sexta-feira, 10 de novembro de 2006

A CÂMARA MUNICIPAL DE PONTE DE SÔR NÃO CUMPRE A LEI...

Publicidade em prédios e veículos

Câmaras cobram milhões de euros em taxas que os tribunais consideram ilegais


Tribunal Constitucional e STA já disseram mais de uma dúzia de vezes que as taxas de publicidade são inconstitucionais.


Câmaras continuam a cobrá-las

A generalidade das câmaras municipais, incluindo as de Lisboa e do Porto, cobram desde há muitos anos uma taxa sobre a afixação de publicidade em edifícios e veículos particulares que o Tribunal Constitucional (TC) já considerou inconstitucional em, pelo menos, seis situações distintas. O valor global das taxas assim cobradas ascende a dezenas de milhões de euros por ano.
No cerne da questão está o entendimento judicial de que os tributos cobrados são impostos e não taxas, uma vez que os municípios não prestam qualquer serviço como contrapartida daqueles valores. E, sendo impostos, são ilegais, porque só a Assembleia da República tem competência para criar impostos.
A cervejaria Solmar, um dos mais conhecidos estabelecimentos do ramo na Baixa lisboeta, foi a última de muitas empresas a quem os tribunais deram razão, nesta matéria, desde há uma dúzia de anos. Inconformado com uma decisão do Tribunal Administrativo, que mandou anular a taxa anual de 2.947 euros que a Câmara de Lisboa exigira à cervejaria por conta dos anúncios luminosos que possui na fachada do seu estabelecimento, na Rua das Portas de Santo Antão, o município recorreu para o Tribunal Central Administrativo do Sul.
O acórdão deste tribunal, de 24 do mês passado, negou razão à autarquia e manteve a sentença anterior. Para fundamentar esta decisão, os juízes invocaram os acórdãos do TC e do Supremo Tribunal Administrativo (STA) que, desde 1992, consideram inconstitucionais as normas camarárias relativas àquele género de taxas.
"Tendo o tributo a natureza de imposto, as normas que concretizam a sua criação, designadamente [...] os artigos 16º e 20º do Regulamento sobre Publicidade do Município de Lisboa, que prevêem o pagamento de taxas pela renovação automática de licenças, enfermam de inconstitucionalidade orgânica e material", pelo que "a liquidação do tributo em causa enferma de ilegalidade, pelo que se justifica a sua anulação", lê-se no acórdão.
Autocolante na montra também paga taxa
A existência desta e de outras decisões judiciais não foram, porém, suficientes para que a câmara deixasse de tentar cobrar as taxas em causa. "Olhe que continuam a exigir-nos o dinheiro e ainda há umas semanas esteve aqui um fiscal a dizer que temos de pagar por um autocolante, com o nome da loja, que está colado da parte de dentro da montra, mas é visível da rua", disse ontem Paulo Araújo, o gerente da Kaprius - uma casa comercial que trabalha com peles e que, em 1996, foi uma das primeiras a impugnar a cobrança da taxa.
O caso acabou por subir ao STA e ao TC, perdendo a Kaprius no primeiro e ganhando no segundo, neste caso já em 2001. "Está-me a dar uma novidade. Tinham-me dito que ganhámos por causa de uma amnistia do papa, mas nem sequer me devolveram os 400 contos", exclamou Adelino Araújo, um dos donos da Kaprius, que nada sabia sobre as decisões dos tribunais superiores, tomadas a partir de recursos do Ministério Público.
Embora as declarações de inconstitucionalidade tenham quase todas a ver com Lisboa, o entendimento do TC aplica-se a todos os municípios com regulamentos semelhantes. A de Guimarães, por exemplo, foi objecto de um acórdão, em 1998, que considerou inconstitucionais os artigos do seu Regulamento e Tabela de Taxas que serviram de base à exigência, em 1995, de 145.560 escudos à empresa de transportes Recoveira de Guimarães. Neste caso, o suporte da publicidade era um camião da empresa e não um edifício particular.
Na sequência dessa decisão do TC, garantiu um porta-voz da Câmara de Guimarães, o regulamento foi alterado, no que respeita à publicidade em veículos. Já no que toca aos edifícios, a mesma fonte explicou que as taxas continuam a ser cobradas porque a autarquia "desconhece que sejam ilegais". Um outro caso em que o STA considerou ilegal a cobrança de taxas relativas a veículos foi resolvido em 2001 e tinha a ver com uma empresa, a Lusopiza, que anunciava os seus serviços nas motas dos seus distribuidores de pizzas.
O argumento que tem sido utilizado pelos municípios para cobrarem taxas sobre publicidade em prédios e veículos é o de que são as câmaras quem cria a possibilidade de os anúncios, ainda que em propriedade privada, serem vistos das ruas, praças e avenidas por onde circulam os seus alvos. Os tribunais, como já se viu, têm considerado, nestes casos, que os municípios nada fazem como contrapartida das taxas cobradas, sendo estas, por isso, ilegais.


José António Cerejo
In:PÚBLICO

17 Comments:

At 10 de novembro de 2006 às 12:28, Anonymous Anónimo said...

Estes gajos são uns chulos!

Andam-nos a roubar.

Por mim não recebem mais um cêntimo.

 
At 10 de novembro de 2006 às 13:41, Anonymous Anónimo said...

Se um político português se tivesse dirigido a outro nos mesmos termos em que a futura presidente do Congresso dos EUA se referiu a Bush era o ai Jesus, a senhora seria tratada de cabra para cima e até os jornalistas ficariam corados na sua presença.

Mas quando um primeiro-ministro português aproveitou um boato para colocar um cartaz em todos os cantos do país e aproveitou um debate televisivo para lançar insinuações sobre o candidato adversário, lá se foram os bons valores da nossa direita, e não me recordo de nenhum dos nossos ilustres pensadores escreverem grandes artigos.

Já assisti a debates no parlamento regional do Quebeque e se aquilo sucedesse na nossa AR era um escândalo, mas sucede que no Quebec o civismo até impressiona, quase nem fumava por sentir vergonha de atirar a cinza para o chão.
Mas no nosso país não falta por aí quem leve o cão a fazer o seu cocó na porta do vizinho.

Comparado com o do Quebeque o nosso parlamento parece uma associação de virgens, não há sessão que não seja interrompida sistematicamente com interpelações para defesa da honra.

A nossa elite política, e nessa elite junto políticos, jornalistas, opinion makers e todos o que influenciam a política de forma directa ou indirecta, tem vindo a impor um padrão de falsa moralidade no debate político.

Se um político diz a maior barbaridade, fazendo de nós parvos não podemos dizer “vai bugiar”, devemos identificar-nos e pedir a palavra para dizer-lhe «Peço desculpa por incomodar Vossa Excelência, mas permita-me que discorde ligeiramente do que disse.».

Mas esse direito de discordar das Suas Excelências é coisa reservada às elites, os outros, os cidadão anónimos, que só aparecem nos telejornais quando as suas baboseiras são úteis ou quando morrem mais de três numa auto-estrada, não têm direito a expressar a opinião.

Mas agora surgiram os blogues, e as coisas estão a mudar.

E então o tal cidadão anónimo que os políticos só conhecem através das sondagens começou a berrar o que pensa por essa web fora e, como alguns dos nossos políticos, também dão golpes baixos, e entra tudo em pânico porque vem aí o perigo dos anónimos.

Os anónimos que quando estavam calados eram uns tipos simpáticos, passaram a ser um perigo público, não obedecem às regras estabelecidas, tentam subvertê-las através do anonimato.

O corrupto que foi branqueado porque teve poder para impedir qualquer investigação e depois de enriquecer é tratado como senador da república ficou nervoso, alguém que não aprendeu ou se borrifou para as regras da etiqueta chama as coisas pelo nome num blogue anónimo.

O cidadão anónimo que até aqui era uma figura simpática, mesmo que contasse ao vizinho tudo o que se sabe sobre este ou aquele político, que este é corrupto ou que o outro arranjou um emprego à amante, agora é o perigoso autor de um blogue anónimo, um subversivo, um perigo terrorista que usa a web para atacar indiscriminadamente.

O anónimo não deve ter opiniões, não deve ultrapassar as fronteiras do anonimato.
Para falar em público é necessário respeitar as regras de etiqueta que tão bem têm protegido alguns doa maiores corruptos e oportunistas deste país.

Somos um país de gente pobre, mas lavadinha, como convém.

 
At 10 de novembro de 2006 às 13:44, Anonymous Anónimo said...

A DIFERENÇA ENTRE UM QUIOSQUE E A BLOGOSFERA

Uma artigo de Pacheco Pereira que por se referir ao tema dos blogues coloco na íntegra, ainda que não partilhe de todas as opiniões que nele são expressas:

«Se eu olhar para um quiosque de jornais como muita gente olha para os blogues, o que eu vejo é isto: Maria, O Jornal do Crime, A Mãe Ideal, Novenas Milagrosas, Lux, VIP, Nova Gente, Maxman, o Borda de Água, PÚBLICO, Flash!, Única, 24 Horas, Nova Cidadania, TV Guia, TV Mais, Ana, Teleculinária, MM, Saúde, Record, Atlântico, A Bola, Autosport, Correio da Manhã, O Diabo, uns títulos em ucraniano, o Guia Astrológico, Os Meus Livros, Cosmopolitan, Prevenir, Sporting, Blitz, Guia Astral, Mini-Recreio, Activa, GQ, Diário de Notícias, Selecções...Se abrir as folhas ao acaso, como se consultar blogues ao acaso, coisas sinistras estão sempre a cair de dentro das folhas: notícias falsas, especulações, falsidades anónimas, plágios, voyeurismo, egos à prova de bala, ignorância, erros, invejas, ajustes de contas, presunção, arrogância, esquemas diversos, banha da cobra, cobras. Há gente que fala com Deus e gente que namora o Diabo, há quem coma a namorada, como o Dr. Lecter, há o professor Karamba, e há umas meninas para todos os gostos, há extraterrestres, boatos, insinuações, muita "informação" anónima, pornografia strictu sensu, pornografia intelectual, quartos à hora, hotéis à noite, etc., etc. Uma selvajaria, o Mundo Cão, o Faroeste, os baixos fundos, o jet set, um conde, o tatuador, a tatuada, a esposa, o marido, a amante, o escroque, o bondoso, o franciscano e o tolo...

Ah! Diz-me uma voz, mas estás a misturar tudo! Pois estou, é como fazem os que falam dos blogues misturando tudo, como Miguel Sousa Tavares e Eduardo Prado Coelho fizeram recentemente para se defenderem (o que é legítimo) de acusações e falsificações anónimas. É verdade que os jornais e revistas têm responsáveis e não são como as cartas anónimas, ou os blogues que funcionam como cartas anónimas, mas quando os primeiros transcrevem os segundos ficam iguais. No caso do Miguel Sousa Tavares, o que falhou foi a imprensa tradicional, que aceitou citar fontes anónimas, sem um julgamento de mérito. A notícia não é que um blogue anónimo acuse Miguel Sousa Tavares de plágio, a notícia é que Miguel Sousa Tavares cometeu plágio, se o tivesse cometido, e aí o autor da notícia devia fazer o seu próprio julgamento e só publicar caso esse julgamento fosse que sim. Não sendo, o blogue é como uma carta anónima, incitável e inaceitável. Foi isso que falhou e hoje em dia falha cada vez mais, porque a comunicação social escrita precisa de pretextos para violar as regras de que se gaba como sendo distintivas e, na Internet, encontra-os com facilidade, entrando depois facilmente na selvajaria. Está lá no computador, para milhões verem, por isso está "publicado", logo posso citar e levar a sério, sem ter responsabilidade. O mal não está nos blogues em si, está na nossa incapacidade para ler e escrever blogues, como para ler e escrever jornais com uma decência mínima. O problema é mais comum do que se pensa, embora seja verdade que as pessoas se sentem mais impotentes para se defenderem da Internet do que no mundo da comunicação social tradicional, mas o que é crime cá fora é crime lá dentro.

Mas a reacção aos blogues, selvagens, inúteis, desviadores da atenção, perdulários do nosso tempo, oculta-nos muita coisa de interessante que está a passar-se diante dos nossos olhos e que não percebemos porque os vemos tão misturados como o Jornal do Crime está com o PÚBLICO no quiosque de jornais, ou como se o PÚBLICO para falar de ciência citasse o Guia Astrológico como fonte. Os blogues são apenas uma das pontas do mundo novo em que já estamos, uma pequena ponta, mas tão reveladora que mesmo estes episódios lesivos de Miguel Sousa Tavares (acusado de plágio) e de Eduardo Prado Coelho (que tem um texto falso a circular na Rede) são dele sinal. Ora nunca ninguém disse que era o Admirável Mundo Novo, a não ser os utopistas que pensam que as tecnologias mudam o mundo sem o pano de fundo das sociedades onde elas existem. Vamos admitir, o que não me custa nada, porque até acho que é verdade, que mais de 90 por cento do que está na blogosfera é lixo. Temos em seguida que convir que também 90 por cento do que está nos quiosques é lixo, a julgar pelo nosso quiosque. Não é por aí que se faz a diferença. Para isso é preciso olhar com um pouco mais de atenção quer para os 90 por cento de lixo, quer para os 10 por cento sobrantes, porque, tendo muita coisa em comum, têm também diferenças importantes. Para se perceber o que está a mudar no conjunto do sistema comunicacional temos que analisar o lixo e o luxo na Rede.

O lixo nos blogues, como antes (e agora) o lixo na Rede têm muito de comum com o lixo nos diários pessoais, nos jornais locais, nos boletins de paróquia, nas rádios locais, nos panfletos partidários, nas cartas anónimas, na pequena, grande e média comunicação social, nessa imensa voz entre sussurrada e gritada que nos acompanha sempre, na maioria dos casos como pura estática, lixo escrito, lixo dito, lixo visto. Mas tem diferenças interessantes como esta que não é meramente quantitativa: mais indivíduos falam na Rede do que alguma vez falaram em jornais, revistas, diários, cartas anónimas ou assinadas. O número espantoso dos milhões de blogues, com o seu crescimento exponencial, é um fenómeno radicalmente novo. Estes milhões de pessoas que escrevem na Rede, em nome próprio, com pseudónimos ou anonimamente, são uma manifestação da principal característica das sociedades pós-industriais, as que nasceram em espaços urbanos dominados por serviços, pela produção, distribuição e consumo de informação - são sociedades de massas, onde impera o que antigamente se chamava "psicologia de massas". São ainda poucos, mas são o primeiro destacamento, o destacamento loquaz, o que anuncia o que aí vem, os que ocupam o espaço público com as suas vozes no mesmo movimento com que um centro comercial se enche quando abre as portas às 10 da manhã, ou o prime time das novelas fica habitado das suas audiências, ou as praias do Algarve e os estádios de futebol se enchem. Essas pessoas falam porque têm alguma coisa a dizer? Acrescentam alguma coisa ou são elas mesmo um sinal de cacofonia? Depende como se vê a questão: elas têm alguma coisa a dizer porque querem dizer alguma coisa - essencialmente que existem e que são elas que vão mandar, que são elas que já mandam. O que têm a dizer não é novo, é ruído, é pobre, é insignificante em termos culturais, estéticos, criadores, mas é a voz que fala cada vez mais alto, a voz que se ouve, a estática gerada pelas multidões e que exige ser ouvida nas sondagens, nas pseudo-sondagens dos telefonemas para dizer sim ou não, nas audiências da televisão, a que não quer esperar, não quer delegar, não quer aprender, não quer sofrer. Quer tudo e já, e só não o tem porque os "políticos" a enganam e desviam. O número dos blogues significa que também, pouco a pouco, as massas das sociedades de massas chegam à Rede como nunca antes chegaram aos jornais ou chegam hoje à televisão. Trazem com elas aquilo que antes, nos primeiros parágrafos deste texto, chamei "selvajaria": não querem mediações, que são o poder do passado, o poder dos intelectuais, o poder dos antigos poderosos. Querem democracia "participativa", não querem democracia representativa, não querem saber de nada que possa significar privilégio dos sábios, ricos e poderosos. Não prezam a intimidade e a privacidade, porque no seu mundo não existem e não são valores, não prezam a propriedade porque a têm pouco, são anti-intelectuais, combatem todos os que parecem atentar ao seu igualitarismo funcional e punem-nos na Rede como gostariam de os punir cá fora: "é bem feito" é a expressão que mais se ouve por todo o lado. Miguel Sousa Tavares é "arrogante", o "povo" acusa-te de plágio; Eduardo Prado Coelho mandaste na intelectualidade durante muito tempo, leva lá com um texto falso para aprenderes que aqui somos todos iguais! Por bizarro que pareça, tudo isto foi escrito em linha, quer em caixas de comentários, as furnas da Internet, quer nos blogues anónimos e ignorados, os degraus superiores do Inferno. É por isto que os blogues são interessantes, porque se move ali um monstro, que existe bem fora dos electrões. Esse monstro fala - nos blogues e nos jornais - e nós não o queremos ouvir porque ele nos coloca em causa, coloca em causa o lugar que ocupamos. Ele luta ali pelas suas regras próprias e não pelas que tomamos por adquiridas e, desse ponto de vista, convém conhecê-lo muito bem. É por isso que se aprende mesmo com os 90 por cento de lixo na blogosfera. E aprende-se ainda melhor se olharmos para o 10 por cento que não é lixo, porque para essa parte da Rede irá migrar uma parte mais dinâmica do espaço público, que conhece melhor o monstro e que já fez a prova do monstro. Tratar os blogues como um quiosque dos jornais indiferenciado é deitar fora o menino com a água do banho. Vamos em seguida falar dos 10 por cento, número optimista, eu sei.» [Público assinantes Link]

Mande-se um pedido de desculpas ao director do Público por este pequeno abuso.
Digamos que é uma pequena recompensa pela publicidade gratuita que aqui damos ao seu jornal.

 
At 10 de novembro de 2006 às 14:07, Blogger Zé da Ponte said...

Para quem não se recorda do texto do MST ele aqui fica na totalidade:

CYBERCOBARDIA

«Excepção feita ao correio electrónico e à consulta de «sites» informativos, a Internet interessa-me zero. Todo esse universo dos «chats» e dos blogues não apenas me é absolutamente estranho como ainda o acho, paradoxalmente, uma preocupante manifestação de um processo de dessocialização e de sedentarização das solidões para que o mundo de hoje parece caminhar. Saber que nesses ‘sítios’ imateriais é possível fazer praticamente tudo, desde arranjar parceiros amorosos até recrutar terroristas para a Al-Qaeda, não é, a meu ver, um progresso ou facilidade, mas uma espécie de impotência, de desistência de viver a vida como ela é.
Tenho lido muitas opiniões contrárias, de gente que acredita que os blogues e toda essa conversa «in absencia» são uma forma moderna de democracia de massas, directa e instantânea, como nunca houve: uma espécie de «speaker’s corner» planetário. Mas discordo: não penso que a qualidade da democracia se meça pela quantidade de envolvidos e, menos ainda, pela irresponsabilidade. Não há liberdade de expressão onde existe impunidade do discurso. E se no «speaker’s corner» fala quem quer, também é verdade que quem fala tem o rosto a descoberto, pode ser convidado pelos circunstantes a identificar-se e pode, sobretudo, ser confrontado e contraditado por estes - enquanto na maioria dos blogues o anonimato é regra, santo e senha.
Mas não há nada melhor para confirmar ou desmentir uma teoria do que experimentar-lhe os efeitos. No meu caso pessoal, as experiências que conheço têm sido eloquentes: por duas vezes me foram atribuídos na Net e postos a circular textos que não tinha escrito e cujo conteúdo repudiava veementemente; o mais longe que consegui desfazer a falsificação foi o círculo de amigos que me falaram no assunto. De outra vez, deram-me a conhecer a existência de um blogue onde um autor anónimo se dedicara a fazer a minha biografia, acrescentada posteriormente por toda uma série de contribuições igualmente anónimas: eram 27 páginas de conteúdo (!), mas bastou-me ler as duas primeiras para desligar, enojado com a capacidade de invenção, difamação grave e cobardia que aquilo revelava. Esta semana, enfim, estava-me reservada mais uma experiência do género.
Um qualquer tipo dera-se ao trabalho de pegar num romance meu, manipulá-lo devidamente (por exemplo, pegando num início de frase e acrescentando-lhe outro situado 12 páginas adiante), para afirmar, sem estremecer, que todo o meu livro era um plágio do outro, “uma fraude sem pudor”. Uma hora depois de este blogue ter nascido, exclusivamente dedicado a acusar-me de plágio, um jornal telefonava-me para casa a pedir um comentário à “acusação”. Primeiro, pensei que estavam a brincar, depois percebi que levavam a coisa a sério e tentei mostrar o absurdo daquilo: o meu livro era um romance histórico, em que os personagens principais eram todos ficcionados, assim como a história, o outro era um livro de história, um relato jornalístico do mandato do último vice-rei inglês da Índia, em que os personagens eram o Mountbatten, o Nehru, o Ghandi, o Jidah; o meu livro situava-se em 1905, em São Tomé, o outro em 1949, na Índia; o meu tratava da escravatura nas roças de cacau de São Tomé, a par de uma trama amorosa, o outro tratava da independência da Índia; enfim, como se perceberia, simplesmente, lendo-os, tanto a construção narrativa como a escrita eram obviamente diferentes, tratando-se de géneros literários totalmente diferentes. Mas o autor do blogue revelava-se um profissional da manipulação: ele pegava em excertos afastados entre si da versão inglesa do outro livro, colava-os como se fossem uma só frase, comparando-os então com outras frases minhas a que chamava “tradução” e que um jornal dizia serem “frases inteiras iguais”. Mas iguais eram apenas os factos nelas contidos: os dados biográficos de quatro marajás da Índia. Ora, como tentei explicar, qualquer pessoa percebe que um romance histórico ou um livro de história, quando chega aos factos reais, tem de recorrer a fontes, que são outros livros ou documentos preexistentes. De outro modo, não os tendo vivido, ao autor só restaria inventá-los ou distorcê-los, para não ser considerado plagiador: eu deveria então ter trocado os nomes ou os dados biográficos dos marajás que convoquei, assim como os do senhor D. Carlos ou de outros personagens históricos que entram no meu romance. Em vez disso, limitei-me a fazer uma coisa que nem sequer é habitual neste género literário: identifiquei as fontes a que recorri, entre as quais o tal livro que o anónimo da Net me acusava de ter copiado - ou seja, deixei as pistas todas para ser ‘apanhado’. Porém, o meu Torquemada concluiu ao contrário: se eu citava 29 livros como elementos “de consulta do autor” e se ele, recorrendo apenas a um deles, encontrara semelhanças com duas páginas das 518 do meu livro, era caso para “esfregar as mãos de contentamento, partindo à descoberta de mais algumas pérolas da exploração do trabalho alheio”.
Infelizmente, ninguém se deu a esse trabalho ou menos até. Debalde, tentei explicar ao enxame de jornalistas que imediatamente me caiu em cima que o simples facto de darem eco àquele blogue anónimo, sem verificarem previamente o fundamento da acusação gravíssima que me era feita, equivalia a transformar uma mentira privada, ditada pelo despeito e inveja, numa calúnia produzida à vista de milhares. Com esta agravante decisiva: o único meio de que disponho para defender eficazmente a minha honra e o meu trabalho, que é o tribunal, está-me vedado, pois não sei de quem me queixar e quem fazer condenar como caluniador. Não sendo esta a regra, como poderá alguém, por exemplo, defender-se convincentemente de um blogue anónimo que o acuse de pedofilia, tráfico de drogas ou qualquer outra coisa abominável? Tentei explicar que, perante isto, não bastava reproduzirem a acusação e ouvirem a minha defesa. Era pelo menos necessário que lessem os dois livros e percebessem que tudo aquilo era absurdo e que a aposta deste manipulador anónimo era justamente a de que os jornalistas não se dessem a incómodos.
Foi tudo em vão, claro. Responderam-me que o outro livro não estava disponível em Portugal e que, “face à gravidade da acusação” (justamente...), não se podia ignorar o assunto, pois, como me explicou sabiamente um jornalista eufórico, “a bola de neve está a correr e é imparável”. E correu. E foi. Dos tablóides ao respeitável ‘Público’ - onde, confessando-me não ter conseguido obter o livro supostamente plagiado (e, se calhar, sem sequer ter lido o meu...), uma jornalista escreveu, preto no branco: “Há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais”. E, assim, com esta ligeireza, se suja a honra de uma pessoa e se enxovalham anos e anos a fio de trabalho, esforço e imaginação.
O que já sabia dos blogues confirmei: em grande parte, este é o paraíso do discurso impune, da cobardia mais desenvergonhada, da desforra dos medíocres e dessa tão velha e tão trágica doença portuguesa que é a inveja. Mas fiquei a saber, e não sabia, que os blogues, mesmo anónimos, são uma fonte de informação privilegiada e credível para o nosso jornalismo.»
Miguel Sousa Tavares

 
At 10 de novembro de 2006 às 14:09, Anonymous Anónimo said...

Informe-se o Miguel Sousa Tavares que a generalização é injusta, ainda que perdoável pela sacanice que lhe fizeram e para a qual não seria necessário nenhum blogue

 
At 10 de novembro de 2006 às 14:10, Anonymous Anónimo said...

Que Miguel Sousa Tavares, um dos jornalistas que mais aprecio, não goste de blogues compreende-se, como também se compreende que confunda junte blogues e chats no mesmo saco pois não é obrigado a conhecer as diferenças, e até se entende o sentimento de revolta pela sacanice inqualificável que lhe fizeram e que ganhou dimensões graças a colegas de profissão, mas que acuse todos os blogues "anónimos" é algo que não se pode aceitar, até porque está a ser juiz em causa própria.

 
At 10 de novembro de 2006 às 14:16, Anonymous Anónimo said...

Mas, Miguel Sousa Tavares, você NÃO SABE NADA DE BLOGS.
Àquilo que chama covardia, desforra de medíocres e coisas assim, eu chamo AMEAÇA A ÍDOLOS DE PÉS DE BARRO. E esteja preparado:
OS BLOGS VÃO SER, CADA VEZ MAIS, UMA FONTE PRIVILEGIADA E CREDÍVEL PARA O JORNALISMO. Não para o seu. Este tem o direito de contraditório garantido por natureza e, no meio de milhões, só os verdadeiramente interessantes se fazem notar

 
At 10 de novembro de 2006 às 16:20, Anonymous Anónimo said...

Tentaremos enquadrar o "problema" do Miguel Sousa Tavares (MST) em vários tempos começando, desde já, por apreciar como ele termina o seu texto - até porque se eu (Pedro Manuel, autor do comentário) - quisesse ser maldoso (e invejoso e quezilento), como muitos bloggers o são (e alguns estúpidos e arrogantes senão mesmo ofensivos e sem a menor formação cultural) - dizia já que o MST plagiou o Camões porque acusou a generalidade dos bloggers de serem invejosos (o que é verdade). Dizia o génio Luís Vaz:
[...]
Fico que em todo o mundo de vós cante
De sorte que Alexandro em vós se seja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja.
É claro que ele não plagiou o Camões que, aliás, foi o Homem que melhor definiu um dos traços estruturantes da personalidade colectiva dos portugueses.
Ainda numa última conversa com oito amigos o dizia, por mero acaso, e agora volto a este assunto por causa de alguma blogaria menos escrupulosa que mancha o nome daquela outra que aqui se comporta com alguma decência, com regras e ética, ainda que combatendo e lutando contras as injustiças deste mundo. E aqui, o MST, que pensa e escreve bem, tem notoriedade - teve o pai e a mãe que teve (pessoas cultas, preparadas e referências para qualquer um de nós) - terá de ser menos absoluto e perceber que já há hoje pessoas em Portugal, inclusive na blogosfera, que fazem tudo isso tão bem ou melhor do que ele, têm tantos ou mais leitores do que ele e, nem por isso, são pessoas invejosas, cobardes, mesquinhas ou quezilentas. E é aqui, naturalmente, que a generalização de MST peca porque toma a árvore pela floresta, o estaleiro dum blog anónimo pelo castelo, os moinhos-de-vento por gigantes...
Estranho isto por parte de um jornalista/repórter/escritor do calibre de MST.
O que seria a sua resposta se a farpa tivesse nascido dum colega seu de jornal???
Apesar da objectividade com que Miguel escreve esta generalização, ainda que caricata e burlesca, reporta-me aquele confusão resultante da situação das duas meretrizes que manifestam a D. Quixote tanta consideração e delicadeza que este as toma por donzelas de nobre estirpe da corte.
O mesmo se passa com o esquema mental de Miguel e com toda a sua argumentação em considerar relevante um blog anónimo (que logo desapareceu, impune e cobardemente) que o acusou de plagiador - de uma sacanice que ele não cometeu. Mas é esta radicalização (vitimização) que, confesso, não compreendo na pena de MST:
Não sendo esta a regra, como poderá alguém, por exemplo, defender-se convincentemente de um blogue anónimo que o acuse de pedofilia, tráfico de drogas ou qualquer outra coisa abominável?
(sugerimos ao MST que interponha requerimento à autoridade judicial competente a fim de descobrir o IP correspondente do autor dessa injúria e mande proceder a investigações com vista a instaurar um processo crime ao autor/s material desse blog.
O MST é jurista, conhece as leis, e como vivemos num (suposto) Estado de direito deve defender-se e fazer valer o seu direito a essa luz. Fazer as generalizações injustas que fez e nada fazer perante a Justiça revela duas coisas: não acredita no Direito/Justiça do seu País; persiste no erro básico da sua generalização).
Incorrendo, assim, numa injustiça para com todas as outras pessoas e blogs de bem.

Além de que o exercício ao recurso da figura da generalização - em qualquer temática - é analiticamente tão arriscada quanto ilógica, e até estranho isso nele - pessoa inteligente e culta - parece que ficou desamparado e perturbado ante aquela crítica anónima (e cobarde e com escasso fundamento técnico-literário) - e recorreu a esse absurdo analítico para se justificar perante esse tal blogger anónimo. Por isso, concluíu dizendo: O que já sabia dos blogues confirmei: em grande parte, este é o paraíso do discurso impune, da cobardia mais desenvergonhada, da desforra dos medíocres e dessa tão velha e tão trágica doença portuguesa que é a inveja. É pobre, pobrezinho... Camões disse-o há 500 anos com pleno fundamento, o MST claudica ante um sopro duma andorinha.
Embora, não haja estatísticas sobre essa arrogância e inveja institucionalizada que grassa na blogosfera, cremos, contudo, que o MST aqui esteve menos bem, e porquê?
Neste particular, e pressionado quer pelos jornalistas (e ele é um jornalista, sabe como pensam e actuam melhor do que ninguém) ele deveria ter tido outra abordagem: aceitar dar uma conferência de imprensa desafiando o autor(es) do tal blog (nunca viu ou leu) na presença do acusador.
Doutro modo remeter a "estória" e o seu ténue fundamento - para o caixote do lixo da maledicência e da pura inveja ou qualquer outro ajuste de contas do passado ou outra motivação da condição humana que a psicologia explica.
Fazer o que o MST fez, pareceu-nos uma reacção perturbada, nervosa e até pouco lúcida e inteligente. Reagiu como aquele marido que chega a casa mais cedo do que o esperado e apanha a mulher com outro na cama. Revelando que, afinal, até os grandes repórteres em Portugal se deixam instabilizar por um arrufo desbragado... É dos nervos, dirão os psiquiatras... Uma ninharia, - o que revela a má fé do seu autor(s) e dos intentos que através dele procurou obter - manchando, assim, o nome de todos aqueles que se servem dos blogues para analisar os fenómenos sociais de forma séria e transparente. E, pelos vistos, dada a escassa lucidez do MST - conseguiu (em parte). Já vimos MST enervado por causa do desordenamento urbano e paisagístico, por causa do "sangue-suguismo" financeiro de Alberto João Jardim, por causa dos militares sentados à manjedoura do OGE, mas agora por causa dum blogger anónimo!!! Sem existência/permanência na rede...

Porventura, bem mais consistentes foram as críticas que Vasco P. Valente lhe dirigiu e que estão inseridas no livro de João Pedro George (JPG), Não é fácil dizer bem, ed. Tinta da China, 2006, págs. 63-68 - onde se afirmam as seguintes passagens:
O problema central deste livro (Equador) está na escrita, que se presta a grandes reparos e deixa muito a desejar: "pobreza do vocabulário, limitados recursos expressivos, estilos sem matizes, descuidado, repetitivo. O suficiente para vulgarizar um livro. Feri-lo de morte". Ex: João Forjaz, um dos membros do grupo das quintas-feiras e seu amigo de sempre (p. 18); "mal tinha acabado de entrar na sala de baile, vindo do bar e das mesmas conversas de sempre com os mesmos de sempre" (p.26). Segundo sistematização de JPG. Eu, confesso, nunca li um único livro de MST, embora saiba que pensa e escreve bem e de forma consistente.
O seu extenso contributo na imprensa provam-no à saciedade.
De modo, que é de admitir existir neste epifenómeno, artificialmente criado, muita inveja e sacanice, mas não por esta ordem.
E prosseguem os exemplos que, segundo, JPG, fazem de MST um escritor com vocabulário pobre: "volta e meia tropeçamos em coisas como o melhor peixe do mundo (p.23), "dar resposta mais natural do mundo (p.28), "como se fosse a coisa mais provável do mundo (p.34), serviram sumo espremido das laranjas de Vila Viçosa - as melhores do mundo (p.36), demorara todo o tempo do mundo (p.96), "o homem mais rico e mais avarento do mundo (p.245), com o ar mais calmo e natural do mundo (322). De seguida JPG aduz mais exemplos semelhantes colhidos ao longo do livro Equador de MST.
Será isto grave no livro tão extenso??? Não me parece... Apesar de, como referi, não ter lido o livro, apenas me baseio na fundamentação de um jovem sociólogo da cultura que anda aborrecido com o mundo - porque o mundo não lhe deu aquilo que ele, quiça justamente merecia - e então dedicou parte do seu tempo a estas coisas, e bem, cremos nós. Ao menos não se meteu na droga nem deu em ecofundamentalista...
Mas isto não chega para "morder as canelas" de MST, revela apenas descuidos, desatenções, sucede a qualquer escritor que escreve um romance longo e não é perfeccionista como o aristocrata do Eça (que era um cagãozinho e nem a categoria social "povo" avulta nos seus romances, coisa que ele tenta remediar no fim de sua vida), e depois a coisa é publicada com alguma negligência vocabular, mas não tão grave como aquele episódio do Luís Pacheco - que foi publicado com "alhos" e bugalhos" à mistura porque o editor, e a pressão do tempo para publicar, por vezes conduzem a erros gritantes. MST é ainda acusado de muletas literárias, de vícios de linguagem, de recriar uma monotonia de paisagens (narrativas) que podem aborrecer o leitor.
Depois de substanciar mais e melhor o seu ponto de vista JPG conclui que MST é portador duma insuficiência linguística, limitação na linguagem? Trapalhice?
Custa-me a admitir, mas é o que parece (p. 68) - diz - JPG.
É óbvio que JPG não é aqui uma referência clássica para nós, é um instrumento de trabalho disponível actual e útil, ainda jovem como jovens são as suas apreciações sobre cultura portuguesa e universal, apesar de ser um sociólogo da cultura (creio, e até me solidarizei com ele por mail - que ele me retribuiu gentilmente - quando a acusadora Margarida Pinto Rebela fez dele réu e cuja causa perdeu aquando da edição de um outro livro seu - Couves e Alforrecas - em que denunciava aquela de plágio da autora ligth) ...

Só que o Miguel Sousa Tavares tem outra formação, outra inteligência, outra lógica, outro background, em suma, tem outra estatura e outra cabeça. Espero que agora o JPG não me acuse aqui de ter utilizado muitas vezes a palavra "outra" e de ter um vocabulário pobre... Além de ter tido, como referi, os pais que teve, e isso deve ser relevado, muito em particular a senhora sua Mãe, Sofia Mello Breyner Ardersen recentemente desaparecida entre nós - e que deixou uma imensa obra de excepcional qualidade. Portanto, o Miguel é fruto duma circunstância socio-cultural e familiar concreta, foi alí buscar um capital genético - depois aprofundado e afinado - por toda uma educação que a maioria dos portugueses não tiveram nem terão.

Mas o MST é, sublinhe-se, daquelas pessoas naturalmente inteligentes.
Aliás, ele transpira inteligência.
Ele podia escrever o maior plágio do mundo, que a sua oralidade, a sua capacidade de argumentação, ou seja, a sua estrutura lógica e de relacionação dos factos (políticos, económicos e culturais), suprimem essa falta ou insuficiência vocabular que, alegadamente, aquele jovem sociólogo o acusa. O mesmo que há dias debitava umas generalidades socioliterárias sobre a vida e obra de Luís Pacheco.
Aí sim, registei uma fraseologia muito pobre por parte de JPG, muito emotivo e pouco construtivo...
O mesmo que ora acusa MST na sua escrita naquele seu livro que aqui faço o favor de lhe citar.
Ou seja: há pessoas que pensam, falam e escrevem bem, é o caso de MST (especialmente crónicas, que é as que melhor conheço); e depois há casos, o daqueles rapazes que escrevem umas coisas e quando abrem a boca denunciam uma oralidade made in Jorge Coelho (pois não "hádem" que sim, pois concerteza!!!).
Isto só não basta para crucificar uma pessoa...
Einstein tinha uma oralidade muito áquem da sua inteligência conceptual e experimental...
Guterres, como se lembram, tem uma lógica discursiva genial, parece uma récita de poemas, fala 7 línguas em sete minutos, no entanto a sua governação terminou como terminou; o "Fujão" Barroso não pensa, não fala nem escreve, afirma apenas os seus interesses pessoais e políticos e vai-se safando à custa dos parolos que o elegeram - primeiro em Portugal, depois para a Europa (G.W. Bush e a arrastadeira Tony Silva Blair).
Sócrates esgrime bem, mas nunca escreveu nada, veremos como continuará a governar.. Portanto, cada caso é um caso, e as generalizações também aqui são redutoras e perigosas.
Mas regressando ao Miguel, que é uma pessoa que admiramos - naquele seu registo temperamental e mordaz, incisivo, lógico, ambientalista e humano q.b., e sem nunca adular ou abanar a cauda aos ricos e aos poderosos deste mundo, mostrando sempre o lado mais humano (e justicialista) dos problemas. Mesmo que cometa imprecisões exóticas, como a que supostamente decorreu de colocar papagaios nos jardins da casa do governador em S. Tomé, quando estes só existem na outra ilha (no Príncipe), além da omissão aos crioulos santomenses...
Tudo desatenções de somenos que, cremos, não prejudicam uma narrativa de fôlego, ao que parece. Porque, como disse, nunca li nenhum livro de MST. Nem creio ser necessário...
Há outros bons indicadores para sedimentar um juízo.
Mas o erro mais grave do MST é outro, bem outro.
Resulta do seu gritante analfabetismo digital.
Ele nem se apercebeu das barbaridades que disse logo no arranque do seu artigo: Excepção feita ao correio electrónico e à consulta de «sites» informativos, a Internet interessa-me zero. Todo esse universo dos «chats» e dos blogues não apenas me é absolutamente estranho como ainda o acho, paradoxalmente, uma preocupante manifestação de um processo de dessocialização e de sedentarização das solidões para que o mundo de hoje parece caminhar. (...)

É óbvio que isto "mata" o argumentário do Miguel em matéria de sociedade do conhecimento.
Revela confusionismo tecnológico (chats e blogs - que reconhece serem-lhe estranhos..., ao menos admite a sua ignorância digital!!!), não perceber que a sociedade não se pode ater ao consumo acrítico de tv e jornais, e que hoje, muito boa gente (onde presumo incluir-me, e outros muito melhores do que eu - que fazem mais num dia do que o Miguel em 2 meses) entram e navegam na Net e produzem conhecimento, teoria, informação completando, assim, falhas graves que muitos jornalistas, alguns dos quais mal formados (e pior informados) todos os dias veiculam para o espaço público, formatando errada e falaciosamente a opinião pública portuguesa. Portanto, aqui o Miguel deveria ser mais humilde e não falar daquilo que não sabe ou desconhece parcialmente. Seria bem mais interessante se falasse do que sabe, do jornalismo e dos jornalistas que o rodeiam. Aí é que o terreno está efectivamente minado, mas aí ele não entra...

Mas o comentador vai aqui dar uma ajudinha ao Miguel, até pela consideração que nos merece, - não creio que MST tenha razão quando aventa outra bujarda que tanto pode valer para alguma blogosfera como para algum jornalismo. Segundo afrma: os blogues conduzem a processos de dessocialização e de sedentarização das solidões - blá, blá, blá... Esta o Miguel deve-a ter recolhido daqueles manuais bolorentos de sociologia da família (de tipo neomarxista, fazendo lembrar as sebentas inúteis de vital Moreira) editados na década de 70/80, mudando só o nome às coisas. Então isto não era já aplicado ao visionamento de TV?
Claro que sim... E é obvio que aquela asserção tanto pode conduzir à alegada dessocialização como, ao invés, potenciar laços pessoais, profissionais e alavancar competências na Rede - que ele revela desconhecer.
Então o Miguel nunca ouviu falar na teoria da rede??? Das suas vantagens e virtualidades, mormente ao nível da sistematização de conhecimento que está disperso fluindo por caminhos errados, e que a blogosfera pode ajudar a encaminhar. É óbvio que a cultura da sociologia da informação do Miguel é demasiado limitada, a sua reflexão não lhe permite ter elastecidade sifuciente para perceber que 1 + 1 pode ser igual a 3, a 6, a 8 ou 22.
O Miguel carece urgentemente de ler algumas coisinhas nesta área do saber, desde logo porque desconhece a forma como a critiavidade se aprofunda entre duas ou mais pessoas (bem intencionadas, é claro - e até podem ter a sua identidade oculta - como fazem o muitos blogues portugueses e um dos mais recentes que tem identidade oculta mas que não integra nenhuma associação de malfeitores), daí o perigo das generalizações acussadas, perigosas e redutoras de MST veículadas ao Expesso este fim de semana. Mas percebe-se porquê: o Miguel ficou nervoso, claudicou ante a investida dum anónimo... e reagiu como um "touro" ferido fora da arena.

E o que fez Miguel para além de "galgar os taipais" do Campo Pequeno (figurativamente falando) e de ter interrompido o trânsito na Av. da República por 10 min.?!
Para que serviu esse show-of na sociedade portuguesa...
Para se lamentar, para dramatizar, para empolar uma questiúncula sem expressão dum blogger cobarde..
Ou para atingir a blogosfera no seu conjunto (misturando a boa e a má) - porque não gosta, detesta ou quer mesmo exterminar a blogosfera em Portugal?!
Para quê, afinal?!
Que contributo intelectual deu Miguel à discussão?
Talvez o mesmo que deu em tempos Pacheco Pereira, regando com gasolina de avião um fogo que queriam extinto...
Mas convinha que o Miguel - futuramente - não escrevesse tanta banalidade acerca da blogosfera como se ela fosse toda igual.
Eu também não comparo a qualidade intelectual e analítica do Miguel a alguns jornalistas de pasquins como os crimes, do 25h, as caras ou doutras publicações do grupo balsemão - onde o Miguel trabalha - que nem para forrar o caixote do lixo servem.
O Miguel deve ser mais humilde, repito, talvez começar por ler Arthur Koestler para perceber o acto da criatividade (ou da criação), ou seja, como se desenvolve a aprendizagem em que, por vezes, o professor e aluno são a mesma pessoa, o mesmo se diga do repórter com o leitor, o governante com o governado, o médico com o paciente. Mas se sentir necessidade pode regressar ao velhinho Piaget, nunca é tarde para aprender os fundamentos…
Basta que sejamos humildes.

Exs: quando o Miguel fazia aquelas belas reportagens do fim do mundo havia essa identificação entre o repórter e o leitor (porque a subjectividade de um ía ao encontro da objectividade dos factos); quando Guterres tomou em ombros a independência de Timor-leste (dizendo em privado a Bill Clinton - na altura apertado pelas saías de orgásmicas de Mónica - que se este não ajudasse aquele se demitiria da Internacional Socialista e do governo português - ainda que fosse um grande bluff, mas Clinton levou-o a sério e pressionou o ditador de Jakarta, o ditador de Comoro) - aí o povo português indentificou-se nesse desígnio - havendo, por isso, indentificação entre governante-governado.
Os exemplos destas legitimidades poderiam repetir-se, contrariando a ideia do Miguel quando afirma que os blogues servem para fragmentar as pessoas em lugar de as unir ou fazer convergir em torno dum objectivo de conhecimento, criando uma comunidade epistémica de que, por exemplo, o blog … é um caso recente.
Se o Miguel lá for verá que aprende duas coisas: um pouco de teoria da globalização e também aprende a ser mais humilde quando teoriza sobre coisas que desconhece quase em absoluto. Será que ele é dos tais que ainda anda à procura da "@" debaixo da mesa da sala de jantar?! Quer-me parecer que sim...
Dizemos ainda ao Miguel o seguinte: construir uma rede de conhecimento - pode hoje ser possível através dum simples blog (que ele desconhece e confunde com os chats), tal significa fazer crescer os índices de transferência e de transformação do conhecimento entre duas ou mais pessoas.
Para isso, não é preciso criar uma empresa como o Expresso - onde o Miguel escreve, basta apenas que o Miguel saiba blogar e acertar no Publish do blogger, e assim começar a alavancar conhecimento em toda uma problemática. Basta que se desloque o conhecimento do plano individual para os níveis de grupo no seio de um mesmo blog - ou duma rede deles que se possa consolidar em torno duma dada temática.
Sem que o blogger - que pode ser um jornalista, um médico, um investigador, ou mesmo o Miguel - se converta num mero gestor de imagem ou apresentador de tv ou de programas de entrevistas.
Os blogues são hoje as ferramentas mais perfeitas e maduras da internet, pois facultam uma tecnologia e uma capacidade de rede que permite multiplicar o conhecimento a uma forma infinita, inimaginável. Trata-se duma estrutura conectiva de que o Miguel nem sonha, tanto mais gratuita - fornecendo assim aos milhões de leitores - artigos, opiniões, ensaios, etc, - que o Miguel nunca conseguirá pensar ou escrever, ou até supor que um dia poderá imaginar no que já foi feito e/ou publicado.
É aqui - neste patamar da ignorância e do analfabetismo digital - que o Miguel navega e acaba por ser aprisionado. E por quem???
Por um anónimo que entrou na rede à velocidade da luz, fechando logo a sua "tasca" a seguir por medo e cobardia...
Desconhece as conexões entre os blogues, o que versam, como funcionam, que massa crítica comportam, como arrancam e como se desenvolvem, no fundo, o Miguel conhece tanto destas estruturas conectivas como eu de caractéres chineses ou de culinária tailandesa. E só por pudor é que não cito aqui a cerca de dúzia de links que o Macro tem escrito sobre essas lutas entre a mediasfera (onde está o Miguel, com acesso fácil aos jornais, rádio e tv) e a blogosfera (de que a maior parte das pessoas está privada). E daqui não decorre nenhuma inveja, note-se - até porque eu próprio considero produzir mais num dia do que o Miguel numa semana, com toda a franqueza... E só não lhe recomendo a leitura do …, talvez o melhor blog nacional (e com o qual no outro dia até fui confundido, para meu elogio, certamente!!) para não o envergonhar.
Aí ele perceberia o que valem os seus artigos, a sua oratória, todo o seu background... E, quiça, até os seus livros.
Mas nunca é tarde para ver e comparar...
Afinal, a mediasfera sente-se hoje acussada (e em parte com razão, por causa desses pequenos energúmenos bloguistas que usam da ofensa e da falta de argumentos para injuriar tudo e todos) - e grita o Miguel - Ao Lobo!!!
Ao lobo!!!! - só que durante anos essa fórmula - já esgotada - foi aplicada a certos jornais, hoje ela é canalizada para a blogosfera - sem, contudo, os acusadores fazerem um esforço para deixarem de serem tão analfabetos (digitalmente falando) e, ao mesmo tempo, trazerem verdadeiros contributos decorrentes das mudanças que foram introduzidas por aquelas aplicações informáticas que, silenciosamente, são hoje utilizadas por milhões de pessoas, integrando-as num contexto de produção de conhecimento que não seria possível se esse dispositivo não estivesse disponível no mercado das aplicações (e de forma gratuita).
É também isto que o Miguel desconhece...
E porquê?
Voltamos ao mesmo...
O Miguel não sabe "puto" deste meio e confundiu tudo e todos.
Meteu as meretrizes no lugar das donzelas, estas no lugar daquelas; misturando pardieiros com espaços de reflexão/castelos, misturou a árvore com a floresta e os moinhos-de-vento com os gigantes.
Talvez um regresso a D. Quixote, este sim - um verdadeiro romance - não lhe faça mal nenhum...
Ao menos poderia corrigir os erros de que alguns os acusam.
Ele terá de compreender que esta mudança é imparável, mas para o Miguel só contam os mails - pois deve ser a única coisa que ele deve saber manipular num PC, as secretárias farão - porventura - o resto...
Mas são os blogues, e não a imprensa onde o Miguel escreve, que está a modificar a nossa relação com a informação.
A forma de produzir, gerar e acumular conhecimento, de gerar comunidades epistémicas, de alfabetizar muita gente que até é na blogosfera, paradoxalmente, que aprende a escrever - componente importante da alfabetização.

Quantas e quantas pessoas não aprendem hoje a ler Sofia Mello Breyner Andersen pela net - que depois usam nos seus blogues - de forma gratuita e levando o nome da escritora mais longe???
São, provavelmente, as mesmas pessoas que não terão recursos para comprar um livro de poesia da mesma autora, apesar de a divulgarem cada vez mais.
Será que o Miguel já pensou nisto??? Ou ainda vegeta naqueles raciocínios de pacotilha de sociologia da família da década de 70...

Confesso que aqui a elaboração intelectual do Miguel foi minada pelo desequilíbrio psicológico e pela instabilidade emocional em que o tal "artista" do blog anónimo o deixou.
Empurrando o Miguel para fora dos taipais do Campo Pequeno para bloquear o trânsito da Av. da República por 10 min.
Por último, e para não me alongar, embora seja a consideração intelectual que devemos todos ao Miguel Sousa Tavares (creio, embora só fale por mim) - gostaríamos de lhe dizer o seguinte: actualmente, são os sectores mais avançados da sociedade aqueles que estão conectados e não, como ele diz, aqueles que estão isolados. Então, o seu expresso não tem por lá tanta blogaria??? Alguns até são tecnólogos de coisa nenhuma, julgando-se gurús da sociedade tecnotrónica, e quando os vou ler - só posso dizer... coitados!!! Estes tipos não conseguem integrar conhecimento, apenas debitam sounds, bites e bytes. E alguns são tão lesmas que nem de semântica percebem. Não percebendo sequer quando gozamos (carinhosamente) com eles...
Hoje as hierarquias já não se fazem hierarquicamente, de forma centralizada, de cima para baixo, mas de forma horizontal, através dos diversos nós da rede que já nada têm a ver com o esquema mental de pensamento industrial que o MST denuncia ao longo daquele seu texto, em que se procura defender dum cobardola que nem a coragem tem para revelar o seu nome.
Quanto ao Miguel, e à consideração que temos por ele, só lhe podemos dizer - que apareça - nem que seja para discutir ideias.
O Pacheco Pereira já o começou a fazer, e às vezes não se dispensa de ser justamente criticado. E como não tem resposta ou não sabe o que responder - ou porque encontrou alguém que já leu ou rasgou os livros por onde ele aprendeu - cala-se. Espero que não lhe siga os passos...
Senão vou pensar que é como JPP, só discute política ou ideias com o "genial" do Jorge Coelho - que me dispenso aqui de classificar..
Pois nesta área do conhecimento, percebemos que terá muito ainda que aprender. Mas compreendemos a posição que o Miguel toma neste particular, neste choque de micro-poder, a que ele, descontroladamente, deu demasiado poder/importância.
Hoje, muitos jornalistas, até os mais experimentados, regra geral aqueles que não têm um conhecimento aprofundado da Rede ou do Rizoma, sentem-se atacados por esta nova entidade, por este decisor oculto (o meu tem identidade) que entrou de forma algo indelicada no chamado ecossistema da mediasfera reinante, e que agora se vê a esperniar porque cessou o termo do seu monopólio.
Fragmentando até o mercado (e os lucros) da velhinha imprensa...
Um dos grandes erros de MST é o de não perceber que a mudança em curso não decorre apenas dos conteúdos, mas na nova natureza das relações e da nova classificação que tende a codificar esse novo relacionamento entre pessoas e organizações.
O Miguel ainda pensa que esses dois sistemas (mediasfera/jornalismo de poltrona e a blogosfera) são concorrentes entre si, e vivem genéticamente em contraposição.
Tamanho erro!!!
Os blogues e o velhinho jornalismo tendem - cada vez mais - a serem complementares - pelo que integram uma galáxia maior - do que se estivessem operando isoladamente no sistema.
Embora um e outro tenham, naturalmente, códigos, regras e equilíbrios distintos.
Sendo certo que a blogosfera pode ser boa tal como o jornalismo. Uns e outros podem dar-nos análises enriquecedoras sobre o nosso mundo, contribuir para valorizar percepções que cada um de nós tem do meio social, político e cultural em que vivemos.
Dito de outro modo: pela blogosfera, os indivíduos - as pessoas anónimas - passaram a participar no grande debate de ideias e no jogo de influências da chamada formatação da opinião pública. E parece que isto desagrada a muita gente nos velhinhos jornais de papel… Rouba palco a alguns jornalistas.
Enviamos daqui um abraço ao Miguel, com votos de boa sorte e com um "conselho" comezinho: nunca se deixe instabilizar por um ente sem rosto e de má fé...
Isso é também a estratégia do terrorismo ciber-virtual (errático) que hoje se abate sobre as sociedades europeias, salvaguardadas as devidas distâncias...

 
At 10 de novembro de 2006 às 17:05, Anonymous Anónimo said...

Durante bastante tempo acompanhei os comentários de MS Tavares às terças-feiras na TVI.
Confesso que inicialmente apreciava o seu estilo "bota abaixo".

Com o tempo apercebi-me que muitos dos seus comentários eram feitos sem qualquer conhecimento dos assuntos tratados.

Sobre o encerramento da fábrica da Opel na Azambuja, ele comentava.

- A Opel está em crise por má gestão e produtos pouco aliciantes para o consumidor.
e acrescentava
-Hoje em dia quem quer um Opel? Só se vêm Mercedes e BMW.

Pois é Miguel, o grupo GM é o MAIOR fabricante mundial de automóveis.

É claro que do banco estofado a pele do seu BM, você não olha à sua volta, para ver que a maioria dos seus concidadãos andam em carros de gama baixa, como por exemplo, Opeis Corsa.

A. Soares

 
At 10 de novembro de 2006 às 21:23, Anonymous Anónimo said...

Amordaçar a Internet

(...) A questão da liberdade, da perigosa liberdade, da Net começa a pôr-se também em países como Portugal. Ao lado dos inevitáveis abusos – não mais, nem decerto mais graves, do que os que diariamente se vêem nos jornais – o anonimato com que alguns "bloggers" se protegem, entre eles os jornalistas que publicam na Net factos que são impedidos de revelar nos seus jornais, tem sido, entre nós, o principal pretexto. Como se boa parte da informação hoje publicada na Imprensa não tivesse origem em fontes anónimas. A Net é (ainda) um país livre e plural. Para alguns, livre de mais. E, sobretudo, plural de mais. Há, pois, que amordaçá-la rapidamente.

Manuel António Pina
9 Novembro 2006
In Jornal Notícias


Já em artigo publicado na revista "Visão" da semana passada , Manuel António Pina denunciava a campanha em curso visando amordaçar a Internet. Eis um extracto que obtivemos via sexo dos anjos:

“Os jornais publicam todos os dias, como fazem alguns blogues, informações incorrectas ou incompletas, quando não simplesmente falsas, acusações sem provas, opiniões e comentários ofensivos, e exilam depois (quase sempre muitos dias depois) o direito de resposta dos visados para páginas recônditas e corpos 6 ou 8. Ao menos nos blogues (praticamente todos têm caixas de comentários abertas), correcções e rectificações são publicadas em directo e no mesmo exacto local, como bem lembra o blogue "grande loja do queijo limiano".

Como os jornais, há blogues mais credíveis e menos credíveis, e há blogues, como há jornais, sem qualquer espécie de credibilidade. Convenhamos, no entanto, que factos são factos, independentemente de virem com assinatura (pseudónima ou ortónima que ela seja) ou não. Não deixa, aliás, de ser sintomático do clima que hoje se vive em algumas redacções a circunstância de muitos bloggers serem jornalistas que publicam na blogosfera factos que não podem publicar nos órgãos de informação em que trabalham. Anonimamente, pois o preço da liberdade começa a ser de novo muito alto e nem todos podem pagá-lo. Heróis como Anna Politovskaia servem-se, como no poema de Reinaldo Ferreira, mortos ou, portuguesmente, apenas desempregados.

A questão do anonimato tem também sido posta na China, onde se pretende que os bloggers sejam identificados e tenham ficha na polícia. Mas a blogosfera, na China como por estas mansas paragens, é um espaço de liberdade e pluralidade que veio para ficar, é melhor irem-se habituando a isso os donos da informação.”

 
At 12 de novembro de 2006 às 22:41, Anonymous Anónimo said...

As Saudades que Eu Já Tenho Do Meu Rico Escudinho

Tenho saudades de quando as empresas têxteis estavam em dificuldades e graças às desvalorizações até com os chineses seriam capazes de concorrer. Tenho saudades do tempo em que a inflação tinha dois dígitos e o primeiro era o dois. Tenho saudades de quando não havia problemas orçamentais, nunca faltava dinheiro ao Estado, o único problemazinho que tínhamos era a balança comercial.

Era um tempo simpático, tão simpático que até o PSD era socialista, o Carrapatoso ainda andava no liceu, o Cavaco tinha sotaque de Boliqueime, e o Jerónimo de Sousa ainda era metalúrgico.
Que maravilha de tempo esse, se a coisa dava para o torto na balança comercial acordávamos com uma desvalorização, coisa que nem ocupava o tempo do café em discussão, a nossa indústria passava logo a ser competitiva e durante uns dias o nosso dinheiro mesmo desvalorizado ainda valia mais do que o dólar, pelo menos enquanto havia stocks.

E se ninguém pagava impostos bastava acelera um pouco mais as rotativas da Casa da Moeda que o problema se resolvia, nem empresas nem trabalhadores se queixavam dos impostos, não havia nem evasão fiscal nem devedores ao fico em listas na Internet, aliás, não havia Internet, coisa que só foi inventada muito mais tarde graças ao Simplex.

Com a inflação nos dois dígitos e aumentos na mesma proporção, depois de doze meses a apertar progressivamente o cinto passava dois com a sensação de nadar em dinheiro. Andávamos felizes, se os trabalhadores se faziam greves era mais a pensar na revolução do que na devolução do que tinham perdido, os sindicatos iam de vitória em vitória.

Agora é uma seca, para que as empresas ganhem produtividade temos que apertar o cinto, se não pagam impostos temos que apertar o cinto, se o Estado gasta em excesso temos que apertar o cinto. A política económica já não tem graça, não passa de uma escolha adequada do buraco do cinto mais adequado às circunstâncias.

Até as notas de escudo eram mais simpáticas, tínhamos lá os nossos heróis e não a mistura da Ponte Vasco da Gama com a Torre de Piza. Não valiam muito mas tínhamos muito orgulho nelas, até eram das mais bonitas do mundo, e se não fosse o Alves dos Reis até eram as mais seguras, não valiam muito mas eram seguras, não se desfaziam como as notas de Euro, como sucedeu na Alemanha.

Tenho saudades do escudo, era Ada vez mais pobre mas ao menos empobrecia feliz e sem dar por isso.

 
At 13 de novembro de 2006 às 11:30, Anonymous Anónimo said...

Cinismo e Paixão: as motivações de Pacheco Pereira

• LEITURA CRÍTICA AO ARTIGO DE PACHECO PEREIRA: A FAUNA DAS CAIXAS DOS COMENTÁRIOS, in Público de 20 de Abril de 2006 e publicado nesse mesmo dia no blog Abrupto
Antes de expendermos algumas críticas à posição ao artigo de Pacheco Pereira (PP) e à forma como ele meteu todos no mesmo saco, e ninguém gosta de ser misturado, nem os gatos nem, porventura, PP, presumo!!
É útil resumirmos aqui algumas das passagens, relações, conexões, determinismos e factos que o autor apresenta para sustentar a sua tese, muito discutível, aliás, tratando-se do país em que estamos: Portugal
• Diz ele que "a rede está a mudar tudo, a criar coisas novas" (...). Refere o caso dos Phishing, cyberstalkers, entre outras atitudes criminosas. Não me admiraria que ele invocasse a quantidade de crimes por minuto em N.Y., depois de fazer (ou sugerir) semelhantes extrapolações para a sociedade portuguesa. À partida, cremos que PP recorre a estes factos para alarmar e, assim, preparar o terreno para afirmar o que pretende dizer depois. À semelhança de quem quer impressionar uma dama, antes oferece-lhe uma rosa, depois fala-lhe ao ouvido. E às vezes resulta... Sucede, no caso vertente, que PP deu-nos com um cravo cheio de espinhos. Qui ça já a pensar no 25 de Abril...
• De seguida vem mais uma desgraça: uma menina de 10 anos que é assassinada por um blogueiro criminoso. Pensei para comigo: provavelmente, este tipo já era um criminoso em potência antes de se meter na blogosfera.. Também aqui os efeitos sugestivos de PP são tão escorregadios quanto perigosos, precipitados e abusivas. Pacheco manipula a realidade a fim de reproduzir mais realidade. Conclusão: Pacheco é um "construtor" de realidades!!! Mais uma vez, PP recorre ao expediente do alarme social made in states - wherever - para o aplicar, ainda que subtilmente, ao caso social portugês - povoado por um bando de anónimos que não o gramam porque, no seu entender, ele não linka nem tem caixa de comentários disponível e, assim, evita receber o ciber-lixo de todos nós, ímpios e infames, "perversos e frustrados". Eis a semântica, eis a gramática, eis a estrutura e encadeamento lógico de Pacheco Pereira no séc. XXI.
• Acho que nunca ninguém em Portugal enxovalhou tantas pessoas em tão pouco tempo via internet, como PP. Escreveu um artigo no Público e consumou essa ofensa colectiva duma só vez. Hoje, a esta luz, chego mesmo a supôr que PP não usa a sua caixa de comentários nem tem links com medo que lhe aconteça o mesmo que à menina de 10 anos!!! A circularidade deste tipo de argumentos, creio, levam-nos, pois, à circularidade destas igualmente "brilhantes" conclusões. Costuma-se dizer: para respostas estúpidas, perguntas estúpidas!! Hoje percebe-se, percebemos todos - após leitura do seu artigo no Público, como a sociedade lusa está tão perigosa como N.Y., S. Paulo, Rio de Janeiro ou outras megapolis do crime mundial cuja geografia PP conhece bem, e se encontra condensada num palmo de mão via internet. Este rigor "pachequiano" deixa-me estarrecido, confesso!!! Assim, nem J. Coelho o entende naquela "circunferência do quadrado".
• Mas isto não é tudo, porque as novidades - que já toda a gente sabe - prosseguem na sua douta agenda moralizadora, qual frade Savonarola.. São os "rastos da rede", altamente mortíferos, segundo PP. Ainda acaba contratado por Paulo Teixeira Pinto para identificar os haeckers que entram nas contas do millenium para sacar dinheiro ao banco de Jardim Gonçalves... Bom, e daqui Pacheco salta para a "cereja do bolo" que pretende, verdadeiramente, atingir: O Espectro: um blog-meteoro de Constança Cunha e Sá e Vasco P. Valente que granjeou notoriedade em dois meses e depois fechou. Também isto foi um "belo" contributo que aqui me dispenso comentar por o achar tão óbvio quanto lamentável. Mas este é, de facto, o nó górdio de Pacheco Pereira. Aqui reside a sua "pedra no sapato", aqui mora o seu "calcanhar de aquiles", embora ele doure a pílula como melhor sabe e pode a fim de ocultar o alvo que visa fulminar: o Espectro e os seus dois autores - Vasco Pulido Valete e Constança Cunha e Sá. Mas é, de facto, no perfil, função e comportamento desse blog que fixou, ou melhor, obcecou PP - nesta cruzada moralizadora que acabou por atingir, de forma indiscriminada, o conjunto da blogosfera. Julgo que isto é errado!!
Sendo PP um homem inteligente, culto e experimentado, goste-se ou não dele, pergunto-me por que razão fez tamanhas conjecturas, críticas quase a roçar a ofensa e a humilhação??? Porquê??
• Até parece que PP não é de cá.. Nós, pela sua leitura dos acontecimentos, é que integramos o manhoso conceito de "aldeia global" do canadiano M.Mchluan; ele, certamente!!! é de Marte, ou de Vénus.. Será que ele se considera um "deus", sempre acima de qualquer crítica? Se assim não é, porquê tanta sobranceria relativamente aos outros - dentro e fora da blogosfera?? Também aqui teremos de ser tolerantes para com ele. Teremos de dispôr de um Evangelho só para PP - a integrar a Bíblia numa próxima Pastoral. Talvez já em Maio próximo.
• Depois vitupera mais um pouco a blogosfera e diz que Portugal está povoado por gente "perversa, ácida, infeliz, ressentida" etc. Bom, eu pensava que já éramos um pouco assim, mormente a crise económica e social actual, independentemente da blogosfera!? Aliás, se o PP tivesse dois palmos de história antes de fazer aquele artigo - que julgo de iniciação ao jornalismo e de sociologia dos media - que tresanda mais a vendetta contra o Espectro e os seus dois autores (CCS e VPV), teria consultado um "livrinho" muito conhecido entre nós que dá pelo nome - "Os Lusíadas". E aí o "genial" Pacheco teria compreendido, de ciência certa, que nós, os tugas, sempre nos destacámos - lamentavelmente - por sermos invejosose e maledicentes. Mais cá - intra-muros - do que lá "fora".
• Aliás, é até com essa palavra - "inveja" - que Luís Vaz conclui a sua Obra-prima. Uma "prima" que Pacheco deveria ler ou reler, tamanha é a vastidão das sua "kóltura". Mais que não fosse para compreender, do alto da sua vã ignorância, que também a tem em quantidades abruptas, que no tempo de Camões ninguém blogava, nem o Bill Gates, presumo!!! Portanto, a sua tese, que é geneticamente manhosa e inquinada ab initio - dado que pretende atingir duas pessoas através da blogosfera, e acaba por atingir milhares delas com um artigo no Público, enferma deste vício de forma e de conteúdo. Que decorre da profunda injustiça e insdiscriminação em que "arruma" todos os blogers no mesmo saco, excluindo-se ele próprio dele por lhe estar acima e/ou ser superior. Só por esta atitude de soberba já acho que PP deveria fazer um pedido de desculpas público. Ficaria bem até se o fizesse no seu próprio blog, o Abrupto. Seria até uma forma de se reconciliar com a blogosfera e consigo mesmo. Será que tem coragem para isso? Fica a sugestão. Não foi ele que creditou méritos a Freitas do Amaral só por este se dignar a explicar publicamente a propósito da questão dos imigrantes portugueses no Canadá...
• Ou será que ele, de forma subtil, também nos quis dizer a todos, que somos uns lorpas invejosos e perversos, só pela circunstância de não termos assento no Público, na SIC notícias onde ele discute alta política com L. Xavier e J. Coelho?! Não quero crer nisto. Ou ainda por não termos assento na "gamela" do Parlamento Europeu onde se ganha 2 mil cts mês!? Creio que não!!! Será que aquilo que PP nos quis dizer também passará por aí???. E, por extensão, também nos lembrou a todos que cada livro que ele escreve são milhares de cópias vendidas, logo direitos de autor que só ele, enquanto Autor, tem. E nós, os tais perversos, não passamos dum bando de frustrados porque não vendemos tantos exemplares como ele. É óbvio que tudo isto está implícito naquele artigo manhoso, ronceiro, repleto de restolhos, sobranceria em cada parágrafo. Pelo menos, foi assim que o interpretei, salvo melhor opinião.
• Por último, PP conclui que a blogosfera nacional assenta em seres com expectativas frustradas, qui ça por estarmos todos em crise, desempregados, frustrados e sem projecto. E porque vegetamos nesse declínio generalizado, PP quer vingar-se da sociedade portuguesa, da sociedade dos fracos, dos jovens e séniores que a constituem, dos quadros médios, intermédios e superiores, no activo ou não. PP dirige-se, em última instância, para cerca de metade do número de desempregados (250 mil) actualmente existentes em Portugal, que têm hoje um curso superior e não conseguem encontrar emprego ou integração socio-profissional. Nem a esperança dele... Pacheco, no fundo, vitupera, farpeia injusta e rudemente o chamado "jovem-recibo verde". PP, com ou sem vontade, atinge, na prática, milhares de jovens, que são o capital cultural e simbólico nas próximas gerações. Quando Pacheco Pereira for velho muitos homens de 30/40/50 anos haverão de lembra-se do conteúdo do seu artigo e, especialmente, a forma agressiva e aviltante que escolheu para o formular e redigir. Volto à questão: sendo PP o home culto, que domina o vocabulário - porque razão escolheu ser tão azedo e agressivo?
• PP enxovalha todos e cada uma destas pessoas. Chama-lhes "perversos, ácidos, infelizes, ressentidos". Confesso que ao ler este role de humilhações que ele nos quis dirigir pensei, a dada altura, que nos apelidasse a todos de "filhos da p...", "proxenetas" (vulgo xulos), ladrões de autorádios, parasitas sociais e conexos" (estas aspas são minhas). PP, através deste seu artigo, foi verdadeiramente brutal injusto. Atingiu quem não devia atingir. Deveria ter discriminado as situações mais lamentáveis e não meter todos no mesmo saco. Há pessoas que não fazem comentários anónimos, há bloggers que - embora críticos, - não perseguem ninguém, e pautam a sua acção na blogosfera com ética, apesar dos erros que todos nós cometemos, certamente!!. Será que PP sabe disto? Se sabe, porque razão confundiu deliberadamente tudo e todos?
• Vivemos, para concluir "as certezas" e correlações PP, com uma pulsão de morte, vegetando em caixas de correio, perseguindo pessoas, quais "génios incompreendidos, justiceiros anónimos". É isto que nos diz PP. É isto, objectivamente, que se pode ler do seu artigo. De "dentro" para "fora".
• Vejamos agora o que nele se poder ler de "fora" para "dentro". Ou seja, qual foi, na verdade, a autêntica motivação de JPP ao escrever este artigo? Ou não fosse isto uma pequena aldeia global onde JPP não se revê... De certo, por andar lá por Vénus...
• Porque razão um homem com tanto peso, cotação no mercado de ideias e análise social e política, cultura canaliza a sua ira, inteligência e talento para bater nuns milhares de ceguinhos de blogers? Qual a natureza desta vontade férrea de humilhação, de raiva até?
• Por que razão o gigante se entretém a esmagar as formigas formiguinhas que vegetam em seu redor? Esta é a vexata quaestio que tentar compreendermos. É claro que há ali muitas verdades sobre os comentários e a blogosfera em geral. É claro que muita gente por não ter ideias algumas, não saber escrever ou pensar, se especializou na arte do insulto, da perseguição e o mais. Mas isso já nós sabíamos. Já era assim e continuará a ser depois de PP.
• Então, por que razão PP resolveu acicatar ainda mais esses "cromos"do "toca-e-foge" (as aspas são minhas) - que o fazem quase compulsivamente no seio da blogosfera? Será que PP se deu ao trabalho de escrever um artigo no Público só para atingir esses "borra-botas" analfabetos que, no seu entender, nem escrever sabem? Creio que não. De forma simples e directa, serei tentado a dizer que há alí uma questão entre três senhores: Pulido Valente, Pacheco e a interessante senhora e jornalista - Contança C. Sá. Dois deles adoram-se, mas dois deles, pura e simplesmente, "odeiam" o 3º elemento, sendo que este retribui o afecto como e onde pode - sempre que possível. PP é esse 3º elemento.
• Portanto, em rigor quem deveria responder ou reagir a Pacheco Pereira não era a blogosfera em massa, mas os srs. Vasco P. Valente e Constança, autores do blog espectro entretanto desactivado, e que granjeou muitos votos, apoios, saudações e comentários. Uma coisa doentia, confesso. Pois até depois de desactivado continua a mexer. Como se um morto, passe a analogia, ainda desse festas, dançasse, cantasse, comesse bolos e bebesse champagne no club recreativo da terra. Por isso, dissémos aqui que essas "caixinhas de fósforos" de comentários são antros de instrumentalização "dos grandes" opinion-makers que não simpatizam uns com os outros, sem que os pequenos comentadores - porque estão alienados, pois só pretendem ser linkados e ficar deslumbrados com essa benesse dos deuses, se apercebam.
• Por mim, confesso, nunca me guindei por esse tipo de motivações ou de cálculos. Com efeito, tanto Pacheco como os outros poderiam - se quisessem - fazer muito melhor nos respectivos blogs. Talvez um dia o venham a fazer a contento de todos. Talvez..
• Mas regressemos ao essencial: qual a verdadeira e genuína motivação de Pacheco Pereira na formulação daquele pequeno ensaio de sociologia contemporânea? - com toques M. Castells - ainda por cima - sem o citar, como é seu hábito. Depois, ainda se pretende historiador!!! Terá sido um lapso metodológico? Ou foi mesmo vontade deliberada de omissão na fauna, perdão, na colecção de algumas fontes para redigir o artigo?
• Mais uma vez direi aqui o que penso, sem entraves, nem coacções, nem favores. Sendo que o meu único objectivo, na medida do possível, é só um: tentar perscrutar a Verdade que também é a melhor forma de sermos Bons, Justos e homens Livres na polis. E as razões que encontro para PP ter feito aquele artigo, nos moldes em que o fez, são aqui sistematizadas neste decálogo. Vejamos:
• 1) A felicidade consiste em ter um projecto, que se compõe de metas como o amor, a cultura, o trabalho, a realização completa de nós mesmos, enfim, alcançar a moderna felicidade. Pacheco tem tudo isso, excepto a felicidade. Daí dedicar boa parte do seu tempo intelectual a molestar os pobres blogueiros que aqui fazem mais num blog do que, porventura, ele numa semana ou num mês.
• 2) Depois há ali um prazer sem alegria, um prazer em amarfanhar quem é mais fraco, uma apetência pelo puro espezinhamento. É o que ele faz rude e subtilmente at once com aquele artigo que ainda será de "Antologia"... E porquê? É que não obstante todo o seu sucesso, toda a sua notoriedade, todos os seus rendimentos, ele não está feliz e, como tal tal, foi coleccionando rancores, acumulando-os em pastas, em camadas - cuja explosão deveria ser só dirigido para aqueles dois outros autores que supra-referi. Mas não!!! Pacheco como não teve coragem intelectual de se meter com Vasco Pulido Valente, bate na blogosfera em geral, indiscriminadamente, no afã de resolver as suas mágoas, curar as suas feridas, carburar as suas explosões intelectuais, "matar" os seus recalcamentos e expiar as suas angústias. Tudo isso ele faz por interposta pessoa naquele lamentável artigo: a blogosfera. Esta é que acaba por ser a grande meretriz, além da globalização - que é um termo que tem de integrar, forçosamente, qualquer discurso, artigo, ensaio, por mais medíocre que seja.
• Como mero cidadão que usa norlmalmente a blogosfera, - já critiquei o artigo de PP com o Erro do curandeiro, e, agora, volto a resituar o assunto noutras bases. Creio que PP faz o papel do mero sociólogo que integra uma nota de pé-de-página de um Weber, de um Aron. Sem querer ser arrogante - doutro modo estaria a corporizar os vícios que nele critico. Portanto, para mim o "papa" dos media é um ser altamente previsível, o que não significa que não tenha o seu valor. Mas não é certamente ao lado daqueles que referi, óbviamente. E até, confesso, desejaria ver nele uma referência intelectual sólida, sem sectarismos, sem zigue-zagues.. Seria bom para Portugal. Precisamos de referências intelectuais de valia cultural. Dispensamos sectarismos, discriminações e fomentadores de ódios e de turbulência na cidade. Foi isso que aquele artigo produziu. Até parece, para citar alguém, que temos o caos no jardim..
• 3) Depois JPP comete, em nosso entender, outro erro de palmatória: afirma os valores dos vencedores, de triunfador de bairro que mantém o povo debaixo d'ordem, quietinho, disciplinado. Fez-me lembrar aquela tirada do poeta A. O'Neill - com a fórmula - Respeitinho que é muito bonito... Poeta esse de quem Teresa Patrício Gouveia foi muito próxima. Ou será que PP nos quis lembrar mais um tique maoista que, porventura, ele nem se dá conta, mas que comete recorrentemente.. Isto em vez de ser magnânime com os mais fracos, razoável até para com aqueles que têm melhores blogs, o que também não é dificil. Pois o abrupto - sempre me pareceu o átrio duma "agência funerária". Sempre que lá entro para ver alguma novidade, venho de lá deprimido. Parece que não sou só eu... Parece!!! Pergunto-me: tanto talento, tanta inteligência, tanta "Kóltura", tantos recursos financeiros - para aquilo?!
• Mas gostos são gostos e eu respeito os dele. Mas Pacheco, a avaliar por aquele artigo, gosta de espezinhar, em vez de ser magânime; Pacheco gosta de quebrar laços de solidariedade - que em inúmeros casos existem - e entregar-se a um individualismo atroz. Faz lembrar certos académicos frustrados por não serem polítios, depois vingam-se nos alunos. Enfim, Pacheco é um homem que se move ao redor de si. Será que quando se olha no espelho, no reencontro com a noite, consegue vislumbrar algo mais do que o seu umbigo?
• 4) Pelo que diz e debita por aí onde anda acumulando destinos - Público, Sic e o mais - tornou-se um homem que vive dum realismo por encomenda - onde cada um vê a realidade de forma mui particular, acomodando-a aos seus planos e preferências pessoais. Faz o que quer porque tem a comunicação social nas "mãos", e, assim, se desvincula dos demais, do real. Entra em processo de esquizofrenia. Ao apartar-se de tudo quanto disse no seu artigo, PP só se pode julgar um deus. Isso é mau, muito mau!!!
• Então este homem - pelo que representa - especialmente de bom - porque também tem virtudes - não deveria canalizar o seu talento para fortalecer laços na sociedade de carne e osso e no seio da blogosfera? Julgo que sim. Porquê, afinal, tanto rancôr, tanta maldade, tanta vontade de espezinhar o "outro"? Só se entende isto à luz duma teoria psicológica e motivacional que aqui expendemos e que emana, em 1ª linha, com a absessão que nutre por VPV e CCS, autores do blog citado.
• 5) Depois, sempre julguei que o homem fosse forte sempre que consegue dominar as suas sentenças, as suas paixões, as suas iras, a sua linguagem, tratando os demais com dignidade. Mas quando se perdem as referências, as molas impulsionadoras mais nobres, chega-se a um patamar de sobranceria, i.é, chega-se a JPP. PP deveria saber que um homem só deveria olhar de cima para baixo outro homem se for para o puxar para cima... Pacheco pode ter mundo dentro de si, mas não tem ponta de humanismo, ponta de solidarismo.
• 6) Tudo isto culmina no chamado cinismo prático em que JPP navega, mas quem lhe conhece a estrutura mental fácilmente o desmonta, peça a peça. O seu entrincheiramente pelos media onde anda reflecte ainda uma outra coisa: o seu individualismo atroz. Falho de verdades objectivas, em que tudo é negociável. Até apetece dizer que quem anima traições intelectuais, multiplica-as. É, aliás, o título do livro de A. Glucksman que empresta título a este post: Cinismo e paixão. É aqui que se coloca uma questão de fundo que colide literalmente com a posição de PP neste particular da utilidade da blogosfera. A saber: para que servem a filosofia e o pensamento em tempos de crise? Para que serve o talento de Pacheco? Pois, ao que vemos, para quase nada, já que cada existência, cada intervenção sua só brilha individualmente, solitáriamente. Hoje PP deve ser um homem odiado por Portugal inteiro, quando o podia ter a seus pés. Porquê? Por causa da sua soberba. Porque julga estar sempre na posse da verdade suprema. Por causa também da sua ira dirigida à blogosfera, da sua gula de sentenças e até da sua inveja em ver outros com tão magros recursos fazerem melhor, muito melhor.
• 7) Isto conduz-nos a outra conclusão: PP é um cínico, pois apesar de não negar a realidade em que todos navegamos na net, com qualidades e defeitos, virtudes e vícios, ele actua como um pequeno aprendiz de Maquiavel, que era igualmente outro cínico e conseguiu fazer com que o frade Savonarola fosse moralizar a vida de Florença, porém este acabou morrendo na forca. A tese de PP é semelhante, só que para ele "Savonarola" é a "blogosfera".
• 8) Isto atira-nos ainda para outra deriva latente na sua articulação taduzida em calão das teorias de M. Castells, que também não cita. Pacheco, à força de querer moralizar um espaço que que também integra - a blogosfera - cai no relativismo cultural: tudo é mau, excepto ele, o abrupto. Cai neste relativismo. Será que ele se dá conta disto? Em vez de combater o seu cinismo mediante convicções fortes, até porque o seu blog não vale de per si - mas pelo efeito de "parasitagem" do seu autor, atira-se para os braços da catalogagem que, afinal, são as mais puras banalidades: somos "perversos, invejosos, frustrados, uns justiceiros anónimos, uns génios incompreendidos". Lá está, este génio nem Os Lusíadas conhece, pois a inveja já nos define enquanto entidade colectiva, enquanto povo, há mais de 500 anos. Nem o Pacheco andava de fraldas. Inveja sim, é capaz de sentir ele pelos textos de Vasco Pulido Valente. Se assim é por que razão não é este o seu alvo, e, em seu lugar, dispara sobre a desgraçada da blogosfera (que não é toda igual)?
• 9) E ao relativismo cultural de Pacheco segue-se-lhe um outra limitação: a permissividade. Quer dizer, não obstante toda a sua exposição mediática, toda a sua experiência político-partidária, toda a sua vasta cultura histórica e experiência literária, todos os seus "kilómetros" de estantes povoadas de livros, enciclopédias e outros instrumentos do saber, Pacheco Pereira vem a terreiro bater nos "ceguinhos anónimos"; vem malhar na blogosfera imberbe e analfabeta; vem mostrar-nos que, afinal, não tem referências, não tem pontos de apoio, aviltado quer também aviltar-nos, rebaixar-nos, codificar-nos, domesticar-nos, converter-nos ao silêncio. Enquanto isso move-se como uma enguia e deambula pelo Público, pela Sic, passeia a sua fama pelos livros que apresenta, pelos prefácios que faz, pelas participações radiofónicas - sempre a brilhar, como um astro ascendente. Mas é um brilho sem fim, sem metafísica, sem estratégica, sem humanismo, sem direcção; é o brilho do seu umbigo, e em vez de ser uma bússola, acaba por ser considerado por milhares de blogers como o catavento do momento; o proletário do III milénio, depois de ter sido maoista e integrar hoje o PSD. O Dr. PP revelou-me, revelou-nos a todos, ser um homem com uma paixão: a paixão pelo nada. Eis a sua nova experiência, procurando fazer tábua rasa do trabalho dos outros.
• 10) Por último, o autor daquele "genial" artigo titulado A Fauna das Caixas de Comentários do Público de 5ª feira - revela-me ainda uma outra dimensão, que embora já desconfiasse ver nele não tinha a certeza existir. Ou seja, todas aquelas acusações que PP dirige indiscriminadamente a toda a blogosfera - como se toda ela se reconhecesse naquela adjectivação tão injusta quanto aviltante, têm e não têm fundamento: por um lado aplicam-se a um número de blogers que fazem disso um way of life lamentável; mas deveria ter excluído os muitos outros que não alinham nessas xaradas, os chamados blogs normais, com condutas normais, aceitáveis, educadas, éticas. Não o fez!!! E não o fazendo abriu as portas a um vazio de ideias para que acabou por conduzir este debate estéril de que foi o protagonista. Um protagonista que se converteu num actor secundário, enquadrado por uma narrativa vazia, mas socialmente perigosa, visto que pela sua intervenção, pelas suas palavras, pelas suas acusações e motivações elas só podem conduzir a um ambiente de rebelião latente que vira uns contra outros - neste reino da mesquinha sociedade do espectáculo de que ele próprio até é um figurante. Isto faz lembrar aquelas tiradas de Guy Debord - quando nos fala dessa tal sociedade do espectáculo, aquela em que se produz uma discussão estéril e onde os media insistem mais uma vez em não dizer Nada. Ora foi a esse "lindo" serviço a que o jornal Público também se prestou. Aquilo que era suposto ser um tributo à construção e ao reforço de solidariedades na rede das redes, ao fortalecimento do rizoma - o "bom" do Pacheco Pereira vem ratificar-nos mais uma das suas certezas: a blogosfera não passa dum monte de perversos, medíocres e analfabetos. Enfim, de gente frustrada. Será este o seu diálogo com o espelho no recontro da noite!!!
• Em suma: à 1ª vista o artigo endrominou-me. Com aqueles exemplos fiquei magnetizado. Havia que o racionalizar. Julgei ver nele algo de novo. Novas pistas para explicar as curvas em que estamos. Mas depois revi nele essa mesma mediocridade, o vazio que o autor nos quer imputar a todos. Vi nele, de braços dados o relativismo, a permissividade, o cinismo, o calculismo, a soberba, o carácter setenciador, a vontade suprema de ditar e de declarar códigos de comportamento. Enfim, vi ali um pequenino Napoleão ciber-virtual. Constatei ali, e é pena, um homem frio, amargurado, pouco humano, nada solidário, de costas voltadas à verdade do verdadeiro homem.
• No fundo, PP mais não faz do que coligir dois ou três factos - de natureza transnacional - e serve-nos a refeição de pronto-a-comer. Só que aquilo nada mais é do que um prato requentado, embora sinalize a sua própria cosmovisão, os seus desejos, opiniões, juízos particulares numa apoteose verdadeiramente lamentável - em que tudo é relativo.
• E é o relativismo, em nosso entender, que melhor caracteriza aquele artigo, com aquela sua habitual postura de intelectual encartado, que não aceita nenhuma outra verdade que não a sua, tamanho é o universo por que se toma. Em linguagem matemática PP diria de si: "eu sou eu mais a minha circunstância"; eu sou a blogosfera; eu tudo condiciono. Julgo que esses são os diálogos com o espelho quando Pacheco à noite se reencontra com a verdade. Já Protágoras afirmava que "o homem é a medida de todas as coisas". Pois no caso de PP a fórmula entra em revisão, agoniza, para declarar, no final, que ele não só é a medida de todas as coisas, como também o criador da mente que gerou o Protágoras.
• Confesso, sinceramente, que nunca pensei que JPP fosse tão longe nesse seu niilismo devorador e voraz, até porque desse artigo só emergiu um homem pessimista, num tom desiludido, um ser indiferente a tudo e a todos, alheio até à verdade. Alguém que já não se dá ao trabalho de diferenciar as coisas, de tentar separar o bom do mau, nem o verdadeiro do falso.
• José Pacheco Pereira poderia representar hoje o ideal-tipo de um herói intelectual, histórico do nosso tempo. Ser a tal bússola. Mas não é!!! E o que esse seu artigo conseguiu fazer foi o de ter posto o nervo e o motor da epidemia em andamento, lançou o vírus no ciber-espaço, contribuíu para potenciar ainda mais o lixo nas ciber-caixas de comentários, enfermizou ainda mais a blogosfera nacional adjectivando-a da forma e no tom em que o fez. Ou seja, PP multiplicou o virús.
• Pacheco Pereira, para finalizar este olhar "de fora" para "o dentro" ao seu artigo, empobreceu-nos, apoucou-nos e revelou-se, afinal, um estereótipo de homem que mais parece aquele burguês próspero, anafadinho, bem-posto na vida, com barbas aparadas (e não já à Carlos Marx) muito viajado e cosmopolita, poliglota, sábio de muitos territórios e algumas redondezas, muito ilustrado e enriquecido; mas depois emerge-nos uma outra face e dimensão (que tenta ocultar): sem atractivo, culturalmente esfrangalhado, incapaz de iluminar uma única directriz para o País que vegeta na decadência, culmina no tal homem sem bússola.
• Só a Verdade me move na tentativa de compreensão desta análise. Embora compreenda que outras motições pessoais existem entre o autor do artigo e os visados dele. Ainda que tenha sido a blogosfera (que é diferenciada) que tenha levado por tabela. Isto que fique bem claro!!!! É triste, mas é assim. E é pena.


• Nota: Gostaríamos que o Dr. Pacheco Pereira lesse esta reflexão com calma, pois sem ela talvez não compreenda a bondade das minhas razões. Julgo que aquele artigo só mostra uma parte da verdade, falta revelar o outro lado. Por vezes, para vermos a "verdade" (o que é isto, a Verdade!?) é preciso sairmos da "nossa casinha"; isto é, ver de "fora" para "dentro". Poderia aqui citar dezenas de links de outros blogs que se lhe referiram, no mesmo tom e agressividade que utilizou. Mas não me importa aqui potenciar essa turbulência, nem esse kapital-linkismo da fama que, em inúmeros casos, não passa duma república de citações, duma troca de favores que nada diz. Aqui uma única coisa me interessa: reflectir sobre a injustiça e a parcialidade do seu texto. Cabe-lhe, caso queira, responder em conformidade. Pois eu tenho para mim que o Dr. Pacheco Pereira discute com qualquer pessoa educada que se lhe diriga com razoabilidade. Foi o que fizémos, apesar das circunstâncias. Tenho para mim que o dr. Pacheco Pereira não discute só alta política com o sr. Jorge Coelho... Nem escreve só artigos no Público

 
At 13 de novembro de 2006 às 14:25, Anonymous Anónimo said...

Andam por aí umas alminhas piedosas a insinuar que os 'donos' dos blogs, mas só os dos blogs, são não só responsáveis pelo que escrevem como, pasme-se, por tudo o que neles é dito pelos leitores, em forma de comentário, nesses mesmíssimos blogs.

A tese não sendo nova, muito menos original, peca pela mais elementar irrazoabilidade, pela mais elementar das razões - Um boato, um insulto, uma ignomínia, uma barbaridade, um disparate, ou o que quer que seja, não desaparece por ter sido apagado de um qualquer blog, antes pelo contrário, 'cresce' no seu estatuto.
É preferível deixá-lo a marinar, reduzido à sua insignificância, e contextualizá-lo, na hora e no local, e no mesmo espaço.
Não o fazer, é alimentar tabus, e, isso sim, credibilizá-lo na lógica do 'você sabe que eu sei que você sabe do que eu estou a falar mas não me dá jeito escrever'.
Tudo isto, para além do facto de que a implementação em toda a linha de qualquer espécie de censura prévia é - antes de mais - um insulto à esmagadora maioria dos leitores, já que assume explicitamente que estes não tem o mínimo dos mínimos de discernimento...

Aliás, a história, e os factos recentes, provam que um insulto ou um boato são muito mais facilmente (reb)atidos, depois de postos na 'prancha'.
Um 'artista' qualquer que materialize na 'net' ou noutro sítio qualquer um boato ou uma falsidade 'materializa-a' - torna-a não só rebatível como, por definição, a limita a um dado âmbito, por outro lado, responsabiliza-se e, expõe-se, ao ridículo potencial.

O que moi, e roi mesmo, são as meias verdades, e meias mentiras, os tabuzinhos que não se assumem, não se escrevem, mas que se sopram ao ouvido e que andam por aí.
É isso que moi, isso e o facto de não se saber - quando 'convém' - distinguir entre o que é notícia - logo baseado em factos - e o que não é.

Dito isto, é perfeitamente lógico e natural que as maiores confusões surjam logo nas cabecinhas pensadoras de alguns políticos, e de alguns jornalistas.

Nas dos políticos porque estes perderam, desde há muito, o contacto com a realidade, preferindo descrevê-la não como ela é, mas como gostariam que fosse, na qualidade de únicos e exclusivos intérpretes dessa mesma realidade.

Nas dos jornalistas porque aqueles, enquanto classe, desde há muito perderam a noção do que é notícia, e facto, e do que é outra coisa qualquer.
Aliás, ainda por estes dias vimos, em sede de tribunal, um proclamado jornalista - com carteira profissional e tudo - a esquivar-se a apresentar um facto tangível que fosse, fundamentando todas as suas 'convicções', que se resumem a insultos à inteligência de muitos, na sua análise empírica da matéria, reduzindo a verdade e a mentira a um estatuto de fé, e crença, do domínio do religioso.

Vivem todos num mundo onde a verdade e a mentira, a realidade da efabulacão, mal se distinguem, e do qual se sentem todos, cúmplices, como absolutos guardiões.
No fundo, sentem-se felizes como sentiam os coronéis da 'censura prévia' do antigamente, no seu pequeno poder de ditar o que aconteceu, ou deixou de acontecer, como se só eles pudessem saber, só eles tivesses discernimento e bom senso.
Basta passar os olhos por um qualquer edição do flashback - na SIC Notícias - atentar nos olhares, nas meias conversas, nos sorrisos e olhares para se perceber como eles se sentem felizes nesse seu papel que veêm como exclusivo.

E mais uma vez lá me vem à cabeça um livro de Umberto Eco, bastante conhecido por sinal, O Nome da Rosa.
Lá um velho monge assassinou uma boa parte dos personagens impreparados para perceberem uma obra perdida de Aristóteles - sobre o Riso.
Só os ungidos é que estariam preparados para ler o Mestre. Crueldade das crueldades, Eco quis que o velho monge - guardião da ortodoxia, e o único com acesso ao tesouro, o único exemplar, fosse cego.

 
At 13 de novembro de 2006 às 15:23, Anonymous Anónimo said...

n esqueçam...este pedro manuel é mesmo o maior parólo de todos os tempos...

 
At 15 de novembro de 2006 às 20:16, Anonymous Anónimo said...

A REALIDADE DE ESPANHA E A REALIDADE DE PORTUGAL E DE PONTE DE SÔR

Como una mancha de aceite. La 'operación Malaya' convirtió Marbella en el epicentro del terremoto que sacude todos los rincones de la geografía española. Con las elecciones autonómicas y municipales a la vuelta de la esquina (mayo 2007), alcaldes y concejales de todos los colores empiezan a ver sus nombres a golpe de ladrillo en los medios de comunicación. La corrupción urbanística es el tema estrella de esta precampaña electoral que ya ha empezado y que promete ser larga y acusadora: cualquiera parece culpable mientras no se demuestre lo contrario.

Sólo en 2005 se construyeron 800.000 nuevas viviendas en nuestro país (tantas como en Reino Unido, Alemania y Francia en su conjunto), pero el aumento y exceso del producto no ha abaratado su precio, sino todo lo contrario. El «derecho a disfrutar de una vivienda digna y adecuada» —dice el artículo 47 de la Constitución— queda en una simple declaración de intenciones cuando comprarse una casa no está al alcance de cualquiera.

España es el país de la OCDE donde el precio de la vivienda ha subido más en los últimos años. Y es un secreto a voces que el dinero negro se blanquea con ladrillos. Las operaciones 'Avispa' y 'Ballena Blanca' destaparon que las mafias internacionales han encontrado aquí un nuevo paraíso terrenal y fiscal. El «Spain is different» ha adquirido un doble sentido ahora que el horizonte que presidía el toro de Osborne está sembrado de grúas. El propio presidente ruso, Vladimir Putin, llegó a decir recientemente que no acepta lecciones de democracia de un país —España— en el que muchos alcaldes están encarcelados por corrupción.
Los cimientos

¿Qué pasa aquí que no pasa en ningún otro rincón del Continente? La clave está en el modelo de gestión de suelo, «un error inmenso», según el catedrático de Ciencia Política Manuel Villoria, experto en corrupción. «En otros países europeos, la calificación o recalificación de un terreno no implica para el propietario la obtención de plusvalías, porque no aumenta su precio. El terreno vale lo que vale. Es la sociedad la que obtiene el beneficio de que ese suelo se convierta en urbanizable», explica el catedrático. Un segundo factor explica la creciente actividad especulativa en España. «En Europa no se entiende que urbanizar sea un derecho del propietario, como ocurre aquí, sino que es una obligación pública que corresponde a la autoridad local o al Gobiernor».

Estos son los dos 'cimientos' que han permitido que los 'pelotazos' se multipliquen allí donde hay un interés económico real en desarrollar promociones urbanísticas, especialmente en el litoral y en las afueras de las grandes ciudades. Así lo pone de manifiesto un informe elaborado por Villoria para la ONG Transparency Internacional que ofrece una radiografía completa del tema: todos los municipios obtienen ingresos importantes a través de los convenios urbanísticos (acuerdos entre un particular y el Ayuntamiento en los que el primero cede terreno o paga dinero por el cambio de calificación de un suelo); hay poca vigilancia sobre construcciones ilegales y desviaciones de los proyectos; las sanciones suelen ser multas, no demoliciones; muchos nuevos partidos se han creado al amparo de intereses urbanísticos para llegar a los Ayuntamientos e influir en planes y decisiones… El informe aboga por la necesaria reforma de la ley de financiación de partidos: «El problema de fondo no está en las actuaciones corruptas de actores individuales, sino en la corrupción institucionalizada vinculada a la obtención ilícita de fondos para los partidos».
El derribo

Desde su blog personal, el propio ministro de Administraciones Públicas, Jordi Sevilla, confiesa su «preocupación» por el tema, aunque insiste en que «no es cierto, ni justo, dar la sensación de que existe corrupción generalizada». En esta web, el ministro también explica que el crecimiento urbanístico desmedido —«rechazable»— se confunde muchas veces con corrupción, cuando son dos cosas distintas que no siempre van parejas.

Sevilla y la dirigente 'popular' Soraya Sáenz de Santamaría intentan desde hace tiempo consensuar el proyecto de ley de Bases de Régimen Local que, entre otras muchas cosas, prevé hacer más transparente la gestión municipal y permitir a los ciudadanos conocer y participar en los planes de recalificación de suelo. Mientras llega, el PSOE ha presentado su propio decálogo contra la corrupción. El PP no ha querido, de momento, llegar a un pacto global con el Gobierno. Por su parte, la Federación Española de Municipios y Provincias (FEMP) pide la creación de un órgano independiente dedicado en exclusiva a vigilar la especulación urbanística. Ya en el mes de abril, PSOE e IU pedían una Fiscalía especial para delitos urbanísticos…

Ciudadanos y ecologistas aplauden todas estas propuestas, aún no materializadas, mientras se preguntan: ¿Por qué ahora sí?

http://www.elmundo.es/especiales/2006/11/espana/corrupcion_urbanistica/sospechosos.html

 
At 15 de novembro de 2006 às 20:20, Anonymous Anónimo said...

Uma série de escândalos urbanísticos em Espanha levaram o El Mundo a fazer um extraordinário trabalho de investigação e de síntese, que pode - e deve - ser consultado no comentário anterior, num extenso e multifacetado dossier de extraordinária qualidade jornalística e didáctica.
Qualquer semelhança entre o que se passa em Espanha, em Portugal e em Ponte de Sôr(não) será uma coincidência.

Nota: Já notaram como nos últimos anos os «cambalachos» relacionados com a construção quase saíram das páginas dos jornais?
Por que será?
Aceitam-se palpites...

 
At 15 de novembro de 2006 às 20:21, Anonymous Anónimo said...

Uma série de escândalos urbanísticos em Espanha levaram o El Mundo a fazer um extraordinário trabalho de investigação e de síntese, que pode - e deve - ser consultado no comentário anterior, num extenso e multifacetado dossier de extraordinária qualidade jornalística e didáctica.
Qualquer semelhança entre o que se passa em Espanha, em Portugal e em Ponte de Sôr(não) será uma coincidência.

Nota: Já notaram como nos últimos anos os «cambalachos» relacionados com a construção quase saíram das páginas dos jornais?
Por que será?
Aceitam-se palpites...

 

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