É A CULTURA, ESTÚPIDO!
Um estudo da União Europeia mostra que a cultura contribui mais para a economia dos 25 do que os automóveis. Por isso deve passar a ser uma prioridade. Exemplos como o Guggenheim de Bilbau, que "salvou a cidade", atestam o poder de um sector que tem sido ignorado por os governantes acharem que é um custo, em vez de um investimento. Em Portugal, é o terceiro principal contribuinte para o PIB, a seguir aos produtos alimentares e bebidas.
O sector cultural e criativo contribuiu para 2,6 por cento do Produto Interno Bruto da União Europeia em 2003, mais do que o imobiliário e produtos alimentares e bebidas, revela o estudo A Economia Cultural na Europa, encomendado pela Comissão Europeia à KEA, European Affairs e apresentado ontem em Bruxelas.
As conclusões deste estudo com mais de 300 páginas são surpreendentes e levam o responsável da KEA a dizer que a União Europeia deve reflectir sobre a importância da criação, porque aí "é competitiva a nível mundial".
O conceito de sector cultural e criativo usado é lato e inclui indústrias culturais como o cinema, media e sectores criativos como a publicidade e o turismo cultural e o sector tradicional das artes.
Os investigadores ressalvam que não há instrumentos estatísticos comuns na União Europeia (UE) e recomendam uma uniformização para a sua fiabilidade. De qualquer forma, estes "são números muito conservadores", ou seja, até podem estar abaixo da realidade, disse Philippe Kern, director da KEA. "Nós contámos 15 por cento de turismo cultural no bolo total do turismo, o que não é nada exagerado."
Com um volume de negócios superior a 654 mil milhões de euros em 2003, mais do que o dos automóveis, o sector está a crescer mais (12,3 por cento) do que o resto da economia.
O peso no emprego também é significativo: em 2004 empregou 5,8 milhões de pessoas, o que representa 3,1 por cento do total de empregos na Europa dos 25 e corresponde à soma da população activa da Irlanda e Grécia. E, enquanto o emprego decresceu na UE, aqui cresceu 1,8 por cento. E é um emprego qualificado: 46,8 por cento dos trabalhadores têm pelo menos um curso universitário (contra 25,7 por cento do global e 31,9 por cento em Portugal). O emprego cultural é "atípico" e alguns dirão que é a imagem do trabalho do futuro, diz o estudo: mais flexível, mais móvel, mais qualificado e assente na liderança de projectos.
Com um volume de negócios superior a 654 mil milhões de euros em 2003, mais do que o dos automóveis, o sector está a crescer mais (12,3 por cento) do que o resto da economia.
O peso no emprego também é significativo: em 2004 empregou 5,8 milhões de pessoas, o que representa 3,1 por cento do total de empregos na Europa dos 25 e corresponde à soma da população activa da Irlanda e Grécia. E, enquanto o emprego decresceu na UE, aqui cresceu 1,8 por cento. E é um emprego qualificado: 46,8 por cento dos trabalhadores têm pelo menos um curso universitário (contra 25,7 por cento do global e 31,9 por cento em Portugal). O emprego cultural é "atípico" e alguns dirão que é a imagem do trabalho do futuro, diz o estudo: mais flexível, mais móvel, mais qualificado e assente na liderança de projectos.
Em Portugal este sector contribuiu para 1,4 por cento do PIB em 2003, ou seja, foi o terceiro contribuinte. Mas quem mais contribuiu para a economia do sector foram França, Reino Unido, Alemanha, Itália e Espanha (juntos totalizam três quartos). É para a economia da França, do Reino Unido, da Noruega, da Finlândia e da Dinamarca que este sector tem maior importância: representa mais de três por cento do PIB. Mas há outros países de pequena dimensão onde a percentagem é igualmente alta (entre 2 e 3 por cento), como a Estónia, a Eslovénia ou Eslováquia.
Um outro estudo citado, da consultora americana PriceWaterhouseCoopers, indica que a Europa foi a segunda maior região a gastar dinheiro em bens e serviços culturais, de media e entretenimento, sendo o Reino Unido o maior contribuinte. E estima que na Europa haverá um crescimento anual de 7,7 por cento até 2009 no mercado do "entretenimento filmado", um decréscimo das vendas de música no formato tradicional e um crescimento de 7,2 por cento no mercado digital.
O estudo lembra que o sector cultural e criativo continua a ser largamente ignorado e que só recentemente começou a haver interesse em medir os seus desempenhos socioeconómicos. Um dos motivos, aponta, deve-se à resistência em analisar a cultura da perspectiva económica e de os governos acharem que é sempre um custo, em vez de um investimento.
Como explicar crescimento
Mas afinal a que se deve este crescimento? Para já, a cultura gera produtos e as sociedades dão-lhes cada vez mais importância como produto de consumo, dizem. "A procura por uma cada vez maior diversidade cultural de produtos é indicativa do comportamento do consumidor pós-moderno: os consumidores procuram diferenciar-se eles próprios, apropriando-se dos signos e valores que marcam produtos específicos."
À medida que o nível de educação aumenta, também aumenta a procura de cultura, acrescentam, como aumentam os tempos de lazer a ela dedicados. Além disso, nota, os benefícios que traz à economia europeia não se restringem ao consumo: é usada indirectamente pelos sectores não culturais como fonte de inovação. Já há países empenhados em apostar neste sector, como o Reino Unido. É a tomada de consciência daquilo que "os Estados Unidos perceberam há muito": "O poder da imagem e da música para exportar o seu way of life e o sonho americano."
Apesar dos bons resultados, o estudo chama a atenção para a necessidade do apoio público no sector cultural: por razões democráticas, educação, partilha de valores, construção de identidade, coesão social, etc.
Joana Gorjão Henriques
PÚBLICO
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