quarta-feira, 29 de agosto de 2007

AS ZARAGATAS NO PSD

A zaragata no PSD não é de agora.
É de nascença.
Acentuou-se com a ascensão ao Poder do dr. Cavaco. A ausência de doutrina, de projecto, de ideologia, notoriamente exibida pelo economista, foi substituída pela disposição de retirar importância à política e promover a tecnocracia como fórmula salvadora de todos os males.
A rigidez, o autoritarismo e a flagrante carência de cultura humanística ajudaram a criar o postiço institucional que ressaltou para um povo afogado em iliteracia, propenso a crer em milagres e a entregar o destino próprio em mãos alheias.

Cronistas da época engendraram uma metáfora feroz: o homem era um eucalipto: secava tudo em redor. Houve, também, quem percebesse que o dr. Cavaco estava para ficar, dado o homem e as circunstâncias. As abjurações partidárias, as capitulações morais arregimentaram aqueles que, no fundo, sempre estiveram à venda. E as perseguições, o culto da amnésia histórica, o vazio no debate constituem indicações reveladoras da época.

Até hoje. O PSD vive de derivas e de espaços em branco enraizados na sua própria origem.
Sá Carneiro compreendeu essa malformação inicial e tentou emendá-la.
Entre a confiança estóica e a reserva céptica, admitiu o verosímil.
Alguns dos seus livros são esclarecedores, sobretudo Por uma Social-Democracia e Poder Civil, Autoridade Democrática e Social-Democracia. E, ainda há dias, no semanário Sol, Ângelo Correia, um dos que, neste país, sabe pensar sem querer agradar ao príncipe, dizia, num lúcido resumo: A maior parte das pessoas de que falamos, hoje, como elite do partido [PSD], não são barões, são uma espuma dos notáveis, são pessoas que, só por si, não arrastam qualquer espécie de voto.


O PSD sempre foi o que é: fragmentos esparsos de representações que nunca chegaram a moldar-se numa ideologia, apesar dos esforços de Sá Carneiro. E qual era, verdadeiramente, a ideologia de Sá Carneiro?
Um demoliberal na antiga tradição republicana e um republicano inclinado a eliminar os desnivelamentos, sem estar muito afastado do povo nem demasiado próximo dele.
Bom: quer se queira ou não, Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes representam duas das múltiplas faces daquele partido
.


B.B.

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2 Comments:

At 30 de agosto de 2007 às 05:10, Anonymous Anónimo said...

Francamente não vejo o que distingue esse partido dos outros, nem esses dois políticos de todos os outros. Ideologia? Qual ideologia? Conversa fiada até se apanharem no poleiro. Aí são todos iguais. Para isso mais vale meterem logo a ideologia no caixote do lixo. É mais honesto.

 
At 30 de agosto de 2007 às 23:53, Anonymous Anónimo said...

Rei morto, rei posto. Vasco Graça Moura, sucede a Eduardo Prado Coelho, como rémora do politicamente correcto, na perspectiva situacionista de quem pretende conservar o que tem de seu. Compreende-se e… quem pode levar a mal?

Só mesmo aqueles que têm o mesmo direito de beneficiar das prebendas e privilégios de um Estado que é mesmo de todos.

É por isso que tem lógica completa, este motete sem música, pilhado aqui.

Pois se é

A mama que faz o fidalgo

acima dos outros fulanos,

democratize-se a chupeta

deixem-nos chupar na têta

que logo fidalgos ficamos

O artigo de VGM sobre as elites do PSD, hoje no D.N., não passa de uma pilhéria. Um escrito de silly season. Se as deixasse no limbo, ainda escapavam ao ridículo. Assim, obrigam-nos a lembrar quem tivemos no tempo das vacas gordas do cavaquismo, a orientar o destino da Pátria e olhar para o país que nos deixaram.

Se forem essas, as elites que agora se reclamam, será caso para repensar o conceito de elite. Vasco Graça Moura, até cita dois dicionários para lhe captar o sentido exacto. “ Os melhores e mais notáveis”. Ora bem. Quem são eles, afinal?

Quem definiu as bases para a educação nacional que temos? As elites do PSD. Quem definiu as prioridades de investimento público, nos anos a seguir ao maná da CEE? As elites do PSD. Quem privatizou empresas, entregando o que o Estado socialista pilhara, aos mesmos de sempre e que estavam já velhos de saber olhar apenas para si mesmos?

Foram as elites do PSD.

Quem moldou o Estado a que chegamos, nestes últimos vinte e cinco anos? As elites do PSD.

Claro que nestas elites, se encontram em amálgama natural, as elites do PS. Tão poucas eram que foram cooptadas de modo consensual.

Destas elites, dispensamos todos as respectivas benemerências. Todos, não. Vasco Graça Moura e uns tantos, precisam delas como de pão para a boca. Literalmente

 

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