segunda-feira, 24 de julho de 2006

70º ANIVERSÁRIO DA GUERRA CIVIL DE ESPANHA:

DILEMAS

Uma nova historiografia revisionista entende arrombar portas de há muito abertas, insistindo em que na guerra civil espanhola não havia lado “bom”.


O motivo é evidentemente político: ao se igualizar os “lados” e ao se retirar qualquer conotação moral às escolhas dramáticas da época, ajuda-se a igualizar ambos os beligerantes e a justificar quase sempre, o que ganha.
Quem precisava desesperadamente desta revisão da história eram os franquistas, não os republicanos, o que também mostra a dificuldade de iludir dilemas que só nos parecem neutros porque já estamos distantes dos eventos.


Há nesta história revisionista um pequeno problema; é que se os dois lados eram maus, não era possível na época deixar de escolher um.
Quem, dos muito poucos que achavam na altura que os dois lados eram maus, não o fazia explicitamente, acabava sempre por servir o mais forte que estava geograficamente do seu lado.
Unamuno percebeu-o muito bem.


É que a história não dilui a moralidade, nem o dilema das escolhas feitas sob o fio da navalha, mas torna algumas coisas impossíveis a um momento dado.
Há coisas que pura e simplesmente não se podem fazer em determinados momentos, sem não as fazendo, escolhermos.
Os maniqueísmos não são desejáveis, mas nem sempre são evitáveis.
Para alguns homens, provavelmente dos melhores, isso é de uma enorme violência, que nalguns conduziu ao suicídio, físico ou ético, e a muitos a remorsos e culpas que arrastam toda a vida.


Mas a verdadeira tragédia da história é que há momentos em que não nos deixa escolhas. É mesmo assim.

José Pacheco Pereira

1 Comments:

At 26 de julho de 2006 às 16:29, Anonymous Anónimo said...

A evocação da guerra civil de Espanha por Vital Moreira no Público:

«Ainda recordo o choque que para mim representou uma visita a Toledo no início dos anos 90. Já estava habituado a ver por aldeias e cidades a permanência dos nomes de Primo de Rivera e de Franco (e outras figuras do franquismo), bem como os símbolos da Falange, em tabuletas de ruas e praças e em numerosos monumentos especialmente dedicados ao triunfo nacionalista. Já deixara de me surpreender com a continuação de estátuas das mesmas personagens em muitos lugares, incluindo a estátua de Franco na Castellana, em Madrid. E até já deixara de me revoltar contra a manutenção dos milhares e milhares de gravações, nas paredes das igrejas, do dístico "caídos por Deus e pela Espanha", em referência aos "nacionalistas" mortos no assalto à República. Mas ainda não estava preparado para assistir à representação franquista que continuava a ser exibida no Alcazar de Toledo, como se continuássemos em plena ditadura "nacionalista". Decididamente, a democracia espanhola não optara somente por esquecer o passado ditatorial e amnistiar os seus responsáveis, mas também por conviver com a herança da repressão e da ditadura, nas suas formas mais provocatórias.»

 

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