluno equivale a uma espécie de condenação à morte. Marçal Grilo, uma das pessoas mais deletérias que passaram pelo Governo, reservou para si a autoridade de aplicar essa pena capital e, segundo nos disse depois, ficou muito emocionado e tremente, quando em três casos durante quatro anos não a pôde evitar. Isto quase que significa uma licença para matar, coisa que as criancinhas percebem muito bem.

Quem não vive na lua está farto de saber o que a escola precisa e não precisa.
Não precisa de psicólogos, nem de psiquiatras: precisa de um código disciplinar e de uma guarda que o execute.
Não precisa de conselhos directivos, nem de lamechice pedagógica, precisa de um director (como defende o PSD), que ponha expeditivamente na rua quem perturbar a vida normal da escola, quer se trate de alunos, quer se trate de professores.
Não precisa da ajuda, nem da "avaliação" dos pais; precisa que os pais paguem pelo menos parte da educação dos filhos (mesmo que em muitos casos esse pagamento seja um gesto simbólico).

A escola que por aí existe, como a democracia a fez, não passa de uma garagem gratuita onde os pais por comodidade e tradição metem as crianças.
Não serve as crianças, que não a respeitam e, em grande percentagem, voluntariamente a deixam.
Não serve os professores, que não ensinam e sofrem, ainda por cima, um vexame diário.
Não serve a economia, a cultura ou o simples civismo dos portugueses.
É inútil, quando não é nociva.
Chegará, ou não chegará, o dia em que um governo se resolva a olhar para a realidade.
Até lá não vale a pena gemer por causa de um monstro que Portugal inteiro viu crescer com equanimidade e deleite.


Vasco Pulido Valente

10 Comments:

At 3 de junho de 2006 às 14:48, Anonymous Anónimo said...

Os sindicatos dos professores e, em particular, a FRENPROF ainda sonham com a ex URSS e ao defenderem sistematicamente que as medidas que vão no sentido do interesse dos professores são sempre as melhores para assegurar a qualidade do ensino. Isso não só não é ou não é necessariamente verdade, como mostra que para muita gente o Estado deve ser considerado como uma ilha de “socialismo”, e como tal deve ser gerido.

É verdade que a actual ministra da Educação ora dá uma no cravo, ora dá outra na ferradura, até parece que tem dois assessores, um inteligente e outro idiota, mas é inegável que em muitas questões a ministra tem posto o dedo na ferida.

Quem foi professor sabe, por exemplo, que a crítica da ministra em relação à forma como são feitas as turmas é verdade. Sabe que em muitas escolas as turmas são elaboradas de uma forma que quase configura uma situação de segregação dos alunos mais problemáticos, e que as turmas dos meninos bons, onde normalmente estão os filhos dos funcionários, dos professores, dos membros das associações de pais e das pessoas de bem. E sabe também que há poucos anos os horários eram feitos de forma a omitir horários que depois eram atribuídos a amigos que por não terem habilitações não podiam concorrer a nível nacional. E, por fim, também sabe que os “donos” das escolas ficam com horários perfeitinhos para que os professores deslocados tenham horários com furos, feitos dos restos.

A profissão de professor é das que têm sido mais maltratadas neste país (o que não é verdade para alguns grupos, como, por exemplo, os antigos professores de trabalhos manuais), e a imagem que o professor tem actualmente é incompatível com a dignidade que se pretende que o ensino tenha. Mas confundir os interesses do ensino com os dos professores estabelecidos, a grande base de apoio da FRENPROF é um erro, e pedir a demissão da ministra é um gesto de pura hipocrisia.

É urgente a dignificação do ensino, mas isso só é conseguido com escolas geridas com rigor, cujo objectivo é a melhoria da qualidade do ensino. As escolas foram feitas para ensinar e não para empregar professores, estes merecem ser tratados com dignidade, pelo Estado e pela sociedade, têm todo o direito a defendem os seus interesses, mas deixemos de partir do pressuposto de que o que é bom para os professores também o é para o ensino, porque se assim fosse o inverso também seria verdadeiro

 
At 3 de junho de 2006 às 14:49, Anonymous Anónimo said...

Há algum tempo, quando Sócrates foi dar uma corridinha na marginal de Luanda, houve um qualquer idiota do governo que fez passar para a comunicação social que com Sócrates ia a Angola uma boa parte do PIB.

Agora é Belmiro de Azevedo que num jantar de empresários diz que vai mobilizar 20 ou 30 amigos para mudar a constituição, invocando o seu sucesso como empresário. Nem no Estado Novo houvem algum empresário com tanta ousadia, aliás, se Belmiro tivesse esta iniciativa no tempo de Salazar, a esta hora já teria uma rolha enfiada pela garganta abaixo.

Sócrates fica inchado por ir acompanhado por 50% do PIB de uma economia em decadência, que entrou em marcha atrás e que só o Atlântico a impede de ir parar a África, enquanto um empresário que aplicou a regra segundo a qual "em terra de cegos quem tem olho é rei" acha-se no direito de se substituir aos portugueses e à AR para conduzir uma revisão constitucional.

Portugal começa a deixar de parecer uma Nação, para ser tratado como uma sociedade anónima de que alguns notáveis têm a maioria do capital.

E ninguém protesta? Não há um jornalista ou um político capaz de dispensar as benesses proporcionadas pela fortuna de Belmiro de Azevedo e dizer-lhe que se está comportar como um dono de uma das grandes empresas da África colonial?

Não há ninguém que diga a estes senhores que não é aceitável que os portugueses sejam tratados como clientes de uma daquelas cantinas coloniais onde os trabalhadores eram obrigados a ir comprar a fiado, para no fim do mês lá deixarem o ordenado?

Se é para isto que tanto defendem o nacionalismo luso face à Espanha, o melhor é fazer uma rifa, vender o país e cada português recebe a parte correspondente e depois cada um que se desenrasque enquanto ainda houver livre circulação na Europa.

 
At 5 de junho de 2006 às 09:09, Anonymous Anónimo said...

A pedagogia portuguesa pretendeu inventar a criança perfeita, e como se isso fosse pouco achou que a criança perfeita fosse a emanação da criança problemática, que por vezes também é designada por criança vulnerável.

E enquanto a criança vulnerável não atingisse a perfeição poderia gozar ou mesmo dar um tabefe no professor, roubar o lanche ao colega, fazer a vida negra o pessoal auxiliar, e faltar quando lhe apetecesse. Ao professor cabia o milagre de se substituir aos encarregados de educação, suportar todas as ofensas, fazer o possível e o impossível para realizar esse milagre do ensino.

Quem perdesse a paciência e desse um grito ou fizesse qualquer gesto que pudesse ser interpretado como violência teria um inspector pedagógico à perna, a quem caberia meter o professor na linha, e de caminho lá ia confortando o vencimento com as ajudas de custo ganhas com inúmeras deslocações para ouvir testemunhas.

E até houve um governo (adivinhem quem era o primeiro-ministro) que mandou os inspectores pedagógicos pressionar os professores para subirem as notas, porque os resultados do ensino estavam uma desgraça.

O que é feito dos ilustres pedagogos do paraíso, os diligentes inspectores e as crianças vulneráveis?

Os ilustres pedagogos da avenida 5 de Outubro estarão na sua maioria reformados ou, pelo menos, conformados, os inspectores pedagógicos andarão atarefados com as últimas orientações do poder, e as crianças vulneráveis estarão, muito provavelmente, no desemprego, no tráfico de droga ou na prisão.

E as escolas estão na lástima que todos reconhecem e os professores no fim da escala social (no Algarve até lhes chamavam meia-dose por não ganharem para refeições completas).

 
At 5 de junho de 2006 às 09:15, Anonymous Anónimo said...

Tendo acompanhado aqui a discussão sobre o estatuto dos professores, venho dar uma achega a título de cidadão eleitor e contribuinte, ex-estudante, pai duma estudante do 8º ano, nunca tendo sido professor, nem ter perspectivas de alguma vez o ser:

Uma das medidas anunciadas foi a dos pais fazerem a avaliação dos professores dos respectivos filhos. Há quem compare a medida com o que já se passa em todos os sectores: o utente/consumidor manifesta-se sobre a qualidade dos serviços/produtos. Mas será assim? Bem, se eu fosse professor passaria a exigir uma avaliação prévia dos alunos no início do ano e negociar com os pais, escola, ministério, sei lá, os objectivos a atingir aluno a aluno. Por outro lado, quantos pais aceitarão que chumbar o filho possa ser a melhor coisa que o moço/a ganhou aquele ano (a hipótese de recomeçar e melhorar o seu desempenho, em vez da fuga em frente e depois se vê)? Ora, estas questões passam mais pelos responsáveis da gestão da escola, na verdade, pelo próprio ministério.

Na escola da minha filha, em reunião dos pais com o director de turma, já nos aconteceu pronunciar sobre o desempenho de determinados professores, de modo verbal e dando ao director a oportunidade de falar com o professor em causa, sempre com bons resultados. Já assisti a reacções exaltadas, mas o diálogo entre os pais e o director tem estabelecido consensos no sentido de tentar melhorar o que pode ser corrigido. A avaliação que não se fala, mas que nessas reuniões vem sempre à baila, são sobre os recursos da escola para fazer mais e melhor: instalações desportivas, salas de aula, segurança, apoio diverso, etc. Pessoalmente, entendo que há alunos a mais por turma, vejo que os professores têm pouco tempo, pouco estímulo e pouco apoio, para se prepararem, se empenharem a fazer algo de diferente (e melhor, claro).

Se calhar os pais podem fazer mais pela Escola (podem, certamente), e se calhar isso passaria por um envolvimento da autarquia (não tenho qualquer dúvida, na verdade). O que não aceito é ver as questões essenciais, que são políticas e da responsabilidade do ministério, serem embrulhadas numa estratégia em que os professores são postos no pelourinho (é tão fácil apontar o dedo ao funcionário).

 
At 5 de junho de 2006 às 09:17, Anonymous Anónimo said...

Há 9 anos, era eu pouco mais que recém-licenciado, concorri para dar aulas no distrito de Beja – nos então designados "mini-concursos" – e fiquei colocado! Na altura tinha apenas uma licenciatura em Sociologia, obtida na Universidade Nova de Lisboa; tão mal forjada para as minhas necessidades de emprego como para as necessidades do mercado.

O facto de ter uma licenciatura em Sociologia tornava-me, na altura e creio que ainda hoje, legalmente habilitado para dar aulas de Português/História ao 2º ciclo do ensino básico; apesar da mesma legislação não me considerar capaz de leccionar… Sociologia!

Quando me apresentei na escola deram-me o horário com a anotação 318/91. Perguntei o que é que aquilo queria dizer e responderam-me que era o diploma legal que regulamentava o ensino especial e, no caso, o ensino que eu deveria leccionar às minhas turmas. Preocupei-me, li o diploma, preocupei-me ainda mais, falei com o conselho directivo que me tranquilizou e me encaminhou para o gabinete de psicologia da escola. No gabinete de psicologia tranquilizaram-me – outra vez! – e disseram-me que não me preocupasse, que não tivesse muitas expectativas em relação aqueles miúdos e que me limitasse a ir com eles ao centro de recursos, ver uns filmes, conversar um bocado… enfim, passar o ano.

Não sei se nesta altura do relato, para avaliar convenientemente a situação, interessa lembrar que eu não tinha experiência lectiva, não tinha qualificações para lidar com crianças com necessidades especiais, nunca tinha dado uma aula e que a única coisa que me habilitava a dar aulas de Português/História (ou passar o tempo com os alunos, como explicitamente o gabinete de psicologia da escola me sugeriu) era uma licenciatura em Sociologia. Por esta altura poder-se-á perguntar se o cenário era este, porque raio resolvi eu aceitar o desígnio. A explicação é simples. Estava desempregado, queria trabalhar (o que nem sempre são condições cumulativas), disponibilidade para sair de casa e ir arranjar emprego a 200 kms de casa (de Cascais a Beja), tinha um "perfil" de habilitações que o "mercado" reconhecia e validava, uma imensa vontade de aprender e, já nessa altura, uma grande apetência para os processos de ensino/aprendizagem.

Conheci finalmente os alunos. Eram 14. Distribuídos por 4 (!) turmas o que dá uma média de 3,5 alunos/turma. Uma turma tinha 6, a outra tinha 4 e ainda havia 2 turmas com 2 alunos cada. Nenhum deles tinhas necessidades especiais – sobretudo deficiências ou incapacidades como o discurso correcto lhes chama agora – como o diploma anunciava. Tinham de facto necessidades especiais, mas de outra ordem. Resultavam essas necessidades especiais de serem crianças provenientes de montes isolados e de lugarejos rurais, onde a sociabilidade era pouca, pobre, rude e, não poucas vezes, violenta.

Fosse lá como fosse, a escola tinha resolvido contratar um professor de português e um de matemática e outros de outras disciplinas para dar "acompanhamento" mais personalizado (um acompanhamento sobre o qual nem sequer tinham pensado muito…) a estas crianças.

Nem vou falar sobre o efeito que esta pedagogia, alegadamente inclusiva, e o seu efeito estigmatizante, consubstanciado no facto de se criarem turmas especiais para os "bichos do mato" ou, como lhes chamavam na altura, os "319", tinha sobre as crianças.

Vou falar de prioridades. E de custos. Que é coisa que a esquerda normalmente acha que faz parte da agenda suja da política.

Ora bem, eu tinha na altura um horário completo (deveriam rondar, não me recordo com exactidão, as 21 horas lectivas) tal como todos os meus colegas que tinham, também eles, aproximadamente 4 turmas "normais". Uma turma "normal" contava com uns 20 e tal alunos. Façamos a coisa pelos 22. Ora cada colega tinha (4 turmas x 22 alunos) 88 alunos. Eu tinha 14. Recebíamos todos aproximadamente o mesmo. Eu deveria receber, líquidos, qualquer coisa como 180 contos. Ora, isto fazia com que os meus alunos, para desenvolverem competências em Português/História, custassem, cada um deles, (180 cts/14 alunos) quase 13 contos por mês. Ao passo que os outros alunos custavam apenas (180 cts/88 alunos) 2 contos; para o mesmo objectivo.

A pergunta que eu faço, e faço-a a pensar nesta minha experiência particular, como a faço a pensar nos acontecimentos em discussão sobre a violência nas escolas urbanas e sub-urbanas é a seguinte: e os melhores? Quem se preocupa com os melhores? Aqueles que, em turmas "normais", aguardam pelo curso normal, na melhor da hipóteses, da mediania geral? Pior: quem se preocupa com aqueles que, não sendo ainda pré ou proto ou recém delinquentes, pelo convívio e sobretudo pela partilha do espaço escolar com todos aqueles que já são qualquercoisa-delinquentes acabam por não se desenvolverem como mereciam numa escola que estimulasse a excelência e que não andasse sempre a olhar para os mais violentos, e para os mais carentes de ajuda e para os mais atrasados.

É evidente que não julgo que se devam deixar cair, ainda mais, os mais fracos. O que não suporto é ver a Escola consumir-se até à exaustão com toda a problemática dos coitadinhos, nomeadamente por via dos efeitos que o meio exerce sobre eles, como se o facto de se nascer e viver na Cova da Moura tornasse o individuo, inexoravelmente, num marginal inimputável ou merecedor de maior atenuante que outro marginal qualquer nascido e criado na Quinta da Gandarinha.

O que não suporto é ver a Escola transformar-se numa arena em que aos alunos e aos pais dos alunos é permitido insultar, cuspir, agredir e incendiar os cabelos dos professores, com total impunidade. E um Estado que ao invés de proteger a Escola e de a centrar no essencial a desloca para tarefas que deveriam estar a ser, no limite, caso os pais sejam irremediavelmente casos perdidos, desempenhadas pelo Instituto de Reinserção Social, pela Polícia, pelos Tribunais e pela Segurança Social.

 
At 5 de junho de 2006 às 15:36, Anonymous Anónimo said...

A crer nos noticiários Portugal tem um ensino básico e secundário que é uma desgraça, e um ensino universitário com uma qualidade invejável, até parece que o único problema das universidades serão as propinas, e mesmo esse apenas se coloca de cinco em cinco anos. Mas será assim? Não me parece, e depois de ter colocado alguns posts dedicados ao ensino, aqui ficam as minhas interrogações sobre as universidades.

Nas melhores universidades americanas ninguém é professor sem ser devidamente preparado pedagogicamente, para ensinar não basta a preparação científica, ensinar pressupõe capacidade para transmitir conhecimentos. Que importância é dada nas universidades portuguesas à preparação pedagógica dos professores? Receio que muito pouca ou nenhuma, quem passou pela universidades sabe que há muitos professores que têm um desprezo olímpico pela pedagogia, e nem vale a pena referir um conhecido professor de economia que nem olhava os alunos nos olhos, ou um outro de direito de quem se diz que levou uns tabefes de um pai depois de ter feito uma oral.

E a prática parasita de alguns professores aproveitarem do trabalho dos alunos, assistentes e mesmo doutorados para enriquecerem o seu currículo? Se reunirmos os nossos catedráticos em assembleia ficamos com uma imagem muito parecida a um congresso do PC Chinês, porque os nossos professores só abandonam as universidades quando á estão à beira da senilidade, e enquanto eles não partem os professores mais jovens esperam pacientemente pela sua vez.

E o que dizer dos cursos que só existem para dar emprego aos professores, da multiplicação de universidades privadas sem um mínimo de condições?

E as fórmulas de concorrência menos saudável entre universidades, com universidades privadas a “pagar” aos bons alunos saídos do secundário para que mais tarde possam dizer que dos seus cursos saem os melhores alunos, e dessa forma cativarem um maior número de candidatos? Esta concorrência não se limita às privadas, quando um ministro das universidades toma posse a primeira dúvida está em saber de que universidade veio, Porquê? Um exemplo, ainda recentemente a Faculdade de Ciências e tecnologias da Universidade Nova organizou uma conferência sobre o Processo de Bolonha, e convidou Mariano Gago para estar presente, mas o ministro não apareceu nem se fez representar, e não faltou quem recordasse que o ministro é do Técnico, um instituto “concorrente” daquela faculdade

Quantos professores mantêm o seu lugar nas universidades mais para se aproveitarem das vantagens – prestígio e mão-de-obra barata para os seus estudos – do que para ensinar?

A verdade é que a dedicação e a preparação pedagógica dos professores do ensino secundário é bem superior à de uma boa parte dos professores universitários e, piro do que isso, são os maus professores que dominam uma boa parte das universidades.

 
At 6 de junho de 2006 às 09:48, Anonymous Anónimo said...

Com o objectivo de diminuir a despesa pública e, vá lá, "melhorar a qualidade do ensino", têm vindo a ser anunciadas medidas necessárias para a avaliação de professores e filtragem do acesso aos níveis elevados da carreira.
Estando de acordo com o princípio da necessidade de avaliação (assim como o do condicionamento de acesso à carreira em exame nacional), entrevejo uma mão cheia de possibilidades de enviesamento do processo. Ou me engano muito, ou uma parte substancial da concretização das avaliações pode ficar nas mãos do lobby das "ciências" da educação, dado que há uma elevada possibilidade de os coordenadores de departamento curricular (a quem vai incumbir atribuir classificações) serem recrutados entre os inúmeros mestres e doutores, especializados em estudos de acaso, que durante anos interiorizaram a ideologia pedagógica em vigor.
Podemos estar a assistir à criação de um corpo de guardiões da execução das orientações metodológicas rígidas e irrealistas que recheiam os programas oficiais.
Ironicamente, muitos deles terão sido doutrinados sobre a inadequação dos exames como método de avaliação...

Lendo o anteprojecto de estatuto da carreira docente, disponível no site do ministério da educação, não fico muito descansado quando reconheço, aqui e além, os traços distintivos da escrita em eduquês. Por exemplo, no artigo 36-2º diz-se que são competências dos professores

gerir os conteúdos programáticos, criando situações de aprendizagem que favoreçam a apropriação activa, criativa e autónoma dos saberes da disciplina ou da área disciplinar, de forma integrada com o desenvolvimento de competências transversais.

Isto já foi escrito muitas vezes e não deixou boas recordações.

A avaliação pelos pais, no contexto de facilitismo com que o ensino foi contaminado nos últimos tempos, corre o risco de reflectir, em grande medida, os simulacros de avaliação feitas pelos próprios alunos em 1974 e 1975.

A ministra afirma ainda (PÚBLICO de ontem) que a escola já dispõe de meios de exercer autoridade.
Do alto do "observatório da violência" a escola deve ser um pontinho longínquo e perdido no espaço: talvez o envio de uma sonda permita conclusões mais fiáveis. E, quando se humilha publicamente, em bloco, a classe dos professores, a questão deixa de ser a de saber se eles merecem ou não as frases reprovadoras, passando a ser a de avaliar se o efeito não será o mesmo que dizer: batam-lhes mais, que eles merecem

 
At 6 de junho de 2006 às 09:51, Anonymous Anónimo said...

Não vi na RTP a reportagem sobre a violência nas escolas. Contaram-me. Há pais piores que os filhos e vice-versa. Anda por aí muito menino na escola errada. Dizem-me que são "o futuro". Que tal incluir este "futuro" nos "roteiros presidenciais"?

 
At 6 de junho de 2006 às 11:46, Anonymous Anónimo said...

MAIS UMA DA EQUIPA DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SOCIALISTA:

Dados de alunos sem protecção


Em causa estão os estudantes com necessidades educativas especiais






Os dados biográficos e clínicos de alunos com necessidades educativas especiais podem ser alterados na Internet por professores de outras escolas, violando a privacidade dos estudantes. A denúncia foi feita à agência Lusa pela FENPROF.








Através do site do Ministério da Educação e da Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, os professores de apoio educativo introduzem na Internet os relatórios individuais dos alunos com quem trabalham.

O problema é que o sistema permite que estes relatórios possam ser depois consultados e alterados por outros docentes sem qualquer relação com as crianças em causa.

Para introduzir os relatórios dos seus alunos, os professores têm de inserir um nome de utilizador e uma palavra-chave, que são comuns a cada equipa coordenadora dos apoios educativos (ECAE), uma estrutura que pode abranger vários concelhos.

Quando se "clica" sobre o nome de uma criança, o programa pede um código específico do agrupamento de escolas que frequenta, mas a introdução aleatória de quaisquer seis dígitos é suficiente para ultrapassar o suposto obstáculo.

Considerando que esta situação "viola o direito à preservação dos dados pessoais", a federação "exige do Ministério da Educação, da Comissão Nacional de Protecção de Dados e da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos a imediata tomada de medidas que protejam os alunos".

Contactado pela agência Lusa, o adjunto da ministra da Educação, António Ramos André, afirmou que o Ministério não tinha ainda conhecimento desta situação, mas assegurou que vai ser averiguada "de imediato".

"Não tenho conhecimento de que a FENPROF tenha tido o espírito cívico de alertar os serviços do ministério, antes de informar a Lusa", disse.

Da Comissão Nacional de Protecção de Dados, a responsável Clara Guerra afirmou igualmente não ter ainda recebido qualquer queixa da FENPROF sobre esta matéria.

Clara Guerra adiantou ainda que "a legislação impõe medidas de segurança que devem ser cumpridas, no sentido de impossibilitar ao máximo a partilha de dados pessoais e o seu acesso por parte de terceiros".


In: SIC

 
At 6 de junho de 2006 às 17:05, Anonymous Anónimo said...

As alterações que Maria de Lurdes Rodrigues quer introduzir no sistema de avaliação dos professores estão a ser ferozmente atacadas. Mesmo de onde menos se esperava: Paulo Portas e Marcelo de Sousa, por exemplo.
Portas diz que o Governo devia preocupar-se com a gestão das escolas, e não com a avaliação dos professores pelos pais. Marcelo diz que nenhuma reforma pode ser feita contra os professores e defende que o alvo devia ser a violência sobre professores.

É óbvio que a avaliação não resolve tudo (é parte do problema de gestão das escolas). E é óbvio que a violência tem de ser combatida com firmeza. Mas isso não tira razão à ministra. Dizer que a reforma tem de ser feita com os professores é demagogia: vários governos, alguns do PSD, tentaram negociar com os sindicatos da Educação. Resultado: zero.

Surpreendente? Não. Aquele Ministério é avesso à mudança. Marcelo e Portas sabem que se o Governo nada fizer, daqui a 10 anos estaremos a discutir os mesmos problemas. E sabem que os prejudicados serão as novas gerações; não os professores. Porque não usam o seu talento para proporem pactos de regime, em vez de lançarem gasolina para a fogueira?

 

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