quarta-feira, 21 de março de 2007

A FOTOGRAFIA



O apocalipse começou há quatro anos.



Pensava-se que o rótulo tinha ficado atribuído ao Vietnam, por proposta de Francis Ford Coppola. Mas não. O Iraque é ainda mais apocalíptico. Excluindo a produção diária de 2,1 milhões de barris de petróleo, apenas funciona no Iraque, segundo o Diário de Notícias de ontem, a venda de malas e sacos de viagem para quem quer e pode fugir daquele inferno. Há dois milhões de refugiados e 1,7 milhões de deslocados no Iraque, um país destroçado, com o escrevia o DN.

No noticiário do quarto aniversário da invasão e do início da guerra, pelo meio dos títulos e das imagens dos destroços só continuavam florescentes os sorrisos dos quatro homens que deram a cara pela mentira que sustentou a intervenção militar. O que é que ficará para a história? A foto dos Açores ou o desmascaramento da mentira e dos mentirosos? A história, em geral, é escrita pelos vencedores. Mas é difícil encontrar os vencedores num campo de batalha pejado de corpos de vencidos, mortos de todos os lados: dezenas ou centenas de milhares de civis iraquianos, 3250 militares norte-americanos, 134 britânicos e 124 de outras nacionalidades.


Cada vez que os políticos de palha fautores desta guerra aparecem a acenar e a sorrir para a imagem das notícias estão a rir-se de quê ou de quem? Dos mortos e estropiados, dos desaparecidos, dos destroços, dos confrontos interétnicos, do terrorismo, das prisões arbitrárias, da tortura e das execuções, dos barris de petróleo? Uma coisa é certa: os seus sorrisos estão associados ao sofrimento de milhões de seres humanos condenados ao desespero. Quer isto dizer que por muito que pensem ou que lhes digam em contrário, todos eles ficaram muito mal na fotografia.

João P.Guerra

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