2 EUROS À HORA
Cinco em cada cem trabalhadores portugueses trabalha oito horas diárias e leva para casa qualquer coisa como dois euros por hora.
Mas dois euros por hora não é um salário, é uma vergonha.
Como é que pode haver 250 mil portugueses incapazes de serem mais produtivos?
É claro que só se pode estar a favor do Salário Mínimo Nacional para defender aquilo que, num país civilizado, já não devia ser preciso defender. Só a fraqueza do movimento sindical e a fragmentação do sector empresarial explicam que seja necessária a intervenção do Estado.
Mas a intervenção do Estado, que se defende à falta de melhor, é em si mesma a grande culpada pela situação miserabilista a que se remetem os trabalhadores e pelo conforto que se dá aos empresários que apostam em salários inacreditáveis.
Basta reparar na evolução do Salário Mínimo Nacional, em valores reais, nos últimos anos.
O primeiro ministro Cavaco Silva passou nove anos a reduzir o SMN e só decidiu aumentá-lo em ano de eleições, quando já estava de saída.
Depois veio Guterres que, não reduzindo o SMN, manteve uma política de aumentos aos tostões, para em 2001 nos presentear com uma grande subida que logo foi devorada em 2002.
A seguir chegou Durão Barroso que começou por dar mais um grande corte no SMN.
Feitas as contas, de 1990 a 2005, o SMN real perdeu qualquer coisa como 10% do seu poder de compra. E este foi no fundo o verdadeiro papel que o Estado cumpriu em 15 anos.
Como vemos, os Governos não foram os melhores reguladores do mercado. Ao longo destes anos andaram a reboque dos queixumes do patronato da idade da pedra, consolando-se com o fabuloso argumento de que, com a política de redução do SMN, estavam a proteger empregos.
Mas, infelizmente para os defensores do miserabilismo, a realidade económica vai demonstrando que nem os salários mínimos mais baixos são capazes de proteger as empresas da competitividade através dos preços.
Perdida a vocação de "protector de empregos", o SMN recupera o velho sentido original. Aquele que levou a Nova Zelândia a inventá-lo no séc. XIX: o de introduzir regulação geral nas situações em que o mercado laboral não é eficaz a regular as relações laborais. Sobretudo porque o movimento sindical e as associações patronais não influenciam a contratação de uma enorme quantidade de empresas.
Contra esta lógica reguladora tem-se manifestado uma forte corrente do pensamento económico apoiada em alguns dados estatísticos. Primeiro diz que o SMN provoca desemprego de longa duração e, segundo, afirma que desacelera o crescimento económico. O que explica que em muitos países europeus não exista SMN.
Porém, a questão que se coloca a Portugal não é do domínio da economia. É do domínio das mentalidades. A não existência de SMN provocaria redução de salários sem a contrapartida do crescimento.
Neste sentido, o acordo de cinco anos que Governo, patronato e sindicatos estabeleceram para o crescimento continuado do SMN é uma excelente notícia, sobretudo porque impede que este seja utilizado como arma eleitoral e impõe regras às decisões dos governos.
Eduardo Moura
É claro que só se pode estar a favor do Salário Mínimo Nacional para defender aquilo que, num país civilizado, já não devia ser preciso defender. Só a fraqueza do movimento sindical e a fragmentação do sector empresarial explicam que seja necessária a intervenção do Estado.
Mas a intervenção do Estado, que se defende à falta de melhor, é em si mesma a grande culpada pela situação miserabilista a que se remetem os trabalhadores e pelo conforto que se dá aos empresários que apostam em salários inacreditáveis.
Basta reparar na evolução do Salário Mínimo Nacional, em valores reais, nos últimos anos.
O primeiro ministro Cavaco Silva passou nove anos a reduzir o SMN e só decidiu aumentá-lo em ano de eleições, quando já estava de saída.
Depois veio Guterres que, não reduzindo o SMN, manteve uma política de aumentos aos tostões, para em 2001 nos presentear com uma grande subida que logo foi devorada em 2002.
A seguir chegou Durão Barroso que começou por dar mais um grande corte no SMN.
Feitas as contas, de 1990 a 2005, o SMN real perdeu qualquer coisa como 10% do seu poder de compra. E este foi no fundo o verdadeiro papel que o Estado cumpriu em 15 anos.
Como vemos, os Governos não foram os melhores reguladores do mercado. Ao longo destes anos andaram a reboque dos queixumes do patronato da idade da pedra, consolando-se com o fabuloso argumento de que, com a política de redução do SMN, estavam a proteger empregos.
Mas, infelizmente para os defensores do miserabilismo, a realidade económica vai demonstrando que nem os salários mínimos mais baixos são capazes de proteger as empresas da competitividade através dos preços.
Perdida a vocação de "protector de empregos", o SMN recupera o velho sentido original. Aquele que levou a Nova Zelândia a inventá-lo no séc. XIX: o de introduzir regulação geral nas situações em que o mercado laboral não é eficaz a regular as relações laborais. Sobretudo porque o movimento sindical e as associações patronais não influenciam a contratação de uma enorme quantidade de empresas.
Contra esta lógica reguladora tem-se manifestado uma forte corrente do pensamento económico apoiada em alguns dados estatísticos. Primeiro diz que o SMN provoca desemprego de longa duração e, segundo, afirma que desacelera o crescimento económico. O que explica que em muitos países europeus não exista SMN.
Porém, a questão que se coloca a Portugal não é do domínio da economia. É do domínio das mentalidades. A não existência de SMN provocaria redução de salários sem a contrapartida do crescimento.
Neste sentido, o acordo de cinco anos que Governo, patronato e sindicatos estabeleceram para o crescimento continuado do SMN é uma excelente notícia, sobretudo porque impede que este seja utilizado como arma eleitoral e impõe regras às decisões dos governos.
Eduardo Moura
3 Comments:
COMPARAÇÃO NA UNIÃO EUROPEIA (e outros países ordenados por ordem decrescente do ano 2006) (valores em euros)
LUXEMBURGO: 1.369 (2003) / 1.403 (2004) / 1.467 (2005) / 1.503 (2006)
IRLANDA: 1.073 (2003) / 1.073 (2004) / 1.183 (2005) / 1.293 (2006)
HOLANDA: 1.249 (2003) / 1.265 (2004) / 1.265 (2005) / 1.273 (2006)
REINO UNIDO: 1.103 (2003) / 1.083 (2004) / 1.197 (2005) / 1.269 (2006)
BÉLGICA: 1.163 (2003) / 1.186 (2004) / 1.210 (2005) / 1.234 (2006)
FRANÇA: 1.154 (2003) / 1.173 (2004) / 1.197 (2005) / 1.218 (2006)
GRÉCIA: 605 (2003) / 605 (2004) / 668 (2005) / 688 (2006)
ESPANHA: 526 (2003) / 537 (2004) / 599 (2005) / 631 (2006)
MALTA: 534 (2003) / 542 (2004) / 557 (2005) / 580 (2006)
ESLOVÉNIA: 451 (2003) / 471 (2004) / 490 (2005) / 512 (2006)
PORTUGAL: 416 (2003) / 426 (2004) / 437 (2005) / 450 (2006, incluí subsídio de refeição. Valor real é de 385, 90 euros)
TURQUIA: 189 (2003) / 240(2004) / 240 (2005) / 331 (2006)
REPÚBLICA CHECA: 199 (2003) / 207 (2004) / 235 (2005) / 261 (2006)
HUNGRIA: 212 (2003) / 189 (2004) / 232 (2005) / 247 (2006)
POLÓNIA: 201 (2003) / 177 (2004) / 205 (2005) / 234 (2006)
ESTÓNIA: 138 (2003) / 159 (2004) / 172 (2005) / 192 (2006)
ESLOVÁQUIA: 133 (2003) / 148 (2004) / 167 (2005) / 183 (2006)
LITUÂNIA: 125 (2003) / 125 (2004) / 145 (2005) / 159 (2006)
LETÓNIA: 116 (2003) / 121 (2004) / 116 (2005) / 129 (2006)
ROMÉNIA: 73 (2003) / 69 (2004) / 72 (2005) / 90 (2006)
BULGÁRIA: 51 (2003) / 61 (2004) / 77 (2005) / 80 (2006)
(Fonte: Eurostat, Salaires Minimus. O Eurostat conta os rendimentos brutos com subsídios)
Nao se pode comparar Paises com politicas e politiocs coerentes e serios, com Paises do chamado 3º mundo, que e onde a nossa politica nos colocou.
Para nosso azar nem os espanhois nos querem como provincia.
Que azar
Caros amigos
Este aumento de miséria vai beneficiar quêm?
Não são os pobres trabalhadores.
Quem vai ganhar muito mais são os partidos políticos, i.e. (basta ver estas contas):
Valor das subvenções dos Partidos com o Salário Mínimo Nacional a 403,00 Euros:
PS - 4.635.666,792 Euros;
PPD/PSD - 2.960.990,451 Euros; PCP/PEV - 758.028,213 Euros; CDS/PP - 745.799,265 Euros
BE - 653.552,019 Euros.
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